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Luis AntoníoBittarVenturi organizador PRATICANDO GEOGRAFIA técnicas de campo e laboratório ofcin 3eA OCopyright 2005 Oficina de Textos Capa: Malu Vallim Satélite da capa: Concepção artística CBERS-2 (fonte: www.inpe.br) Diagramação: Anselmo Avila Revisão: Josca Baroukh Preparação das ilustrações: Malu Vallim e Anselmo Avila Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Praticando a geografia : técnicas de campo e laboratório em geografia e análise ambiental / organizador Luis Antonio Bittar Venturi. -- São Paulo: Oficina de Textos, 2005. Bibliografia. ISBN 85-86238-45-7 2. Laboratórios 3. Meio 1. Geografia Trabalho científico de campo 4. Pesquisa geográfica ambiente I. Venturi, Luis Antonio Bittar 05-5757 CDD-910.723 Indice para catálogo sistemático: 1. Geografia Técnicas de campo e de laboratório: Pesquisa geográfica 910.723 Todos os direitos reservados à Oficina de Textos Travessa Dr. Luiz Ribeiro de Mendonça, 4 01420-040 São Paulo SP Brasil Fone: (11) 3085-7933 Fax: (11) 3083-0849 site: www.ofitexto.com.br E-mail: ofitexto@ofitexto.com.br SIDNEIDE MANFREDINI TÉCNICAS EM PEDOLOGIA SONIA MARIA FURIAN DIAS JoSÉ PEREIRA DE QUEIROZ NETO DÉBORAH DE OLIVEIRA ROSELY PACHECO DIAS FERREIRA m Pedologia, a escolha da técnica a ser utilizada é definida pela problemática abordada. As técnicas para estudar solos são numerosas e envolvem observação, análise, representação cartográfica e abrangem diferentes níveis de complexidade. As pesquisas científicas relacionadas ao estudo de solos são extremamente amplas e compreendem desde questões ligadas à própria Pedologia (gênese, funcionamento hídrico, fertilidade, erosão, conservação, uso, produção, gestão, classificação, mapeamento), àquelas mais gerais, decorrentes do papel de interface desempenhado pelo solo na superfície espaço de trocas entre atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera. Algumas questões relacionadas ao papel do solo como interface são: produção e qualidade de água em bacias hidrográficas; balanços hidrogeoquímicos em micro bacias; mudanças climáticas; processos geomorfogenéticos e morfodinâmica atual de vertentes; sistema solo-planta-atmostera; ciclo de CO2 no planeta através de processos de alteração das rochas e dos processos pedológicos de precipitação de carbonatos e de argilas; ciclos de elementos químicos na superfície terrestre; terrestre poluição ambiental e outras, relacionadas à Geotecnia e Engenharia Civil. De um modo geral, as técnicas para estudos de solos são distribuídas em três âmbitos de trabalho distintos, mas complementares e interdependentes: gabinete, campo e laboratório. Há menor número de livros que tratam das técnicas de campo. Em Português são apenas duas as obras de referência: Lepsch (2002) e Lemos e Santos (1996). As técnicas de laboratório são as mais difundidas, com vasta literatura nacional e internacional. A obra de reterência nacional é o trabalho publicado pela Embrapa em 1997; técnicas de micromortologia de solos foram publicadas por Castro et al (2003) e uma referência básica sobre a química do solo é o livro de Luchese et alii (2002). As técnicas de gabinete incluem desde técnicas de levantamentos gerais bibliográficos e cartográficos para estudo do meio físico, até aquelas para confecção de mapas de solos. Neste capítulo, serão abordadas apenas as técnicas de base para trabalhos de campo, as que permitem realizar uma descrição das características morfológicas dos solos no terreno. O solo pode ser caracterizado pela natureza de seus constituintes e por suas diversas escalas de organizações que abrangem desde a microscópica (organizações elementares dos constituintes) até as organizações macroscópicas (agregados, horizontes, perfis). Estas últimas podem ser de dois tipos: bidimensionais, com expressão vertical (sucessão vertical de horizontes) e expressão lateral (distribuicão 85 PRATICANDO GEOGRAFIA de horizontes ao