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Doenças exantemáticas recebem este nome devido às manifestações clínicas que provocam: são causadas por vírus que causam erupções cutâneas ou outros sinais característicos que atingem principalmente a pele. Entre os precursores dessas doenças estão o vírus do sarampo, da caxumba, varicela e rubéola. sarampo O vírus do sarampo pertence à família Paramyxoviridae e ao gênero Morbillivirus tem como material genético RNA protegido por envoltório. O reservatório natural deste vírus é o homem, e na maioria das vezes acomete jovens antes dos 15 anos de idade – aproximadamente 95% das infecções são até essa faixa-etária. A transmissão acontece por meio de secreções nasofaríngeas, e pode ser iniciada de 4 a 6 dias antes do início do exantema e dura de 4 a 5 dias após seu surgimento. A partir do contato com o vírus, células da nasofaringe ou da região conjuntiva dos órgãos respiratórios são contaminadas. A replicação viral é rápida: até o terceiro dia ocorre viremia nos órgãos linfáticos secundários, até o quinto dia ocorre replicação ativa, até o sétimo dia ocorre a segunda onda de viremia que apresenta os sintomas cutâneos, conjuntivos e no trato respiratório, do décimo primeiro ao décimo quarto dia ocorre o pico da replicação viral e, portanto, o pico da viremia, e a partir do décimo quinto dia há redução da carga viral. A replicação viral acontece principalmente em células do epitélio, do endotélio, em monócito e macrófagos. No período de incubação, acontece essa alta replicação do vírus e inicialmente não apresenta sintomas; durante o período prodrômico pode haver rash (exantema), transitório, urticartiforme ou macular, e desaparece antes do exantema típico. Ocorre cerca de 2 a 4 dias após o surgimento da febre, e se inicia a partir da face e segue a orientação crânio-caudal, atingindo por último palas dos pés e mãos. O período específico da infecção por sarampo se caracteriza pelo exantema típico, febre alta, coriza, conjuntivite e tosse. Além desses sintomas gerais, pacientes infectados podem manifestar fotofobia, intensa hiperemia conjuntival, secreção amarelada ocular e/ou cutânea, lacrimejamento e também as denominadas Manchas de Koplik. Manchas de Koplik. Por fim, o período exantemático do sarampo é o momento da infecção em que os sintomas estão mais acentuados. De maneira geral, existem erupções eritematosas maculopapulares que surgem na região retroauricular e se espalham continuamente, ademais lesões isoladas na pele não previamente comprometida estão presentes e geralmente somem após compressão. O sarampo pode induzir à complicações, sendo elas: otite média aguda, laringotraqueíte aguda, pneumonia ou broncopneumonia, encefalite aguda, e quando adquirido durante a gestação pode culminar em parto prematuro, aborto ou baixo peso do recém-nascido. diagnóstico Além do diagnóstico clínico, podem ser feitas cultura de isolamento do vírus e testes de sorologia que confirmarão a infecção. O diagnóstico laboratorial sorológico se dá por meio da detecção de anticorpos IgM, e a amostra deve ser coletada de 4 a 7 dias após início do exantema. O isolamento do vírus é feito em cultura, a partir de células mononucleares do sangue periférico, de secreções respiratórias, da conjuntiva ou urina do paciente. Para evitar a disseminação deste vírus existe uma vacina denominada Tríplice Viral, combinada o vírus do sarampo, caxumba e rubéola. Faz parte do calendário de vacinação obrigatório de crianças, e é aplicada a partir dos 12 meses de idade. Também funciona como estratégia terapêutica e pode ser aplicada até 72h após o contato com o vírus. A vacina exclusiva do sarampo também existe e segue o mesmo esquema da tríplice. Além disso, para gestantes, indivíduos imunodeprimidos, e crianças com menos de 9 meses pode ser receitada e administrada Gamaglobulina humana. Esse composto fornece altos títulos de IgG para uma grande variedade de microrganismos, incluindo o vírus do sarampo. De maneira geral, quando o indivíduo se infecta com sarampo, é recomendado repouso, higiene dos olhos e pele, dieta branda e hidratação, umidificação das secreções, ingestão de vitamina A, e quando necessários antitérmicos e antibióticos como meios de tratamento. É importante ressaltar que no período prodrômico existe alta chance de contágio por sarampo e a ocorrência da doença tem altos picos no inverno e primavera. rubéola O vírus responsável pela rubéola pertence à família Togavirus e ao gênero Rubivirus. Possui envoltório, e seu material genético é uma fita de RNA. A doença rubéola é, portanto, infectocontagiosa e tem características leves; no entanto, quando adquirida na gravidez ou no