Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FARMACOLOGIA VETERINÁRIA ANABOLIZANTES Ana Clara Fontes, Isabela Bessa, Isadora Vieira, Julia Baldi, Juliana Celeiro, Juliana Imbroisi, Maria Carolina Landim, Mirella Câmara, Natiane Viana, Thais Cancela. Juiz de Fora 2019 1- Introdução De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) a definição de anabolizante seria: Substâncias que aumentam a retenção de nutrientes fornecidos pela alimentação. Porém, usualmente é um termo designado à um grupo genérico de substâncias naturais e sintéticas, os esteróides anabólicos. Seu efeito é de aumento de massa muscular e peso dos animais, porque tem a capacidade tanto de aumentar a retenção de nitrogênio protéico e não protéico presentes nos alimentos quanto de aumentar também a transformação desse nitrogênio em proteína. Anabolismo é o termo referente ao conjunto de processos fisiológicos envolvidos na fixação de nutrientes e portanto na formação e crescimento dos tecidos, e foi a partir desse termo que se derivou a palavra “anabolizante”. Os esteróides anabólicos possuem a capacidade de produzir efeitos androgênicos e efeitos anabólicos. Efeitos androgênicos são os referentes ao desenvolvimento do sistema reprodutor masculino e das características secundárias dos machos. E efeitos anabólicos são os relativos a retenção do nitrogênio alimentar e portanto ao aumento de massa e força muscular. É fato que, na maioria das espécies a musculatura dos machos é mais exuberante, e desenvolvida naturalmente, em relação a das fêmeas, e por isso eles possuem peso e tamanho maiores. Isso ocorre devido ao fato dos hormônios masculinos e seus derivados possuírem efeito anabolizante nos músculos esqueléticos, e as fibras musculares dos machos serem mais largas que as das fêmeas. Recentes estudos têm mostrado que o desenvolvimento, portanto, dos músculos estriados é diretamente relacionado à disponibilidade de andrógenos. Um estudo associou inclusive a castração a capacidade de produzir a regressão da musculatura esquelética em machos de várias espécies de mamíferos, porém, a partir do uso de andrógenos, principalmente a testosterona, esse seria um efeito totalmente revertido. Devido a essa capacidade, os andrógenos usualmente são chamados de agentes miotróficos, ou seja, são substâncias capazes de gerar ação anabólica diretamente na musculatura esquelética. Tanto os estrógenos, como a progesterona, bem como o hormônio do crescimento e a insulina, são hormônios que possuem atividade positiva na síntese protéica, ou seja, aumentam o peso dos animais de maneira significativa, porém, como possuem ações mais complexas e generalizadas, não são considerados agentes anabólicos ou miotróficos, porque sua ação de síntese protéica não é específica na musculatura esquelética. Uso terapêutico: A partir do seu efeito miotrófico, constatou-se que os esteróides anabólicos seriam úteis no tratamento de enfermos que apresentam caquexia ou que se encontram em fase acelerada de catabolismo. Isso porque essas substâncias aumentam tanto a massa muscular quanto a mielopoese, a produção de eritropoetina e de eritrócitos. Os hormônios estrogênicos e progestogênicos possuem ainda efeito anticoncepcional e de reposição hormonal, fazendo parte da formulação terapêutica de diversos medicamentos, muitos utilizados na terapia humana por mulheres pós-menopausa e na prevenção da osteoporose. Além disso, são utilizados também na prevenção de doenças cardiovasculares e no tratamento de certas formas de câncer de mama e de próstata. Porém, como descobriu-se que essas substâncias, os andrógenos principalmente, tinham a capacidade de estimular a síntese protéica nos tecidos, em especial nos músculos, começou-se a ter interesse em maximizar esses efeitos miotróficos em relação aos referentes à esfera sexual, ou seja, começaram a ser produzidos derivados sintéticos e semissintéticos que focassem mais nos efeitos referentes a síntese protéica muscular. Sendo assim, o uso desses medicamentos passou a ser uma das questões mais polêmicas na pecuária de corte e na área de esportistas e criadores de animais para competição, onde esses anabolizantes passarem a ser utilizados como forma de aumentar a produção e a resistência animal, e assim sendo incluídos no grupo de agentes de dopagem ou de doping. Nos EUA, na Austrália, na Nova Zelândia, no México, no Canadá, e entre outros países, os anabolizantes são substâncias livremente empregadas para o aumento da produção de carne em bovinos de corte, porém no Brasil, sua comercialização é proibida. 