longo da vertente); e tridimensionais (distribuição de solos ou de sistemas de solos numa bacia hidrográfica e na paisagem). Cada nível de organização pode ser apreendido por paråmetros mor fológicos, fisicos, químicos e mineralógicos. Normalmente, os paràmetros mortológicos, como cor, textura, estrutura, porosidade, feições pedológicas, atividades biológicas, são estudados e descritos em trabalhos de campo. Trabalhos de campo em Pedologia para descrição das características morfológicas dos solos constituem etapas preliminares básicas das pesquisas em solos. Tal descrição permite delimitar horizontes e estabelecer relações entre eles, isto é, permite fazer inferências sobre fatores e processos envolvidos em suas formações, seus funcionamentos atuais e suas relações com a dinâmica evolutiva da paisagem. São previstas as seguintes etapas para o trabalho em campo: Escolha dos pontos de observação do solo na paisagem .Técnicas de observação - Tradagem - Trincheira ou barranco Descrição das características morfológicas do solo: cor, textura, estrutura, porosidade, atividade biológica, feições pedológicas e horizontes 6.1 EsCOLHA DOS PONTOS DE OBSERVAÇÃO A escolha dos pontos de observação do solo está totalmente vinculada aos objetivos da pesquisa e, sobretudo, à escala do trabalho e à área de estudo Como o solo é um corpo tridimensional que se distribui na paisagem, os pontos de observação podem ser estabelecidos a partir de ações conjuntas de gabinete - consulta e interpretação de cartas geológicas, geomorfológicas, pedológicas, fotos-aéreas (padr�o de drenagem, estruturas geológicas, litologia, padrões macro-morfológicos do relevo, dentre outras) - e de campo - observação das características superficiais como cor, rugosidade, padrão de distribuição da vegetação e das formas das vertentes como rupturas de declive, sinais de erosão, estado da superfície etc. Apesar do solo ser um corpo anisotrópico (apresenta variações de uma deter- minada propriedade conforme a direção que se examine), a variação espacial de suas principais características não são casuais. O perfil de solo tem anisotropia vertical devido à presença de horizontes pedogenéticos; a passagem lateral de um tipo de solo para outro produz anisotropia horizontal. (Curi et al, 1993). Os processos pedogenéticos envolvem transterências de matéria e energia tanto na interface solo-atmosfera quanto no interior de seu próprio corpo e são fortemente condicionados pelo relevo. Em conseqüência, os pontos de observação devem, sempre que possível, ser locados ao longo das vertentes na linha de maior declive (toposseqüência) ou em transectos preestabelecidos ligando, por exemplo, o interflúvio ao eixo de drenagem, ou dois interflúvios entre si. Dependendo do grau de detalhamento desejado, pode-se proceder à descrição das características morfológicas do solo baseadas em amostras coletadas com trado ou em pedolitos (trincheiras ou barrancos). 86 TECNICAS EM PEDOLOGIA 6.2 TÉCNICAS DE OBSERVAÇÃO No campo, a observação do solo vale-se de instrumentos para seu exame e coleta. São eles: martelo pedológico; trado de rosca (a); trado holandês (b); trado de caneco (c); enxadão; pá quadrada; pá reta e faca, fita-métrica e pedocomparador - caixa de madeira utilizada para organizar amostras de solo coletadas no campo, segundo sua organização macro-morfológica, isto é, sucessão vertical e distribuição lateral de horizontes. a b 10 cm Fig. 6.1 Instrumentos utilizados para o exame e coleta de solo no campo (Lemos e Santos, 1996) 6.2.1 TRADAGEM Tradagem é a coleta de solo em profundidade com trado, utilizando com mais freqüência o trado holandês. Em geral, a coleta é realizada de 0,10 em 0,10 m ou onde há mudança significativa de cor e textura do solo, pois a estrutura e a porosidade são destruídas pelo giro do trado no momento da coleta. As tradagens geralmentesão feitas onde não hácortes de estrada que permitem a visualização do perfil do solo. 6.2.2 TRINCHEIRA