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1 O Direito Romano Contexto histórico Anteriormente a independência do Brasil nem sequer poderíamos falar de um direito brasileiro considerando que o direito que existia no Brasil era o português e que o país era sequer era uma nação ou um estado independente e sim uma colônia de Portugal. Dessa forma, quem vivia em nosso país tinha uma nacionalidade portuguesa na medida em que essas eram possessões ultramarinas de Portugal. Queda do Império Romano A queda do império romano tem sido apontada como um dos momentos mais relevantes da historia do ocidente, pois, muitas transformações foram desencadeadas por esse evento. Recentemente, a historiografia tem discutido se é o caso de falar em uma queda ou transformação do império romano. A queda do IR não ocorreu de forma instantânea, e é algo que foi construído e consolidado lentamente por variados motivos. Os historiadores utilizam o ano de 476 d.C como marco para registrar a queda do IR do Romano, embora não tenha sido exatamente nesse ano que o império decaiu. Esse ano o rei germânico denominado Odoacro marchou sobre Roma e depois o ultimo imperador romano denominado Rômulo Augusto ser deposto não foram eleitos outros. Essa sequer foi a primeira vez que Roma foi invadida, pois por todo o território já ocorreram invasões. As invasões ocorreram devido à expansão de o próprio IR em direção a outras terras dos povos germânicos. Na medida em que Roma percebe o seu talento para guerrear e para expandir ela investe muito nas guerras para consolidar sua expansão. Ela expande para além da península itálica em direção ao norte da África, terras ao norte da Itália, dentre outras. Nesse processo ela começa a pressionar as fronteiras, porque no momento em que ela cresce os riscos de possíveis invasões de outros povos também aumentam. Os territórios ancestrais dos povos germânicos também estavam sendo invadidos por outros povos especialmente os Zungos, e isso ampliou a pressão que esses povos germânicos exerciam sobre as fronteiras orientais. As terras mais a oeste das fronteiras do rio Reno eram mais férteis e melhores para agricultura do que as terras ocupadas pelos povos germânicos e esses povos estavam fazendo uma transição econômica de um modelo baseado na caça e na coleta para um modelo baseado na agricultura e na pecuária e isso também foi uma forma de pressão para fazer com que eles invadissem o IR do ocidente. Essas invasões nem sempre culminava para a vitória de um dos dois lados. Às vezes essas invasões acabavam com um acordo de paz por meio de um tratado federativo. Muitos germânicos foram romanizados, ou seja, aceitaram o acordo de paz proposto por Roma e passaram a gozar os privilégios oferecidos por ela como a proteção. Então essa queda se concretizou quando mais invasões aconteceram para além do que era esperado e quando há um aumento da desordem social, o que enfraqueceu o IR e diminuiu sua capacidade de ração para com as invasões. O historiador Edward Gibbon escreveu a obra o declínio e queda do império romano. Gibbon e outros autores apontam algumas falhas que culminaram para a queda do império Romano dentre elas a sucessão dos imperadores, pois, isso está associado ao aumento do poder dos exércitos. Durante o império, ficou muito claro que era o exercito que 2 O Direito Romano fazia o imperador e caso esse morresse quem se proclamaria novo imperador era aquele que tivesse o apoio do exército e reunisse condições políticas e militares para se declarar imperador. Isso fez com que uma aliança entre o imperador e o exercito fosse a primeira ordem de governo de cada novo imperador, já que este estava preocupado em agradar os exércitos e enriquecer os militares - baixa patente e generais. O reflexo disso foi que constantemente o apoio dos militares era comprado com ouro e este também comprava a aliança politica dos exércitos para depor algum imperador ou até mesmo matar o imperador para que outro ocupasse seu lugar. Por isso era comum à promessa de aumento de salário, distribuição de terras, etc. Século III – Num período de 50 anos tivemos 30 imperadores sendo que apenas um morreu por causas naturais e 29 assassinados. Isso mostra como o IR se mostrava acéfalo em vários momentos da história em razão dos conflitos que tinham como plano de fundo a tomada do poder. Outras vezes, exércitos que embora estivessem muito distantes conseguiam ameaçar os imperadores para que eles tomassem certas decisões. A crise