período fetal pode acarretar consequências mais graves. O ser humano é o único hospedeiro do vírus, e a transmissão acontece por contato direto ou indireto com secreções da nasofaringe. Geralmente os infectados são crianças à adultos jovens e o pico de incidência é no final do inverno e início da primavera. O período de incubação desse vírus é de 14 a 21 dias após o contato primário, e a transmissibilidade máxima se dá poucos dias antes do início do exantema até 5 ou 7 dias após seu surgimento. É importante que o paciente infectado permaneça em isolamento para evitar o contato com outras pessoas e aumentar a disseminação do vírus. A rubéola congênita acontece quando o vírus passa pela barreira placentária e atinge o feto durante a gravidez. Existe 90% de chance de acontecer até 12 semanas de gestação, 25% a 30% até o segundo trimestre, e de 60% a 100% de chances no final da gravidez. A infecção no feto por vírus atenuado, devido a vacinação das gestantes, é de apenas 1,3%, mas não causa a Síndrome de Rubéola Congênita. Não existem indícios de que a infecção por rubéola causa aborto, e é importante mencionar que a vacinação de mulheres gestantes deve preferencialmente acontecer após 28 dias do parto. A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) pode causar: efeitos primários – catarata, glaucoma, retinopatia pigmentar, doença cardíaca, distúrbio de audição; e efeitos secundários – púrpura trombocitopênica, hepatoesplenomegalia, icterí- cia, microcefalia, retardo de crescimento, meningoencefalite, doença óssea radioluscente. diagnóstico A cultura viral é aplicável nos casos de rubéola, e o vírus é isolado a partir das secreções de nasofaringe, swabs de garganta, sangue, urina ou líquor do paciente. Os testes sorológicos são feitos na fase aguda ou na fase convalescente da doença, e são detectados tanto IgM quanto IgG. Infecções recentes ou infecções pós-natal apresentam altos níveis de IgM que tendem a diminuir após 6 meses; para a confirmação de infecção congênita ou persistência viral são estudados os títulos de IgG. caxumba “Uma doença moderada, caracterizada por uma tumefação não supurativa próxima ao ouvido e, algumas vezes, acompanhada de tumefação dolorida em ambos os lados da face” (Hipócrates, V a.C). O vírus da caxumba possui RNA de fita simples, envoltório nuclear e pertence à família Paramyxoviridae. Sua distribuição é mundial e o hospedeiro natural é o homem. Os surtos de caxumba tendem a acontecer esporadicamente devido à vacinação, e quando ocorrem a frequência maior é observada durante o inverno e a primavera. Causa parotidite, epididimorquite e doença do SNC, além disso a infecção congênita é rara, mas pode levar à perda fetal quando adquirida no primeiro trimestre de gravidez. A vacina Tríplice Viral auxilia fortemente no controle da doença, prova disso é a redução de mais de 95% dos casos após a disseminação da vacina. A transmissão ocorre pelo contato direto com secreções da nasofaringe, e o vírus é liberado na saliva 6 dias antes das manifestações clínicas aparecereme em até 5 dias depois da ocorrência das mesmas. A replicação inicial ocorre na faringe, seguida da disseminação virêmica; o tempo de incubação do vírus é de 2 a 4 semanas. Há indução de respostas imunes humorais e celulares, que apresentam correlação com a cessação da viremia e a excreção do vírus na saliva. Na maior parte dos casos os pacientes são sintomáticos e se queixam de mal estar e febre. O inchaço na glândula parótida é característico, e pode ser uni ou bilateral. Parotidite ocorre em 30%- 40% dos casos. diagnóstico O diagnóstico de caxumba segue a mesma linha das outras doenças exantemáticas: pode ser feito o isolamento do vírus a partir de amostras da orofaringe, do LCE ou urina do paciente. Além disso utilizam-se técnicas sorológicas (ELISA) para detecção de anticorpos IgM e técnicas de biologia molecular (PCR). A caxumba pode desencadear algumas complicações clínicas, como: epididimorquite (unilateral), atrofia testicular, encefalite sintomática (1/6.000 casos), e ainda problemas mais raros, como hidrocefalia, surdez, distúrbios desmielinizantes ou Síndrome de Guillain-Barré. A surdez pode ser repentina, uni ou bilateral, e permanente. O tratamento para caxumba é um tratamento de suporte, e por isso, além do repouso recomendado podem ser receitados anti- inflamatórios em casos severos de artrite relacionada. A prevenção com a vacina chega a um índice de 90%, indicando a importância da imunização. A vacinação de rotina é recomendada para os profissionais da área da saúde. varicela A varicela, popularmente conhecida como catapora (do tupi, que indica “fogo que salta”), é uma patologia a infectocontagiosa