2- Origem e classificação No Brasil as fazendas têm como objetivo maximizar a produção, aumentando a rentabilidade e a redução de custos da empresa. Os fatores para aumento da produtividade estão relacionados com a melhoria de pastagens, genética, manejo e outros. A associação desses fatores ao uso de anabolizantes, que são substâncias com capacidade de incrementar a retenção de nitrogênio fornecido pela alimentação e, com isso, aumentar o teor de proteínas no metabolismo dos animais podendo resultar em uma desempenho produtiva e lucratividade considerável. A criação intensiva de animais elevou o uso de medicamentos veterinários e de substâncias promotoras do crescimento no intuito de maximizar a eficiência alimentar e reduzir o tempo de criação. Os anabolizantes e os esteroides anabolizantes, embora possuam a mesma classificação, possuem conceitos diferentes. Os anabolizantes são tidos como qualquer substância que tenha a função anabólica, podendo, inclusive, ser algum tipo de alimento, como os que possuem em sua composição carboidratos e a https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/carboidratos proteína. Os esteroides anabolizantes, por sua vez, são substâncias produzidas a base do principal hormônio sexual masculino, a testosterona. Anabolizantes em geral, foram desenvolvidos para casos onde é necessário o aumento da massa muscular, fortificação do tecido ósseo e aumento da produção de células vermelhas do sangue e nunca visando às alterações atléticas do animal, caracterizando o doping. Os anabolizantes são aplicados como implantes, injeções oleosas ou como aditivos alimentares, quando injetados nos músculos, eles se fundem na corrente sanguínea e quando são administrados por via oral eles percorrem o trato gastrointestinal, até o fígado, atingindo a corrente sanguínea. Os anabolizantes de interesse agropecuário podem ser classificados de acordo com a sua origem em três grupos: compostos naturais, sintéticos ou xenobióticos e estilbenes. São chamados de agentes anabolizantes naturais, esteróides naturais ou compostos naturais os anabolizantes endógenos, isto é, que existem normalmente no organismo dos animais, por exemplo, tanto machos como fêmeas produzem testosterona, 17β-estradiol e progesterona, embora o façam em quantidades diferenciais em função do sexo. Xenobióticos, por outro lado, são os anabolizantes obtidos por síntese laboratorial (acetato de trembolona e acetato de melengestrol) ou por modificação, feita em laboratório, da estrutura química de substâncias obtidas da natureza (zeranol). Finalmente, estilbenes são anabolizantes sintéticos, obtidos a partir dos hormônios naturais. Há, no entanto, classificações para esteróides anabólicos utilizados para aumentar massa muscular de bovinos, sendo então divididos em hormônios esteróides endógenos (androgênicos, estrogênicos e progestogênicos), hormônios esteroides exógenos (sintéticos e semissintéticos, com atividade estrogênica, androgênica e progestogênica), hormônios não esteróides com atividade androgênica (acetato de trembolona) e hormônios não esteróides com atividade estrogênica (dietilestilbestrol -DES-, hexestrol, dienestrol e zeranol). 3- Administração, absorção, biotransformação e eliminação Os anabolizantes naturais, como a testosterona e o estradiol, não devem ser administrados via oral, visto que são rapidamente inativados durante o processo de metabolização pelo fígado. Entretanto, os anabolizantes sintéticos, semissintéticose os estilbenes tem a possibilidade de serem administrados por via oral, pois a metabolização destes pelo fígado é mais lenta. Contudo, não é a via de predileção, já que para alcançar efeitos satisfatórios nos animais é necessária a administração em grandes doses e em tempo prolongado. Em ruminantes, por exemplo, a via oral é totalmente inviável e, por esta razão, foram desenvolvidos dispositivos de implantação subcutânea, de tal forma que haja uma liberação gradual e contínua do fármaco, gerando melhores resultados. Além disso, a via subcutânea é a mais utilizada nos animais pois a administração via oral ou parenteral aumenta as chances em erros de dosagem e a https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/biologia/proteina ocorrência de resíduos, sendo um impasse para animais destinados a consumo humano. De forma geral, os agentes anabólicos são metabolizados pelo fígado e seus metabólitos são eliminados pelo organismo na forma livre, biologicamente não ativa, ou então na forma conjugado ao ácido glicurônico ou sulfato, tornando-se mais solúveis em água, favorecendo a eliminação biliar. Apesar disso, parte dos produtos do metabolismo dos anabolizantes pode permanecer no sistema circulatório e gerar resíduos em órgãos como fígado, rins, musculatura, tecido adiposo e pele. Os anabolizantes naturais e os