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Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Clostridium • São bastonetes gram-positivos. • Anaeróbios. • Envolvidos em doenças importantes para animais e seres humanos. • As quatro espécies mais importantes são: C. tetani, causante do tétano; C. botulinum, causante do botulismo; C. perfringens, causa gangrena gasosa; Clostridioides difficile, causa principalmente problemas em pacientes com tratamentos antibióticos prolongados e hospitalizados. • Produzem esporos. Esporos/endósporos • São estruturas de dormência, resistência, latência, que alguns gêneros de bactérias conseguem produzir em resposta a determinadas condições, principalmente a falta de carbono e nitrogênio no ambiente. • Essas estruturas de latência permitem que as bactérias se mantenham no ambiente quando as condições não são favoráveis. E, no futuro, quando os esporos forem ativados, o esporo volta à forma vegetativa da bactéria – metabolicamente ativa, com a qual consegue se multiplicar e manter na natureza. • No final do processo de esporulação, o endósporo é liberado. Contudo, são encontradas muitas bactérias no formato roxo – a célula que produziu intacta e o endósporo lá dentro. • Os esporos possuem uma estrutura que confere resistência a altas temperaturas, radiação, ressecamento, altas pressões, porque possui: - Membrana interna, parede de peptideoglicano, córtex reforçado de peptideoglicano, uma membrana externa, uma capa e o exósporo. • Na última imagem mostra o endósporo em microscopia eletrônica. Ele possui picolinato de cálcio, que confere resistência térmica, proteínas e todos os revestimentos. Esporulação • Durante o processo de formação dos esporos: • A forma vegetativa duplica seu DNA; esse DNA se torna mais denso e se separam em duas fitas; ocorre a formação de um pré-esporo,com uma invaginação da membrana; depois tem a formação de um septo ao redor do pré-esporo, delimitando-o definitivamente; forma-se peptideoglicano ao redor; ocorre a deposição do exósporo, com a formação do córtex primordial entre as duas camadas; a estrutura vai sendo desidratada e incorporando cálcio; acúmulo de ácido dipicolínico; maturação do esporo com a formação das camadas corticais e o desenvolvimento da resistência ao calor e aos Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez agentes químicos; finalmente, a liberação e lise do esporo. Germinação • No sentido contrário, quando um esporo que está no ambiente sofre ativação, vai passar pelo processo de germinação, que é a conversão do esporo até o estágio metabolicamente ativo – a forma vegetativa da bactéria. • O core sofre ativação por algum estímulo desconhecido – não basta que o ambiente se torne rico, porque ele precisa ̈ perceber¨ quimicamente; com a presença de nutrientes, após a ativação, ele começa a germinar; o esporo começa a liberar prótons de hidrogênio, potássio, sódio – elementos que estavam acumulados no esporo; começa a liberar algumas capas e vai sendo hidratado; perde sua resistência; à medida que o processo avança ele perde as características que conferiam resistência – córtex, core, capas; a célula aumenta de tamanho até se tornar idêntica à célula original. As patogêneses do Clostridium, principalmente a do tétano e botulismo produzem toxinas durante o estágio de esporulação ou germinação. Esses processos são importantes durante a patogênese dos Clostridium. Características gerais • São bacilos gram-positivos esporulados (a maioria); • Algumas espécies são gram-lábeis – Ao fazer uma gram de uma cultura velha/antiga, a parede da bactéria pode perder sua resistência e em vez de aparecer roxas (como gram-positivas), aparecem vermelhas (como gram-negativo). • A maioria é não capsulada e catalase -. • A maioria é móvel, pela presença de flagelos peritríquios. • São anaeróbios obrigatórios estritos em sua maioria. Alguns podem ser aerotolerantes. • São fermentadores e/ou proteolíticos. • São ubíquos, amplamente distribuídos na natureza: podem estar em solo e vegetações; sedimentos marinhos; intestino de vertebrados e insetos; • Existem mais de 180 espécies e algumas subespécies. • A maioria é avirulenta – acontece na natureza e não está associado a doenças em humanos nem animais. • Dentro do gênero, as principais espécies que são patógenos humanos/animais: • O Clostridioides difficile pertencia à família Clostridium, mas recentemente foi transferido para a família Clostridioides. - Clostridium tetani É uma coloração que assemelha a gram-labilidade. