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CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1 HEMOSTASIA INTRODUÇÃO O sistema hemostático em condições normais limita a perda de sangue, ao mesmo tempo em que inicia o reparo dos tecidos. Ocorre de forma fisiológica em resposta ao dano vascular (hemostasia) ou de forma patológica podendo ocluir o vaso (trombose). Classicamente era dividido em: Hemostasia primária (estanca o sangramento pela formação do tampão plaquetário) e Hemostasia secundária (evita o ressangramento pela formação de uma rede adesiva de fibrina que consolida o trombo que passa a ser chamado de coágulo). Hoje sabe-se que acontecem simultaneamente, uma interferindo na outra – novo modelo para explicar como ocorre a coagulação; Componentes da coagulação: ▪ Proteínas plasmáticas: zimogênios de serinoproteases e cofatores. Conversão da forma inativa para ativa; ▪ Células: plaquetas, endotélio e outras células sanguíneas; ▪ Obs.: As células endoteliais possuem propriedades antitrombóticas: superfície eletronegativa; secreção de inibidores plaquetários; secreção de inibidores da coagulação e de ativadores da fibrinólise. Em caso de dano vascular as propriedades antitrombóticos convertem em propriedades protrombóticas. ▪ Íons: cálcio; ▪ Regulação da coagulação: via da Proteína C, da Antitrombina e do Inibidor da Via do Fator Tecidual (Anticoagulantes naturais). As plaquetas: ▪ Morfologia distinta se em repouso (discoide com invaginações na membrana plasmática) ou ativadas (sistema canalicular aberto com exposição de glicoproteínas e grânulos); ▪ Grânulos -alfa: Fator de VonWillebrand, fibronectina, fibrinogênio; ▪ Grânulos densos: ADP, cálcio; ▪ Citoesqueleto: Ancoram as glicoproteínas - Ia/IIa; Ib; IV; IIb/IIIa. “CASCATA” DE COAGULAÇÃO - 1964 HEMOSTASIA PRIMÁRIA 1. Adesão: Exposição da matriz subendotelial -> Colágeno -> 1º contato - Gp Ia/IIa e Gp IV das plaquetas se ligam ao colágeno (ligação fraca) -> Adesão efetiva – Gp Ib se liga ao FVW associado ao colágeno. 2. Ativação: Feita por agonistas plaquetários, sendo eles colágeno, epinefrina, serotonina (vasoconstricção), trombina, Gp IV. A alteração morfológica da plaqueta aumenta a superfície de contato e permite maior exposição de glicoproteínas e adesão mais efetiva. Também vai ocorrer liberação das substâncias presentes nos grânulos. ▪ Liberação de ADP -> Ativação da Fosfolipase A2 -> Ativação da COX-1 que produz tromboxane A2 -> Estimula a ativação de novas plaquetas e aumenta a agregação plaquetária. ▪ Exposição do fosfolipídeo plaquetário na membrana -> Importante para a hemostasia secundária. 3. Agregação: Exposição dos receptores na membrana -> Ligação da Gp IIb/IIIa com o fibrinogênio (liberado pelo CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1 grânulo alfa quando a plaqueta foi ativada) -> Formação do trombo branco. AAS -> Acetila COX1 -> Sem tromboxane A2 -> Sem agregação plaquetária. Clopidogral/Prasugrel/Ticagrelor -> Inibem o receptor do ADP -> Sem ativação da fosfolipase A2 -> Sem agregação plaquetária HEMOSTASIA SECUNDÁRIA Objetivo geral: Dar estabilidade ao trombo branco através da formação da rede de fibrina para evitar descolamento e ressangramento. Via intrínseca o Fator XII ativado pelo contato do sangue com superfícies de carga negativa (como o colágeno); o Envolve os fatores XII, XI, IX e VIII; o Culmina com ativação do fator X e início da via comum. Via Extrínseca o Ativada pelo contato do sangue com o fator tecidual (liberado após a lesão endotelial); o Envolve principalmente o fator tecidual e o fator VII; o Culmina com a formação do fator X e início da via comum. Via Comum o Começa no fator X e acaba na fibrina. Obs.: Os fatores de coagulação vitamina K dependentes são II, VII, IX e IX. Sistema de Fibrinólise Ativador tecidual de plasminogênio -> Transforma plasminogênio em plasmina -> Degradação dos coágulos de fibrina. CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1 MODELO DAS SUPERFÍCIES