OU BARRANCO Em locais onde a coleta de, solo por tradagem deixa dúvidas sobre a organização do solo, devem ser abertas trincheiras com o uso de enxadas e pás. As trincheiras devem apresentar largura suficiente para que seja realizada a descrição do solo (no mínimo 1 m2) e, se possível, atingir a rocha m�e. Os barrancos devem ser limpos com o auxílio do martelo pedológico e da enxada de cima para baixo antes de começar a observação e desCrição, de forma a evitar contaminação com materiais das camadas suprajacentes. A camada externa, Sujeita à lavagem e dessecação, deve ser completamente eliminada. 6.3 DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICASs DO SOLO Para realizar a descriç�o do solo, a primeira cO1sa a observar é sua macro- organização, seja numa seção vertical, numa trincheira ou barranco ou nas amostras coletadas com trado. A macro-organização é observada pela presença ou 87 PRATICANDO GEOGRAFIA não de camadas horizontais mais ou menos distintas e mais Ou menos paralelas à superfície do terreno: os horizontes. Portanto, a primeira observação a ser feita é a distinçãoea diferenciação dessas camadas ou borizontes. Para diferenciá-los, usa-se o parâmetro visual das cores. Pela delimitação das diferentes cores apresentadas pelo material, faz-se uma primeira distinção dos horizontes. Em seguida, com o auxílio de uma faca, pode-se acrescentar ao visual, o parämetro tátil, que implica sentir a resistência do material à penetração da ponta da faca por meio de Sucessivas e suaves batidas, para testar se os limites dos horizontes efetuados pela diferenciação de cor representam, também, um limite de resistência do material, já que esses critérios são indicativos de características morfológicas do solo.ODs horizontes diferenciam-se uns dos outros por um conjunto de suas características mortológicas, conforme veremos a seguir: 6.3.1 COR Eamais evidente das características morfológicas do solo e expressa a natureza e o estado de seus constituintes. De forma geral, a cor expressa a proporção dos diferentes constituintes da fase sólida do solo. Os principais constituintes minerais do solo são a argila e o quartzo, que interagem diferentemente com os constituintes coloridos (óxidos de ferro e matéria orgânica). Alguns exemplos: Matéria orgânica humificada: apresenta cores que vão do negro, castanho escuro ao cinza escuro. Oxidos e hidróxidos de ferro: desenvolvem cores que vão do vermelh0 escuro (hematita) ao amarelo e bruno amarelado (goetita) em meio oxidante; e cinza ao cinza azulado ou esverdeado, em meio redutor. Oxidos de manganês: aparecem como areia preta nos solos originados de rochas básicas. Sua caracterização pode ser feita com auxílio de im� comum. Desenvolve cores muito escuras, pretas e cinzas escuros a muito escuros, brilhante a opaca. Argilas: são opacas e esbranquiçadas (incluindo a gibbsita). Areias: são translúcidas (quartzo), esbranquiçadas (feldspatos), escuras (turmalina, dentre outros), opacas (manganês) etc. As argilas opacas e esbranquiçadas atenuam a cor, enquanto o quartzo translúcido as ressalta. Podemos ter solos que apresentem teores de ferro e de matéria orgânica bastante contrastantes e expressem a mesma cor, em função da proporção argila/areia neles presentes, como apresentado na Tab. 6.1. Como é impossível descrever em palavras de forma precisa a cor do solo em todas suas nuances, utiliza-se, para isto, a tabela de cores Munsell (1994). Trata-se Tab. 6.1 Perfis 42 e 43 do Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado de São Paulo - Serviço Nacional de Pesquisas Agronômicas (SNLS), Boletim 12, 1960 Variedades de solos %argila % areia % matéria % Fe203 organica P.42- Latossolo vermelho-escuro orto 6 16 2,72 12,95 P.43- Latossolo vermelho-escuro fase arenosa 19 1,48 4,95 88 TECNICAS EM PEDOLOGIA 6 de um sistema universal que parte das cores primárias do espectro misturas entre elas, que representam as cores secundárias. Cada página