Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
WB Última atualização app: 14/04/2021 Colagenoses na Gravidez Definição: As colagenoses são doenças autoimunes inflamatórias e degenerativas das fibras do tecido conjuntivo. O colágeno é uma proteína fundamental na constituição do tecido conjuntivo ou conectivo, sendo responsável por grande parte de suas propriedades físicas. Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) Introdução: O lúpus eritematoso sistêmico (LES) afeta predominantemente mulheres em idade fértil. A fertilidade nos pacientes com LES não parece ser alterada pela própria doença. Entretanto, o LES eleva o risco materno e fetal em comparação com a gravidez de mulheres sem essa enfermidade. Planejamento de gravidez: O prognóstico tanto para a mãe quanto para o bebê é melhor quando o LES está em remissão há, pelo menos, 6 meses antes da gravidez. Então, idealmente, deve-se aguardar esse período para gestar. O LES ativo no momento da concepção é um forte preditor de desfechos maternos e obstétricos adversos. Ainda assim, a maioria dessas gravidezes ainda resulta em nascidos vivos. Avaliação pré-concepcional: Avaliar atividade da doença e modificar o esquema terapêutico para drogas aceitas na gestação, sendo de bom tom aguardar um período para avaliar a resposta após a troca para poder liberar a paciente para gestar. Avaliação de risco: Ocorrências como acidente vascular cerebral recente, envolvimento cardíaco, hipertensão pulmonar, doença pulmonar intersticial grave e insuficiência renal podem ser perigosos tanto para a gestante como para o feto. Mulheres com estas ou outras doenças devem ser aconselhadas cuidadosamente por um especialista em medicina fetal quanto ao seu perfil de risco individual (riscos de morbidade e mortalidade). Alternativas, como adoção, devem ser apresentadas. Se optarem pela gravidez, devem ser acompanhadas de forma multidisciplinar em um centro de alto risco. Nefrite lúpica: Mulheres com nefrite lúpica ativa devem ser encorajadas a adiar a gravidez até a doença estar inativa por, pelo menos, 6 meses. Laboratório específico pré-concepcional: ● Anticorpos antifosfolipídicos: anticoagulante lúpico, anticardiolipina IgG e IgM e antibeta 2-glicoproteína 1 IgG e IgM. Anticorpos antifosfolipídicos podem aumentar os riscos obstétricos, como aborto recorrente , natimorto e pré-eclâmpsia; ● Anticorpos anti-Ro/SSA e anti-La/SSB positivos: predispõem ao lúpus neonatal; ● Função renal (creatinina, EAS-urina tipo1, proteína urinária/creatinina urinária); ● Hemograma completo; ● Testes de função hepática; ● Anticorpos anti-DNA; ● Complemento (CH50 ou C3 e C4); ● Ácido úrico. Diagnóstico: Para ver os critérios diagnósticos de LES, acesse Lúpus Eritematoso Sistêmico. Exacerbação do LES durante a gravidez: A gestação e o pós-parto são períodos em que pode haver exacerbação da doença, ocorrendo em 25-60% das pacientes com LES. Fatores associados a exacerbações: ● Doença ativa durante os 6 meses anteriores à concepção; ● Nefrite lúpica; ● Interrupção do uso da Hidroxicloroquina. Presença da síndrome do anticorpo antifosfolipídico (SAAF): A SAAF pode estar presente em 25-50% das gestantes com LES. As gestantes com LES com uma história obstétrica sugestiva de SAAF (morte fetal após 10 semanas com exame de ultrassom evidenciando anatomia fetal normal ou três ou mais abortos consecutivos e espontâneos com menos de 10 semanas, ou nascimento prematuro < 34 semanas decorrente de pré-eclâmpsia ou insuficiência placentária) ou evento trombótico venoso ou arterial inexplicado devem ser testadas quanto à presença de anticorpos antifosfolipídicos (anticoagulante lúpico, anticardiolipina e antibeta 2-glicoproteína 1). Manejo durante a gravidez: 1. Monitorar atividade: Acompanhamento conjunto com reumatologista. 2. Avaliação inicial (primeira consulta obstétrica): ● Exame físico, pressão arterial; ● Anticorpos antifosfolipídicos: anticoagulante lúpico, anticardiolipina IgG e IgM e antibeta 2-glicoproteína 1 IgG e IgM; ● Anticorpos anti-Ro/SSA e anti-La/SS; ● Função renal (creatinina, EAS-urina tipo 1, spot urinário: proteína urinária/creatinina urinária ou proteinúria de 24 horas); ● Hemograma completo; ● Testes de função hepática; ● Anticorpos anti-DNA; ● Complemento (CH50, ou C3 e C4); ● Ácido úrico. 