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UM BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA PSICOMOTRICIDADE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO Raysa Soares Moi Licenciatura em Pedagogia – Universidade Veiga de Almeida moi.raysa2@outlook.com Márcia Simões Mattos Professora da Universidade Veiga de Almeida - Mestre em Educação –Licenciatura em Pedagogia e História marcia.mattos@uva.br RESUMO O estudo tem como objetivo o levantamento de informações históricas acerca do tema psicomotricidade e sua relação com a educação como fator fundamental para o desenvolvimento em seus aspectos cognitivos, físicos e sociais da criança. Por meio de atividades lúdicas as crianças, além de se divertir, criam, interpretam e interagem com o mundo em que vivem, considerando a relação do movimento e da aprendizagem, e a desarmonia entre ambos pode ser prejudicial à criança. O ser humano é visto como um corpo único e inseparável, e se desenvolve sobre três pilares: cognitivo (intelectual), motor (movimento) e o afetivo (relação), gerando assim, o equilíbrio biopsicossocial. Um bom trabalho psicomotor com o foco no controle tônico postural pode diminuir as dificuldades de aprendizagem, estimulando a conscientização do ritmo, da atenção, concentração, dentre outros aspectos que influenciam diretamente na aprendizagem e no desenvolvimento. A metodologia consistiu em uma série de pesquisas bibliográficas para apoiar um estudo crítico sobre a história da psicomotricidade e sua relação com a educação. Palavras-chave: Psicomotricidade, História, Aprendizagem. ABSTRACT The aim of this study is to collect historical information about the theme of psychomotricity and its relationship with education as a fundamental factor for development in its cognitive, physical and social aspects of the child. Through play activities, children enjoy and create, interpret and interact with the world in which they live, considering the relation of movement and learning, and the disharmony between them can be harmful to the child. The human being is seen as a single and inseparable body, and develops on three pillars: cognitive (intellectual), motor (movement) and affective (relationship), thus generating biopsychosocial balance. Good psychomotor mailto:moi.raysa2@outlook.com mailto:marcia.mattos@uva.br work with a focus on postural tonic control can reduce learning difficulties, stimulating awareness of rhythm, attention, concentration, among other aspects that will directly influence children's learning and development. The methodology consisted of a series of bibliographical research to support a critical study on the history of psychomotricity and its relation with education. Key words: Psychomotricity, History, Learning. INTRODUÇÃO A psicomotricidade está presente basicamente em todas as atividades, e além de constituir-se como um fator indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da criança, é também a base fundamental para o processo de aprendizagem dos indivíduos. Assim este estudo tem como objetivo o levantamento de informações históricas acerca do tema psicomotricidade e sua relação com a educação como fator fundamental para o desenvolvimento em seus aspectos cognitivos, físicos e sociais da criança. A metodologia utilizada está alicerçada na pesquisa bibliográfica que tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito, assim entendermos o conceito de psicomotricidade, e como ela está vinculada com a educação e suas contribuições para a aprendizagem da criança. A psicomotricidade é caracterizada como uma área do conhecimento que utiliza os movimentos físicos para atingir outras aquisições mais elaboradas, como as intelectuais, e durante o processo de ensino, os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com frequência, e cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras (ex:b/d), na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na análise gramatical, dentre outras. Assim os movimentos físicos são muito importantes para o desenvolvimento humano, transmitindo sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso de gestos e posturas corporais, que auxiliarão no processo de ensino-aprendizagem, considerando que um bom desenvolvimento psicomotor