CELULARES O modelo da coagulação baseado em superfícies celulares substitui a tradicional hipótese da “cascata” e propõe a ativação do processo de coagulação sobre diferentes superfícies celulares em quatro fases que se sobrepõem: iniciação, amplificação, propagação e finalização. o Este novo modelo enfatiza a interação entre os fatores de coagulação e superfícies celulares; o Quando o processo de coagulação é disparado? Quando o endotélio sofre alguma perturbação, como um processo inflamatório, havendo exposição de fatores teciduais (componente crítico) produzidos nas células endoteliais. FATOR TECIDUAL (FT) o FT é um receptor para o fator VII (cofator) presente na membrana de células musculares lisas (camada média dos vasos), fibroblastos e pode ser expresso no endotélio e monócitos; o Pesquisas sugerem que ele também esteja presente em micropartículas sanguíneas fruto de restos celulares (bactérias, partículas ósseas, degradação de um tumor por quimioterapia, hemácias lisadas) -> Por isso, pacientes com anemia falciforme podem apresentar distúrbios de coagulação. FASES DA COAGULAÇÃO Iniciação: Essa etapa ocorre em resposta ao dano vascular, que expõe o subendotélio ao sangue. As plaquetas se ligam ao colágeno pela glicoproteína GpVI, sendo que essa ligação é responsável por promover uma sinalização em cascata e ativação das integrinas plaquetárias, que mediam a ligação das plaquetas com o subendotélio. O fator de von Willebrand (FvW), que circula no plasma, pode se ligar ao colágeno exposto na matriz extracelular e à GpIb, presente na superfície plaquetária. Concomitantemente, FT se liga ao FVII circulante, formando um complexo FT/VIIa, que por sua vez ativa os fatores IX e X. FXa ativa o FV e forma o complexo Xa/Va (complexo protrombinase) que converte pequenas quantidades de protrombina (FII) em trombina (FIIa), que são insuficientes para completar o processo de formação do coágulo de fibrina, mas são fundamentais para a fase de amplificação. Obs.: Acredita-se que as reações responsáveis pela iniciação da coagulação ocorram constantemente fora do espaço vascular em indivíduos saudáveis. O processo de coagulação segue para a fase de amplificação somente quando há dano vascular, permitindo que plaquetas e FVIII (ligado ao FvW) entrem em contato com o tecido extravascular, onde se aderem as células que expressam FT. Amplificação: A pequena quantidade de trombina gerada pelas células que expressam o FT possui várias funções importantes, sendo a principal a ativação máxima de plaquetas, que expõem receptores e sítios de ligação para os fatores de coagulação ativados. A ativação plaquetária provoca: mudança no citoesqueleto plaquetário, aumento da expressão de fosfatidilserina (FS) na superfície externa da plaqueta e a degranulação plaquetária com liberação dos conteúdos dos grânulos alfa e denso. Sabe-se que o conteúdo dos grânulos densos, em especial o ADP, exerce uma retroalimentação positiva nas plaquetas adjacentes para promover ativação plaquetária adicional. Além disso, a trombina ativa FV, FVIII (dissocia do FvW) e XI, presentes nos grânulos alfa. A ativação do FXI pela trombina na superfície das plaquetas explica por que o FXII não é necessário para a hemostasia normal. Propagação: A fase de propagação é caracterizada pelo recrutamento de um grande número de plaquetas para o sítio da lesão e pela produção dos complexos tenase (IXA/VIIIa) e protrombinase (Xa/Va) na superfície das plaquetas ativadas, o qual converte grande quantidade de protrombina em trombina. Esta é responsável pela clivagem do fibrinogênio em monômeros de fibrina, os quais se agregam em protofibrilas. Por último, outra função da trombina é a de ativar o FXIII, responsável por estabilizar essas protofibrilas e tornar o coáguloestável. Obs.: O fator XIII depende de vitamina K e é fundamental para formar a “cola” da fibrina. Finalização: Uma vez formado o coágulo de fibrina sobre a área lesada, o processo de coagulação deve se limitar ao sítio da