de sucessão de imperadores foi o primeiro fator que desestabilizou o império. Outro problema é a ruina das elites locais que se beneficiavam economicamente da propriedade sobre as terras e sobre países que eram meios de produção. Em contrapartida as elites tinham que patrocinar jogos, circos e outros eventos, e, portanto estas sustentavam sua posição de supremacia a partir do seu papel de garantir a ordem da economia local em cada região. Conquanto, com o aumento de tamanho do IR, o crescente comércio continental de Roma e com o cosmopolitismo em razão da circulação de pessoas e mercadorias, as elites passaram a se tornar menos importantes enfraquecendo a religiosidade local, das pessoas, e a aliança com o império central. Ademais, ocorre em Roma um processo de inflação. O IR tinha necessidade orçamentárias maiores frente ao seu processo de expansão, mas naquele tempo o governo não tinha outras possibilidades de arrecadação de recursos para custear a máquina pública, e com isso Roma começou a diminuir o valor intrínseco da moeda e diminuiu a proporção dos metais preciosos nas moedas, assim, com a mesma quantidade de metais preciosos era possível produzir mais moedas. Porém, estas eram empobrecidas e com menor valor econômico, obviamente, no momento em que a moeda começa a circular as pessoas passam a perceber que as moedas estão podres. Se produzirmos moedas com menos metais preciosos, essa moeda perde cada vez mais seu valor e isso faz com que consequentemente as pessoas passem a aumentar o preço das coisas e isso gera um aumento da inflação e problemas de várias naturezas como a pobreza. A crise de inflação diminuiu a capacidade de compra das pessoas e isso acarretou a criminalidade e desordenação social – furtos e roubos. Os povos germânicos vão fundar reinos em variadas regiões da Europa. Visigodos – Saem da região mais a leste da Europa e irão ocupar a região da península ibérica. Vandalos – povos que saíram do Norte da Europa e antes dos visigodos se instalarem eles passaram na península ibérica eles passaram por esta e se dirigiram ao norte da África. Inclusive os vândalos irão dominar outras ilhas, dentre elas a da Sicília. O direito romano aos poucos desaparece em razão do fenômeno das invasões que acaba com o modo de vida em sociedade fazendo com que o direito se torne mais rudimentar. 3 O Direito Romano Nesse contexto, teremos também mudanças culturais decorrentes da coabitação dos povos germânicos com os povos romanos. Nesses reinos germânicos havia os descendentes dos romanos –romani- e os germanos. Num outro reino tinha também os romani e os Burgúndios que eram outros povos germânicos. Então, em cada reino germânico tínhamos uma coabitação entre uma classe de povos germânicos e os romanos. Não aconteceu um genocídio entre esses povos, porque os germânicos sabiam que os romanos tinham contribuições da dar - quem dominava a escrita eram os romanos e do ponto de vista cultural eles também tinham muita influencia -. Num primeiro momento, essa coabitação foi marcada pelo princípio da pessoalidade, ou seja, a vida de cada um era regida pelo direito da sua tribo. Então, os romanos viviam de acordo com o direito romano, e ninguém se misturava. Havia uma separaçãototal do direito romano e do direito visigodo. Posteriormente, essa ideia foi sendo abandonada na medida em que os dirigentes germânicos perceberam a necessidade de homogeneizar o reino e acabar com essa segregação, promovendo uma fusão cultural. Assim, a fronteira é eliminada e essa fusão vai ser de variadas formas e em princípio será uma fusão linguística. Nesse momento observa-se tanto o surgimento das chamadas línguas neolatinas (primórdios do que posteriormente será o francês). Ocorre também uma fusão religiosa, e Roma sempre foi politeísta e toda vez que ela vencia uma guerra ela trazia para dentro da sua religião os deuses. Com o surgimento de religiões monoteístas – judaica e católica crista - Roma começa a ter um problema, e proíbe essas religiões por não acreditarem em outros deuses. Os germânicos irão se converter ao cristianismo como estratégia de aproximação com a igreja porque esta dominava a língua latina e a língua escrita. Fusão Cultural Jurídica Fusão cultural jurídica: Os direitos dos povos germânicos eram direitos consuetudinários –baseados em costumes- e transmitidos oralmente de geração pra geração. O direito romano por sua vez, era muito mais sofisticado. Direito romano vulgarizado: ideia de fusão do direito romano