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Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Síndrome Nefrítica Uma sindrome é um conjunto de sinais e sintomas que caracterizam um conjunto ou uma doença especifica, sindrome nefrítica é uma sindrome aguda, apresentando HAS aguda (de início recente), concomitante com hematúria, oligúria ou anúria (redução da função renal), proteinúria (desde discreta até maciça) e azotemia (perda de função renal com o acumulo de ureia e creatinina no sangue). A sindrome nefrítica é um polo da apresentação clinica das doenças glomerulares, esse é o polo agudo, o polo crônico é representado pela sindrome nefrótica, que é a característica das glomerulopatias crônicas, tendo uma apresentação insidiosa, o paciente tem edema generalizado (anasarca), hipoalbuminemia (por conta da proteinúria nefrótica maciça, que permite a passagem de macromoléculas para a urina), dislipidemia/hipercolesterolemia (com tendência a fazer eventos trombóticos ou tromboembólicos). É importante ressaltar que as glomerulopatias nem sempre vão apresentar todas as caracteristicas das síndromes, as vezes, elas podem ter hematúria apenas, proteinúria apenas, hematúria com proteinúria, por exemplo. Relembrando: A artéria aferente entra e forma as alças glomerulares, que vão se reunir para formar a arteríola eferente, além disso há a macula densa, células do mesângio e matriz mesangial, além das células epiteliais viscerais, que são os podócitos com os pedicelos, se continua com o epitelio parietal da capsula de bowman que é um epitélio pavimentoso simples, que se continua com o epitélio cúbico do tubulo contorcido proximal. A célula mesangial possui intimo contato com o endotélio, não há membrana basal entre ele e a célula endotelial, não há nenhuma barreira física, entre o endotélio e o podócito existe a membrana basal glomerular, que também separa a célula mesangial do podócito. Na microscopia, as células mais centrais do tufo glomerular são as células mesangiais com a sua matriz mesangial (duas setas na imagem), ainda é possível ver a membrana basal do capilar glomerular (uma seta na imagem), voltada para a luz capilar temos as células endoteliais, quando o núcleo está voltado para o espaço urinário vemos a célula podocitária. Os túbulos geralmente são próximos, a MEC entre eles é bem escassa. A barreira de filtração é formada pelo epitélio fenestrado da célula endotelial, a membrana basal e os pedicelos do podócitos com os seus diafragmas. Para uma biopsia renal, são feitas 4 rotinas no laboratório, HE, PAS, tricrômio e impregnação pela prata e sempre estudamos 4 compartimentos: glomérulo, túbulos, interstício peritubular e vasos. Além disso, toda suspeita de glomerulopatia deve ser feita uma imunofluorescência, e fragmento que vai para imunofluorescência não pode ir para o formol, ela vai ver o deposito imunológico que está tendo ali, normalmente não tem nenhum depósito, como a imagem da esquerda, e a da direita mostra um padrão de depósito distribuído pelas alças glomerulares, mostrando uma IMF positiva, lembrando que normalmente ela é negativa. Glomerulopatias São chamadas de glomerulonefrites também, mas muitas vezes não tem sinal de reação inflamatória, e são as doenças renais mais diagnosticáveis por biópsia, podendo ser primárias (alterações glomerulares são o sítio principal ou único) Lucas Melo – Medicina Ufes 103 e secundárias (alterações glomerulares secundárias a doenças sistêmicas). Ainda podem ser difusas ou focais e segmentares ou globais. A etiologia está ligada a inúmeros fatores, mas o imunitário tem destaque, podendo acontecer pela deposição de imunocomplexos circulantes (união do antígeno com o anticorpo aconteceu na circulação) ou formação desses imunocomplexos no local (mais comum), provocando uma agressão direta as células ou induzindo uma resposta inflamatória no local. Quando o imunocomplexo passa pelo rim, ele pode ficar aprisionado em 3 locais diferentes: entre o endotélio e a membrana basal do capilar, assumindo uma localização subendotelial, quando ele vai para o mesângio, ele assume uma localização mesangial, e quando ele passa pela barreira de filtração e fica entre a barreira e o podócito, ele assume uma localização subepitelial. A segunda opção, é quando um antígeno não glomerular fica aprisionado no glomérulo e vem um anticorpo formado in situ, e faz a formação do imunocomplexo ali mesmo (representado pela segunda parte