proporciona ao aluno algumas habilidades e um bom desempenho escolar. Neste sentido é importante refletir sobre a história, os conceitos e fundamentos da psicomotricidade, e os benefícios dessa prática para o desenvolvimento integral da criança, o surgimento da psicomotricidade no Brasil e suas principais vertentes. A partir do referencial teórico, obtido com as leituras de autores como Fonseca (2008) que apresenta em sua obra um minucioso estudo sobre os três pioneiros do desenvolvimento psicomotor: Ajuriaguerra, Wallon, Piaget, e as contribuições de Le Boulch (1982), Negrine (1986), entre outros autores, assim sendo possível formular a hipótese de que a psicomotricidade interfere na aprendizagem dos alunos e no desenvolvimento integral. De acordo com Fonseca (2008), a psicomotricidade pode ser definida como o campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade. Para Le Boulch, a educação psicomotora deve ser uma formação de base indispensável para toda criança. Assim, é importante uma analise a fim de buscar os motivos das dificuldades encontradas no processo de ensino-aprendizagem, que não estão ligadas às questões patológicas, e acabam se tornando uma problemática educacional nas etapas da vida escolar da criança. Desta maneira destaca-se e a importância para o professor em conhecer a história da psicomotricidade e seus fundamentos, a fim de compreender de fato como ela está ligada à educação e refletir sobre a importância da área psicomotora no desenvolvimento motor e cognitivo. 1. Um Breve Histórico, Conceitos e Fundamentos da Psicomotricidade O corpo é o ponto de referência que os seres humanos buscam conhecer e assim interagir com o mundo, servindo como base para o desenvolvimento nos aspectos cognitivos, sociais, físico-motor e afetivo-emocional. Fonseca (1988) informa que etimologicamente podemos definir o termo psicomotricidade como oriundo do grego psyqué = alma/mente e do verbo latino moto = mover frequentemente, agitar fortemente. A terminologia está ligada ao movimento corporal e sua intencionalidade. A motricidade humana tem sua origem na própria história social do homem, sendo fundamental às atividades no trabalho, em casa, na caça, na comunicação e na perpetuação da espécie. Já o termo “Psicomotricidade” apareceu pela primeira vez no discurso médico, no campo da neurologia, tendo como pioneiro o neurologista francês Ernest Dupré (1862 – 1921), que no século XIX constatou disfunções graves evidenciadas no corpo sem que o cérebro tivesse nenhuma lesão. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica, onde o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos, tendo então a necessidade de encontrar uma área que explicasse tais fenômenos clínicos, e então fez com que surgisse a palavra “Psicomotricidade” em 1870. Em 1909, Dupré definiu a síndrome da debilidade motora através das relações entre o corpo e a inteligência, dando partida para o estudo dos transtornos psicomotores, patologias não relacionadas a nenhum indício neurológico estudados pela Psicomotricidade. Somente no século XX a psicomotricidade passou realmente a ser considerada ciência. Contudo, a prática psicomotora começou em 1935, com Eduard Guilmain, que elaborou protocolos de exames para medir e diagnosticar transtornos psicomotores.Passa-se a ter uma visão integral do indivíduo, de forma a respeitar suas limitações e necessidades, trabalhando-o integralmente o físico, cognitivo e o afetivo. A psicomotricidade é sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Sendo estruturada por três pilares: o querer fazer (emocional) – sistema límbico, o poder fazer (motor) – sistema reticular e o saber fazer (cognitivo) – córtex cerebral. Sendo importante que ocorra o equilíbrio entre eles, caso ao contrário pode acarretar uma desestruturação no processo de aprendizagem da criança. A motricidade tem a função de levar as experiências vivenciadas até o cérebro, que fará a decodificação de cada estimulo enviado e armazenará as informações sensoriais, afetivas e perceptivas que o individuo presenciou. De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade, a mesma pode ser definida como: ... a ciência que tem como objetivo de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os