que sobreviveu às invasões com o direito germânico de natureza consuetudinária por meio da criação de leis escritas que vão trazer no seu conteúdo jurídico tanto elementos do direito romano quanto o conteúdo jurídico germânico. IUS PROPIUM e IUS COMMUNE Nesse primeiro momento a lei como fonte do direito era usado com menor frequência, isso se deve a teoria politica que estava por trás dos estados medieval que considerava a lei mecanismo institucional excepcional – apenas excepcionalmente a lei podia ser criada. Em algumas nações haviam leis mais elaboradas. Esse direito rudimentar perdurou por um longo tempo, mas nesse contexto a sociedade também tinha reduzido suas trocas comerciais e se tornado mais rudimentar, já que as pessoas perderam sua cultura: não sabiam ler, não tinham perspectiva de mobilidade social. Século XI d.C – Redescoberta de uma obra jurídica. “Corpus Juris Civilis”. Essa obra foi mandada por ordem de Justiniano que tinha dois objetivos na sua administração do IR do oriente. 1- Reconquistar as terras perdidas do IR do ocidente por germânicos invasores. 2- Modificar o direito romano em si pois ele era muito difícil de manusear: o direito romano já tinha naquele momento uns 1200 anos de idade. Além disso, O corpus juris civiles era dividido em quatro partes: a primeira parte: as institutas que eram espécies de manuais de introdução ao estudo do direito, a segunda parte era o códex (código) eram compilações das leis 4 O Direito Romano romanas até o último imperador Justiniano. A terceira parte era as novelas que eram compilações de leis do imperador Justiniano, e por fim o digesto (pandectas) que era uma compilação da doutrina dos juristas romanos ao longo da sua historia. Direito romano vulgarizado – não era complexo suficiente para dar segurança, e a redescoberta do corpus juris foi essencial nesse contexto. Surgimento do Reino de Portugal Após as formações dos reinos germânicos na Europa ocidental o reino visigodo se instalou na região onde hoje chamamos de península ibérica. A permanência desse reino nessa região foi encerrada após a invasão da península ibérica pelo califado de Bagdá – reino distante, e vinculado a religião mulçumana. Esse califado era regido pelas leis do islã (alcorão) sendo que uma das interpretações do alcorão que era vigente naquele momento, era a interpretação radical relacionada a necessidade de expansão militar e conversão dos povos não islâmicos para a religião mulçumana – esse califado conseguiu converter todo o norte da África ao islamismo, e conquistou as terras então ocupadas pelo reino visigodo. A história da formação de Portugal e da Espanha é a história das guerras de reconquista que foram travadas pela igreja católica, pelos reinos e feudos. No contexto das cruzadas de reconquista, foram surgindo os reinos católicos que durante grande tempo ocuparam a península ibérica – reinos de leão, Aragão, e posteriormente Portugal. O rei de leão tinha um conjunto de vassalos que o auxiliavam nas lutas de reconquista, e um desses vassalos recebera do rei de leão uma terra que ficou conhecida como o condado portucalense – esse conde organizava uma série de expansões e invasões para liberar outras regiões da ocupação árabe mulçumana. Na medida em que esse condado ia patrocinando essas excursões militares para liberar essas terras, o que acontecia era que ele ia aumentando a sua zona de influencia político-militar e essas zonas liberadas iam reconhecendo a autoridade do condado. Aos poucos, a consolidação da autoridade do condado sobre determinada região acabou fazendo surgir o desejo de se reconhecer a soberania dessa região da península ibérica como uma nação independente. Igreja católica – reconhece a soberania do reino de Portugal que posteriormente passa a ser autônomo em relação ao reino de Leão ao qual estava vinculado o condado portucalense. Dessa forma, surge o reino de Portugal. Na península ibérica havia o califado de córdoba – vão ser posteriormente expulsos da península e seu território vai ser restringir a África e a região do oriente, próximo região que o califado se instalou inicialmente. Quando o reino de Portugal surge, é gerado também o sistema jurídico português que era necessário para o bom funcionamento do reino como um todo. As leis portuguesas surgem em razão da independência do país e da necessidade de se construir um sistema jurídico nacional. As principais fontes do direito naquele momento eram os costumes, e as leis, embora nesse caso