da imagem). Existe a possibilidade do antígeno ser glomerular (presente no endotélio, membrana ou podócito), pode gerar um autoanticorpo que vai formar o imunocomplexo in situ e se depositar ali também (terceira parte da imagem). É importante entender que vão existir as lesões glomerulares agudas e crônicas, e cada uma delas carrega um padrão de resposta. As lesões agudas têm por padrão de resposta a proliferativo e tendem a estar mais relacionadas com a sindrome nefrítica, possuem proliferação endotelial, epitelial (podócitos e epitelio parietal) e mesangial, e as lesões crônicas tem por padrão de resposta a simplificação da rede de pedicelos (altera a barreira de filtração glomerular), a expansão segmentar ou global da matriz mesangial e a produção excessiva da membrana basal glomerular, essas alterações cursam, normalmente, com sindrome nefrótica. OBS: Lesão segmentar (menos de 50% do tufo capilar está afetado) ou global (mais de 50%) diz respeito aos glomérulos, lesões difusas (mais de 50% dos glomérulos da amostram tem lesão) ou focais (menos de 50% dos glomérulos da amostra tem lesão) tem relação com o parênquima cortical (a quantidade de glomérulos que estão afetados pela lesão). Glomerulonefrites por IC circulantes: Acontece pelo aprisionamento dos IC solúveis nos glomérulos sem a presença de anticorpos contra componentes do glomérulo, o tempo de exposição a eles é determinante e promove a ativação do complemento, e, mesmo com o aprisionamento, nem todos os IC provocam uma reação (nefritogênicos). Os IC podem carregar antígenos endógenos (relação com a autoimunidade) ou exógenos (relacionada, por exemplo, a microrganismo, como o estreptococo), e as propriedades desses IC são importantes para analisar o depósito deles: 1. Volume ou tamanho: Os que possuem um tamanho intermediário, com pouco excesso de antígenos, que se depositam nos glomérulos e desencadeiam a doença, quando grandes demais e com antígenos demais, eles são eliminados pelo sistema fagocitário. 2. Carga elétrica molecular: (Lembrar que a barreira de filtração possui carga negativa) IC catiônicos atravessam a membrana basal glomerular, IC aniônicos são subendoteliais e não ultrapassam a membrana basal, e com carga neutra se depositam no mesângio. 3. Configuração. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 OBS: Importância do mesângio: Fica entre os capilares glomerulares e é importante na degradação dos IC, isso modula a evolução das glomerulonefrites, modificações nele ou bloqueio de sua função favorecem a instalação dessas doenças. Nessa doença, a deposição de IC pode alterar o filtro e favorecer a passagem de macromoléculas como albumina, ativam o complemento que faz a liberação de mediadores inflamatórios e cursa com aumento da permeabilidade vascular (isso favorece mais depósitos de IC) e fazem quimiotaxia de neutrófilos que liberam proteases que lesam o glomérulo. Com essa agressão, as células glomerulares liberam substancias que deflagram o processo inflamatório, como radicais livres e metabólitos do ácido araquidônico. Glomerulonefrites por IC in situ: Os IC podem ser formados por antígenos intrínsecos, incorporados (que vem da circulação), ou por outras causas. Os intrínsecos são proteínas da membrana dos podócitos que induzem a formação de autoanticorpos e a formação dos IC ali mesmo, ou constituintes normais da membrana basal, que tem relação com os anticorpos antimembrana. Os incorporados são antígenos endógenosou exogenos que chegam por meio da circulação, os outros mecanismos envolvem anticorpos citotóxicos. Para a classificação das glomerulopatias, é importante a história clínica, exames laboratoriais, analise histológica, imunofluorescência e exame ultraestrutural. OBS: Ao exame de urina, se a hemácia encontrada não está com a forma alterada, é uma hematúria da via condutora de urina, se a hemácia estiver com a forma alterada, é uma hematúria glomerular (hemácia dismólica ou codócitos). Os dois principais quadros histológicos associados com a sindrome nefrítica são glomerulonefrite difusa agua e glomerulonefrite crescêntica. Glomerulonefrites primárias Glomerulonefrite proliferativa aguda ou difusa aguda (GN pós-estreptocócica ou pós-infecciosa): É uma inflamação de origem imunitária que compromete os glomérulos de forma global e difusa (mais de 50% dos glomérulos acometidos com mais de 50% de acometimento pela doença em casa um deles), provocando aumento de volume