da tabela corresponde a um matiz. Por exemplo, páginas correspondentes ao vermelho (R) e ao amarelo (Y) e às misturas (YR) entre elas: classifica as 10R- 100% vermelho 2,5YR- mistura contendo 1 parte de amarelo para 3 de vermelho 5YR-mistura contendo 1 parte de amarelo para 1 de vermelho 7,5YR- mistura contendo 3 partes de amarelo para 1 de vermelho 10Y- 100% amarelo De acordo com a tabela de Munsell, a cor dos latossolos vermelho-escuro citados na Tab. 6.1 é 2,5YR /4 (vermelho-escuro). O que isso signitica? Em cada página (matiz) da carta de Munsell, as colunas correspondem a tonalidades possíveis da cor, os valores (value). A primeira coluna à esquerda corresponde a 10 tonalidades de cinza, entre o preto e o branco. No exemplo citado, a notação 3 corresponde ao cinza muito escuro, que representa uma mistura de 3 partes de preto e 7 de branco. Horizontalmente da esquerda para a direita, é assinalada a intensidade de saturação da cor (croma = chroma), que representa a mistura da cor do matiz com o cinza: quanto maior o número que varia de 1 a 8, mais intensa é a cor. No exemplo, a notação 4 significa uma mistura de 4 partes da cor com4 partes de cinza muito escuro. A notação da cor é feita sempre na mesma ordem: em primeiro lugar o matiz, seguido da tonalidade (value), terminando com a intensidade (chroma) (Fig. 6.2). A umidade exerce grande efeito sobre a cor. A amostra de solo úmido é mais escura do que a do seco. Estrutura e umidade interagem na manifestação da cor. A amostra de solo molhada e amassada tende a apresentar cor mais viva que a amostra estruturada úmida. A amostra seca e triturada apresenta cor mais clara que a estruturada igualmente seca. Em condições de campo, não temos controle sobre a umidade do solo no momento da descrição. A umidade pode variar de um ponto a outro, em profundidade, no interior do pertil e numa mesma profundidade ao longo da vertente. Para comparar as cores de amostras diferentes de um mesmo perfil ou de perfis diferentes, deve-se ter o cuidado de eliminar o efeito destas duas variáveis (estrutura e umidade), adotando-se um procedimento padronizado para descrição cor na condição de campo: Cor úmida: a amostra naturalmente estruturada é aspergida com água e deixada em repouso por alguns momentos, para que a água seja absorvida e se distribua homogeneamente. Em seguida, descreve-se a cor desse torrão úmido com ajuda da tabela Munsell Cor molhada e amassada: a amostra deve ser saturada com água e amassada entre os dedos até se transtormar em uma pasta. Então, procede-se à descrição da cor da mesma maneira. A cor de determinada camada de solo pode n�o ser homogênea. Pode apresentar manchas (mosqueamento) que indicam segregações dos constituintes 89 PRATICANDO GEOGRAFIA ou presença de feições pedológicas diferenciadas, como estruturas, nódulos ou concreções ferruginosas, calcárias, orgânicas. Faz-se necessário definir a cor destas diferentes feições e explicitar seu tamanho, sua distribuição e abundância. 6.3.2 TEXTURA A textura do solo expressa a composição granulométrica dos constituintes minerais do solo individualizados. Estes constituintes apresentam tamanhos bastante variados, por isso são separados em classes. O limite entre classes é definido em função do conhecimento que se tem das relações existentes entre o tamanho das partículas, sua natureza mineralógica e sua função no solo. As principais classes granulométricas são: Argila: (fração < 0,002 mm de diâmetro) é cons- tituída pelos minerais de argila propriamente ditos (filossilicatos), hidróxidos de alumínio (gibsita), óxidos e oxihidróxidos de ferro. De dimensões MUNSELL" SOIL COLOR CHART 5YR coloidais e superfície específica elevada, esta fração compõe, junto com a matéria orgânica humificada, a fase efetivamente ativa dosolo, tanto química quanto fisicamente. Silte: (fração de 0,002 a 0,05 mm de diâmetro) é constituída basicamente por minerais primários, eventualmente por secundários (gibsita, por exemplo). Quanto maior o teor de silte, menor o grau de intemperismo químico do solo. Dependendo da natureza mineralógica, esta fração pode representar uma reserva de nutrientes. Do ponto de vista físico, solos com alto teor de silte apresentam estrutura adensada, pouco porosa, o que compromete a circulação da água e as trocas gasosas. Areia: (fração de 0,05 a 2,0 mm de diâmetro) é constituída basicamente por quartzo. Quimicamente inerte, esta fração funciona como esqueleto do solo. No trabalho de campo, devem ser descritos o tamanho, forma, distribuição, grau de intemperismo e natureza /3 4 CHROMA mineralógica provável desses elementos. Fig. 6.2 Num primeiro momento, a avaliação da textura no campo permite, em conjunto com a cor, diferenciar/delimitar horizontes. Num segundo momento, permite fazer inferências sobre a filiação com o material de origem do solo e o grau de intemperismo. Página da tabela de Munsell Para identificar a textura no campo, uma pequena amostra de solo saturada com água deve ser trabalhada centre os dedos, de forma a destruir completamente os agregados. Esfregando-se a pasta assim obtida, delicadamente entre o polegar e o indicador, pode-se ter a percepção das proporções de seus diferentes constituintes. Primeiro, percebe-se a relação argila/areia: 90 TÉCNICAS EM PEDOLOGIA 6 lextura arenosa: material grosseiro e solto; pouco material fino resta aae rido à pele. Ixtura mdia: equilíbrio nas proporções argila/areia, os grãos de areia, embora abundantes, estão envoltos pela massa fina de argila que adere aos dedos. lextura argilosa: material fino, pastoso, que precisa ser trabalhado em estado quase líquido para que se perceba a areia. Textura muito argilosa: material pastoso, 100 0 semelhante ao anterior, no qual pra- ticamente não se percebe grãos de areia. WaitoPode-se também, durante a manipulação da amostra, distinguir a granulometria da fração areia entre areia grossa e areia fina e a presença de cascalho mais fino. 60 m enta descrita no campo pode ser veriticada e quantificada por meio de análises granulométricas efetuadas em laboratório. Com a porcentagem de cada fração (areia, silte, argila), pode-se usar o triângulo de repartição das classes, A textura itosa /Arehosa 100 0 100 0 60 40 20 0 que permite classificar quantitativamente a textura Porcentagem de areia Fig. 6.3) Silte ArgilaCascalho Areia Conforme o grau de detalhamento desejado, a classe textural da areia, por exemplo, pode ser 2 mm 0,05 mm 0,002mm dividida em subclasses no laboratório: Fig. 6.3 Triangulo de repartição de classes de textura Tab. 6.2 Classes de tamanho das areias segundo Wentworth Classes Tamanho em mm (Embrapa, 1997) Areia muito grossa 1,000 a 2,000 Areia grossa 0,500 a 1,000 Areia média 0,250 a 0,500 Areia fina 0,125 a 0,250 Areia muito fina 0,050 a 0,125 Os solos podem conter elementos com diâmetro maior que 2,0 mm. O papel funcional que eles exercenm é menos importante na evolução da estrutura do solo do que o das frações menores que 2,0 mm, mas podem representar importantes subsídios para a compreensão dos processos pedogenéticos e suas relações com a evolução da paisagem. Esses elementos são classificados em: Tab. 6.3 Classes de tamanho dos fragmentos de rocha maiores que 2,00 mm Classes Tamanho em mm matacão >200 calhau 20 a 200 cascalho 2,00 a 20 91 orcentagem des PRATICANDO GEOGRAHA Em geral, os solos no Brasil apresentam baixos teores de silte, o que torna difícil diferenciá-lo da argila no campo. Entretanto, manipulando a amostra entre os dedos até que esteja seca, pode-se perceber a presença de silte por sua textura sedosa, semelhante à de um talco. (Fig. 6.4) B C 6a7 7cm A molhara amostra de solo B-formaruma bola de 3cm de diâmetro C deixar cair a bolinha, se ela se destruir, a textura é D 15 a 16cm arenosa D se a bolinha não se destruir, formar um cilindro de 6 a 7cm de comprimento, se o cilindro se destruir,a E Fig. 6.4 Etapas de manipulação de amostra