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HISTÓRIA DO DIREITO BRASILEIRO - PART 1 (MARCUS SEIXAS)

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1 
 
O Direito Romano 
 
 
Contexto histórico 
Anteriormente a independência do Brasil nem sequer 
poderíamos falar de um direito brasileiro considerando 
que o direito que existia no Brasil era o português e 
que o país era sequer era uma nação ou um estado 
independente e sim uma colônia de Portugal. Dessa 
forma, quem vivia em nosso país tinha uma 
nacionalidade portuguesa na medida em que essas 
eram possessões ultramarinas de Portugal. 
Queda do Império Romano 
A queda do império romano tem sido apontada como 
um dos momentos mais relevantes da historia do 
ocidente, pois, muitas transformações foram 
desencadeadas por esse evento. Recentemente, a 
historiografia tem discutido se é o caso de falar em 
uma queda ou transformação do império romano. A 
queda do IR não ocorreu de forma instantânea, e é 
algo que foi construído e consolidado lentamente por 
variados motivos. Os historiadores utilizam o ano de 
476 d.C como marco para registrar a queda do IR do 
Romano, embora não tenha sido exatamente nesse ano 
que o império decaiu. Esse ano o rei germânico 
denominado Odoacro marchou sobre Roma e depois o 
ultimo imperador romano denominado Rômulo Augusto 
ser deposto não foram eleitos outros. Essa sequer foi a 
primeira vez que Roma foi invadida, pois por todo o 
território já ocorreram invasões. 
As invasões ocorreram devido à expansão de o próprio 
IR em direção a outras terras dos povos germânicos. 
Na medida em que Roma percebe o seu talento para 
guerrear e para expandir ela investe muito nas guerras 
para consolidar sua expansão. 
 Ela expande para além da península itálica em 
direção ao norte da África, terras ao norte da Itália, 
 
 
 
 
 
dentre outras. Nesse processo ela começa a pressionar 
as fronteiras, porque no momento em que ela cresce 
os riscos de possíveis invasões de outros povos 
também aumentam. 
Os territórios ancestrais dos povos germânicos também 
estavam sendo invadidos por outros povos 
especialmente os Zungos, e isso ampliou a pressão que 
esses povos germânicos exerciam sobre as fronteiras 
orientais. As terras mais a oeste das fronteiras do rio 
Reno eram mais férteis e melhores para agricultura do 
que as terras ocupadas pelos povos germânicos e 
esses povos estavam fazendo uma transição 
econômica de um modelo baseado na caça e na coleta 
para um modelo baseado na agricultura e na pecuária e 
isso também foi uma forma de pressão para fazer com 
que eles invadissem o IR do ocidente. 
 Essas invasões nem sempre culminava para a 
vitória de um dos dois lados. Às vezes essas invasões 
acabavam com um acordo de paz por meio de um 
tratado federativo. 
 Muitos germânicos foram romanizados, ou seja, 
aceitaram o acordo de paz proposto por Roma e 
passaram a gozar os privilégios oferecidos por ela 
como a proteção. 
Então essa queda se concretizou quando mais invasões 
aconteceram para além do que era esperado e quando 
há um aumento da desordem social, o que 
enfraqueceu o IR e diminuiu sua capacidade de ração 
para com as invasões. O historiador Edward Gibbon 
escreveu a obra o declínio e queda do império romano. 
Gibbon e outros autores apontam algumas falhas que 
culminaram para a queda do império Romano dentre 
elas a sucessão dos imperadores, pois, isso está 
associado ao aumento do poder dos exércitos. Durante 
o império, ficou muito claro que era o exercito que 
2 
 