as leis eram promulgadas em menor quantidade e frequência – isso se devia ao fato que no primeiro momento da teoria política do direito medieval a capacidade legislativa do direito era limitada, ou seja, caso legislasse os reis precisavam convocar as cortes que eram a reunião da nobreza diante do rei, e o rei podia propor para a nobreza a promulgação de leis e a corte poderia aprova-las ou não. Não estávamos ainda diante de um modelo de monarquia absoluta como vai se instalar posteriormente. Evidentemente, a transição de uma monarquia submetida ás cortes para uma monarquia absolutista é uma transição que se dá em 5 O Direito Romano contextos diferentes à realidade histórica de cada país. Em Portugal especificamente essa transição se dá por volta do século XIV quando o rei de Portugal passa a legislar sem precisar recorrer as cortes. Em razão dessa maior autonomia que a corte passou a ter, o reino de Portugal passa a contar com uma maior quantidade de leis, ou seja, a lei ultrapassa o costume enquanto principal fonte do direito. Esse fenômeno, trás por outro lado uma consequência que é a dificuldade que se coloca ao conhecimento das leis por parte não apenas da população, mas especificamente dos operadores do direito (advogados, juízes, tabeliões). Isso se deveria ao fato de que costumeiramente em Portugal as leis eram divulgadas a população por meio da sua leitura em voz alta. Quanto maior fosse sua comoção e importância, mais vezes aquela lei iria ser lida para assegurar o seu conhecimento pela maior parte da população. Em Portugal se generalizou um pleito da população em geral e da comunidade jurídica especializada de que as leis fossem reduzidas à escrita (leis impressas) e que essas fossem compiladas. Além disso, era necessário que essas compilações fossem divulgadas nos conselhos, vilas e cidades para que as pessoas tomassem conhecimento da legislação portuguesa. Essas compilações da legislação portuguesa ficaramconhecidas como ordenações. Em Portugal, tínhamos 3 ordenações diferentes 1- Ordenações afonsinas: promulgadas pelo rei de Portugal Dom Afonso V em 1446. Foram substituídas posteriormente pelas ordenações manuelinas de 1512, e posteriormente pelas ordenações filipinas de 1603. A motivação por trás da substituição dessas ordenações se deu em razão de que outras leis terem sido criadas e não terem entrado nessa compilação. Afonsina vira manuelina, novas leis surgem e manuelina vira filipina. Depois da filipina outras leis também foram criadas mas ficaram não passaram a integrar as compilações, pois a compilação filipina foi a última As ordenações filipinas são muito importantes, pois, foram aplicadas do Brasil e foram parcialmente aplicadas no Brasil até 1916. (vigoraram no BR por mais de 300 anos) Livro III das ordenações filipinas – trata do processo civil e tem uma discussão específica. Dentro desse livro temos o título LXIV: “Como se julgarão os casos, que não forem determinados pela Ordenação”. As ordenações mencionam as chamadas leis imperiais – como se fosse um direito romano, pois, o CORPUS JURIS CIVILES contempla as normas que estão presentes no império romano. Esse trecho do título 64, dirá que onde houvesse lei régia – passada pela coroa, ou costume do povo, ou estilo das cortes, esse caso deveria ser julgado por essa lei, por esse costume ou por esse estilo independentemente do que dissesse o direito romano – isso formaria do direito próprio português (IUS PROPRIUM). Esse direito próprio prevalecia sobre o direito romano e entre as leis e o costume não existiam hierarquias. Ademais, o título 64 dirá que, se o caso que está sendo julgado não tiver no costume do povo ou no estilo das cortes (cortes jurisdicionais), devemos consultar o direito comum (IUS COMMUNE) formado pelo direito canônico (pecado) e pelo direito romano (se não fosse pecado, resolvia-se com as leis imperiais). Porém, se nem o direito romano conseguir dar a resposta/solução para o caso, era necessário consultar as obras de Bártolo e de Acursio. Ainda nesse sentido, uma vez que consultamos a opinião de Bártolo e Acursio e eles não conseguem dar a resposta, a última forma de resolver esse caso precisaria consultar o rei e isso se tornaria um precedente vinculante. (direito próprio) Título V: 6 O Direito Romano Temos vários crimes, sendo que, cada título corresponde a um crime diferente. Podemos categorizar esses crimes de acordo com o bem jurídico que eles pretendem proteger: tem crimes que visam proteger a moralidade