de solo para teste de textura (Cocbe, 1985) textura é média E continuar moldando o cilindro até que ele atinja 15 a 16cm F -formar uma meia lua, se o material trincar levemente, a textura é argilosa G se o material permitir moldar um círculo sem rachaduras, a textura é muito argilosa. G 6.3.3 ESTRUTURA A estrutura é a característica mortológica mais importante do solo, pois expressa toda a complexidade das interações entre os constituintes e os fatores de formação (material de origem, clima, relevo e atividade biológica) do solo. A estrutura condiciona o funcionamento atual do solo, definindo a geometria dos espaços vazios (poros) por onde a água circula ou é retida, através dos quais acontecem as trocas gasOsas. Mediante mecanismos de fHocu- lação, lação, cimentação e fissuração, os constituintes do solo vão se agregando e se reorientando, originando unidades maiores individualizadas denominadas Fissuras agregados. (Fig. 6.5) Em acordo com a presença ou ausência de agregados, a estrutura do solo pode ser contínua, sem agregados, ou fragmentária, com agregados. A estrutura contínua pode ser formada por grãos simples (partículas soltas, sem cimentação) ou pode ser Fissuras Fissuras Fig. 6.5 Os diversos graus de estruturação embutidos em agregados de um torrão (Ruellan e Dosso, 1993) maciça (quando há cimentação, mas não fissuração) A estrutura fragmentária pode ser descrita quanto à forma, dimensão, grau de desenvolvimento e consistência. 92 6 TÉCNICAS EM PEDOLOGIJA Quanto à forma, os agregados podem ser (Fig. 6.6): Arredondados: granulares ou grumosos Angulosos: blocos angulares ou subangulares; prismáticos; colunares Laminares Tipos Subtipos Eixos Representação Característica Granular Horizontes Esferoidal Grumosa superficiais Bloco Angulares Subangulares (cúbica) Horizonte A Prismática Horizonte B Fig. 6.6 Prismática Colunar Horizontes Classificagãoe salinos representação esquemática das estruturas do solo (Kiehl, 1979) (Não tem Laminar Horizonte C subtipo Quanto ao tamanho, os agregados podem ser classificados segundo suas dimensões: muito pequenos, pequenos, médios, grandes a muito grandes, em escalas variáveis para cada tipo de agregado (Tab. 6.4): Comumente, a estrutura global do solo é composta por diferentes tipos de agregados, que por sua vez podem ser Tab. 6.4 Classes de tamanhos de agregados Classes Tamanho em mm Granular 5a5 compostos por agregados menores de diterentes tipos. A relação entre a forma de macroagregados e a dos agregados Grumosa 0,5 a 10 Blocos 5 a 50 Prismática 10 a 100 menores que os constituem permite 10 a 100 Colunar avaliar o grau de desenvolvimento da Laminar 1a 10 estrutura: Fraca: o macroagregado se destaz em poucas unidades similares menores, com predomínio de material solto; Moderada: o macroagregado se desfaz em unidades similares menores com pouco material solto; Forte: o macroagregado se desfaz em agregados similares menores, que por sua vez podem ser subdivididos, mantendo a mesma forma, sem material solto. A consistência, que expressa a resistencia da estrutura do solo à deformação, é condicionada pela natureza das interações fisicas e químicas que se estabelecem entre seus constituintes. A água, por sua afinidade com as supertícies ativas do solo, atua no sentido de afrouxar as ligações químicas. Ao mesmo tempo, em seu estado liquido, ela funciona como uma espécie de lubrificante, facilitando o deslizamento das partículas entre si. Como resultado, quanto maior o teor de umidade, menor a resistência à deformação. 