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1 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 1 Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC) 1. Introdução ▪ O MHC, de maneira geral, corresponde a um complexo de glicoproteínas encontrado na superfície de algumas células. Sua principal função é atuar na apresentação de fragmentos antigênicos às células do sistema imunológico, notadamente de modo a auxiliar na diferenciação entre próprio e não próprio. ▪ Um exemplo clássico da atuação dessas proteínas, para além da apresentação antigênica clássica, reside no processo de rejeição a órgãos transplantados. ▪ Além disso, é importante destacar a existência de subdivisões nesse complexo, especificamente MHC I, MHC II e MHC III. No presente estudo, abordaremos principalmente as classes I e II, uma vez que a classe III se encontra mais intimamente relacionada ao funcionamento do sistema complemento. ▪ Obs.: Também é conhecido como HLA (Human Leukocyte Antigens). 2 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 2 2. Histórico ▪ Inicialmente, a existência desse complexo foi descoberta em camundongos. Verificou-se que a troca de tecidos dérmicos entre camundongos de linhagens distintas apresentava rejeição, enquanto esse mesmo processo realizado entre camundongos de mesma linhagem se mostrava efetivo. Tal constatação corroborou a hipótese da existência de um fator genético envolvido nessa compatibilidade tecidual. ▪ Posteriormente, após diversos experimentos com linhagens distintas e linhagens congênitas, mostrou-se que uma única região genética é a principal responsável pela rápida rejeição de enxertos teciduais, de modo que tal região foi denominada ‘lócus principal de histocompatibilidade’ (histo, de tecido). ▪ No caso dos camundongos, o lócus foi ligado a um gene do cromossomo 17, que codifica um antígeno de grupo sanguíneo, denominado antígeno II. Logo, tal região foi denominada ‘histocompatibilidade 2’, ou simplesmente H-2. ▪ Posteriormente, ao contrario do que se imaginava, nessa região, encontravam-se vários genes responsáveis pelo controle desse processo, o que levou à mudança do nome para complexo principal de histocompatibilidade. ▪ Tal descoberta, por sua vez, motivou a pesquisa pela existência de complexo semelhante em humanos, o que ocorreu por meio da procura por moléculas de superfície celular em um indivíduo, as quais pudessem ser reconhecidas como antígenos pelo sistema imune de outro indivíduo. ▪ Tornou-se mais factível tal tarefa quando foi descoberto que pessoas que recebem múltiplas transfusões sanguíneas, bem como pacientes com transplantes renais, apresentavam anticorpos capazes de reconhecer as células dos doadores como invasoras. As proteínas reconhecidas por esses anticorpos foram chamadas de antígenos de leucócitos humanos (HLA). ▪ Estudos bioquímicos subsequentes revelaram que as proteínas H2 dos camundongos e as proteínas HLA humanas apresentavam estrutura básica semelhante. ▪ A partir dessas descobertas, concluiu-se que os genes que determinam o destino dos tecidos enxertados se encontram presentes em todas as 3 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 3 espécies de mamíferos, sendo homólogos aos genes H2 inicialmente identificados em camundongos. Estes são os chamados genes do MHC. 3. Aspectos Genéticos ▪ Nos humanos, o MHC se encontra localizado no braço curto do cromossomo 6, ocupando um grande segmento de DNA. ▪ O lócus MHC contem dois tipos de genes polimórficos do MHC, os genes do MHC da classe I e os genes do MHC da classe II, que codificam dois grupos de proteínas estruturalmente distintas, porem homologas. ▪ Por exemplo, as moléculas de MHC I apresentam peptídeos e são reconhecidas por linfócitos T CD8+, enquanto as moléculas de MHC II apresentam peptídeos para os linfócitos T CD4+. 4 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 4 ▪ Obs.: Os genes do MHC I e do MHC II são os genes mais polimórficos presentes em qualquer genoma de mamífero, que se refere à ampla variação existente entre os MHC expressos por indivíduos distintos. Acredita-se que tal polimorfismo se desenvolveu por conceder a cada organismo a capacidade de lidar com a diversidade de microrganismos existentes no ambiente. ▪ Além disso, é importante destacar que os genes do MHC são expressos de modo codominante em cada indivíduo, ou seja, o MHC expresso é uma herança dos alelos herdades de ambos os progenitores. 