O Direito Romano 
 
fazia o imperador e caso esse morresse quem se 
proclamaria novo imperador era aquele que tivesse o 
apoio do exército e reunisse condições políticas e 
militares para se declarar imperador. Isso fez com que 
uma aliança entre o imperador e o exercito fosse a 
primeira ordem de governo de cada novo imperador, 
já que este estava preocupado em agradar os 
exércitos e enriquecer os militares - baixa patente e 
generais. 
O reflexo disso foi que constantemente o apoio dos 
militares era comprado com ouro e este também 
comprava a aliança politica dos exércitos para depor 
algum imperador ou até mesmo matar o imperador 
para que outro ocupasse seu lugar. Por isso era comum 
à promessa de aumento de salário, distribuição de 
terras, etc. 
Século III – Num período de 50 anos tivemos 30 
imperadores sendo que apenas um morreu por causas 
naturais e 29 assassinados. Isso mostra como o IR se 
mostrava acéfalo em vários momentos da história em 
razão dos conflitos que tinham como plano de fundo a 
tomada do poder. Outras vezes, exércitos que embora 
estivessem muito distantes conseguiam ameaçar os 
imperadores para que eles tomassem certas decisões. 
A crise de sucessão de imperadores foi o primeiro 
fator que desestabilizou o império. 
Outro problema é a ruina das elites locais que se 
beneficiavam economicamente da propriedade sobre as 
terras e sobre países que eram meios de produção. 
Em contrapartida as elites tinham que patrocinar jogos, 
circos e outros eventos, e, portanto estas sustentavam 
sua posição de supremacia a partir do seu papel de 
garantir a ordem da economia local em cada região. 
Conquanto, com o aumento de tamanho do IR, o 
crescente comércio continental de Roma e com o 
cosmopolitismo em razão da circulação de pessoas e 
mercadorias, as elites passaram a se tornar menos 
 
 
importantes enfraquecendo a religiosidade local, das 
pessoas, e a aliança com o império central. 
Ademais, ocorre em Roma um processo de inflação. O 
IR tinha necessidade orçamentárias maiores frente ao 
seu processo de expansão, mas naquele tempo o 
governo não tinha outras possibilidades de arrecadação 
de recursos para custear a máquina pública, e com isso 
Roma começou a diminuir o valor intrínseco da moeda 
e diminuiu a proporção dos metais preciosos nas 
moedas, assim, com a mesma quantidade de metais 
preciosos era possível produzir mais moedas. Porém, 
estas eram empobrecidas e com menor valor 
econômico, obviamente, no momento em que a 
moeda começa a circular as pessoas passam a 
perceber que as moedas estão podres. 
Se produzirmos moedas com menos metais preciosos, 
essa moeda perde cada vez mais seu valor e isso faz 
com que consequentemente as pessoas passem a 
aumentar o preço das coisas e isso gera um aumento 
da inflação e problemas de várias naturezas como a 
pobreza. A crise de inflação diminuiu a capacidade de 
compra das pessoas e isso acarretou a criminalidade e 
desordenação social – furtos e roubos. 
Os povos germânicos vão fundar reinos em variadas 
regiões da Europa. 
 Visigodos – Saem da região mais a leste da 
Europa e irão ocupar a região da península ibérica. 
 Vandalos – povos que saíram do Norte da 
Europa e antes dos visigodos se instalarem eles 
passaram na península ibérica eles passaram por esta e 
se dirigiram ao norte da África. Inclusive os vândalos irão 
dominar outras ilhas, dentre elas a da Sicília. 
O direito romano aos poucos desaparece em razão do 
fenômeno das invasões que acaba com o modo de vida 
em sociedade fazendo com que o direito se torne mais 
rudimentar. 
3 
 
