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LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA SÍNDROMES HEMORRÁGICAS DA 2ª METADE DA GESTAÇÃO Principais causas de hemorragia: Dentre essas causas, pode-se citar DPP e Placenta prévia (PP) DESCOLAMENTO PREMATURO DA PLACENTA (DPP) CONCEITO - Separação abrupta da placenta em uma gestação acima de 20 semanas e antes da expulsão do feto. ETIOLOGIA - Causas divididas em 2 grupos: traumáticas (pressão exercida diretamente sobre o útero, como em acidentes automobilísticos e manobras e procedimentos obstétricos) e não traumáticas (hipertensão, tabagismo, miomas, idade avançada, multiparidade, amniorrexis prematura) LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA FISIOPATOLOGIA * Há teorias: - Ainda não está claro se o DPP é resultado de apenas um evento ou do conjunto deles, porém a maioria deles está ligada com a malformação dos vasos ou placentação anômala, sendo que a separação da placenta é consequência desses eventos. As mudanças notadas após a invasão trofoblástica das artérias útero placentárias tem a possibilidade de estar ligadas a este processo. Em gestações normais as artérias espiraladas perdem a sua camada muscular e se transformam em vasos dilatados com baixa resistência, já quando há esta invasão deficiente, o fluxo sanguíneo placentário diminui, gerando maior probabilidade de isquemia e de rotura. Essas mudanças ocorrem durante a primeira e a segunda onda trofoblástica, sendo esta ligada diretamente à DHEG e ao descolamento prematuro de placenta. (ZUGAIB) - A hemorragia da decídua inicia o DPP. Um hematoma retroplacentário se forma e cria uma erosão na superfície da placenta, o que gera o aumento da área de descolamento e provoca maior extravasamento de sangue, aumentando, assim, o volume de sangue do coágulo. + A hemorragia vaginal é decorrente da separação entre as membranas e a decídua, causada pelo sangue. + A hipertonia uterina ocorre devido a ação irritativa ocasionada pelo sangue na fibra muscular do útero. A partir disso, pode-se perceber a infiltração sanguínea no miométrio que passa a apresentar desorganização da sua estrutura histológica, isquemia e mudanças macroscópicas, como edema e sufusões hemorrágicas, tornando-se hipotônico. FATORES DE RISCO - Hipertensão arterial; Rotura prematura de membranas ovulares; Trombofilias hereditárias; Uso de cocaína; Trauma; Tabagismo; Descolamento prematuro de placenta em gestação anterior; Multiparidade; Gestação múltipla; Rápida descompressão uterina (polidrâmnio); Leiomioma uterino; Anomalias uterinas ou placentárias. LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA DIAGNÓTICO - Clínico + USG; - O descolamento pode ser parcial ou total e é classificado em 3 graus que levam em conta os achados clínicos e laboratoriais * Grau 1: sangramento uterino discreto sem hipertonia, vitalidade fetal preservada, sem repercussões hemodinâmicas e coagulopatia, diagnosticado no pós parto com identificação de coágulo retroplacentário * Grau 2: sangramento genital moderado e contrações tetânicas; presença de taquicardia materna e alterações iniciais posturais da pressão arterial, alterações da coagulação com queda nos níveis de fibrinogênio, BCF presentes, porém com sinais de comprometimento de vitalidade * Grau 3: sangramento genital importante com hipertonia uterina, hipotensão arterial materna e óbito fetal + Grau 3A: sem coagulopatia + Grau 3B: com coagulopatia LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA CONDUTA - Depende do grau de descolamento (classificação de Sher); - Grau 1: diagnóstico é feito no pós parto → sem repercussões maternas ou fetais; - Grau 2: parto vaginal iminente, desde que a vitalidade fetal esteja preservada e não haja comprometimento hemodinâmico materno; - Grau 3: feto morto e gestante estável → recomenda-se parto vaginal LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA PLACENTA PRÉVIA (PP) CONCEITO - Se insere total ou parcialmente no seguimento inferior do útero após a 28ª semana - Quando se vê na USG que a placenta está no segmento inferior antes da 26 ª semana se diz que há inserção baixa (evento transitório, pois há “migração placentária” → a placenta normaliza no 3º trimestre X Zugaib afirma que não há a migração, mas sim o crescimento dos segmentos uterinos superior e inferior) CLASSIFICAÇÃO - Placenta Centrototal: oclui totalmente o orifício interno do colo uterino - Placenta Centromarginal: recobre parcialmente o orifício interno do colo uterino - Placenta Marginal: atinge a borda do orifício interno do colo uterino - Placenta Lateral: atinge o segmento inferior, porém distal cerca de 7 cm orifício interno do colo uterino LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA ETIOLOGIA - ZUGAIB: A placenta também procura alojar-se em local de maior vascularização (fundo uterino), fenômeno denominado trofotropismo, enquanto a porção de trofoblasto que recobre áreas de menor vascularização (colo uterino) costuma sofrer atrofia. Em alguns casos, essa atrofia permite que vasos fiquem em contato direto com as membranas, sem tecido de sustentação placentário