Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tratamento farmacológico das disfunções tireoidianas Usos terapêuticos do hormônio tireoidiano ● Principais indicações: terapia de reposição hormonal em pacientes com hipotireoidismo e terapia de supressão do TSH em pacientes com câncer de tireoide. ● Preparações de hormônio tireoidiano: sintéticas dos sais sódicos dos isômeros naturais dos hormônios tireoidianos. ● Principal representante: Levotiroxina - a levotiroxina sódica (L-T4) é disponível em comprimido ou em pó liofilizado para injeção. - A tiroxina é mais bem absorvida no duodeno e no íleo; e a absorção é modificada por fatores intraluminais, como alimentos, fármacos, acidez gástrica e flora intestino, por isso, a administração deve ser em jejum, com espera de 30min a 1h para realização da refeição. - A biodisponibilidade oral das preparações atuais é de 70%, em média. ***Em pacientes com mixedema grave com íleo, a absorção pode ser comprometida, por isso, em vez da terapia oral, prezar pela terapia parenteral (IV).*** - Indicada para a terapia de reposição e supressão tireoidiana, pela sua estabilidade, uniformidade, baixo custo, ausência de proteína alergênica, avaliação laboratorial fácil dos níveis séricos e meia-vida longa (7 dias), o que possibilita a administração 1x/dia. - Vantagem: como o T4 é convertido em T3 no interior da célula, a administração de T4 resulta na produção de ambos os hormônios, sem necessidade de administrar o T3. - A dose varia dependendo da idade e do peso. - São necessárias 6 a 8 semanas após início de uma determinada dose de tiroxina para alcançar níveis sanguíneos em estado de equilíbrio dinâmico. Por isso, as mudanças nas doses devem ser feitas de forma lenta. - Nos pacientes cardíacos, o coração é sensível ao nível de tiroxina circulante, por isso a administração inicial deve ser progressiva; se houver desenvolvimento de angina de peito ou de arritmia cardíaca, suspender imediatamente. - Toxicidade: inquietação, insônia e aceleração na maturação e crescimento ósseo, nas crianças; nervosismo, intolerância ao calor, palpitações e taquicardia, nos adultos; fibrilação atrial e osteoporose acelerada, nos idosos em tto crônico. ● Liotironina (T3) - 3x a 4x mais potente que a levotiroxina; porém não recomendada pela curta duração da meia-vida (24h), exigindo múltiplas doses diárias, e pela dificuldade de monitoramento dos níveis séricos para avaliação da reposição. Agentes antitireoidianos - A redução da hiperfunção tireoidiana e dos seus efeitos pode ser obtida pelo fármacos que interferem na produção dos HT, por agentes que modificam a resposta dos tecidos a esses hormônios ou pela destruição da glândula com irradiação/cirurgia. - Os compostos tireoidianos usados clinicamente incluem as tioamidas, os iodetos e o iodo radioativo. Tioamidas ● Representantes: metimazol e propiltiouracila (principais para tto de tireotoxicose); carbimazol (que é convertido em metimazol in vivo) é muito utilizado UK. ● Potência: metimazol é 10x mais potente que a propiltiouracila, sendo a escolha para tto em adultos e crianças. ● Farmacocinética: - Metimazol: absorção total, porém em taxas variáveis; acumula-se rapidamente na tireoide e apresenta volume de distribuição semelhante ao da propiltiouracila; excreção mais lenta que a da propiltiouracila; 65 a 70% de uma dose é recuperada na urina em 48h. - Propiltiouracila: rapidamente absorvida, alcançando níveis séricos máximos em 1h; biodisponibilidade de 50 a 80% decorrente de sua absorção incompleta ou de um efeito de primeira passagem no fígado; volume de distribuição aproxima-se daquele da água corporal, com acúmulo na tireoide; maior parte de uma dose ingerida é excretada pelos rins na forma de glicuronídeo inativo em 24h. - A meia-vida plasmática dos dois (1,5h para a propiltiouracila e 6h para o metimazol) tem pouca influência na duração de ação antitireoidiana ou sobre o intervalo entre as doses, pois ambos são acumulados pela tireoide; - Para propiltiouracila é recomendável administrar a cada 6 a 8h, pois uma dose única de 100mg pode inibir a organificação do iodo em 60% durante 7h. - Já o metimazol, a prescrição é de um dose diária única, pois a dose única de 30mg dele exerce um efeito antitireoidiano por mais de 24h, sendo efetiva no tto de hipertireoidismo leve a grave. - Os dois (categoria D da FDA) atravessam a barreira placentária, concentrando-se na tireoide fetal, o que exige cautela no uso durante a gravidez, posto o risco de hipotireoidismo fetal; dos dois, a propiltiouracila é preferível durante o 1o trimestre, pois se liga mais fortemente às proteínas e, logo, atravessa a placenta com menos facilidade; o metimazol tem sido associado, ainda que raramente, a malformações congênitas; ambos são secretados em baixa concentração no leite materno, mas são seguras durante o aleitamento. ● Farmacodinâmica - Mecanismos de ação: impedir a síntese de