estilbenes são biotransformados no fígado, sendo eliminados em sua maior parte pela bile ou pela urina, em sua forma conjugada com o ácido glicurônico ou sulfato. Já acetato de trembolona, um anabolizante sintético, sofre uma reação de hidrólise, sendo convertido em 17β-trembolona, correspondente a forma ativa do produto e o principal metabólito deste. Posteriormente, esse composto sofre uma reação de epimerização, sendo transformado em 17 α-trembolona, uma forma menos ativa do que o 17β-trembolona. Esses metabólitos então são rapidamente eliminados via biliar ou urinária na forma conjugada com ácido glicurônico. O 17 α-trembolona também aparece como metabólito da testosterona e estradiol, que são anabolizantes naturais. O zeranol, um anabolizante semissintético, é metabolizado pelo fígado em zearalenona, que por sua vez é reduzida a taleranol, sendo eliminada do organismo pela bile ou urina na forma conjugada com ácido glicurônico ou sulfato. O dietilestilbestrol (DES) é convertido em metabólitos que podem se apresentar de 3 formas: dienestrol, na forma conjugada com ácido glicurônico e na forma conjugada com sulfato. O dienestrol, que é o metabólito na forma livre, é excretado pelas fezes na e os metabólitos conjugados são eliminados pela urina. 4- Mecanismo de Ação de Anabolizantes Sabe-se que as proteínas desempenham inúmeras funções: dão estrutura aos tecidos, regulam a atividade de órgãos (hormônios), participam do processo de defesa do organismo (anticorpos), aceleram todas as reações químicas ocorridas nas células (enzimas), atuam no transporte de gases (hemoglobina) e são responsáveis pela contração muscular. E uma das principais características dos anabolizantes está relacionada com a síntese proteica. Esse processo com o passar da idade do animal diminui e uma ação comum a todos os anabolizantes consiste em aumentar a retenção de nitrogênio e a deposição de proteínas. Dessa forma, quase todos os promotores de crescimento atuam diretamente aumentando a síntese proteica, e/ ou diminuindo a degradação proteica. Existem três tipos de anabolizantes: androgênicos, estrogênios e progestágenos. Os primeiros quando são absorvidos a testosterona natural ou implantada e o acetato de trembolona caem na corrente sanguínea associados com uma proteína transportadora, o que facilitará também a entrada dessas substâncias dentro da célula. Em seguida, haverá a formação de um complexo com o receptor andrógeno, o qual é uma proteína responsável por identificar a mensagem carreada pelo hormônio transferindo-as às estruturas biológicas encarregadas pela realização da ação. O complexo receptor-hormônio, uma vez formado, difunde-se pelo citoplasma das células, concentrando-se no núcleo onde atua reciprocamente com um aceptador. Ele é possivelmente, uma proteína da cromatina, isto é, um “elemento de resposta hormonal” (ERH) que, uma vez ativado, induz os fatores de transcrição a estimular uma RNA polimerase II que inicia a transcrição do mRNA desencadeando -se, assim, a síntese proteica. Já os anabolizantes estrogênicos, a ação dos estrógenos naturais como o 17β estradiol e dos semissintéticos como o dietilestilbestrol envolve processos mais generalizados e não específicos. Dentre as ações indiretas estão aumento da secreção de hormônio do crescimento, por ação na hipófise anterior e/ou de somatomedinas (SMT) pelo fígado; aumento da secreção de insulina, por ação nas ilhotas de Langerhans; redução da produção de tiroxina, por ação na tireoide; e redução da síntese de corticosteroides por ação no córtex da glândula adrenal. No entanto, apesar de haver menor afinidade, os anabolizantes estrogênicos também se ligam aos receptores intracelulares de andrógenos, podendo, assim, estimular diretamente a síntese proteica. Por fim, os anabolizantes progestágenos como a progesterona e o acetato de melengestrol são anabolizantes pouco usados devido suas ações na síntese proteica serem pouco conhecidas. Porém, de fato, aumentam não apenas a síntese proteica muscular, mas também os níveis plasmáticos de outras proteínas como a transcortina e a SBP. No entanto, a progesterona e seus análogos têm sido utilizados para diversas finalidades, e em várias aplicações clínicas (GOLETIANI et al., 2007), como indução da puberdade em novilhas (Rodrigues et al., 2013), auxiliar no tratamento de patologias do trato reprodutivo, e principalmente em protocolos de sincronização de estro (BO et al., 1995; VASCONCELOS et al., 2009). 