O Direito Romano 
 
Nesse contexto, teremos também mudanças culturais 
decorrentes da coabitação dos povos germânicos com 
os povos romanos. Nesses reinos germânicos havia os 
descendentes dos romanos –romani- e os germanos. 
Num outro reino tinha também os romani e os 
Burgúndios que eram outros povos germânicos. Então, 
em cada reino germânico tínhamos uma coabitação 
entre uma classe de povos germânicos e os romanos. 
Não aconteceu um genocídio entre esses povos, 
porque os germânicos sabiam que os romanos tinham 
contribuições da dar - quem dominava a escrita eram 
os romanos e do ponto de vista cultural eles também 
tinham muita influencia -. 
Num primeiro momento, essa coabitação foi marcada 
pelo princípio da pessoalidade, ou seja, a vida de cada 
um era regida pelo direito da sua tribo. Então, os 
romanos viviam de acordo com o direito romano, e 
ninguém se misturava. Havia uma separaçãototal do 
direito romano e do direito visigodo. Posteriormente, 
essa ideia foi sendo abandonada na medida em que os 
dirigentes germânicos perceberam a necessidade de 
homogeneizar o reino e acabar com essa segregação, 
promovendo uma fusão cultural. Assim, a fronteira é 
eliminada e essa fusão vai ser de variadas formas e em 
princípio será uma fusão linguística. Nesse momento 
observa-se tanto o surgimento das chamadas línguas 
neolatinas (primórdios do que posteriormente será o 
francês). Ocorre também uma fusão religiosa, e Roma 
sempre foi politeísta e toda vez que ela vencia uma 
guerra ela trazia para dentro da sua religião os deuses. 
Com o surgimento de religiões monoteístas – judaica e 
católica crista - Roma começa a ter um problema, e 
proíbe essas religiões por não acreditarem em outros 
deuses. Os germânicos irão se converter ao 
cristianismo como estratégia de aproximação com a 
igreja porque esta dominava a língua latina e a língua 
escrita. 
Fusão Cultural Jurídica 
 
Fusão cultural jurídica: Os direitos dos povos 
germânicos eram direitos consuetudinários –baseados 
em costumes- e transmitidos oralmente de geração 
pra geração. O direito romano por sua vez, era muito 
mais sofisticado. 
Direito romano vulgarizado: ideia de fusão do direito 
romano que sobreviveu às invasões com o direito 
germânico de natureza consuetudinária por meio da 
criação de leis escritas que vão trazer no seu conteúdo 
jurídico tanto elementos do direito romano quanto o 
conteúdo jurídico germânico. 
IUS PROPIUM e IUS COMMUNE 
Nesse primeiro momento a lei como fonte do direito 
era usado com menor frequência, isso se deve a teoria 
politica que estava por trás dos estados medieval que 
considerava a lei mecanismo institucional excepcional – 
apenas excepcionalmente a lei podia ser criada. 
Em algumas nações haviam leis mais elaboradas. Esse 
direito rudimentar perdurou por um longo tempo, mas 
nesse contexto a sociedade também tinha reduzido 
suas trocas comerciais e se tornado mais rudimentar, já 
que as pessoas perderam sua cultura: não sabiam ler, 
não tinham perspectiva de mobilidade social. 
Século XI d.C – Redescoberta de uma obra jurídica. 
“Corpus Juris Civilis”. Essa obra foi mandada por ordem 
de Justiniano que tinha dois objetivos na sua 
administração do IR do oriente. 
1- Reconquistar as terras perdidas do IR do 
ocidente por germânicos invasores. 
2- Modificar o direito romano em si pois ele era 
muito difícil de manusear: o direito romano já tinha 
naquele momento uns 1200 anos de idade. Além disso, 
O corpus juris civiles era dividido em quatro partes: a 
primeira parte: as institutas que eram espécies de 
manuais de introdução ao estudo do direito, a segunda 
parte era o códex (código) eram compilações das leis 
4 
 
O Direito Romano 
 
romanas até o último imperador Justiniano. A terceira 
parte era as novelas que eram compilações de leis do 
imperador Justiniano, e por fim o digesto (pandectas) 
que era uma compilação da doutrina dos juristas 
romanos ao longo da sua historia. 
Direito romano vulgarizado – não era complexo 
suficiente para dar segurança, e a redescoberta do 
corpus juris foi essencial nesse contexto. 
Surgimento do Reino de Portugal 
Após as formações dos reinos germânicos na Europa 
ocidental o reino visigodo se instalou na região onde 
hoje chamamos de península ibérica. A permanência 
desse reino nessa região foi encerrada após a invasão 
da península ibérica pelo califado de Bagdá – reino 
distante, e vinculado a religião mulçumana. Esse califado 
era regido pelas leis do islã (alcorão) sendo que uma 
das interpretações do alcorão que era vigente naquele 
momento, era a interpretação radical relacionada a 
necessidade de expansão militar e conversão dos 
povos não islâmicos para a religião mulçumana – esse 
califado conseguiu converter todo o norte da África ao 
islamismo, e conquistou as terras então ocupadas pelo 
reino visigodo. A história da formação de Portugal e da 
Espanha é a história das guerras de reconquista que 
foram travadas pela igreja católica, pelos reinos e 
feudos. 
No contexto das cruzadas de reconquista, foram 
surgindo os reinos católicos que durante grande tempo 
ocuparam a península ibérica – reinos de leão, Aragão, 
e posteriormente Portugal. 
O rei de leão tinha um conjunto de vassalos que o 
auxiliavam nas lutas de reconquista, e um desses 
vassalos recebera do rei de leão uma terra que ficou 
conhecida como o condado portucalense – esse conde 
organizava uma série de expansões e invasões para 
liberar outras regiões da ocupação árabe mulçumana. 
 