objetos, e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas, e orgânicas. Neste sentido Dupré, foi um dos autores que influenciaram fortemente a Psicomotricidade, assim como Wallon, Piaget, Guilmain, Ajuriaguerra entre outros, que estudaram e comprovaram a relação entre o movimento e a aprendizagem. Segundo Wallon (1925), seus estudos estavam voltados para a relação entre as emoções e o certo comportamento tônico, mostrando a importância dos movimentos no desenvolvimento psicológico da criança. Seu olhar psicobiológico influenciou os psicomotricistas que estudam o desenvolvimento motor e mental da criança, auxiliando nos estudos relacionados à aquisição do conhecimento da criança, em seus aspectos intelectuais, motores e afetivos. O movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma simples contração muscular, e sim, um significado de relação afetiva com o mundo, assim, para o autor, o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo. Neste contexto, pode-se dizer que o desenvolvimento motor é precursor de todas as demais áreas. (WALLON, 1995, p. 01). O que mais tarde será visto por Ferreira (1998), afirma que “não existe aprendizagem sem que seja registrado no corpo”. (p. 18), destacando a importância dos movimentos nas ações de construção do conhecimento. Nos estudos de De Meur & Staes (1984), assinala que “o intelecto se constrói a partir da atividade física”. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que as habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras. No enfoque das pesquisas de Levin (1995), “há uma diferença entre os pensamentos de Wallon e Dupré”; para Wallon, o movimento está relacionado ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos das crianças; para Dupré, a motricidade está relacionada inteligência. Assim é possível observar que no início a psicomotricidade tinha seus estudos voltados para a patologia. Porém Wallon, Piaget e Ajuriaguerra aprofundaram seus estudos voltados para o campo do desenvolvimento, nesta perspectiva Wallon se preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção, já Piaget se preocupou com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência e Ajuriaguerra consolida as bases da evolução psicomotora, de forma mais específica para o corpo e sua relação com o meio. Para ele, a evolução da criança está na conscientização do seu corpo. Estas contribuições muito avançaram para o conceito da psicomotricidade e as ações metodológicas para o desenvolvimento da aprendizagem, principalmente na aquisição da leitura e escrita. Assim para a psicomotricidade o indivíduo, para aprender, precisa sentir, pensar e agir, a psicomotricidade é a expressão de um pensamento pelo ato motor preciso, econômico e harmonioso. (AJURIAGUERRA, 1983) Em 1948, Ajuriaguerra redefiniu o conceito de debilidade motora e delimitou com clareza os transtornos psicomotores no seu Manual de Psiquiatria Infantil. Ele é o responsável por delimitar com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia. O corpo é eixo comum na prática da psicomotricidade, porta-voz dos sintomas e sede dos problemas de aprendizagem e/ou psicomotores, podendo ser trabalhados através da reeducação, porém o profissional de educação deve se apropriar deste recurso para aplicá-lo nas rotinas educacionais. Os pesquisadores André Lapierre e Bernard Aucouturier, são considerados os pais da psicomotricidade relacional. Negrine (1995), afirma que com a influência desses dois professores de educação física, a psicomotricidade passou por três períodos: continuador, inovador e de ruptura. O período continuador é caracterizado pela primeira vertente adotada pelos autores Lapierre e Aucouturier, onde as publicações da época expressavam a linha teórico-metodológica funcionalista, marcando a origem da psicomotricidade como campo de estudo e como prática pedagógica, onde as crianças eram submetidas a testes que avaliavam seu perfil psicomotor. Já no período inovador, ao contrário do que acreditavam no estágio anterior, nesse período, o trabalho era desenvolvido com fundamento nas potencialidades dos alunos, unindo teoria e prática com bases relacionais, pois a psicomotricidade funcional não seria adequada quando se tratasse de educação ou reeducação. Assim surge o período da ruptura, onde