5- Fatores que modificam os efeitos dos anabolizantes Existem diversos fatores que influenciam o resultado do uso de anabolizantes e o conhecimento desses elementos é muito importante para o reconhecimento dos efeitos desejados. A observação desses efeitos é de grande importância na prática zootécnica nos países que o uso desses aditivos são permitidos. Dentre os vários fatores que modificam os efeitos dos anabolizantes estão: · A presença ou não de castração do animal; · Espécie; · Raça; · Sexo; · Idade; · Tipo, quantidade e frequência da administração do anabolizante; · Associações entre os agentes; · Tipo de implante; · Momento da administração (quanto tempo antes do abate); · Qualidade da alimentação fornecida. A qualidade da alimentação sem dúvida, dentre todos os fatores, é o elemento mais relevante associado ao uso de anabolizantes, pois estes aumentam a retenção do nitrogênio fornecido na dieta. Desse modo, é preciso oferecer um bom nível de nitrogênio proteico, como sal proteico, boa pastagem, boa ração, e não proteico, como a uréia. A resposta obtida com o uso desses anabolizantes é diferente de acordo com as espécies. Os efeitos geralmente são irregulares em suínos e pouco efetivos em ovinos em comparação com os resultados observados nos bovinos de corte. Apresenta um bom resultado nas aves, apesar de se dar a preferência ao uso de antibióticos e coccidotáticos e o uso de anabolizantes na avicultura é proibido no Brasil. Nos bovinos de corte os resultados são mais efetivos, principalmente nos novilhos precoces e superprecoces que apresentam maior conversão proteica em relação aos demais. É possível perceber que associação de agentes estrogênicos e androgênicos produzem uma resposta melhor em relação ao resultados do uso desses agentes isolados. Em experimento com novilhos por exemplo: ● Associações como estrógeno e acetato de trembolona ou zeranol e acetato de trembolona ou zeranol e testosterona são igualmente eficazes produzindo um aumento de 12 a 20% de peso e retenção de nitrogênio; ● A associação de progesterona e 17β-estradiol é inferior no que se diz respeito ao ganho de peso, mas interessante paramelhorar a qualidade da carne, pois o uso de estrógenos melhoram as qualidades organolépticas como abor e maciez. No caso de machos inteiros o uso de anabolizantes não é comum, porém, o uso de agentes estrogênicos é eficaz aumentando de 5 a 20% do peso e melhora a qualidade da carcaça. Isso acontece pois seus níveis de testosterona já são elevados no plasma e consequentemente seus receptores intracelulares para andrógenos já estão saturados, necessitando de agentes com outros mecanismos. Nas novilhas e vacas mecanismo é inverso, necessitando de andrógenos como testosterona aumentando o ganho de peso de 13 a 17% e acetato de trembolona com ganho de peso entre 14 a 20%. Com base nos resultados obtidos no gráfico 49.6 pode-se constatar a importância da associação de uma boa alimentação, rica em proteína bruta, e o uso de anabolizantes. No gráfico 49.7 é possível concluir que o aumento da dose não necessariamente aumenta o ganho de peso. Isso ocorre porque acima de determinada dose os receptores intracelulares para andrógenos ficam saturados chegando ao seu limite máximo de efeito. 6-Toxicidade Os risco de uso de anabolizantes têm sido muito discutidos últimos anos, com enfoque na saúde dos animais como em humanos. Porém, esses estudos dão mais enfoque nas consequências do consumo de carne com resíduos do que as consequências nos animais, pois a maior parte destes por serem de engorda morreram precocemente. É importante relembrar que o sistema endócrino é bastante amplo e atua sobre o todo o organismo,por isso, tanto em animais como no homem os anabolizantes irão influenciar no comportamento sexual, na massa e força muscular, por serem hormônios. Os estudos de toxicidade levam em consideração a qualidade e quantidade de resíduos de anabolizantes,e a sensibilidade do indivíduo. A Codex Alimentarius da FAO(Órgão das Nações Unidas-ONU e da OMS) estimula os limites internacionais para cada anabolizante em carcaças, com isso, ela protege o consumidor e rege as relações do mercado exportador/importador internacional. 6.1-Toxicidade ligada à esfera sexual Nesse contexto, são usados anabolizantes naturais (17 beta -estradiol,progesterona e testosterona), os quais o nível de resíduos na carcaça é considerável muito pequeno quando comparado com o nível fisiológico desses hormônios no homem. Além disso, esses resíduos são biotransformados no fígado e eliminados nas fezes e urina das pessoas que os ingeriu, diminuindo os níveis plasmáticos dessas substâncias ,então é pouco provável que esses hormônios causam alguma alteração na esfera sexual dos indivíduos. Mas vale ressaltar que esses hormônios quando estão em níveis séricos muito elevados no homem pode causar as seguintes alterações: virilização na mulher, aumento de libido, icterícia, esplenomegalia, distúrbios de próstatas ,hipercalcemia, acne, calvície, aterosclerose, retenção hídrica ou hipertensão artéria, quando há elevados nível sérico de testosterona. Náuseas, distúrbios menstruais, congestão pélvica e mamária, trombogênese, hiperlipidemia ou efeito diabetogênico quando há elevados nível sérico de estrógeno. Por fim, há distúrbios gastro intestinais e menstruais, lipoproteinemia ou alterações de temperatura corporal quando há elevados nível sérico de progesterona. Além do mais, esses anabolizantes, também em altas concentrações, podem gerar carcinomas. 