lesão para evitar a oclusão trombótica do vaso. Para controlar a disseminação da ativação da coagulação, intervêm quatro anticoagulantes naturais: o inibidor da via do fator tecidual CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1 (TFPI), a proteína C (PC), a proteína S (PS), e a antitrombina (AT). REGULAÇÃO DA COAGULAÇÃO Os fatores anti e pró coagulantes estão em constante dinâmica para que possamos coagular somente quando necessário. ➔ Fatores pró-coagulantes o Fator Tecidual; o Fosfatidil Serina. ➔ Fatores anti-coagulantes o Prostaciclina (PGI2): ▪ Interage com Receptores acoplados a proteína Gs das plaquetas, resultando em aumento do AMPc dentro da plaqueta e consequente inibição da agregação plaquetária além de inibir a liberação de grânulos com zimógenos. O endotélio intacto é capaz de realizar este processo. o Inibidor da via do fator tecidual (IVFT): regula a fase inicial da etapa de iniciação – ligação ao FXa; o Antitrombina III ou Serpinas; ▪ Presentes no plasma em concentrações elevadas; ▪ Ativada pela heparina das células endoteliais ou heparina não fracionada exógena; ▪ Inativa os fatores de coagulação. o Proteína Z: Inibidor do FXa; o Proteína C e S; ▪ Papel Anti-trombótico da Trombina -> A trombina, ligada à trombomodulina na superfície da célula endotelial, ativa a proteína C, que, por sua vez, forma um complexo com a proteína S na membrana da plaqueta, e, o complexo ativado destrói os fatores Va e VIIIa. PAPEL CENTRAL DA TROMBINA o Converter Fibrinogênio em Fibrina; o Ativar o fator XIII, V, VII, VIII e XI; o Liberar os grânulos, promover agregação plaquetária e liberar micropartículas derivadas de plaquetas. AVALIAÇÃO CLÍNICA DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA HEREDITÁRIOS o Geralmente se manifestam na infância, mas eventualmente podem aparecer pela primeira vez na fase adulta; o Distúrbios mais graves (hemofilia A): geralmente se manifestam assim que a criança começa a deambular longe dos pais (3-4 anos); o Distúrbios mais brandos, como a doença de Von Willebrand, podem passar despercebidos até a realização de uma extração dentária, de uma amigdalectomia ou alguma outra cirurgia; CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1 o A história familiar pode ajudar se for positiva. Se for negativa não exclui os distúrbios hereditários da hemostasia. DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA ADQUIRIDOS o Acompanhados dos outros sinais e sintomas da doença de base ou história do uso prévio recente de algum medicamento. Ex: • CIVD: sepse ou gestação complicada; • Hepatopata: distúrbio da coagulação; sinais de insuficiência hepática e hipertensão porta; • Renal crônico: tem também outras manifestações da síndrome urêmica; • A trombocitopenia adquirida: pode estar ou não relacionada a uma causa secundária (leucemia, anemia aplásica, lúpus, infecção, etc); • A púrpura trombocitopênica imune (PTI) idiopática é a causa mais comum de distúrbio da hemostasia adquirido não relacionado a causas secundárias. AVALIAÇÃO LABORATORIAL 1. Triagem de defeitos na hemostasia primária: Contagem de plaquetas; tempo de sangramento. 2. Triagem de defeitos da hemostasia secundária: TP, TTPa, TT. CONTAGEM DE PLAQUETAS: (150.000 - 450.000): avalia produção, mas não função! o > 100.000/mm³ - não provoca sangramento; o 50.000 -100.000/mm³ - eventual sangramento acima do normal após trauma grave; o 20.000 - 50.000/mm³ - sangramento acima do normal após trauma ou cirurgia; eventual sangramento espontâneo (especialmente quando < 30.000/mm³; o 10.000 - 20.000/mm³ - sangramento espontâneo comum; o < 10.000/mm³ - risco de sangramento grave ou incontrolável; o < 5.000/mm³ - risco muito alto de sangramento grave e fatal; TEMPO DE SANGRAMENTO: (3-7MIN) o Tempo entre a incisão e a parada do sangramento; o Tem relação com o número de PLQ e com a sua função; o Técnica de Ivy: é aplicada pressão no braço do paciente e, em seguida, é feito um pequeno corte no local; o Técnica de Duke: furo na