Na medida em que esse condado ia patrocinando essas 
excursões militares para liberar essas terras, o que 
acontecia era que ele ia aumentando a sua zona de 
influencia político-militar e essas zonas liberadas iam 
reconhecendo a autoridade do condado. Aos poucos, a 
consolidação da autoridade do condado sobre 
determinada região acabou fazendo surgir o desejo de 
se reconhecer a soberania dessa região da península 
ibérica como uma nação independente. 
Igreja católica – reconhece a soberania do reino de 
Portugal que posteriormente passa a ser autônomo em 
relação ao reino de Leão ao qual estava vinculado o 
condado portucalense. Dessa forma, surge o reino de 
Portugal. 
Na península ibérica havia o califado de córdoba – vão 
ser posteriormente expulsos da península e seu 
território vai ser restringir a África e a região do 
oriente, próximo região que o califado se instalou 
inicialmente. 
Quando o reino de Portugal surge, é gerado também o 
sistema jurídico português que era necessário para o 
bom funcionamento do reino como um todo. As leis 
portuguesas surgem em razão da independência do 
país e da necessidade de se construir um sistema 
jurídico nacional. As principais fontes do direito naquele 
momento eram os costumes, e as leis, embora nesse 
caso as leis eram promulgadas em menor quantidade e 
frequência – isso se devia ao fato que no primeiro 
momento da teoria política do direito medieval a 
capacidade legislativa do direito era limitada, ou seja, 
caso legislasse os reis precisavam convocar as cortes 
que eram a reunião da nobreza diante do rei, e o rei 
podia propor para a nobreza a promulgação de leis e a 
corte poderia aprova-las ou não. Não estávamos ainda 
diante de um modelo de monarquia absoluta como vai 
se instalar posteriormente. Evidentemente, a transição 
de uma monarquia submetida ás cortes para uma 
monarquia absolutista é uma transição que se dá em 
5 
 
O Direito Romano 
 
contextos diferentes à realidade histórica de cada país. 
Em Portugal especificamente essa transição se dá por 
volta do século XIV quando o rei de Portugal passa a 
legislar sem precisar recorrer as cortes. 
Em razão dessa maior autonomia que a corte passou a 
ter, o reino de Portugal passa a contar com uma maior 
quantidade de leis, ou seja, a lei ultrapassa o costume 
enquanto principal fonte do direito. Esse fenômeno, trás 
por outro lado uma consequência que é a dificuldade 
que se coloca ao conhecimento das leis por parte não 
apenas da população, mas especificamente dos 
operadores do direito (advogados, juízes, tabeliões). Isso 
se deveria ao fato de que costumeiramente em 
Portugal as leis eram divulgadas a população por meio 
da sua leitura em voz alta. Quanto maior fosse sua 
comoção e importância, mais vezes aquela lei iria ser 
lida para assegurar o seu conhecimento pela maior 
parte da população. Em Portugal se generalizou um 
pleito da população em geral e da comunidade jurídica 
especializada de que as leis fossem reduzidas à escrita 
(leis impressas) e que essas fossem compiladas. Além 
disso, era necessário que essas compilações fossem 
divulgadas nos conselhos, vilas e cidades para que as 
pessoas tomassem conhecimento da legislação 
portuguesa. 
Essas compilações da legislação portuguesa ficaramconhecidas como ordenações. Em Portugal, tínhamos 3 
ordenações diferentes 
1- Ordenações afonsinas: promulgadas pelo rei de 
Portugal Dom Afonso V em 1446. Foram substituídas 
posteriormente pelas ordenações manuelinas de 1512, e 
posteriormente pelas ordenações filipinas de 1603. A 
motivação por trás da substituição dessas ordenações 
se deu em razão de que outras leis terem sido criadas 
e não terem entrado nessa compilação. Afonsina vira 
manuelina, novas leis surgem e manuelina vira filipina. 
Depois da filipina outras leis também foram criadas mas 
 