e proliferação das células endoteliais dos capilares glomerulares e do mesângio, infiltrado de neutrófilos e monócitos com ativação do complemento (a pessoa acometida fica com hipocomplementemia, pois o complemente está sendo utilizado na lesão, o que reduz a quantidade de complemento sérico), e essa doença é autolimitada. Acomete mais crianças e jovens, sendo que a RI é resultante de infecções em que o rim não é o alvo primário (na maioria dos casos secundárias a infecções de vias aéreas e pele), sendo que está muito associada com a infeção pelo estreptococos (vias aéreas superiores como amidalite e faringite). Quando há o desenvolvimento da doença, a infecção já acabou, tem um período de latência das duas de 7 a 15 dias (período em que os anticorpos são formados). Imagem mostra uma característica de uma lesão proliferativa. Na imunofluorescência há depósitos granulares de C3 do complemento de maneira difusa, dando o aspecto de céu estrelado ou em guirlanda, podem ser achados depósitos de IgG e IgM na parede capilar e mesângio. Na clínica vemos uma síndrome nefrítica aguda, com oligúria, hematúria, proteinúria Sindrome Nefrítica Hematúria com cilindros hemáticos Oligúria (faz azotemia e começa a acumular compostos nitrogenados na circulação). Hipertensão arterial volume dependente. Edema (geralmente localizado, principalmente de MMII). Proteinúria (geralmente discreta). Lucas Melo – Medicina Ufes 103 (hipoalbuminemia que favorece edema), edema e HA, sendo que em 95% é causada pelo estreptococos, mas a infecção por estafilococos é mais frequente em imunodeprimidos, idosos, com doença cardíaca e hepática. A história clinica da sindrome nefrítica por GNDA é muito característica e normalmente não precisa de fazer biopsia, mas quando faz, vamos encontrar uma lesão proliferativa do glomérulo, com uma alta celularidade, vemos uma proliferação mesangial, proliferação capilar (pois os capilares estão fechados). Humps é a presença de depósitos subendotelial. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP, GN crescêntica): Glomerulonefrite rapidamente progressiva é usada para descrever uma sindrome clínica na qual o paciente possui sindrome nefrítica e evolui rapidamente para perda da função renal grave, quando o paciente desenvolve esse contexto clínico, normalmente está associado a uma GN crescêntica, mas eu só posso dar o diagnóstico de GN crescêntica na histologia. A lesão predominante é a formação de crescentes por conta do acumulo de células no espaço de bowman pela proliferação de celulas parietais e infiltrado de monócitos e macrófagos. Inicialmente há predomínio de células nesse espaço, fazendo as crescentes celulares (as mais agudas), depois há acumulo de fibroblastos e deposição de colágeno, fazendo as crescentes fibrocelulares (que já há uma tentativa de cicatrização, considerada subaguda), e depois a redução do número de células e aumento do colágeno, fazendo as crescentes fibróticas (crônicas). Essas crescentes causam compressão dos capilares e polo vascular, fazendo uma isquemia glomerular, além disso, ocluem a saida do tubulo proximal e interferem na filtração glomerular, o que está relacionado com a insuficiência causada por ela. Na clínica, há uma rápida e grave insuficiência renal, oligúria ou Anúria, ureia e creatinina elevadas, hipertensão arterial e edema periférico, e, com frequência há perda de toda a função renal depois de um tempo curto, sendo que em 50% dos casos não vamos achar a causa, e qualquer glomerulopatia pode evoluir para uma GN crescêntica, mas as agudas têm mais chances. Ela pode ser classificada em tipo 1, 2 e 3: Tipo 1 possui depósitos lineares difusos de IgG em alças glomerulares, tipo2 possui depósitos granulares de imunocomplexos e isso leva a ruptura da membrana basal do capilar glomerular (associado com doenças sistêmicas, como o lúpus eritematoso sistêmico) e tipo 3 é a que não tem depósito ou tem Lucas Melo – Medicina Ufes 103 muito pouco depósitos imunológicos, normalmente associadas a vasculites de pequenos vasos, como microangiopatia por vasculite granulomatosa. A da esquerda mostra um tricrômio com proliferação celular e a da esquerda é um crescente muito celular com começo de deposição de colageno e corado com PAS. IMF de padrão linear, ocorrendo ao longo da membrana basal do capilar, isso se relaciona com o anticorpo antimembrana basal do capilar glomerular, e pode estar exclusiva ao rim, ou no pulmão também. Síndrome