hormônio ao inibir as reações catalisadas pela tireoide peroxidase, bloqueando a organificação do iodo; bloquear o acoplamento das iodotirosinas; porém não bloqueiam a captação de iodeto pela tireoide; a propiltiouracila inibe a desiodação periférica do T4 e do T3; como ambos afetam mais a síntese que a liberação dos HT, o início de ação é lento, com frequência de 3 a 4 semanas para depleção das reservas de T4. - Toxicidade: reações adversas em 3 a 12% dos pacientes; sendo a maioria observada precocemente, como náuseas e desconforto gastrintestinal; pode ocorrer sensação alterada de paladar e do olfato com o metimazol; o efeito colateral mais comum é o exantema pruriginoso maculopapular (4 a 6%), por vezes acompanhado de sinais sistêmicos, como febre; efeitos raros: exantema urticariforme, vasculite, reação semelhante ao lúpus, linfadenopatia, hipoprotrombinemia, dermatite esfoliativa, polisserosite e artralgia aguda; risco aumentado de hepatite grave (levando à morte por vezes) pela propiltiouracila, assim deve ser evitado em crianças e adultos (a não ser que não tenha outra opção); icterícia colestática é mais comum com o metimazol; elevações assintomáticas das transaminases; complicação mais perigosa: agranulocitose (contagem de granulócitos < 500 células/mm³), rara (0,1 a 0,5%), porém potencialmente fatal, com risco aumentado em pacientes de idade avançada e naqueles que recebem tto com mais de 40mg/dia de metimazol. Inibidores aniônicos ● Representantes: ânions monovalentes, como o perclorato (ClO4-), pertecnetato (TcO4-) e o tiocianato (SCN-) ● Mecanismo: bloqueiam a captação de iodeto pela tireoide por meio da inibição competitiva do mecanismo de transporte do iodeto. ● Eficácia: imprevisível, pois os efeitos podem ser revertidos com o uso de grandes doses de iodeto. ● Uso clínico do perclorato de potássio: hipertireoidismo induzido por iodeto (p.ex., hipertireoidismo induzido por amiodarona); mas é raramente usado para fins clínicos, pois é associado ao desenvolvimento de anemia aplásica. Iodetos - hoje são raramente utilizados ● Farmacodinâmica: - Mecanismos: inibem a organificação e a liberação dos hormônios e diminuem tanto o tamanho quanto a vascularidade da tireoide hiperplásica; nos suscetíveis, podem induzir hipertireoidismo (fenômeno de Jod-Basedow) ou precipitar hipotireoidismo; em doses farmacológicas (> 6mg/dia), inibe a liberação de hormônio, pela inibição da proteólise da tireoglobulina. - Efeitos clínicos: melhora rápida dos sintomas tireotóxicos - em 2 a 7 dias -, além de diminuir a vascularização, o tamanho e a fragilidade da tireoide hiperplásica, tornando esses agentes importantes na preparação pré-operatória do paciente para cirurgia. - Desvantagens: aumento das reservas intraglandulares de iodo, retardando o início da terapia com tioamidas ou impedindo o uso de iodo radiativo durante várias semanas, daí devem ser iniciados depois do início da terapia com tioamidas e evitados se existir possibilidade de tto com iodo radiativo; não deve ser utilizado isoladamente, pois a tireoide irá escapar do bloqueio em 2 a 8 semanas, e sua suspensão pode provocar graveexacerbação da tireotoxicose em um tireoide com qtd abundante de iodo; evitar o uso crônico na gravide, pois atravessam a placenta, podendo causar bócio fetal - Toxicidade: reações são incomuns, e na maioria dos casos, reversíveis com interrupção; incluem: erupção acneiforme, aumento do volume das glândulas salivares, ulcerações das mucosas, conjuntivite, rinorreia, febre medicamentosa, gosto metálico, distúrbios hemorrágicos e, raras reações anafilactóides. Iodo radiativo - O ¹²³I é o único isótopo usado no tto de tireotoxicose; quando administrado por VO em solução na forma de ¹²³I de sódio, é absorvido rápido, concentrado na tireoide e incorporado nos folículos de armazenamento. - Efeito terapêutico é dependente da emissão de raios beta, com meia-vida efetiva de 5 dias. - Em poucas semanas após a administração, ocorre destruição do parênquima tireóideo, evidenciada por intumescimento e necrose do epitélio, desorganização folicular, edema e infiltração de leucócitos. - Vantagens: administração fácil, eficácia, baixo custo e ausência de dor - Não deve ser administrado em grávidas ou mães durante lactação, pois atravessa a placenta para destruir a tireoide do feto e é excretado no leite materno. Agentes bloqueadores dos receptores adrenérgicos - Os beta-bloqueadores sem atividade simpatomimética intrínseca (metoprolol, propranolol, atenolol) constituem adjuvantes terapêuticos efetivos no tto de tireotoxicose, pois muitos dos sintomas simulam aqueles associados à estimulação simpática; o propranolol é o mais usado; produzem melhora clínica dos sintomas hipertireoidianos, porém tipicamente não altera os níveis de HT; propranolol em dose acima de 160mg/dia pode reduzir os níveis de T3 em cerca de 20% ao inibir a conversão periférica de T4 em T3.
Compartilhar