 
 
ficaram não passaram a integrar as compilações, pois a 
compilação filipina foi a última 
As ordenações filipinas são muito importantes, pois, 
foram aplicadas do Brasil e foram parcialmente aplicadas 
no Brasil até 1916. (vigoraram no BR por mais de 300 
anos) 
 
Livro III das ordenações filipinas – trata do processo civil 
e tem uma discussão específica. Dentro desse livro 
temos o título LXIV: “Como se julgarão os casos, que 
não forem determinados pela Ordenação”. As 
ordenações mencionam as chamadas leis imperiais – 
como se fosse um direito romano, pois, o CORPUS 
JURIS CIVILES contempla as normas que estão 
presentes no império romano. Esse trecho do título 64, 
dirá que onde houvesse lei régia – passada pela coroa, 
ou costume do povo, ou estilo das cortes, esse caso 
deveria ser julgado por essa lei, por esse costume ou 
por esse estilo independentemente do que dissesse o 
direito romano – isso formaria do direito próprio 
português (IUS PROPRIUM). 
Esse direito próprio prevalecia sobre o direito romano e 
entre as leis e o costume não existiam hierarquias. 
Ademais, o título 64 dirá que, se o caso que está 
sendo julgado não tiver no costume do povo ou no 
estilo das cortes (cortes jurisdicionais), devemos 
consultar o direito comum (IUS COMMUNE) formado 
pelo direito canônico (pecado) e pelo direito romano 
(se não fosse pecado, resolvia-se com as leis imperiais). 
Porém, se nem o direito romano conseguir dar a 
resposta/solução para o caso, era necessário consultar 
as obras de Bártolo e de Acursio. 
Ainda nesse sentido, uma vez que consultamos a 
opinião de Bártolo e Acursio e eles não conseguem 
dar a resposta, a última forma de resolver esse caso 
precisaria consultar o rei e isso se tornaria um 
precedente vinculante. (direito próprio) 
 
Título V: 
 
6 
 
O Direito Romano 
 
 
Temos vários crimes, sendo que, cada título 
corresponde a um crime diferente. Podemos 
categorizar esses crimes de acordo com o bem 
jurídico que eles pretendem proteger: tem crimes que 
visam proteger a moralidade religiosa, proteger a coroa 
e o rei, e temos também crimes pouco comuns que 
dizem respeito a temas que não são tratados no direito 
penal. Linguagem mais “informal”, menos direta, fazendo 
analogias. 
Existem dois crimes do livro quinto interessantes para 
se discutir. 
 
O título III trata de feitiçaria. 
Quem praticasse a feitiçaria ingerindo coisas sagradas, 
fornecendo a outra pessoa ou invocando espíritos 
diabólicos, deveria ser penalizado com a morte natural 
(enforcado). 
Porém, há uma observação de que o caso deve ser 
levado ao rei, para que este pudesse analisar a 
qualidade da pessoa, e, assim, decidir o que fazer. É 
contraditório porque no início do título foi dito que 
QUALQUER PESSOA, de QUALQUER ORDEM, seria 
punida dessa forma. Essa parte logo é desmentida com 
a observação, que mostra que não há essa igualdade. 
Na época, se pensava que Deus criou o rico e pobre, o 
plebeu e o nobre. Então era natural que as pessoas 
fossem tratadas de maneira diferente, porque, com a 
cosmovisão, Deus quis assim, então as pessoas 
deveriam ser tratadas de acordo com isso. 
 