de Goodpasture: É uma glomerulonefrite mediada por anticorpos anti membrana basal glomerular, ela se caracteriza por hemorragia pulmonar (gera hemoptise, discreta ou grave) e glomerulonefrite aguda, predominando o tipo rapidamente progressivo, acomete mais homens na terceira década. Na imunofluorescência vamos ver depósitos de IgG, C3 e porções kappa e lambda de imunoglobulinas nos capilares glomerulares e hemorragia intra alveolar, o pulmão é acometido nesse Lucas Melo – Medicina Ufes 103 caso por conta de uma reação cruzada dos anticorpos anti membrana basal glomerular com a membrana basal dos alvéolos. Nefropatia por IgA e Vasculite por IgA Nefropatia por IgA (doença de Berger): Afeta mais homens de 10 a 40 anos (Bogli) ou 20 a 30 anos (Maria Carmen) e se caracteriza por depósitos mesangiais difusos e dominantes de IgA (principal imunoglobulina contra agentes bacterianos e virais nas secreções exógenas, associada a antígenos virais, bacterianos e alimentares), o paciente possui algum fator desencadeante que estimula a produção de IgA que vai se depositar no rim. A forma mais frequente possui uma proliferação do mesângio e da matriz mesangial e é classificada de acordo com a proliferação mesangial, esclerose glomerular e proliferação endocapilar e comprometimento túbulo-intersticial. A clínica se apresenta por hematúria recorrente, com proteinúria maciça, lesões vasculares e HA, além das alterações já ditas acima e, normalmente, aparece após uma infecção viral (TGI e trato respiratório). Em relação a classificação, temos a nefropatia por IgA clássica ou doença de Berger, ela tem uma progressão lenta, geralmente é recorrente e é a forma mais comum no adulto. Vasculite por IgA se diferencia da nefropatia pois essa corre com deposição sistêmica de IgA com sintomas gastrointestinais, como hemorragia intestinal e melena, é mais comum em crianças e pode se depositar na pele formando lesões purpúricas, nos rins e em outros locais, ela pode estar acompanhada de nefropatia por IgA ou não. Ainda há outros tipos de classificação, como a nefropatia por IgA aguda ou pediátrica que cursa com sindrome nefrítica, paciente faz uma insuficiência renal aguda grave, e pode evoluir para forma clássica do adulto. Ela pode ter o padrão crescente, que é classificadacomo nefropatia por IgA rapidamente progressiva, ou ela pode ser secundária, que é a nefropatia por IgA secundária, como a por LES, hepatopatia crônica, HIV, mieloma múltiplo, etc. O diagnóstico de nefropatia ou vasculite por IgA só pode ser feito por meio de imunofluorescência. Glomerulopatias crônicas Lesão histológica mínima: Causa mais comum de sindrome nefrótica na infância (70%), pico de incidência é de 2 a 6 anos, geralmente é benigna e não cursa com a perda da função renal, sem causa e mecanismos conhecidos. Ela pode aparecer no adulto, em pacientes idosos depois de 7 anos de idade (lesão de extremos da vida), e quando aparece aqui, pesquisar se há doenças secundárias associadas. Há uma remissão completa em mais de 90% dos casos. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Na microscopia ótica vamos ver o rim normal, na microscopia eletrônica vamos ver retração e fusionamento dos pedicelos dos podócitos e degeneração hidrópica podocitária (portanto essa lesão só pode ser identificada na microscopia eletrônica), o apagamento dos pés dos podócitos favorece a passagem de proteína na barreira de filtração, desenvolvendo a sindrome. Não é uma doença imunológica, então não há depósitos na imunofluorescência. Como já dito, curso com sindrome nefrótica, proteinúria seletiva e função renal preservada, pode ser curada por remissão espontânea ou por meio de corticoterapia, é importante dizer que ela pode ter um caráter recorrente. Mostrou os pedicelos no lado direito, que é o normal e no lado esquerdo que possui aspecto retraído, mais liso, e pode ter fusão desses pedicelos, portanto, o diagnóstico de certeza de lesão histológica mínima é pela microscopia eletronica, mas via de regra não há necessidade de biopsia pois o diagnóstico é clinico. Glomeruloesclerose segmentar e focal: Caracteriza-se pelo comprometimento focal do tufo capilar e de apenas alguns glomérulos (podendo evoluir para um comprometimento global e difuso no final), e se manifesta por sindrome nefrótica ou proteinúria acentuada em adultos e crianças, é a mais frequente na raça negra, e ela é resistente a corticoides, não costuma aparecer depois de 40 