6.2-Avaliações de tumorigenicidade A oncogênese é complexa e multifatorial e envolve dois estágios: conversão e desenvolvimento neoplásico. Conversão é o momento que uma célula normal torna-se neoplásica. O desenvolvimento neoplásico é quando a células está anormal e há proliferação dessa. Os teste não diferem esses estágios, apenas identificam qual tipo de neoplasia,quando há e se ela têm relação com os anabolizantes. Esses testes são feitos em roedores ,com número certo número de animais. Esses testes estudam efeitos dos anabolizantes nesses roedores, na sua prole e nas gerações futuras.Teste in vitro também são realizados; eles não substituem os testes in vivo, mas têm relevância. Essas análises partem do princípio que se certo agente é oncogênico em roedores ou outras espécies de animais ele também oferece esse tipo de risco aos humanos. A agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer determinou que na “ausência de dados adequados provenientes de estudos epidemiológicos conduzidos com seres humanos, é razoável, por motivos de ordem prática, considerar os agentes químicos para quais não existam suficientes provas de tumorigenicidade em mais de uma espécie de animais em laboratório como seguros, do ponto de vista de risco potencial, para saúde do ser humano”. 6.3 - Oncógenos genotóxicos e epigênicos Os oncógenos são divididos em genotóxicos (DNAs reativos), que são aqueles que interagem ou reagem com o DNA, e em epigênicos, que são aqueles que não só agem diretamente sobre o DNA, mas que apresentam outros mecanismos relacionados e necessários para o surgimento da neoplasia. Os oncógenos genotóxicos representam um risco qualitativo à saúde humana devido a sua ação direta sobre o DNA, podendo ter efeito após uma única exposição, atuando de forma cumulativa e podendo se ligar à outros oncógenos genotóxicos. Desse modo seu uso é proibido, não havendo um nível de exposição aceitável ao ser humano, como é o caso do grupo dos estilbenes, em especial do dietilestilbestrol. Já os oncógenos epigêncos apresentam risco quantitativo, pois só representam risco cancerígeno em níveis plasmáticos muito altos, devendo assim haver uma exposição muito grande, com concentrações muito acima das fisiológicas. Desse modo é possível garantir um limiar seguro de toxicidade para o seu uso, como no caso dos anabolizantes naturais e dos xenobióticos. 6.4 - Estudos relacionados a tumorigenicidade Estudos de tumorigenicidade feitos com anabolizantes naturais (17β-estradiol, testosterona e progesterona) estabeleceram ausência de risco de tumorigenicidade associado ao uso desses. Porém, observou-se que a administração via oral ou parenteral em doses elevadas destes (mg/kg por peso) aumentavam a ocorrência de tumores em animais de laboratório. Os tumores estavam presentes principalmente em tecidos com elevados níveis de especificidade hormonal, com grande presença de receptores para estes, sendo o efeito assim obtido pela ação epigênica dos hormônios naturais. Também sendo comprovado através de estudos a ausência de efeito genotóxico. Para essa resolução foi levado em conta o fato dos anabolizantes naturais não serem quimicamente diferentes dos hormônios endógenos, o fato de que após absorvidos pela via oral eles são biotransformados no fígado, sendo os produtos obtidos isentos de efeitos adversos e que suas concentrações séricas quando corretamente administrados são muito menores que as normalmente encontradas em fêmeas e machos. Já os estudos com estilbenes levaram a proibição do seu uso, sendo estabelecido seu limite de resíduo igual a zero, devido a relatos de que esses agentes não esteroidais, em especial do dietilestilbestrol (DES), aumentavam a ocorrência de câncer em animais de laboratório. Experiências e estudos evidenciaram que o DES apresenta propriedades oncogênicas, vistas em diferentes tecidos de diferentes espécies animais e no ser humano, não devendo ser usado como aditivo melhorador do desempenho ou como esteroide anabolizante em agropecuária. Por fim, também pode-se citar os estudos feitos com os xenobióticos, dentre eles o