93 PRATICANDO GEOGRAFIA od e dimensões padronizadas dos agregados dos solos (adaptado de Lemos eSanto0s, 1996) Forma e Arranjo dos Agregados Angulosos: blocos como poliedros com as três dimensões da mesma ordem de grandeza, cujas faces de contato estão justapostas Arredondados: faces e vértices arresondados de modo a não se justaporem Laminar aspecto de camadas Dimensãoo Blocos Blocos Blocos Colunar: Granular: Grumosa angulares faces bastante formada por agregados não poros0s, similar à subangulares: mistura faces prismáticos: dominam faces Com horizontais prismática, porém com a parte superior arredondada porosidade planas e vértices planas com faces e vértices verticalizadas, planas e vértices vivos aspecto compacto e aspecto mais solto Com ângulos arredondados VivoS muito <1 mm pequena <1 mm <1 mm <5 mm <10 mm pequena 1 a 2 mm 1 a 2 mmn 5 a 10 mm 10 a 20 mm 1 a 2 mm média 2 a5 mm 2 a 5 mmn 10 a 20 mm 20 a 50 mm 2 a 5 mm grande 5 a 10 mm 5 a 10 mm 20 a 50 mm 50 a 100 mm 5 a 10 mm muito grande > 10 mm >100 mm >10 mm 10 mm 50 mm No campo, a caracterização da consistência deve ser realizada em três estados de umidade: Consistência a seco: solta, macia, dura (Fig. 6.7) Consistência úmida: solta, friável, firme (Fig. 6.8) Consistência molhada: plasticidade - de não plástica a muito plástica (Fig 6.9), Pegajosidade - de não pegajosa a muito pegajosa (Fig. 6.10) 1 1 2. 2 Fig. 6.8 Fig. 6.7 Consistencia do 3 dura 4-muitodura 2- ligeiramente dura 5 extremamente dura 0- solta 0-solta 3-firmesolo timido (Coche, 1985) Consistência do solo0 1 macia 1 muito friável 4 muito firme seco (Cocbe, 1985) 2- friável 5- extremamente firme 94 6 TÉCNICAS EM PEDOLOGIA 3mm Fig. 6.10 Consistência do solo 2 molbado: pegajosidade (Coche, 1985) 0-não pegajosa 1- ligeiramente pegajosa 2-pegajosa 3- muito pegajosa Fig. 6.9 Comsistência do solo molhado:0-não plástico 1- ligeiramente plástico 2- plástico 3- muito plástico plasticidade (Coche, 1985) 6.3.4 POROSIDADE Fig. 6.11 Porosidade do solo A porosidade é, ao lado da estrutura, um aspecto essencial da morfologia do solo. E exatamente a porosidade que faz com que o solo desempenhe um papel fundamental no funcionamento geral das paisagens. Além de constituir adaptado de Ruellan e Dosso, 1993) uma intertace entre atmostera, litosfera e biosfera, é também o local por onde água, ar e solutos circulam ou são retidos noo interior da crosta terrestre continental. A porosidade refere-se ao volume de solo não ocupado por constituintes sólidos, mas por ar, água e seres vivos. São vias preferenciais de transferência de matéria (em estados sólido, líquido e gasoso) e da atividade biológica. Grande parte da porosidade é invisível a olho nu e à lupa, pois se constitui em poros resultantes de organizações (assembléias) elementares entre constituintes argilosos, Meio areno-limonítico, a porosidade textural está em preto Vazios lpretos) dentre outros. Contudo, certos tipos de poros, cujas dimensões são visíveis, podem ser observados com os olhos e com ajuda de lupas de origem biológica Minerais da rocha matriz, em vias de alteraç�ão No campo, a descrição da porosidade é feita através da forma, do tamanho, da Porosidades de alteração 95 PRATICANDO GEOGRAFIA abundância c da origem dos poros (Fig. 6.11). Quanto à origem a porosidade pode ser: Porosidade de alteração Porosidade textural: de partículas ou intersticial Porosidade estrutural: entre os agregados do solo Porosidade biológica (tubular e vesicular): resultado da atividade de raízes, formigas, minhocas, cupins etc. Quanto tamanho, Tab. 6.6 Classes e diâmetros de macroporos identificados no campo (Curi, 1993) ao se gundo Lemos e Santos (1996), a porosidade está dividida em macro e microporosidade. A microporosidade é definida pelos pequenos poros, capazes de reter água por capilaridade e a macroporosidade, por porobs maiores, que n�o são capazes de Classe de macroporos Diâmetro (mm) Poros muito pequenos <1 Poros pequenos 1 a2 Poros médios 2 a5 Poros grandes 5 a10 Poros muito grandes reter água por capilaridade. >10 6.3.5 ATIVIDADE BIOLÓGICA As atividades biológicas nos solos são muito variadas e extremamente complexas, uma vez que se superpõem e interagem, integrando tanto macro quanto microorganismos vegetais e animais (Brady e Weil, 1996), como: Vegetais superiores: parte subterrânea dos vegetais com atividade orgânica como raízes e caules subterrâneos; Fauna - macrofauna: mamíferos (tatu etc), répteis (cobra etc), mesofauna: vermes (minhoca), insetos (formiga, cupim etc), artróópodes (aranhas). microorganismos: fauna e flora microscópicas (bactérias, fungos, algas etc). O papel da fauna é homogeneizar o material do solo, as diferenças de material intemperizado provenientes de diferentes rochas são apagadas pela ação da fauna. A flora honmogeneiza os elementos químicos, através de seus ciclos biológicos: absorção de elementos em sítios específicos do solo e devolução, pela superfície, mediante a queda de restos vegetais. 