os autores Lapierre e Aucouturier acabaram tendo suas práticas distanciadas. Lapierre trabalhou com base na potencialização dos jogos simbólicos, acreditando que sempre há uma intenção por trás deles, e que o adulto interviria no jogo simbólico da criança. Já Aucouturier defendia a potencialização dos jogos sensório-motor. Segundo Alves (apud SILVA, 2004), “A psicomotricidade tem como principal propósito melhorar ou normalizar o comportamento geral do individuo, promovendo um trabalho constante sobre as condutas motoras, através das quais o indivíduo toma consciência do seu corpo, desenvolvendo o equilíbrio, controlando a coordenação global e fina e a respiração bem como a organização das noções espaciais e temporais.” É uma pratica pedagógica que contribui para o desenvolvimento da criança no processo de ensino aprendizagem. Favorece os aspectos físicos, mental, afetivo emocional e sócio cultural. É uma forma de ajudar a criança a superar as suas dificuldades e precaver possíveis inadaptações. (OLIVEIRA, 2002). O papel da psicomotricidade na educação é estimular o desenvolvimento das percepções da criança e seu esquema corporal. O ato de movimentar-se fisicamente é privilegiado com o trabalho psicomotor, porém leva-o ao trabalho mental, onde é aprendido a ouvir, interpretar, imaginar, organizar, representar e passar do abstrato para o concreto. O desenvolvimento é adquirido através de suas tentativas e erros. Ela transforma seus erros em aprendizado. Portanto a atividade motora é de extrema importância no desenvolvimento da criança. A psicomotricidade de Le Boulch (1983) justifica sua ação pedagógica colocando em evidencia a prevenção das dificuldades pedagógicas, dando importância a uma educação do corpo que busque um desenvolvimento total da pessoa, tendo como principal papel na escola preparar seus educandos para vida, utilizando métodos pedagógicos renovados, procurando ajudar a criançaa ser desenvolver da maneira possível, contribuindo dessa forma para uma boa formação da vida social. Muitos estudos tem na psicomotricidade um olhar apenas para o corpo e o movimento, porém vai além. É responsável também pela contribuição mental e pelo comportamento, neste sentido podemos observar que: A psicomotricidade como seu nome indica, trata de relacionar os elementos aparentemente desconectados, de uma mesma evolução: o desenvolvimento psíquico e o desenvolvimento motor. Parte, portanto, de uma concepção do desenvolvimento que coincide com a maturação e as funções neuromotoras e as capacidades psíquicas do individuo de maneira que ambas as coisas não são duas formas, até então desvinculadas, na realidade é um processo. (NÚNEZ apud COSTALLAT, 2002, p.22) O movimento é a parte integrante do comportamento humano. No entanto, conforme os estudos de Santos; Cavalari (2010) para que haja desenvolvimento integral é preciso que tenhamos profissionais capazes e conscientes da importância da psicomotricidade, considerando-a como a ciência que envolve toda ação realizada pelo individuo, que represente suas necessidades e permita suas relações com os demais. Segundo Alves (2008), “O ser humano não é feito de uma só vez, mais se constrói pouco a pouco, por meio da ação com o meio e de suas próprias realizações, e nessa construção a psicomotricidade realiza um papel fundamental.” O que a cada dia torna-se essencial no processo de aprendizagem da criança, onde ela utiliza de seu próprio corpo para o processo de interação e conhecimento do mundo. De acordo com a afirmação de Alves (2012, p.144), “A psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao domínio do seu próprio corpo”. A estruturação psicomotora é a base para o processo de desenvolvimento intelectual da criança. O desenvolvimento evolui do geral para o específico. Apresentando desta forma ser um dos fatores essenciais ao desenvolvimento global e uniforme da criança. Alexander Romanovich Luria foi um famoso psicólogo soviético especialista em psicologia do desenvolvimento e agrupou as bases psicomotoras em unidades funcionais ou neuroblocos, a primeira composta pela tonicidade e o equilíbrio, a segunda composta pela noção de corpo, lateralidade e estruturação espaço-temporal e a terceira é composta pelas praxias global e distal. A criança