acetato de trembolona e o zeranol. Trabalhos não revelaram efeitos mutagênicos para o acetato de trembolona, de seus isômeros e de seu metabólito principal (alfa-hidroxitrembolona). Entretanto, foi constatado que, em doses no mínimo 17.000 vezes maiores aquelas presentes como resíduos ou metabólitos em tecidos provenientes de animais tratados, o acetato de trembolona é capaz de agir em receptores estrogênicos, e apresentar efeitos tumorigênicos de origem epigênica, sendo totalmente dependente da dose administrada. Desse modo, foi possível ao Codex estabelecero Limite Máximo de Resíduos de 2 µg/kg para os resíduos de trembolona presentes nos tecidos dos animais tratados. Também observou-se que o zeranol e seus metabólitos (zearalenona e taleranol) não apresentam efeitos mutagênicos. Outros estudos mostraram que doses de até 25 mg/kg (equivalente a 1,25 mg/kg/dia) possuíam efeitos hormonais do tipo estrogênico, porém sem efeito tumorigênico em ratos. Já a administração de 15 mg/kg de zeranol na ração de camundongos-machos (equivalente a 2,25 mg/kg/dia) levou ao desenvolvimento de um tumor no lobo anterior da hipófise, tumor este de origem epigênica, ligado as propriedades estrogênicas do zeranol. Desse modo, estabeleceu-se um Limite Máximo de Resíduo de 10 µg/kg para o zeranol. A associação do zeranol com o acetato de trembolona e destes com hormônios naturais embora com efeitos epigênicos mostraram-se não genotóxicos. 7- Boas práticas na Medicina Veterinária O médico veterinário deve se basear nas diretrizes do Conselho Federal de Medicina Veterinária para prescrever qualquer tipo de anabolizante. No que tange animais de produção, principalmente bovinos, existem também as diretrizes do Codex Alimentarius, que contém diretrizes internacionais sobre padrão de qualidade em produtos de origem animal. A ANVISA também possui alguns projetos e documentos que contém os Limites Máximos de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Alimentos de Origem Animal, incluindo os anabolizantes. Para prescrever um medicamento considerado anabolizante, o veterinário deve seguir a Portaria 344/98 da ANVISA, que estabelece o seguinte: ● Classificação nos anabolizantes como C5 nos medicamentos sujeitos a controle especial; ● A Receita de Controle Especial deverá estar escrita de forma legível, a quantidade em algarismos arábicos e por extenso, sem emenda ou rasura e terá validade de 30 dias contados a partir da data de sua emissão; "1ª via - Retida no estabelecimento farmacêutico" e a "2ª via - Devolvida ao Paciente", com o carimbo comprovando o atendimento; ● Deve conter: identificação do emitente; identificação do usuário; nome do medicamento ou da substância prescrita sob a forma de Denominação Comum Brasileira (DCB), dosagem ou concentração, forma farmacêutica, quantidade (em algarismos arábicos e por extenso) e posologia; data da emissão; assinatura do prescritor; identificação do registro; ● As prescrições por cirurgiões dentistas e médicos veterinários só poderão ser feitas quando para uso odontológico e veterinário, respectivamente; limitada a 5 (cinco) ampolas e para as demais formas farmacêuticas, a quantidade para o tratamento correspondente a no máximo 60 (sessenta) dias ● Quando for para estoque do estabelecimento: 1a via - a empresa ou estabelecimento deverá remeter à Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde; 2a via - retida pela Autoridade Sanitária; 3a via - retida na empresa ou instituição. LISTA DAS SUBSTÂNCIAS ANABOLIZANTES (Sujeitas a Receita de Controle Especial em duas vias), segundo a portaria 344/98: 1. DIIDROEPIANDROSTERONA (DHEA) 2. ESTANOZOLOL 3. FLUOXIMESTERONA OU FLUOXIMETILTESTOSTERONA 4. MESTEROLONA 5. METANDRIOL 6. METILTESTOSTERONA 7. NANDROLONA 8. OXIMETOLONA As principais espécies em que ocorre o uso de anabolizantes são os cães, cavalos e bovinos. Nos cães, é permitido apenas o uso terapêutico, principalmente para reposição hormonal e tratamento de doenças caquetizantes. Qualquer uso fora dessa finalidade (principalmente estético) é considerado como maus tratos. Nos equinos e bovinos, além do uso terapêutico, é permitido o uso para sincronização de ciclo e algumas outras finalidades reprodutivas. Em equinos atletas, é comum o uso clandestino de altas quantidades de anabolizantes a fim de melhorar a performance do animal. O exame anti doping é importante visando o bem estar do animal, e a punição dos responsáveis. É importante ressaltar que as características adquiridas graças aos anabolizantes não são passadas aos descendentes, então ocorre um prejuízo para os compradores de sêmen desses cavalos. No caso de bovinos, é comum o uso para sincronização de ciclos, tratamentos de