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FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | GASTROENTEROLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Cirrose A cirrose trata-se do estágio tardio de fibrose hepática progressiva caracterizada pela distorção da arquitetura hepática (histológica, com hepatócitos desorganizados que formam nódulos circundados por fibrose) e a formação de nódulos regenerativos. Atualmente é uma patologia de alta morbidade (com complicações maiores, necessidade de acompanhamento periódico, absenteísmo, internações, estigma social) e com expectativa de vida significativamente reduzida. Também há alta mortalidade (8ª causa de morte nos EUA 2010). Sabe-se que o tratamento em estágios iniciais pode culminar em melhora / reversibilidade, mas em estágios avançados, resulta em transplante / cuidados paliativos. As alterações são arquiteturais e hemodinâmicas Etiologia: são diversas → toda DHC, com o curso prolongado de inflamação e colestase pode gerar fibrose e consequentemente a cirrose. Budd Chiari: obstrução de efluxo hepático venoso que se origina em qualquer lugar desde os pequenos ramos da veia hepática dentro do fígado até a veia cava inferior e o átrio direito→ congestão → fibrose DHGNA: doença hepática gordurosa não alcoólica secundária à HAS, DM… - grande parte dos casos atualmente Manifestações clínicas: são diversas e em diversos sistemas - Ascite, hérnia umbilical, circulação colateral - Hepatoesplenomegalia - Flapping → tremor típico do encefalopata - Unhas de Terry, eritema palmar, unhas Muehrcke, contratura Dupuytren (dedo anelar), baqueteamento digital - Impotência, atrofia testicular, amenorreia / SUA → alteração do metabolismo dos hormônios sexuais - Alterações ósseas → distúrbio do metabolismo ósseo - Redução da pressão arterial → pode ocorrer até em pacientes previamente hipertensos - Ginecomastia, telangiectasias principalmente em tórax - Déficit neurológico - Fraqueza / Fadiga e cãibras musculares - Anorexia / Perda de peso - Icterícia, fetor hepaticus (hálito típico do paciente) hipertrofia de parótidas Exames laboratoriais: - Aminotransferases: maioria tem elevação moderada (2 ou 3x VR), TGO > TGP na maioria das vezes - FA: elevação moderada (2-3x LSN) e elevação acentuada principalmente em doenças colestáticas (colangites) - GGT: não é específica mas vem em correlação com FA, se ambas altas indicam que a fosfatase é hepática. Tende a ser > na etiologia por Álcool - Bilirrubinas: normal ou elevação, sinaliza pior prognóstico (defeito de função hepática) - Tempo de Protrombina (RNI): Normal ou elevação, pior prognóstico - Albumina: normal ou queda, na última, pior prognóstico - Anormalidades hematológicas: pode haver pancitopenia. Anemia, leucopenia, plaquetopenia (mais comum) FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | GASTROENTEROLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Exames Etiológicos: cinética do ferro, autoanticorpos, A1ATP, ceruloplasmina (wilson), teste genético Exames de imagem: dentre os achados, tem-se: - Fígado → pequeno, nodular, textura irregular; - Circulação porta → aumento do calibre da VP, trombose da VP, colaterais; - Baço → esplenomegalia; - Dentre os sinais indiretos → ascite, varizes esofagogástricas. Diagnóstico: Fatores de risco: precipitam as complicações maiores → Infecção, obesidade, constipação, sangramento, desidratação, ingestão de álcool, uso de medicamentos Complicações maiores: fígado fibrosado e com diminuição da função geram consequências. A partir do momento que apresenta uma dessas complicações, a cirrose já é descompensada - Ascite: acúmulo de líquido na cavidade peritoneal, trata-se da complicação mais comum da cirrose (50%). O tratamento é feito com diuréticos, restrição de sódio, paracenteses, TIPS, transplante hepático. São candidatos ruins à cirurgias eletivas (como de hérnias, que são frequentes, por exemplo). - Hemorragia Varicosa: alta mortalidade (15-20% em 30 dias). É feito tratamento da doença de base + tratamento com escleroterapia, ligadura elástica, profilaxia primária e secundária. - Encefalopatia Hepática: trata-se de um espectro de anormalidades neuropsiquiátricas (alteração de consciência, comportamento, inversão de ciclo sono-vigília, tremores, nistagmo…) potencialmente reversíveis. Deve ser feito o tratamento da condição predisponente, laxativos (constipação pode causar e facilitar a eliminação da amônia) e antibióticos (tratar e previnir infecção associada - rifaximina). - Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE): trata-se de infecção do líquido ascítico preexistente, sem evidência de uma fonte secundária intra-abdominal. Demonstra prognóstico muito ruim: doença hepática terminal. Diagnóstico: ≥ 250 polimorfonucleares/mm3 - Sd. Hepatorrenal (SHR): desenvolvimento de insuficiência renal em pacientes com doença hepática avançada. Prognóstico ruim. FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS CLÍNICA MÉDICA III | GASTROENTEROLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Carcinoma Hepatocelular (CHC): risco acentuadamente aumentado na cirrose e na hepatite B. Seu rastreio deve ser realizado através do US abdome + AFP 6/6. Deve-se pesquisar na descompensação hepática (diagnóstico tardio). - Outras: trombose de veia porta, cardiomiopatia cirrótica, gastropatia da hipertensão portal Tratamento Geral: 1) Retardar ou reverter a progressão da doença hepática: existe uma reversibilidade da fibrose, mas não se sabe até qual grau, mas pode ocorrer com o tratamento da doença de base + abstinência alcoólica e tratamento medicamentoso específico. 2) Prevenir insultos sobrepostos ao fígado: a) Vacinação: hep. A e B e influenza (dosar e rastrear o HCV também) b) Evitar hepatotoxinas: medicamentos, suplementos e substâncias de uso abusivo c) Ajuste de medicações: evitar ou alterar doses → metabolismo de 1 passagem no fígado = reavaliar i) EX.: sinvastatina, metformina… Pode usar aplicativos como o livertox e o lexicomp. 3) Manejo de Sintomas e Alterações Laboratoriais: a) Sinais e Sintomas: fadiga, hiporexia, desnutrição, hérnias umbilicais, cãibras musculares b) Exames Laboratoriais: trombocitopenia (geralmente não geram complicações clínicas) e alargamento do RNI (paciente com DHC e disfunção na síntese hepática tem prejuízo na formação de fatores pró coagulantes e coagulantes - logo não há como medir se há tendência mais pró ou anticoagulante, logo não se interfere geralmente) 4) Prevenir, Identificar e Tratar Complicações a) Ambulatorial: tratar infecções, rastreio de CHC, rastreio de varizes, ajuste de medicamentos, profilaxia primária e secundária de HDA b) Hospitalar: evitar invasões, evitar internação em UTI e rastrear e tratar infecções Prognóstico: - Cirrose compensada: sobrevida média >12 anos e se VEGs há pior prognóstico - Cirrose descompensada: avaliar transplante hepático. Fatores prognósticos → - Hipotensão, hiponatremia, síndrome hepatorrenal (SHR), Child Pugh e/ou MELD elevados, peritonite bacteriana espontânea (PBE).
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