não nasce pronta, tudo se constrói aos poucos, por meio das próprias ações, cada ser tem seu eixo corporal que ao decorrer do tempo é adquirido pelo movimento e as experiências vividas. O ser humano necessita através do seu corpo, perceber as coisas que estão ao seu redor, adquirindo as noções de em cima, embaixo, perto, longe, na frente e atrás, sendo sempre estimulada a se auto-independe. No entanto esses desenvolvimentos variam de criança para criança, pois cada uma apresenta competências diferentes. A psicomotricidade trabalha os movimentos da criança, motiva a capacidade sensitiva, cultiva a capacidade perceptiva através da resposta corporal, organiza a capacidade dos movimentos, utilizando objetos reais e imaginários, amplia e valoriza a identidade própria, cria segurança e respeito aos espaços dos demais. Os estudos baseados na psicomotricidade nos auxiliam a entender a importância do corpo para o desenvolvimento global do ser humano, associando dinamicamente o ato ao pensamento, o gesto à palavra, o símbolo ao conceito, e está relacionada ao processo de maturação. Antigamente a educação propôs que os aspectos motores e intelectuais poderiam ser medidos por testes, sendo o sujeito fragmentado, e assim vieram novos tempos e novas idéias, e com isso o corpo e a imaginação só poderiam andar juntos, e o brincar passou a fazer parte da educação, contribuindo para aprendizagem. E as relações com o outro e com o meio, o ser humano se desenvolvia plenamente. 2. O Surgimento da Psicomotricidade no Brasil No Brasil, a Psicomotricidade foi introduzida em meados da década de 70, trazida por profissionais oriundos da Europa. Nesta época, as práticas eram direcionadas a Educação e Reeducação Psicomotora. E em 1976, com a estada de Françoise Désobeau, uma das pioneiras em psicanálise infantil, foi introduzida a Terapia Psicomotora que propunha a substituição das técnicas instrumentais por atividades mais livres, valorizando o jogo e o brincar. Assim, em 1980 foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. O início da Psicomotricidade no Brasil ocorreu com profissionais que foram para a França especializar-se em clínica infantil e, depois, em psicomotricidade com Ajuriaguerra - psiquiatra e professor e, depois, com Bergès que era seguidor de Ajuriaguerra, no hospital Henri-Roussele, na escola da equipe de Giselle. B Soubiran- terapeuta psicomotora. Airton Negrine, é uma das primeiras referências no Brasil na área da Psicomotricidade, passando de partidário da linha funcionalista, para defensor da linha relacional, onde o professor deve buscar sempre estratégias para impulsionar o desenvolvimento dos alunos que apresentam dificuldades. A educação especial foi o elo entre o surgimento da psicomotricidade na Europa e no Brasil. De acordo com Negrine (2002), os primeiros trabalhos relacionados à psicomotricidade no Brasil foram realizados por professores das disciplinas ligadas ao ensino de educação física na educação infantil, em cursos superiores de educação física. Esses professores lutaram para que a psicomotricidade fosse uma disciplina integrante do currículo dos cursos de educação física e pedagogia. Antes que isso acontecesse, a psicomotricidade já era desenvolvida dentro de clínicas privadas de reeducação. A história da psicomotricidade chega tardiamente no Brasil, contudo, vêm despertando interesse de muitos estudiosos, principalmente de profissionais da área da educação que buscam melhorar o desempenho de seus alunos no desenvolvimento global, para facilitar a aquisição de conhecimentos, principalmente no processo de alfabetização, onde são encontradas as maiores dificuldades trazidas pelos alunos. 