algumas doenças, preparo de vacas receptoras, entre outros. É proibido o uso para aumentar a produção. Deve-se ter extrema atenção à posologia e ao período de carência, tanto para gado de corte quanto para de leite. Essas informações são fornecidas na bula. A ANVISA determina o Limite Máximo de Resíduos de Medicamentos Veterinários em Produtos de Origem Animal (LMR), incluindo os anabolizantes. Por isso, a via mais utilizada é o implante na orelha, que é uma parte não consumível da carcaça. Estudos já comprovaram que os resíduos acumulam principalmente no local de inoculação e no fígado. Algumas consequências para seres humanos que consumam produtos com resíduos acima do LMR são: desenvolvimento sexual prematuro, cistos ovarianos, distúrbios endócrinos, distúrbios no crescimento ósseo, modificação das características sexuais, neoplasias hepáticas. Os principais métodos de detecção utilizados são os imunoensaios, como o ELISA, por exemplo. Entretanto, existem maneiras de burlar e mascarar os testes, que ficam cada vez mais difíceis. As principais vias de aplicação são implantes subcutâneos, intramuscular, oral e intravenosa. A ética do médico veterinário é de extrema importância na prescrição de anabolizantes, e o controle deve ser rigoroso. Prescrições e usos indiscriminados podem custar a licença profissional e podem também ser passíveis de enquadramento criminal, caso sejam considerados maus tratos. 9- Política e Conflitos na Medicina Veterinária O uso de anabolizantes se iniciou na medicina humana na função de terapia medicamentosa. Eles começaram utilizando os estilbenes. Logo depois houve a descoberta desses medicamentos na medicina veterinária para no auxílio da produção e, com isso, foi utilizado o dietilestilbestrol (pertencente ao grupo dos estilbenes) para bovinos de corte no intuito de aumento da massa muscular. Porém poucos anos depois, foi observado graves efeitos colaterais em pessoas que usaram esses medicamentos, como tumores no colo do útero de filhas de mulheres que haviam tomado o anabolizante durante a gestação. Assim, abriu um questionamento se a utilização desses compostos nos animais poderia ser prejudicial para as pessoas que os consumiam. No Brasil, a partir desse questionamento, o Ministério da Agricultura por meio da Portaria Ministerial nº 545 proibiu o uso de anabolizantes no nosso país, o que ocorreu em 1961. Mas logo em 1972 essa portaria foi alterada, sendo autorizado o uso deles para fins terapêuticos sob prescrição médica-veterinária. Em 1973 se iniciou mais uma polêmica desses medicamentos aqui, em que foi iniciada a produção de anabolizante à base de zeranol, no qual exportamos para outros países, contudo em 1985 foi banida essa atividade. Já em 1986 a Portaria de nº 268 feita pelo Ministério da Agricultura, permitiu o uso de anabolizantes naturais ou artificiais para uso de ganho corporal em bovinos. Mas no mesmo ano foi revogada, permitindo novamente somente para uso terapêutico e de fins de pesquisa. Em vista de toda a problemática mundial sobre o uso de anabolizantes e também pela pressão da União Europeia, o Brasil, a partir da iniciativa do MAPA, em 1994 criou um comitê composto por especialistas para estudarem e analisarem o uso dessas substâncias e a qualidade final da carne bovina, averiguando os possíveis efeitos gerados nos seus consumidores. As conclusões tomadas ainda são seguidas atualmente, em que é proibido seu uso em bovinos. Deve saber que as atitudes tomadas pelos produtores vão em decorrência as exigências da Comunidade Europeia, que importa cerca de 75% das carnes bovinas brasileiras, mas não permite a venda de carnes com resíduos de anabolizantes. Vale ressaltar que não há nenhuma contra indicação comprovada de uso de esteroides anabólicos para aves de corte, todavia o MAPA entendeu por bem proibir este uso por meio da IN nº 17 de 18 de junho de 2004. Deve-se saberque em alguns países como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Argentina é permitido o uso de anabolizantes, pois alegam que possuem intensa produtividade e o produto final com qualidade elevada. O EUA argumenta que toda substância usada na produção passa por intensa pesquisa e, com isso, garante sua utilização segura, como foi dito por Dr. D. Houston do Departamento de Agricultura dos EUA, “os anabolizantes usados em nosso país foram objeto de intensos estudos e rigorosa revisão científica, não existindo dúvidas de que sejam eficazes e seguros para os consumidores da carne dos animais tratados”. Apesar disso, tem um dado epidemiológico que consta que 9 mil pessoas morrem por ano em decorrência do consumo de alimentos contaminados por esses resíduos. Ademais, o que mais nos interessa a saber o posicionamento da Argentina sobre o uso ou não desse medicamento, já que como nós participa do Mercosul, o que nos coloca como semelhantes Entretanto optou por facultar o emprego do acetato de trembolona e do zeranol em seu território. Por fim, sabe-se que hoje o risco real apresentado pelo uso de anabolizantes são decorrentes pela falta de informação, o que ocorre muito em pequenas propriedades que não possuem assistência do governo. Neste caso há uso indiscriminado de substâncias proibidas, erros de dosagens, formas de utilização inadequadas e prazo de carência não respeitado. 