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Possui um endósporo oval terminal, formando uma estrutura semelhante a raquete de tênis ou baqueta. • Encontrado no solo em todo o mundo. • É móvel, metabolicamente inativo – não fermenta carboidratos. • Não produz enzimas extra-celulares como lecitinase, lipase, caseinase ou outras proteases. • Produz a neurotoxina tetânica – TeNT: toxina A/B: - Porção B: media a ligação a receptores de superfície celular de neurônios motores; - Porção A: é uma zinco-metaloprotease. Possui atividade contra sinaprobrevinas (proteínas chamadas de vamp); Toxina codificada por um gene plasmidial. Logo, nem todos vão produzir. Mas, todo causante de tétano terá. • Outra toxina importante é a Tetanolisina: É uma citolisina que se liga ao colesterol de células eucarióticas, gerando poros – levando a perda de conteúdo e morte da célula. Patogênese do tétano • Os esporos do C. tetani introduzidos em uma lesão com baixo potencial redox (baixa concentração de oxigênio). Esses esporos começam a germinar na ferida e a forma vegetativa vai se multiplicar. A bactéria vai produzir a neurotoxina tetânica e liberar por lise celular. Essa toxina vai agir nas junções neuromusculares dos nervos motores e sofre endocitose. Uma vez endocitada nos neurônios, sofre um transporte retrógrado nos axônios, ou seja, das extremidades para o sistema nervoso central. No SNC, a toxina vai se ligar às sinaptobrevinas, moléculas nas membranas das vesículas sinápticas, bloqueando a fusão das vesículas com a membrana e a liberação de GABA/GLICINA – neurotransmissores relacionados ao relaxamento muscular. • Por conta dessa ação, o tétano é uma doença que se caracteriza pelo não relaxamento, com estímulo contrátil constante. • Pode haver 3 formas de tétano: ➔ Tétano localizado: observam-se espasmos nos músculos adjacentes ao sítio da lesão. ➔ Tétano generalizado: há a introdução de um número maior de esporos e produção de grandes quantidades de neurotoxina. Observa-se o acometimento de várias regiões. Manifestações comuns: - Trismo: espasmos do m. masseter. - Riso sardônico: espasmos dos músculos bucais e faciais. - Postura opistotônica: espasmos generalizados. ➔ Tétano neonatal: acomete neonatos com a contaminação do coto umbilical. Observado em mães não-vacinada contra o tétano. Prevenção do tétano • O tétano tem ocorrência mundial, sendo endêmico em muitos países agricultores e agropecuários, onde há constante injúria por objetos contaminados por esporos. Comum em usuários de drogas injetáveis e piercings. • A prevenção ocorre por meio da vacina tríplice – DTPa: possui toxóide tetânico (toxina tetânica inativada); toxóide diftérico e antígenos da B. pertussis. Tratamento • O tratamento é sintomatológico: controle dos espasmos e respiração com sedação e utilização de bloqueadores musculares. • Neutralização da toxina livre com soro antitoxina. • Administração de antimicrobianos: metronidazol (age em anaerobiose). - Clostridium botulinum • Causa o botulismo. • Doença de veiculação alimentar. UniversidadeFederal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Tem diminuído muito com o avanço das técnicas industriais de produção. • Bastante ubíqua: ocorre no solo, poeira, sedimentos marinhos. • Encontrada em agroprodutos frescos ou industrializados. • Produz esporos ovais subterminais. • O principal fator de virulência é a neurotoxina botulínica: toxina A/B: - Porção A: é uma zinco-mataloprotease que se liga às sinaptobrevinas/VAMPs. Ao se ligar, inibe a liberação de neurotransmissores da mesma forma que a toxina tetânica, só que em outra região e com outro neurotransmissor. A toxina botulínica inibe a fusão da membrana e liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares. - Por não haver a acetilcolina, o indivíduo possui sintomas inversos ao tétano: ocorre uma paralisia simétrica flácida descentente. Começa da parte mais superior do corpo até as extremidades. • Manifestações clínicas: Diplopia, disartria, disfonia, disfagia, sequelas neurológicas. • Se o indivíduo não for diagnosticado e tratado a tempo, vai a óbito quando a paralisia atingir os músculos respiratórios. Variabilidade antigênica • Há 7 tipos antigênicos (toxina) de A-G. • A espécie pode ser dividida em 4 grupos fisiológicos: - Grupo I: proteolíticas, produtoras de toxinas A, B ou F. - Grupo II: não proteolíticas, produtoras de toxinas B, E ou F. - Grupo III: produtoras de C e D. - Grupo IV: produtora do tipo G. Descrita na Argentina. Não causa doença em humanos ou animais. • Toxinas: - Toxinas A, B, E e F: são as principais causas de botulismo em seres humanos. - Toxinas C e D: botulismo em aves e mamíferos. • Outro fator de virulência é a