religiosa, proteger a coroa e o rei, e temos também crimes pouco comuns que dizem respeito a temas que não são tratados no direito penal. Linguagem mais “informal”, menos direta, fazendo analogias. Existem dois crimes do livro quinto interessantes para se discutir. O título III trata de feitiçaria. Quem praticasse a feitiçaria ingerindo coisas sagradas, fornecendo a outra pessoa ou invocando espíritos diabólicos, deveria ser penalizado com a morte natural (enforcado). Porém, há uma observação de que o caso deve ser levado ao rei, para que este pudesse analisar a qualidade da pessoa, e, assim, decidir o que fazer. É contraditório porque no início do título foi dito que QUALQUER PESSOA, de QUALQUER ORDEM, seria punida dessa forma. Essa parte logo é desmentida com a observação, que mostra que não há essa igualdade. Na época, se pensava que Deus criou o rico e pobre, o plebeu e o nobre. Então era natural que as pessoas fossem tratadas de maneira diferente, porque, com a cosmovisão, Deus quis assim, então as pessoas deveriam ser tratadas de acordo com isso. O título VI trata do crime de Lesa majestade. Traição contra o rei ou seu real Estado. Crime abominável, comparado à Lepra. Existem várias hipóteses para configurar o crime de traição (por exemplo, planejar a morte do rei ou da sua família, tratando apenas dos filhos legítimos). A pena é morte natural cruel, diferente do crime de feitiçaria. Além disso, todos os bens do traidor serão confiscados para a coroa mesmo havendo herdeiros, desamparando os familiares. Quando a casa era confiscada, era queimada e era regada de sal, para que nunca mais nada nascesse além. Caso o traidor morresse antes da pena, ainda poderia ser processado, tendo seus bens confiscados e sua memória condenada ao sofrimento eterno. Em qualquer um dos casos, os filhos homens serão excluídos da herança, e infamados para sempre, sem poder exercer cargos de honra, como cavalaria ou cargos públicos, ou haver coisa alguma de outros parentes, mesmo que por testamente, antes de voltar ao seu estado anterior. Nesse caso, fica evidente que a pena ultrapassa a pessoa do criminoso, afinal, o patrimônio foi confiscado e os filhos homens sofrem diversas consequências. Organização do Estado Colonial A ocupação do Brasil e a colonização, desde o início, apresentavam a questão sobre qual ordenamento jurídico seria válido aqui. Poderia ser o direito português, aplicado aqui, ou criando um direito especial para a colônia. A Espanha decidiu que seu direito era inadequado à colônia, enquanto Portugal optou por aplicar o direito português, tendo algumas leis específicas para o Brasil. Nessa época, não havia divisão dos 3 poderes, então o executivo fazia coisas da competência do poder legislativo, na nossa visão, por exemplo. Não havia essa ideia de atribuições e competências divididas em legislativo, executivo e judiciário. Havia a divisão dos níveis municipal, senhorial e régia. Em nível municipal - jurisdição e administração. Se dava sobre os casos de menor relevância, composta por juízes ordinários que só poderiam permanecer no seu cargo por 1 ano. 7 O Direito Romano Nem toda ocupação urbana, vila ou cidade era classifica como município. Esse título era a determinadas ocupações que preenchiam alguns requisitos, como população e poder econômico. O município possuía benefícios, como câmara municipal, privilégios (direitos e deveres especiais em face da coroa), autonomia. A câmara municipal foi o maior benefício, pois dava representatividade jurídica aos municípios, levando suas questões diretamente à coroa. Havia o ônus de ter que pagar tributos, porém, ainda era algo muito bom. A câmara era composta por vereadores (por isso, também era chamada de câmara de vereança), eleitos entre os homens bons. Haveria as eleições de pelouros (esfera de cera, onde os votos eram depositados). Os homens bons eram aqueles que viviam no município e eram de certo extrato social, como a pureza do sangue (não podiam ter sangue judeu), condição financeira, nobreza, a posse de terras e chefe da família. Os vereadores organizavam outra eleição, a eleição dos juízes ordinários. Essa eleição era interna, podendo ser um ou dois juízes ordinários por munícipio. Esses juízes tinham mandato de até um ano e não precisavam ser bacharéis, ou seja, podiam ser leigos. Esses juízes poderiam trabalhar em casos de baixa complexidade ocorridos no município. Nível Senhorial Jurisdição e administração. Composta por capitães donatários que