9- Perspectivas futuras Apesar de nos dias atuais termos a informação de que os anabolizantes gera o aumento do peso dos animais sem produzir efeitos colaterais e não deixam resíduos em níveis acima daquele proposto pela comissão do Codex alimentarius da FAO/OMS se usados de acordo com as BPMV, seu uso ainda é proibido por diversas causas. Dentre elas podemos citar a escassez de informações comprovadas cientificamente sobre a toxicidade dos promotores de crescimento, falta de interesse pelos produtores médicos veterinários, ausência de atitudes políticas para rever a legislação e desinteresse por parte dos frigoríficos exportadores. Contudo, em uma das reuniões e comissões realizadas no Brasil, o MAPA em conjunto com o Ministério da Saúde elaborou um parecer técnico elucidando e permitindo o uso dos anabolizantes no país se o MAPA garantisse a manutenção das Boas Práticas da Medicina Veterinária no tocante ao uso dessas substâncias e realizassem uma análise dos produtos de origem animal tanto para uso interno quanto para exportação. Nada ainda se foi realizado devido a não manifestação do MAPA e de outros interessados. Ademais, devemos ressaltar que no mundo a proibição do uso de anabolizantes foi denunciada dos Estados Unidos á Organização Internacional do Comércio (OIC) por ser considerado uma barreira extra-alfandegária ao livre comércio entre as nações. A OIC, por não ver razões em proibir o uso, deixou para que os países pertencentes à União Europeia resolvessem a questão em determinado prazo que, se expirou e nada foi feito desde então. No Brasil, independente da legislação, o médico veterinário deve ter plena consciência de que o uso de anabolizantes sempre sofrerá pressões: por empresas que os produzem e querem vender seu produto; por produtores em busca de novas tecnologias para aumentar sua produção e competitividade; por entidades ligadas aos direitos dos consumidores e indústrias de exportação que defende desinformações divulgadas pela mídia e pela população em relação a toxicidade dessas substâncias. Bibliografia Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Relatório PAMVet, 2009. Disponível em: www.anvisa.gov.br, acessada em Setembro 2013. BLANCO, B.S.; PAULINO, C.A. Considerações sobre o uso de hormônios anabolizantes em animais de produção. Revista Brasileira de Toxicologia, p.27-34, 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 01 fev. 1999b. Poder Executivo (Versão republicada). CODEX ALIMENTARIUS. Glossary of terms and definitions (Residues of veterinary drugs in foods). Codex Committee on Residues of Veterinary Drugs in Foods. CAC/MISC 5-1993. DUARTE, Keila Maria Roncato; SILVA, Fabiana Maria Siqueira Mariano da; MEIRELLES, Ferreira. Resíduos de anabolizantes na produção animal: importância e métodos de detecção. Cienc. Rural, Santa Maria , v. 32, n. 4, p. 731-737, Aug. 2002 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782002000400030 &lng=en&nrm=iso>. access on 18 Oct. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782002000400030. FERRÃO, S. P. B.; BRESSAN, M. C. O uso de agentes anabolizantes na produção de carne e suas implicações. Veterinária Notícias; v. 12, n. 1, p. 69-78, jan.-jun. 2006. Google Imagens. O uso de esteróides anabolizantes nos esportes. Rev Bras Med Esporte, Niterói , v. 4, n. 1, p. 31-36, Feb. 1998 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86921998000100010 &lng=en&nrm=iso>. access on 18 Oct. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1517-86921998000100010. SOUZA, M. V.; GUIMARÃES, P. T. C.; BRESSAN, M. C.; COSTA, M. C. G.; FERREIRA, I. C.; FARIA, P. B. Anabolizantes: uma discussão sem preconceitos. n. 8, vol. 43, dez. 2000. SPINOSA, Helenice de Souza; GÓRNIAK, Silvana Lima; BERNARDI, Maria Martha. http://www.anvisa.gov.br/ http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782002000400030 http://dx.doi.org/10.1590/S1517-86921998000100010 Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Youtube videos. BARROS, Ciro Moraes; DI STASI, Luiz Cláudio. Farmacologia Veterinária. Editora Manole Ltda., 2012.
Compartilhar