produção de exoenzimas C3, que vão ribosilar proteínas importantes envolvidas na sinalização celular. Pertencem à família Rho: mono ADP-ribosilam RhoA, RhoB e RhoC (GTPases). Botulismos • Botulismo clássico/alimentar: - Antes era mais associado a alimentos industrializados. Só que ao detectar essa patologia, a indústria começou a melhorar a produção, fazer adição de conservantes e evitar a germinação e contaminação por esporos. Diante disso, atualmente é encontrado com mais frequência em alimentos caseiros. - Ao colher alimentos de solo contaminado, esse alimento também se encontrará com os esporos. Ao embalar/selar em ambiente anaeróbio, fica ideal para o esporo germinar e produzir a toxina botulínica. Por isso, há uma incidência maior em países de clima temperado – onde há restrição de produção de alimento fresco e tendência a consumir mais produtos enlatados. - Contaminação: A pessoa ingere a toxina botulínica pré- formada. O esporo germina no alimento, a bactéria se torna metabolicamente ativa e começa a produzir a toxina botulínica. A pessoa ingere o alimento sem cozinhar, junto com a toxina. No duodeno e jejuno, a toxina é absorvida e chega à corrente sanguínea. Atinge as sinapses colinérgicas periféricas, se liga às sinaptobrevinas e bloqueia a liberação da acetilcolina. A partir disso, começa a paralisia aguda flácida. • Botulismo infantil: - Manifesta-se de 3 semanas a 6 meses de vida. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez - Está muito associado a ingestão de mel, por ser um produto de origem animal, os quais entram em contato com vários ambientes possivelmente contaminados. - Nos adultos, a microbiota intestinal protege da colonização por Clostridium botulinum. Nos bebês, não. - O bebê ingere o mel com esporos. A bactéria chega até o intestino, germina, coloniza e produz a toxina botulínica no intestino grosso, onde é absorvida; chega na corrente sanguínea, vai até as terminações nervosas periféricas nas junções neuromusculares dos neurônios motores; liga-se às sinaptobrevinas, bloqueia a liberação de acetilcolina e gera paralisia aguda flácida. • Botulismo após colonização em adultos: rara. - Sob determinadas alterações na anatomia, fisiologia e microbiota intestinal do adulto, pode haver a colonização em adultos semelhante ao botulismo infantil. - Causa paralisia flácida. • Botulismo de lesão: muito rara. - Pode estar associada à entrada do esporo por traumatismos, uso de drogas injetáveis. - A germinação acontece na ferida e a produção da toxina botulínica. - Geralmente em adultos jovens do sexo masculino. - Paralisia local. • Botulismo por inalação da neurotoxina botulínica: - Uma vez inalada, a toxina botulínica pode causar paralisia flácida fatal. - Essa inalação foi relatada em acidentes com veterinários alemães. - Estudado como arma biológica, já que é uma toxina muito potente. Colocado em contato com um número grande de pessoas pode causar mortalidade em massa. Prevenção • Inibição da multiplicação bacteriana e da produção da toxina ao produzir corretamente os alimentos, mantê-los em temperaturas baixas, adição de conservantes e preservantes, redução do pH, inativação térmica da toxina. • Vacina: composta por toxóides das toxinas A e E. Recomendada para bacteriologistas que manipulam a bactéria. Tratamento • Suporte ventilatório. • Uso da antitoxina tri, penta ou heptavalente. • Não é recomendada a antibioticoterapia. • A toxina botulínica é amplamente utilizada para fins estéticos. Além disso, existe o uso terapêutico da toxina para tratamento de espasmos (Parkinson), hiperatividade, hiperhidrose, estrabismo. - Clostridium perfringens • Espécie do gênero mais isolada de processos infecciosos endógenos. • Possui uma virulência um pouco mais exacerbada. • Produz: - Enterotoxina citotóxica – CPE: Essa toxina uma vez produzida, no intestino delgado (íleo especificamente) vai causar alteração em moléculas de permeabilidade de membrana, levando a uma hipersecreção de fluidos no lúmen intestinal, causando então uma diarreia. - Toxinas letais: 4 tipos. Alfa-toxina, lecitinase ou fosfolipase C: hidrolisa a fosfatidilcolina e esfingomielina, presentes nas membranas células eucarióticas. Ela é hemolítica, ou seja, destrói plaquetas e leucócitos. Também aumenta a permeabilidade celular. Codificada por um gene cromossômico e, portanto, ela é produzida por todas as linhagens. Outras 3 toxinas letais: Beta, Épsilon e Iota: produzidas por genes plasmidiais. - Toxina Ômega: protease. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez - Toxina Kappa: colagenase. - Toxina Micra: hialuronidase. • O C. perfringens possui 5 sorotipos de A a E, de acordo com a produção das toxinas: - Sorotipo A: associado à microbiota intestinal de seres humanos e outros animais e solo. Agente da maioria das infecções causadas pelo gênero em seres humanos. - Sorotipos B, C, D e E: associado à microbiota intestinal de animais. Ocasionalmente humanos. O perfringens está envolvido com na etiologia de infecções endógenas e síndromes histotóxicas (gás e necrose). Doenças • Gangrena gasosa ou mionecrose: - Associada a traumas, cirurgias, penetração de corpos estranhos infectados. - Fatores de risco: insuficiência vascular e infecção polimicrobiana. - A Alfa-toxina vai causar uma destruição muscular progressiva com toxicidade sistêmica. É uma doença que evolui muito rápido. - O Clostridium é o principal causador, mas pode haver outras espécies envolvidas: • Infecção alimentar: - Causada pelo sorotipo A: doença intestinal branda, bastante comum. - Diarréia aquosa com espasmos intestinais. Evolução benigna. - Incidente em indivíduos idosos hospitalizados. - Para que se desenvolva a doença precisa haver uma dose infecciosa alta, no mínimo 100000000 células enterotoxigênicas. - Associada à contaminação de alimentos proteicos de origem animal. - Contaminação: principalmente por carne bovina e aviária contaminada poresporos; com manipulação prolongada, acontece germinação dos esporos no alimento e multiplicação; ingestão do alimento. Uma boa parte das bactérias morre no estômago. A parte que sobrevive chega até o intestino, onde esporulam e durante o processo de esporulação h[a a liberação da toxina CPE e lise celular da bactéria, liberando a toxina e o esporo. A toxina causará diarréia branda, já que a toxina não está sendo em grande quantidade, pois muitas bactérias morreram até chegar no intestino. Tratamento e prevenção • Gangrena gasosa: fazer debridamento cirúrgico do tecido necrosado; Terapia hiperbárica – local com concentrações de oxigênio altíssimas, o que é letal para essas bactérias; Antioticoterapia com penicilina + clindamicina ou com metronidazol. • Infecção alimentar: fazer imediata refrigeração dos alimentos processados (carnes); fazer reaquecimento a mais de 75 graus no seu interior, para matar as bactérias no seu interior. - Clostridioides difficile • Bactéria extremamente avirulenta, mas que pode causar doenças em seres humanos sob condições específicas. • Bastante ubíqua: pode ser encontrada no ambiente em solos, rios, lagos e vegetais. • Descrita inicialmente na microbiota do mecônio – primeiro cocô dos bebês. • Os seres humanos são portadores assintomáticos. • Gram lábil, com esporos ovais subterminais. • É fermentador, produz gelatinase. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • O agente de infecção hospitalar mais frequente em diarreias associadas ao uso de antimicrobianos: - O indivíduo está hospitalizado, fazendo o uso de antimicrobianos, a microbiota fica alterada e essa bactéria de beneficia. • Produz toxinas tcdA e tcdB, do tipo A/B: - tcdA: enterotoxina que causa uma inflamação intensa do epitélio intestinal. - tcdB: citotoxina que age em vários tipos de célula. Ambas as toxinas fazem glicosilação de proteínas Rho (GTPases), envolvidas na ordenação de filamentos de actina e na transdução de sinal dentro da célula. Patogênese • O indivíduo pode ser portador ou não da bactéria, mas se encontra hospitalizado fazendo uso de antibióticos de amplo espectro. Vai ter uma alteração da microbiota intestinal; há a presença da bactéria no intestino ou ele ingere os esporos; os esporos germinam no intestino delgado; colonizam o cólon (se já estiverem na microbiota, gera uma ¨bagunça¨ com o aumento); há uma síntese em maiores quantidades das toxinas A e B, causando danos à mucosa e inflamação; leva à hipersecreção de fluidos e aumento da permeabilidade da mucosa intestinal; causa diarreia. • Se não tratado, o sistema imune responde com uma liberação intensa de citocinas; há a formação de uma pseudomembrana – o intestino grosso fica todo revestido por essas placas, levando a uma enterocolite intensa. • Logo, o indivíduo pode ser: - Portador assintomático; - Ter diarreia; - Pode evoluir para uma colite pseudomembranosa, com formação de megacólon, podendo avançar para perfuração intestinal e até septicemia. Tratamento • Suspensão do antimicrobiano indutor; • Reposição de líquidos e eletrólitos; • É uma doença autolimitada na maioria das vezes; • Tratamento com metronidazol ou vancomicina, para reduzir a população dessa bactéria e restabelecer a microbiota – recomendam-se probióticos.
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