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FPM 3 Aula 7 - Quedas no Idoso, Fragilidade e Síndrome de Imobilidade Quedas em Idosos Queda é um deslocamento não-intencional para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil, determinado por circunstancias multifatoriais, comprometendo a estabilidade. Estudos prospectivos mostram que aproximadamente 1/3 das pessoas acima de 65 anos e metade daqueles acima de 80 anos caem anualmente. Além disso, temos que aqueles que já caíram possuem incidência maior de quedas, rondando os 70%. O Projeto SABE foi feito com base em 7 cidades latino-americanas, inclusive São Paulo, e apresentou uma prevalência de 21,6% a 34% em idosos por ano. Aproximadamente 95% das fraturas de quadril são causadas por quedas, sendo que entre os idosos da comunidade que sofrem de quedas, 25 a 75% não retornam ao estado funcional prévio. Como consequências mais citadas das quedas pelos idosos, temos: • Medo de cair → 88,5% • Abandono de atividades → 26,9% • Fraturas → 24,3% • Imobilização → 19% Lesões orgânicas: • Escoriações • Hematomas • Contusões • Fraturas • Sangramentos intracranianos Síndrome pós-queda • Redução de suas atividades → entre 15% e 60% • Sintomas de ansiedade e depressão • Isolamento social / Sentimento de inutilidade • Fobia (Ptofobia) → atingindo mais de 50% dos idosos que apresentaram fratura de quadril • Alteração na marcha Muitos idosos que sofrem com quedas acabam por ser institucionalizados justamente por essa maior limitação de atividades e diminuição da capacidade de autocuidado. As quedas também se apresentam como um importante risco para a morte, sendo que as quedas constituem 2/3 das mortes acidentais entre idosos, sendo que a maioria é consequente de fratura de colo de fêmur. Fatores de risco - Intrínsecos • Idade • Sexo feminino • Viúvos / solteiros / divorciados • História prévia de fratura • Múltiplas comorbidades • Déficit cognitivo • Doença de Parkinson • Depressão e/ou ansiedade Fatores de risco – Alterações sensoriais • Visão • Propriocepção • Sistema vestibular Fatores de risco – Medicamentos • Ansiolíticos / hipnóticos • Antipsicóticos • Antidepressivos • Anti-hipertensivos • Diuréticos • Anticolinérgicos • Antiarrítmicos • Hipoglicemiantes • Polifarmácia Fatores de risco – Causas ambientais • Iluminação inadequada • Superfícies escorregadias • Tapetes soltos ou com dobras • Degraus altos ou estreitos • Obstáculos no caminho • Ausência de corrimãos em corredores e banheiros • Prateleiras excessivamente baixas ou elevadas • Calçados inadequados • Roupas excessivamente compridas • Via pública mal conservada Avaliação clínica Anamnese Na anamnese temos uma pergunta-chave que deve nos nortear: “Por que alguém sofreu queda em uma ocasião particular em um lugar específico?”. A American Geriatrics Society recomenda que façamos uma avaliação completa do paciente para que entendamos o que aconteceu: • História clínica (quedas prévias, medicamentos) • Exame físico (marcha, equilíbrio, mobilidade, acuidade visual e exame neurológico) • Avaliação cognitiva • Avaliação funcional • Avaliação ambiental Sendo assim, na anamnese devemos perguntar: • Onde caiu? • O que fazia no momento da queda? • Alguém presenciou a queda? • De quais medicações está em uso? • Houve introdução de alguma medicação nova ou alteração das dosagens? • Faz uso de bebida alcóolica? • Houve convulsão ou perda de consciência? • Houve mudança recente no estado mental? • Fez avaliação oftalmológica recente? • Há fatores de risco ambientais? • Há problemas nos pés ou calçados inadequados? • Houve quedas anteriores? Exame físico • Sistema cardiovascular ▪ Avaliar hipotensão postural • Sistema neurológico ▪ Estado mental ▪ Sintomas depressivos ▪ Função vestibular • Sistema osteomuscular ▪ Marcha ▪ Órteses ▪ Dores ▪ Pés • Avaliação sumária de