ou de cordão (vasa praevia). Em casos em que a atrofia for incompleta, poderá desenvolver-se uma placenta sucenturiada (que apresentam um ou mais lóbulos extra). - Primitiva: decorrente da imaturidade do ovo (o ovo atinge a cavidade uterina sem desenvolver totalmente o seu potencial de implantação) ou de condições inapropriadas do terreno - Secundária: pode ocorrer implantação placentária no segmento inferior, por crescimento placentário inusitado, nessa situação ocorre inversão das vilosidades coriais, com involução e regressão das vilosidades contíguas da decídua basal e crescimento das vilosidades QUADRO CLÍNICO - Hemorragia genital sem causa aparente, indolor, de coloração vermelho viva, com início e cessar súbitos em episódios que se repetem e se agravam. Geralmente está associada com acretismo placentário DIAGNÓSTICO Ausência de dor e contrações uterinas → têm sido usados para o diagnóstico diferencial com o descolamento prematuro de placenta CLÍNICO * Coloração do sangue: vermelho vivo e de início súbito, porém avança de maneira progressiva ULTRASSONOGRÁFICO - Preferencialmente transvaginal (maior acurácia da ultrassonografia transvaginal comparada à transabdominal possibilita um menor número de exames falso- positivos) RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Muito precisa, porém extremamente caro DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - DPP/ Rotura uterina/ Rotura de seio marginal/ Lesões cervicais/ Lesões na vagina ou na vulva LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA CONDUTA - Na presença de sangramento vaginal ou contrações uterinas, recomenda-se a internação imediata da gestante para monitorização materna e fetal. - Na vigência de sangramento, deve-se obter acesso venoso calibroso para administrar cristaloides e manter a estabilidade hemodinâmica e o débito urinário adequado (acima de 30 mL/h). - A pressão arterial e o pulso maternos devem ser medidos em intervalos que variam de 15 minutos a 1 hora, dependendo da intensidade do sangramento. Devem ser solicitados inicialmente a concentração de hemoglobina e o hematócrito, a determinação do tipo sanguíneo e os exames de avaliação da função renal. - De acordo com o volume e a persistência da hemorragia, a hemoglobina e o hematócrito devem ser avaliados a cada 4 a 6 horas. - A necessidade de transfusões sanguíneas impõe a dosagem plasmática mais frequente de eletrólitos e dos exames de avaliação da função renal. A não ser que o sangramento seja abundante ou haja outras complicações, a avaliação do sistema de coagulação (fibrinogênio, plaquetas, tempo de protrombina e tempo de tromboplastinaparcial ativada) não se faz necessária. - O banco de sangue deve ser prontamente comunicado a fim de disponibilizar hemoderivados assim que for necessário. Em mulheres Rh-negativo, deve ser administrada a imunoglobulina anti-D, sendo que o teste de Kleihauer -Betke pode ser de auxílio (pode haver necessidade de doses maiores de imunoglobulina). - A conduta dependerá basicamente da idade gestacional, intensidade da hemorragia e presença ou não de trabalho de parto. - Quando o sangramento materno não for intenso (ausência de alteração hemodinâmica materna) em gestações com fetos pré-termo, a conduta expectante pode ser adotada, desde que seja possível um bom controle materno e fetal. Em idade gestacional acima de 37 semanas, indica-se a interrupção da gestação. * CONDUTA EXPECTANTE As gestantes devem permanecer em repouso e receber suplementação de ferro elementar (60 mg, por via oral, três ou quatro vezes ao dia). - Em estudo retrospectivo, relataram que o uso de sulfato de magnésio intravenoso e/ou terbutalina subcutânea em mulheres com diagnóstico de placenta prévia e sintomática foi associado a maior tempo de gestação e maior peso dos recém-nascidos, em comparação com as pacientes que não receberam tocolíticos. Apesar de esses estudos mostrarem benefícios com a tocólise, os betarniméticos podem mascarar sinais clínicos de hipovolemia, como a taquicardia, dificultando o controle clínico da paciente, e, por isso, devem ser evitados. - A atosibana (antagonista da ocitocina), pela menor taxa de efeitos colaterais, pode ser uma alternativa nos casos de sangramento vaginal em pequena quantidade, contrações uterinas regulares e boas condições maternas e fetais, mas ainda não há estudos comprovando sua segurança. - Em gestações entre 25 e 34 semanas, na vigência de hemorragia, devem-se administrar corticosteroides de forma individualizada para o amadurecimento pulmonar do feto * CONDUTA ATIVA - Impõe-se a conduta ativa nos casos de sangramento materno intenso, vitalidade fetal alterada, maturidade fetal comprovada ou idade gestacional acima de 37 semanas. Por isso, especialmente nas gestantes com placenta prévia, está indicada a interrupção da gestação com 37 semanas, por cesárea. - Em alguns casos selecionados de placenta de inserção baixa, pode-se permitir o parto por via vaginal, com rigoroso controle do sangramento. LARISSA SODRÉ COUTINHO GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
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