6.3.6 FEIÇÖES PEDOLÓGICAS As feições pedológicas mais comuns nos solos tropicais são ferripãs, duripãs, caliches, concreções ferruginosas e couraças ferruginosas. Ferripä: camada ou horizonte endurecido de solo, na qual o óxido de ferro é o principal agente cimentante; 96 TÉCNICAS EM PEDOLOCIA 6 .Duripã ou silcrete: nódulos ou horizontes cimentados pela sílica (mais conhecido como silcrete), Caliche, crosta calcária (CaCO3), nódulos: materiais consistentes de argila e ferro, mas menos duros que as concreções, encontrados nos solos tropicais; .Concreções ferruginosas: termo utilizado na África pela Pedologia atricana para designar ferripås em blocos angulares ou subangulares; .Couraças ferruginosas: corpos endurecidos formando horizontes subsuperticiais cimentados por ferro. 6.3.7 HORIZONTES Os horizontes, volumes pedológicos mais ou menos paralelos à superticie do terreno, com espessura variando de alguns centímetros a vários metros, apresentam limites superior e inferior. A descrição de seus limites é de fundamental importäncia, pois indicam processos pedológicos passados e atuais. Esses limites podem ser claros, progressivos ou abruptos. A extensão de um horizonte pode variar de alguns metros a quilômetros. Lateralmente, ele desaparece ou dá origem a um outro horizonte. As transições, ou limites, entre um horizonte e outro são descritas quanto à nitidez e topografia. .Nitidez: < 2,5 cm - abrupta 2,5 a 7,5 cm - clara 7,5 a 12,5 cm - gradual >12,5 cm - difusa Topografia: pode ser plana, ondulada, irregular e descontínua (Fig. 6.12) Ondulada Irregular Descontinua Plana A A E. B B Bt Fig. 6.12 Certos tipos de horizontes são considerados diagnósticos para efeito de classificação. Os solos tropicais apresentam horizontes diagnósticos expressando grau de intemperismo e grau de perda/acumulação em argila. São eles (Curi, 1993 Oliveira, 2001): Topografia da transição entre borizontes (adaptado de Schoeneberger et al, 2002 97 PRATICANDO GEOGRAFIA Horizonte B latossólico ou óxico: horizonte mineral subsuperticial com pelo menos 50 cm de espessura, que apresenta elevado grau de intemperização. E predominantemente constituído por quantidades variáveis de óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínioe argilominerais do tipo 1:1 constituídos por folha silicato tetra�drica e folha hidróxido octaédrica, empilhadas regularmente na proporção 1:1. Pertencem a esse agrupamento os minerais do grupo da caulinita, quartzo e outros minerais mais resistentes ao intemperismo. Apresenta-se geralmente em solos profundos, friáveis e com muitos macroporos. Horizonte iluvial ou textural ou argílico: horizonte mineral subsuperficial, onde houve incremento de argilas. E resultante de acumulação ou concentração absoluta ou relativa de argila decorrente de algum desses processos: iluviação, formação in situ e/ouherdada, e/ou destruição de argila no horizonte A e/ou perda de argila no horizonte A por erosão diferencial .Horizonte eluvial: horizonte formado pelo processo de eluviação (horizonte de perda). Por meio da análise criteriosa das características mortológicas, pode-se fazer inferências sobre a natureza da interação entre os diferentes fatores de formação e os decorrentes processos pedogenéticos, e estabelecer hipóteses sobre o funcionamento atual da cobertura pedológica. 98
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