visão e audição • Teste de desempenho físico ▪ Teste de Tinetti ▪ Escala de Equilíbrio de Berg ▪ Teste do Alcance Funcional ▪ Get up and go test Intervenções e Prevenção • Atuar nos fatores intrínsecos modificáveis, como força, equilíbrio e marcha • Fortalecimento muscular e alongamentos específicos • Reeducação postural • Equilíbrio e reabilitação vestibular • Analgesia • Considerar melhorar a socialização e o encorajamento • Envolver a família • Manuseio das repercussões psicológicas • Tratar as condições clínicas subjacentes • Racionalização da prescrição e correção de doses e de combinações farmacológicas inadequadas • Avaliação da audição, visão e pés • Reposição de vitamina D • Correção de fatores de risco ambientais • Avaliação do Domicílio ▪ Desníveis ▪ Iluminação ▪ Banheiro ▪ Acesso a objetos ▪ Móveis sem apoio ▪ Obstáculos ▪ Crianças e animais ▪ Altura de sofá e cama Prevenindo complicações de quedas • Protetores de quadril • Triagem para osteoporose • Dispositivos auxiliares de marcha • Tempo no chão – 47% não se levantam em menos de 1 hora • Anticoagulação?? Considerações finais – Quedas • Quedas mostram-se como um grave problema de saúde pública • Suas consequências são diversas e tão graves que podem levar inclusive à morte • A prevenção é a principal arma que temos para sua abordagem • A abordagem interdisciplinar é primordial Síndrome de Fragilidade A fragilidade é um estado de vulnerabilidade fisiológica relacionado à idade, resultante de reservas homeostáticas comprometidas e uma capacidade reduzida do organismo de resistir a estressores. Sendo assim, a síndrome de fragilidade é uma síndrome biológica de diminuição da capacidade de reserva homeostática do organismo e da resistência aos estressores, que resultam em declínios cumulativos em múltiplos sistemas fisiológicos, causando vulnerabilidade e desfechos clínicos adversos. Essa síndrome atinge cerca de 10 a 20% dos 65 anos e aproximadamente 46% nos pacientes com 85 anos ou mais. Causa um risco aumentado de hospitalização, quedas, institucionalização e óbito. Características da fragilidade no idoso • Perda de peso, fadiga, fraqueza, inatividade e redução da ingesta alimentar • Sarcopenia, redução do equilíbrio, do condicionamento e osteopenia • É decorrente de uma desregulação neuroendócrina e disfunção imunológica Fisiopatologia da Sarcopenia Sarcopenia é a diminuição da massa muscular que acontece com o envelhecimento, porém, há alguns outros fatores que interferem nesse processo, como: • Ingesta alimentar deficiente, que levam a um declínio na produção de proteína muscular mista, cadeia pesada de miosina e proteínas mitocondriais. • Fatores genéticos: Receptor de IGF-1 (15Q), receptor do neuropeptídio Y e do hormônio liberador de GH no 7P • Declínio da testosterona Critérios para diagnóstico de fragilidade 1. Perda de peso não intencional: maior de 4,5 Kg ou superior a 5% do peso corporal no último ano 2. Diminuição da força de preensão palmar, medida com dinamômetro e ajustada para gênero e índice de massa corporal 3. Diminuição da velocidade de marcha em segundos 4. Exaustão a queixas: “eu sinto que faço toas as minhas atividades com muito esforço” e/ou “eu não consigo continuar minhas atividades” 5. Baixo nível de atividade física à medida pelo dispêndio semanal de energia em kcal (com base no autorrelato das atividades e exercícios físicos específicos realizados) e ajustada conforme o gênero. O exame clínico do idoso frágil Manifestações atípicas de doenças agudas Polifarmácia Exame da mobilidade Questionário dirigido sobre cognição, humor, comunicação, mobilidade, equilíbrio, eliminações, funções e recursos sociais e ambientais. Olhar geriátrico 1. Avaliação da boca 2. Medicações com potencial impacto sobre a fragilidade (metformina, amiodarona, aminofilina,glifozinas, análogos de