de alta transmissibilidade, caracterizada por um exantema vesicular ou bolhoso. O vírus causador da varicela pode ser tanto Varicella-zoster como Herpes-zoster, membros da família Herpesviridae. São vírus de DNA, com fita dupla (Grupo I da família, dsDNA). Quando infectado, o paciente tem a catapora como infecção primária e por vir a manifestar “cobreiro” como infecção secundária (latente). São vírus altamente contagiosos, e o hospedeiro único é o homem. O pico da transmissão ocorre no fim do inverno e começo da primavera. A transmissibilidade máxima acontece 2 dias antes do aparecimento do exantema até dias após formarem-se crostas nas feridas provocadas; essa transmissão acontece por contato com secreções do trato respiratório, e/ou vesículas características na pele. O período de incubação é de 10 a 21 dias. O período prodrômico da infecção pode não existir, ou acontecer 1 ou 2 dias apenas com febre baixa e mal estar. O período exantemático, porém, tem sintomas mais visíveis, como máculas, pápulas, vesículas e crostas. As vesículas superficiais acometem primariamente a face, o couro cabeludo ou o tronco do paciente. Pela cor clara da vesícula sobre a base hiperemiada (vermelha) as lesões são conhecidas como “gota de orvalho em pétalas de rosa”. Pode haver de 250 a 500 lesões na pele, com prurido ou não; essas lesões são polimórficas e são bem mais graves em jovens e adultos. Infecção assintomática é rara, e reinfecção assintomática em indivíduos imunocompetentes praticamente não acontece. diagnóstico O diagnóstico baseia-se muito na análise clínica do paciente pelo médico responsável, mas exames laboratoriais podem ser pedidos para confirmação da infecção. Pela sorologia são feitos IFI e EIA, que captam tanto anticorpos fluorescentes quanto antígenos virais. O conteúdo das vesículas pode ser feito por cultura viral, antígeno fluorescente direto (DFA). Em alguns casos pode ser requisitado a pesquisa de células B, quando se desconfia que o paciente possui alguma deficiência nessa linhagem (geralmente quando há quadro de catapora grave em crianças). O PCR pode ser utilizado para diagnóstico de varicela, mas não é uma estratégia comum. A preferência diagnóstica é pela sorologia, quando necessário teste laboratorial. Quando grave, a catapora pode desencadear algumas complicações no paciente, sendo elas: infecções bacterianas secundárias, pneumonia, meningoencefalite, hepatite, glomerulonefrite, artrite/osteomielite, uveíte, trombocitopenia ou varicela hemorrágica. Podem ser utilizados alguns antivirais para o tratamento de varicela (Aciclovir, Velaciclovir, Famciclovir, Foscarnet), mas de maneira geral depende muito fatores específicos do hospedeiro, da extensão da infecção e da resposta inicial à terapia. Pacientes contaminados com varicela devem permanecer em repouso e isolados no mínimo 5 horas antes do aparecimento do rash até o desaparecimento das lesões na pele. Existe uma vacina contra varicela que é distribuída pelo SUS e faz parte do calendário de vacinação obrigatório de crianças. Ela é composta pelo vírus atenuado, gelatina, traços de neomicina e água para injeção. A indicação de idade é a partir dos 15 meses de vida (excepcionalmente em períodos de surto, a partir de 9 meses a vacinação é permitida). Imunodeprimidos e alérgicos aos componentes são as únicas contraindicações. No caso de indivíduos saudáveis e não vacinados que entraram em contato com o vírus, a vacina pode ser aplicada até 120 horas após a exposição (preferencialmente até 72 horas) como meio de prevenção ou auxílio tratamento. É uma reativação do vírus da Varicela zoster (VZV) latente (o mesmo que causa a catapora), sendo primariamente uma doença de idosos e pessoas imunossuprimidas. O risco de HZ aumenta com a idade: de 4,7% em pessoas na faixa de 50 a 59 anos de idade a 12% em pessoas com idade igual ou superior a 80 anos de idade. As complicações, principalmente neuralgia pós-herpética (PHN, definida como dor que dura mais de 90 dias desde o início da erupção cutânea HZ), também aumentam com a idade: de 5,41% na faixa entre 50 a 59 anos de idade a 20,32% em idosos com 80 anos de idade ou mais. Após a infecção primária o vírus Varicella-zoster ascende para o núcleo de linfonodos sensoriais e permanece em latência. Reativação da replicação apresenta-se como uma erupção vesicular na forma de um dermatoma, distribuído em um único feixe axonal derivado de um linfonodo sensorial, acompanhando todo o feixe nervoso. Altos níveis de IgG não protegem contra a reativação do vírus, e por isso a imunidade celular é de grande importância para conter as manifestações, sintomas e sinais.
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