contribuíam para a prática econômica protegendo-as. As cartas de doação que doavam terras para os capitães donatários doavam também jurisdição sobre essas terras, podendo ser exercida por ouvidores contratados de forma privada para exercer a jurisdição em suas terras, ou pelos capitães. Esses ouvidores precisavam ser juízes letrados e permanecer no cargo por um ano. Acima do nível municipal. Corresponde às capitanias hereditárias. Os capitães donatários eram equivalentes à vassalos do rei de Portugal. O senhor tinha que defender a terra. Jurisdição em nível senhorial. A jurisdição poderia ser exercida pelo ou senhorou por um ouvidor, juiz escolhido pelo senhor. O ouvidor precisava ser bacharel (letrado) no direito romano ou canônico e poderia ficar até 3 anos no cargo. Poderiam julgar: 1- Em grau de recurso- situação na justiça municipal e uma das partes não concordou com a decisão do juiz ordinário, podendo recorrer ao ouvidor. (Segunda instância). 2: Uma situação do município, fora da atribuição do juiz ordinário, ou seja, caso de alta complexidade. (Primeira instância). 3: Situação fora do município, não importando o grau de complexidade. (Primeira instância). Administração e Jurisdição Régia ou da Coroa no Brasil Colonial: Era uma justiça de segunda instância em relação a casos da justiça senhorial. Esses recursos tinham que ir de navio para Portugal, encarecendo o recurso e demorando muito o processo. Por conta disso resolveram instalar aqui um ouvidor geral para ser magistrado da coroa no Brasil. Tinha como função fiscalizar a justiça no Brasil como um todo e julgar esses casos, a demanda era muito alta e não tinha como uma pessoa dar conta. Então, esse cargo é extinto e é criado um tribunal na Bahia chamado de Relação do Brazil depois chamado de Relação da Bahia, também surge depois a Relação do Rio de Janeiro. Os juristas eram bacharéis escolhidos por Portugal. A última 8 O Direito Romano instância a ser acessada era a Casa da Suplicação que ficava em Portugal e pegava processos de Portugal e das colônias, teoricamente não há recurso depois para a decisão deles, mas em exceções o Rei intervia no processo e na decisão. Os senhores tinham obrigação de proteger e tornar a terra economicamente produtiva, além de prover a justiça nas capitanias, obrigações discriminadas no contrato de doação de terras. Poderia ter um ou mais municípios dentro de uma capitania. O município tem certa autonomia, porém, precisava estar de acordo com a capitania. A jurisdição da coroa como uma regra só é acessada em graus de recursos, não aprecia em primeira instancia os casos. Existia um magistrado chamado de juiz de fora, nomeado pela coroa e que possuía bacharel, que era encaminhado a alguns municípios por dois possíveis motivos: • Para substituir juízes ordinários por não conhecerem do direito e desagradavam nas decisões. Assim passa a ser exercida pelo juiz de fora. • Para presidir as câmaras municipais para assegurar quer as câmaras não tomariam decisões que entrassem em conflito com interesses das Coroa. Em relação à gestão administrativa do reino havia uma burocracia enorme que segmentava vários órgãos para diferentes funções. O Conselho Ultramarino era importante para administração das colônias assessorando o Rei. Há uma interação do Conselho com capitães donatários, governadores etc. para dinamizar a gestão. A primeira instancia da administração no Brasil foi no ouvidor geral – magistrado que tinha atribuições de fiscalizar a justiça no Brasil e julgar os recursos. A relação do Brasil foi criada como um tribunal para julgar recursos os ouvidores da capitania. Existiam outras relações espalhadas no império português, havia uma região na índia e acima dessas relações todas estava um tribunal metropolitano português chamado de casa da suplicação – mais alto tribunal da jurisdição portuguesa. Essas decisões da casa da suplicação eram irrecorríveis, e o rei poderia exercer a sua graça para alterar decisões proferidas por essa casa. Administração da coroa – chefiada pela figura do próprio rei que tinha capacidade de criar leis, legislar sobre interesses do reino, e administrar o reino como um todo. Havia uma burocracia administrativa robusta. O conselho ultramarino era um órgão que auxiliava a coroa a gerir as colônias, frequentemente a câmera e os capitães donatários irão interagir com o conselho ultramarino para obter informações, informar fatos ou ocorrências, etc.
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