GLP-1, BZD, corticosteróides, estatinas, AINEs) 3. Acesso à alimentação 4. Controle das doenças crônicas e busca de novas. Tratamento • Exercícios contra resistência • Testosterona nos pacientes com hipoganadismo • Suporte nutricional agressivo • Tratamento da dor • Suporte nutricional Síndrome de Imobilidade Idosos fragilizados são indivíduos que tem mais de 75 anos, dependem de terceiros para AVD, vivem geralmente em instituições, são incapazes de se movimentar, usam múltiplos fármacos, são desnutridos e apresentam alterações nos exames laboratoriais. São geralmente mantidos confinados no leito e, devido a esta imobilidade, adquirem e evoluem para outras complicações, que chamamos de síndrome de imobilidade. A síndrome de imobilidade foi descrita por Pietro de Nicola como uma síndrome que deriva principalmente do fato de que todos os órgãos e aparelhos podem ressentir-se, gravemente, da própria imobilidade e de suas consequências, a começar pela deterioração intelectual e comportamental, dos estados depressivos, dos distúrbios cardiovasculares, respiratórios, digestivos e metabólicos, constipação intestinal, hipotonia muscular, osteoporose, desnutrição, distúrbios metabólicos, contratura e negativação do balanço nitrogenado. Trata-se, portanto, de todo um complexo de alterações que repercutem negativamente sobre o organismo, tendo origem na imobilidade. Alguns conceitos Síndrome: Conjunto ou complexo de sinais e sintomas que ocorrem ao mesmo tempo, que individualizam uma entidade mórbida e pode ter mais de uma etiologia Imobilidade: ato ou efeito resultante da supressão de todos os movimentos de uma ou mais articulação em decorrência da diminuição das funções motoras, impedindo a mudança de posição ou translocação corporal Síndrome de Imobilização: Complexo de sinais e sintomas resultantes da supressão de todos os movimentos articulares, que, por conseguinte, prejudica a mudança postural, compromete a independência, leva à incapacidade, à fragilidade e à morte. Critério para identificar a Síndrome de Imobilização • Repouso – permanência no leito de 7 a 10 dias • Imobilização – 10 a 15 dias • Decúbito de longa duração – Mais de 15 dias • Critério maior: ▪ Déficit cognitivo moderado a grave e múltiplas contraturas • Critérios menores ▪ Sinais de sofrimento cutâneo ou ulceras de decúbito ▪ Disfagia leve a grave ▪ Dupla incontinência ▪ Afasia A Síndrome de Imobilidade é caracterizada pela presença das características do critério maior e pelo menos duas características dos critérios menores. Prevalência e Mortalidade • Canadá e Austrália ▪ 25% dos idosos que vivem na comunidade e 75% dos que vivem em ILPI tem deficiência ou incapacidade grave ▪ Não há dados específicos para SI • Custos elevados ▪ Necessidade de dieta especial por sonda ▪ Uso de antibióticos de última geração (ITU, PNM, úlceras) ▪ Requerem curativos especiais • Mortalidade entre idosos confinados ao leito: ▪ Alta, aproximadamente 40% ▪ Causa mortis: quase sempre falência múltipla de órgãos, mas também PNM, TEM e sepse Conclusão • É um momento de grande sofrimento para o paciente e familiares • Fase de degradação da qualidade de vida ao limite do tolerável ou aceitável • É um quadro irreversível • Cabe à equipe multiprofissional o máximo de empenho a fim de trazer certo conforto para os familiares e para aquele que está próximo da morte • Ortotanásia X distanásia X eutanásia • Uso de O2, sondas para hidratação e alimentação, analgésicos, bom aquecimento, posicionamento adequado no leito, higiene, opioides e a presença constante de familiares dividindo os últimos cuidados são essenciais. • Não se deve isolar o paciente num ambiente frio e distante, como CTI, entubá-lo, ressuscitá-lo, indicar procedimentos cirúrgicos ou hemotransfusão a fim de evitar o óbito
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