O título VI trata do crime de Lesa majestade. 
Traição contra o rei ou seu real Estado. 
Crime abominável, comparado à Lepra. 
Existem várias hipóteses para configurar o crime de 
traição (por exemplo, planejar a morte do rei ou da sua 
família, tratando apenas dos filhos legítimos). 
A pena é morte natural cruel, diferente do crime de 
feitiçaria. Além disso, todos os bens do traidor serão 
confiscados para a coroa mesmo havendo herdeiros, 
desamparando os familiares. 
 
 
Quando a casa era confiscada, era queimada e era 
regada de sal, para que nunca mais nada nascesse além. 
Caso o traidor morresse antes da pena, ainda poderia 
ser processado, tendo seus bens confiscados e sua 
memória condenada ao sofrimento eterno. Em qualquer 
um dos casos, os filhos homens serão excluídos da 
herança, e infamados para sempre, sem poder exercer 
cargos de honra, como cavalaria ou cargos públicos, ou 
haver coisa alguma de outros parentes, mesmo que 
por testamente, antes de voltar ao seu estado anterior. 
Nesse caso, fica evidente que a pena ultrapassa a 
pessoa do criminoso, afinal, o patrimônio foi confiscado 
e os filhos homens sofrem diversas consequências. 
 
Organização do Estado Colonial 
A ocupação do Brasil e a colonização, desde o início, 
apresentavam a questão sobre qual ordenamento 
jurídico seria válido aqui. Poderia ser o direito português, 
aplicado aqui, ou criando um direito especial para a 
colônia. A Espanha decidiu que seu direito era 
inadequado à colônia, enquanto Portugal optou por 
aplicar o direito português, tendo algumas leis 
específicas para o Brasil. 
Nessa época, não havia divisão dos 3 poderes, então o 
executivo fazia coisas da competência do poder 
legislativo, na nossa visão, por exemplo. Não havia essa 
ideia de atribuições e competências divididas em 
legislativo, executivo e judiciário. 
Havia a divisão dos níveis municipal, senhorial e régia. 
Em nível municipal - jurisdição e administração. 
Se dava sobre os casos de menor relevância, composta 
por juízes ordinários que só poderiam permanecer no 
seu cargo por 1 ano. 
 
 
7 
 
O Direito Romano 
 
Nem toda ocupação urbana, vila ou cidade era classifica 
como município. Esse título era a determinadas 
ocupações que preenchiam alguns requisitos, como 
população e poder econômico. O município possuía 
benefícios, como câmara municipal, privilégios (direitos 
e deveres especiais em face da coroa), autonomia. A 
câmara municipal foi o maior benefício, pois dava 
representatividade jurídica aos municípios, levando suas 
questões diretamente à coroa. Havia o ônus de ter que 
pagar tributos, porém, ainda era algo muito bom. 
A câmara era composta por vereadores (por isso, 
também era chamada de câmara de vereança), eleitos 
entre os homens bons. Haveria as eleições de pelouros 
(esfera de cera, onde os votos eram depositados). Os 
homens bons eram aqueles que viviam no município e 
eram de certo extrato social, como a pureza do 
sangue (não podiam ter sangue judeu), condição 
financeira, nobreza, a posse de terras e chefe da família. 
Os vereadores organizavam outra eleição, a eleição dos 
juízes ordinários. Essa eleição era interna, podendo ser 
um ou dois juízes ordinários por munícipio. Esses juízes 
tinham mandato de até um ano e não precisavam ser 
bacharéis, ou seja, podiam ser leigos. Esses juízes 
poderiam trabalhar em casos de baixa complexidade 
ocorridos no município. 
Nível Senhorial 
Jurisdição e administração. Composta por capitães 
donatários que contribuíam para a prática econômica 
protegendo-as. As cartas de doação que doavam terras 
para os capitães donatários doavam também jurisdição 
sobre essas terras, podendo ser exercida por ouvidores 
contratados de forma privada para exercer a jurisdição 
em suas terras, ou pelos capitães. 
Esses ouvidores precisavam ser juízes letrados e 
permanecer no cargo por um ano. 
Acima do nível municipal. 
 