4. Expressão de Moléculas do MHC ▪ Inicialmente, lembremos que sem a expressão do MHC celular, não há apresentação antigênica aos linfócitos T, de modo que o sistema imunológico se encontrará comprometido. ▪ As moléculas de MHC I são expressas em todas as células nucleadas, enquanto o MHC II é expresso somente em células dendríticas, em linfócitos B e em macrófagos. ▪ Outro ponto importante a ser destacado é que a expressão do MHC se encontra aumentada por citocinas produzidas durante as respostas imune inata e adaptativa. Por exemplo, o MHC I tem sua expressão consideravelmente elevada pela ação dos interferons alfa, beta e gama. Já o MHC II, por sua vez, apresenta sua expressão aumentada na presença de interferon gama. 5 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 5 5. Morfologia do MHC ▪ Inicialmente, vejamos algumas características gerais do MHC. Em seguidas, vejamos cada um dos dois tipos principais. ▪ Cada molécula de MHC é formada por uma fenda de ligação a peptídeos extracelulares, seguida de domínios do tipo imunoglobulina (Ig) e domínios transmembrana e citoplasmáticos. ▪ Os resíduos de aminoácidos polimórficos de moléculas do MHC se localizam no interior e nas adjacências da fenda de ligação do peptídeo. ▪ Os domínios tipo Ig não polimórficos das moléculas de MHC contem locais de ligação para as moléculas CD4 e CD8 dos linfócitos T. 6 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 6 MHC I ▪ Compostas por duas cadeias polipeptídicas ligadas de forma não covalente, por uma cadeia alfa (pesada) codificada no MHC e por uma subunidade não codificada no MHC, chamada de micro globulina beta 2. ▪ Essa molécula totalmente montada corresponde a um trímero formado por uma cadeia alfa, uma microglobulina beta 2 e um peptídeo ligado. A expressão do MHC I requer a presença obrigatória desses 3 componentes. MHC II 7 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 7 ▪ Moléculas compostas por duas cadeias polipeptídicas não covalentemente associadas, uma cadeia alfa e uma cadeia beta. Ao contrario do MHC I, os genes que codificam ambas as cadeias de moléculas da classe II são polimórficos e se encontram presentes no lócus do MHC. ▪ A molécula de MHC II completamente montada corresponde a um trímero formado por uma cadeia alfa, por uma cadeia beta e por um peptídeo antigênico. 6. Ligação de Peptídeos ao MHC ▪ Cada molécula de MHC I ou II apresenta uma lacuna onde um peptídeo se insere por vez. Todavia, cada molécula de MHC pode se ligar a diversos peptídeos distintos. ▪ As moléculas de MHC adquirem sua carga peptídica durante sua biossíntese e montagem no interior celular de modo que o MHC apresenta peptídeos formados a partir de antígenos previamente presente no interior da célula hospedeira. ▪ As moléculas de MHC não discriminam entre peptídeos exógenos e peptídeos derivados de proteínas do próprio organismo (autoantígenos). ▪ Com relação ao contato entre MHC e linfócito, os receptores das células T reconhecem o peptídeo antigênico e as moléculas do MHC, sendo o peptídeo responsável pela fina especificidade do reconhecimento antigênico, enquanto os resíduos do MHC contribuem para a restrição da ação das células T ao MHC. 8 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 8 7. Processamento de Proteínas Antigênicas ▪ Como principal objetivo desse processe, tem-se a ligação entre os resíduosde peptídeos antigênicos e o MHC. Desse modo, é possível que o MHC maduro expresse na membrana celular o componente antigênico e ativará os linfócitos. ▪ Em relação ao MHC I, sabe-se que os peptídeos associados a essa classe são produzidos pela degradação proteolítica de proteínas citoplasmáticas, processo que é realizado pelo complexo ubiquitina proteassoma. Observe na imagem abaixo o passo a passo da síntese do MHC I. ▪ Note que a maioria dos antígenos de proteínas citosólicas é sintetizada dentro das células. 9 Helano Brilhante – Med79 - UFCG 9 Alguns podem ser injetados no citosol por meio de mecanismo bacterianos secretores, por exemplo, e outro são fagocitados e transportados até o citosol. ▪ Já em relação ao MHC II, tem-se que a geração de peptídeos ocorre a partir de antígenos endocitados, envolvendo a degradação proteolítica das proteínas internalizadas em vesículas endocíticas. ▪ Repare na imagem acima. Tem-se a captura de proteínas extracelulares, o processamento dessas proteínas pelos endossomos/lisossomos, a biossíntese de moléculas de MHC II para tais endossomas, em sequencias, a associação entre os peptídeos obtidos nas vesículas endossomais e o MHC II sintetizado e, por fim, a expressão desse MHC maduro aos linfócitos T CD4+.
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