orelha feito por meio de uma lanceta ou um estilete descartável; o Avaliação das plaquetas, vasos e FVW in vivo; o Não serve como triagem pré-operatória. D- DÍMERO o Fragmento resultante da degradação da fibrina polimerizada; o Associação entre os níveis de dímero D e a presença e a severidade de doenças trombóticas; o A vida média do dímero D é de aproximadamente 6 horas. Assim, pacientes com coágulos estáveis (lenta degradação da fibrina), podem resultar em valores normais; o Quanto maior o coágulo, quando ele se desmanchar, maior será o nível de dímero D circulante; o Coágulos muito pequenos, embora potencialmente danosos à saúde podem resultar valores normais. TEMPO DE PROTROMBINA (TP) E RNI o Avaliação da via extrínseca (FT e VII) e via comum (X, V, II, fibrinogênio); o O teste pode estar prolongado nas deficiências desses fatores e na presença de um inibidor de algum desses fatores; o Dos cinco fatores que alteram o TP, três são dependentes de vitamina K (protrombina, fator VII e fator X) e tornam-se diminuídos com o uso dos anticoagulantes cumarínicos (antagonistas da vitamina K - varfarina), motivo pelo qual o TP é o exame mais CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1 amplamente usado para a monitorização da anticoagulação oral; o A sensibilidade do reagente utilizado neste exame é muito variável, assim, a OMS criou um índice para uniformizar os resultados -> RNI (razão normalizada internacional). ▪ Essa relação é feita através dos valores do TP, da média do TP (média de 20 valores normais de TP avaliada em um laboratório padronizado específico) e o índice internacional de sensibilidade (IIS), que é específico para cada reagente usado e é sempre informado pelo fabricante. o VN: 10 - 14 segundos, INR equivale a 0,8 – 1 (relação tempo paciente/controle); o INR em pacientes que fazem uso de anticoagulantes orais deve estar entre 2 e 3. TEMPO DE TROMBOPLASTINA PARCIAL ATIVADA (TTPA) o Avalia os níveis de procoagulantes envolvidos na produção de grande quantidade de trombina na superfície das plaquetas ativadas, gerada durante a fase de propagação; o Detecção de deficiências ou inibidores dos fatores de coagulação da via intrínseca ou comum -> VIII, IX, XI, XII e via comum (X, V, II, fibrinogênio); o Exame de triagem, não dá diagnóstico. Se o TTPA der alargado deve pedir a dosagem destes fatores; o Serve para monitorização da anticoagulação com heparina não fracionada (inibe Xa e trombina pela ligação à AT III) e para screening do anticoagulante lúpico (bloqueia a tromboplastina parcial); o VN: 25-35s (faz-se uma relação entre tempo paciente/controle) Obs.: Quando somente o PTTa está prolongado, há deficiência nas etapas iniciais da via intrínseca: fatores XII, XI, IX ou VIII. Quando o PTTa está prolongado juntamente com o TP há defeito na via comum da coagulação (fatores X, V e II e fibrinogênio) ou estão presentes inibidores como a heparina. TESTE DA MISTURA: PARA TP OU TTPA "PROLONGADOS" o Realizado toda vez que tenho TP, TTPA ou TT prolongados; o Mistura, em iguais proporções, do plasma do paciente com plasma controle; o Deficiências de fatores: o teste revelará "normalização” do resultado. O fator que está deficiente será suprido pelo "pool" de plasmas normais. o Presença de inibidores (anticoagulante exógeno ou endógeno de alguma patologia): o teste revelará manutenção do prolongamento. Isto se dá, pois os inibidores (em geral anticorpos) presentes no plasma do paciente também interferem com o "pool" de plasmas normais e o teste permanece prolongado.TEMPO DE TROMBINA (TT) o Avalia o tempo de coagulação na presença de trombina, permitindo testar a conversão de fibrinogênio a fibrina. o Interpretação clínica: Está prolongado na presença de heparina; concentrações elevadas de imunoglobulinas, hipofibrinogenemia (CIVD consome fibrinogênio). Está incoagulável na afibrinogenemia. o VN: 12 a 22 segundos. CAROLINA DOURADO – 4º e 6º SEMESTRE – 2021.1
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