Corresponde às capitanias hereditárias. 
Os capitães donatários eram equivalentes à vassalos do 
rei de Portugal. 
O senhor tinha que defender a terra. 
Jurisdição em nível senhorial. 
A jurisdição poderia ser exercida pelo ou senhorou 
por um ouvidor, juiz escolhido pelo senhor. 
O ouvidor precisava ser bacharel (letrado) no direito 
romano ou canônico e poderia ficar até 3 anos no 
cargo. 
Poderiam julgar: 
1- Em grau de recurso- situação na justiça municipal e 
uma das partes não concordou com a decisão do juiz 
ordinário, podendo recorrer ao ouvidor. (Segunda 
instância). 
2: Uma situação do município, fora da atribuição do juiz 
ordinário, ou seja, caso de alta complexidade. (Primeira 
instância). 
3: Situação fora do município, não importando o grau 
de complexidade. (Primeira instância). 
Administração e Jurisdição Régia ou da Coroa no Brasil 
Colonial: 
Era uma justiça de segunda instância em relação a 
casos da justiça senhorial. Esses recursos tinham que ir 
de navio para Portugal, encarecendo o recurso e 
demorando muito o processo. Por conta disso 
resolveram instalar aqui um ouvidor geral para ser 
magistrado da coroa no Brasil. Tinha como função 
fiscalizar a justiça no Brasil como um todo e julgar 
esses casos, a demanda era muito alta e não tinha 
como uma pessoa dar conta. Então, esse cargo é 
extinto e é criado um tribunal na Bahia chamado de 
Relação do Brazil depois chamado de Relação da Bahia, 
também surge depois a Relação do Rio de Janeiro. Os 
juristas eram bacharéis escolhidos por Portugal. A última 
8 
 
O Direito Romano 
 
 
instância a ser acessada era a Casa da Suplicação que 
ficava em Portugal e pegava processos de Portugal e 
das colônias, teoricamente não há recurso depois para 
a decisão deles, mas em exceções o Rei intervia no 
processo e na decisão. 
Os senhores tinham obrigação de proteger e tornar a 
terra economicamente produtiva, além de prover a 
justiça nas capitanias, obrigações discriminadas no 
contrato de doação de terras. Poderia ter um ou mais 
municípios dentro de uma capitania. O município tem 
certa autonomia, porém, precisava estar de acordo 
com a capitania. A jurisdição da coroa como uma regra 
só é acessada em graus de recursos, não aprecia em 
primeira instancia os casos. 
Existia um magistrado chamado de juiz de fora, 
nomeado pela coroa e que possuía bacharel, que era 
encaminhado a alguns municípios por dois possíveis 
motivos: 
• Para substituir juízes ordinários por não 
conhecerem do direito e desagradavam nas decisões. 
Assim passa a ser exercida pelo juiz de fora. 
• Para presidir as câmaras municipais para 
assegurar quer as câmaras não tomariam decisões que 
entrassem em conflito com interesses das Coroa. 
Em relação à gestão administrativa do reino havia uma 
burocracia enorme que segmentava vários órgãos para 
diferentes funções. O Conselho Ultramarino era 
importante para administração das colônias 
assessorando o Rei. Há uma interação do Conselho com 
capitães donatários, governadores etc. para dinamizar a 
gestão. 
A primeira instancia da administração no Brasil foi no 
ouvidor geral – magistrado que tinha atribuições de 
fiscalizar a justiça no Brasil e julgar os recursos. 
A relação do Brasil foi criada como um tribunal para 
julgar recursos os ouvidores da capitania. Existiam 
outras relações espalhadas no império português, havia 
 
 
uma região na índia e acima dessas relações todas 
estava um tribunal metropolitano português chamado 
de casa da suplicação – mais alto tribunal da jurisdição 
portuguesa. Essas decisões da casa da suplicação eram 
irrecorríveis, e o rei poderia exercer a sua graça para 
alterar decisões proferidas por essa casa. 
Administração da coroa – chefiada pela figura do 
próprio rei que tinha capacidade de criar leis, legislar 
sobre interesses do reino, e administrar o reino como 
um todo. Havia uma burocracia administrativa robusta. O 
conselho ultramarino era um órgão que auxiliava a 
coroa a gerir as colônias, frequentemente a câmera e 
os capitães donatários irão interagir com o conselho 
ultramarino para obter informações, informar fatos ou 
ocorrências, etc.

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