3. As Principais Vertentes da Psicomotricidade Com o intuito de facilitar a compreensão das características das principais vertentes da Psicomotricidade, algumas características são analisadas e destacadas em cada uma delas. A psicomotricidade evidencia três vertentes: a reeducativa, terapêutica e educativa. A Reeducação atende individualmente, ou em pequenos grupos, que apresentam sintomas de ordem psicomotora. Estes sintomas podem vir acompanhados de distúrbios mentais, orgânicos, psiquiátricos, neurológicos, relacionais e afetivos. O trabalho de reeducação privilegia a princípio três situações, que são: o alívio do problema, a redução do sintoma e a adaptação ao problema através de jogos e exercícios psicomotores. A Terapia Psicomotora é realizada individualmente ou em pequenos grupos que apresentam grandes perturbações de ordem patológica, tem como objetivo uma ação diagnóstica dos atrasos psicomotores ou características da personalidade com a utilização do corpo, com seus movimentos e sua expressividade. A terapia psicomotora utiliza-se das contribuições da teoria psicanalítica. Nesta vertente os psicomotricistas estão atentos à vida emotiva de seus pacientes, delegando importância à emoção, à expressão e à afetividade. O corpo é considerado como uma unidade que conjuga a emoção e a motricidade (LEVIN, 1995). A Educação Psicomotora é realizada no âmbito escolar, é uma atividade preventiva, aplicada principalmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental séries iniciais. Sua intensificação como prática pedagógica teve origem na França, com o professor de Educação física Jean Le Boulch, na segunda metade da década de 60, tendo como foco o desenvolvimento globaldo indivíduo por meio dos movimentos, evitando distúrbios de aprendizagem, proporcionando para os indivíduos, ambientes que estimulem as vivências corporais, desafiando os alunos a alcançarem suas zonas de desenvolvimento, como defende Vygotsky. Segundo Le Boulch (1987) “a Educação Psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para o ensino fundamental.” A Educação Psicomotora proporciona atividades escolares, que não podem ser conduzidas se a crianças não tiver alcançado a consciência do seu corpo, lateralizar-se, e se não tiver adquirido habilidades e coordenação de seus gestos e movimentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim este estudo buscou alcançar os objetivos propostos, demonstrando assim a grande importância que a psicomotricidade exerce ao longo da vida de um aluno e sua influência no processo de ensino-aprendizagem. Entender a questão histórica e evolução da Psicomotricidade bem como relatar as personalidades importantes para o crescimento desta ciência, é de suma importância para a formação dos docentes e ponto de reflexão para torna-la amplamente conhecida na base de estudos na formação docente. Um desenvolvimento psicomotor não estimulado pode acarretar uma série de problemas não só motores, mas no desenvolvimento total do indivíduo, fazendo com que as ações simples do cotidiano se tornem difíceis pela má formação. Como por exemplo, o desenvolvimento das habilidades psicomotoras para o aluno nos anos iniciais escolares poderá ser grande facilitador no desenvolvimento integral das etapas da alfabetização e levando-o a um desenvolvimento pleno. Assim, é necessário que as escolas proporcionem a formação continuada para os professores através de conhecimentos sobre a temática, e que tenham um olhar sensível para perceber as necessidades dos alunos e poder construir novas possibilidades diante das dificuldades psicomotoras, e nas situações mais complexas solicitar o auxílio necessário, e a escola cumpra sua função social que é garantir os conhecimentos, as habilidades e valores necessários à formação do individuo. Neste sentido esta pesquisa buscou enfatizar, a partir de uma perspectiva histórica, uma breve narrativa do desenvolvimento da Psicomotricidade ao decorrer dos tempos e alguns de seus autores principais, evidenciar através dos estudos destes autores, que não há um conceito único e singular, mas sim, diversos olhares sobre a Psicomotricidade. A Psicomotricidade é apresentada assim, como uma ciência que pretende transformar o corpo em um instrumento de relação e expressão com o outro, através do movimento dirigido ao ser em sua totalidade, em seus aspectos motores, emocionais, afetivos, intelectuais e sociais, considerando o homem como único, em constante evolução e essencialmente um ser interativo. Diante desta pesquisa, o estudo possibilitará o início de outras análises para que este tema ocorra frequentemente nas pesquisas de educação e principalmente nas práticas docentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AJURIAGUERRA, J. Manual da Psiquiatria Infantil. São Paulo: Masson, 1983. ALVES. 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