3. Monitorização fetal: ● Ultrassonografia de 1º trimestre: datar a idade gestacional e estimar a data provável do parto; ● Ultrassonografia para avaliação morfológica no 2º trimestre; ● No 3º trimestre: avaliação ultrassonográfica do crescimento fetal e insuficiência placentária. A frequência dos exames dependerá do bem-estar materno e fetal, mas normalmente será a cada 4 semanas. Monitorização mais frequente, incluindo Doppler da artéria umbilical é recomendada se houver suspeita de CIUR ou insuficiência placentária; ● Cardiotocografia basal ou perfil biofísico fetal nas últimas 4-6 semanas de gravidez; ● Em pacientes com anticorpos anti-Ro ou anti-La positivos: avaliação cardíaca fetal. Abordagem Terapêutica ● Drogas com uso aceitável: Medicamentos com pequeno risco de causar dano fetal, mas seu uso pode ser aceitável se necessário para controlar as manifestações da doença durante a gestação: ● AINEs: Não estão fortemente associados a anomalias congênitas, mas seu uso no 1º trimestre pode aumentar o risco de aborto espontâneo e no 3º trimestre pode causar o fechamento prematuro do canal arterial, bem como outras complicações, e devem ser evitados nesses períodos. A aspirina de baixa dose pode ser utilizada com segurança durante a gravidez após o 1º trimestre, e é indicada para reduzir o risco de pré-eclâmpsia; ● Hidroxicloroquina: Deve ser continuada em todas as pacientes que engravidam, por possível redução na ocorrência de bloqueio cardíaco congênito em fetos de mães com anticorpos anti-Ro/SSA e anti-LA/SSB presentes; ● Glicocorticóides: Controle da doença com a menor dose possível de prednisona, idealmente < 10 mg/dia (associação incerta com fenda labial associada ou não à fenda palatina); ● Azatioprina: É considerada relativamente segura durante a gravidez, mas as doses não devem exceder 2 mg/kg/dia; ● Ciclosporina: Deve ser limitada a quando o benefício materno supere o risco fetal; ●Tacrolimo: Pequenos estudos não encontraram relação entre seu uso e defeitos congênitos. Uso com cautela: Medicações biológicas, como o Rituximabe e Belimumabe podem causar linfocitopenia de células B com duração de até 6 meses em bebês expostos. Medicamentos contraindicados: ● Ciclofosfamida; ● Micofenolato de mofetila; ● Metotrexato; ● Leflunomida. Complicações da gravidez associadas ao LES: ● Parto prematuro; ● Cesariana não planejada; ● CIUR; ● Pré-eclâmpsia e eclâmpsia; ● Hipertensão gestacional; ● Aborto: especialmente quando há lúpus ativo, nefrite ou SAAF; ● Hemorragia puerperal; ● Lúpus neonatal: a complicação mais grave no recém-nascido é o bloqueio cardíaco congênito completo, que ocorre em cerca de 2% das crianças nascidas de mulheres primigestas com anticorpos anti-Ro/SSA, com risco aumentado nas gestações subsequentes; ● Maior risco materno de tromboembolismo venoso, infecção, trombocitopenia e transfusão; ● Aumento da mortalidade materna (em torno de 20 vezes em relação a uma gestante sem LES). Esclerodermia Introdução: É uma doença rara com uma incidência anual de 1-2 por 100.000 indivíduos nos Estados Unidos, sendo o pico de incidência entre 30-50 anos de idade. Complicações da gravidez associadas à esclerodermia: ● Aumento do risco de aborto; ● Parto prematuro; ● Baixo peso ao nascer; ● Crise renal: a doença renal é comum em pacientes com esclerodermia, incluindo a crise renal de esclerodermia. Nas gestantes, no entanto, é extremamente difícil distinguir a disfunção renal da pré-eclâmpsia. Nas crises renais em particular, autoriza-se o uso de inibidores da ECA (contraindicados na gravidez em geral); ● Dificuldades em relação ao parto secundárias à fibrose cutânea. Gravidez e exacerbação: A gestação não parece exacerbar a esclerose sistêmica. Pode ocorrer agravamento de sintomas menores da gestação, por exemplo,o aumento da pressão abdominal na gravidez, que pode exacerbar a dispepsia em razão da dismotilidade esofágica. Entretanto, alguns sintomas, como os do fenômeno de Raynaud, podem diminuir, por conta da vasodilatação da gravidez.
Compartilhar