anos não, mas pode. Parece que há envolvimento genético, pode ser que exista um fator circulante que favoreça a lesão, mas ainda não se sabe muito sobre a patogenia dessa doença. Ela pode ser primária de causa idiopática ou secundária, associada a várias doenças (HAS, DM, HIV, pielonefrites, etc). Ela possui a maior recidiva em rins transplantados. O início se dá por uma modificação adaptativa dos glomérulos não lesados, começando com uma alteração primária nos podócitos, que sofrem uma redução do número de células ou sua funcionalidade. Essa modificação não tem uma causa conhecida, mas uma das hipóteses está relacionada com a sobrecarga glomerular, isso pode causar hiperfiltração e hipertrofia glomerular, que é capaz de lesar os podócitos e o endotélio, vamos ver expansão da matriz mesangial, presença de depósitos hialinos, formação de sinéquias, obstrução dos capilares glomerulares (além da sindrome nefrótica pode cursar com hematúria, é comum a presença dela). Na imunofluorescência vamos ver depósitos granulares de IgM e fator C3 do complemento onde tem a lesão. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 PAS na esquerda, vemos o glomérulo com pouco menos da metade com esclerose, mais vermelho, esclerose segmentar no glomérulo, o glomérulo de baixo já tem uma esclerose global já. Na direita vemos um glomérulo no tricrômio, com esclerose em menos de 50% do tufo capilar, esclerose relacionada ao polo vascular. Na primeira imagem vemos que a melhor coloração para ver essa esclerose é com tricrômio, e a segunda imagem mostra imunofluorescência, em que na área da esclerose vai ter depósito de IgM e C3. Na primeira imagem vemos ME com glóbulos hialinos na matriz esclerosada e na segunda imagem vemos coloração com prata mostrando uma área de esclerose que parece estar relacionada com o polo vascular. Na clínica, o mais importante é a sindrome nefrótica, pode ter hematúria microscópica e hipertensão arterial (mais em adultos). Muitos pacientes têm problema genético na produção de podocina e nefrina que compõem o diafragma entre dois pedicelos, alterando a barreira de filtração, outra condição é a ligação do podócito com o colágeno da MBG, essa ancoragem é feita pela integrina e laminina, pode haver uma produção deficiente dessas proteínas e a ancoragem fica frouxa e o podócito se solta, alterando a barreira de filtração glomerular. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Essa doença possui alguns tipos histológicos: NOS: Sem outra especificação, não consegue colocar em nenhum subtipo, existe esclerose com glóbulos hialinos, aderência da capsula de bowman, essa forma é a mais comum e pode ser primária ou secundária. Peri-hilar: Esclerose relacionada ao polo vascular, é comum nas formas adaptativas (paciente tem demanda aumentada para o rim por algum motivo). Celular: É mais rara, encontramos macrófagos espumosos entre a alça capilar e o mesângio, tem sindrome nefrótica, e, geralmente é primária e pode representar a lesão inicial da área que vai sofrer esclerose. Tip: Há um prolapso do tufo capilar para dentro da luz do tubulo contorcido proximal, normalmente é primaria, relacionada com o estresse físico na região paratubular e com o polo urinário. Comparada com outras variantes, vamos ver uma quantidade menor de atrofia e esclerose, a apresentação dessa é mais comum na raça branca com o início abrupto de sindrome nefrótica. Um tipo histológico importante é a glomerulopatia colapsante, que possui uma evolução clinica mais grave e acomete mais negros e está associada com a infecção pelo HIV. Nela, há um colapso das alças capilares em pelo menos um glomérulo por conta da proliferação dos podócitos, levando a um colapso da alça capilar glomerular. É a mais grave e geralmente tem um componente nefrítico por conta da proliferação e tem um prognostico ruim pois não responde muito bem aos corticoides, progredindo rapidamente para falência renal terminal. Nessa lesão, os túbulos aparecem dilatados com uma aparência microcística. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Glomerulonefrite membranosa: É global e difusa e acomete mais caucasianos masculinos, entre 40 e 60 anos (80% dos casos são idiopáticos), normalmente é uma doença benigna e pode ser primária (autoimune – PLA2R, relacionada com anticorpos antirreceptor de fosfolipase A2 e antiendopeptidase neutra presentes na membrana dos podócitos, levando a uma alteração na barreira de filtração) e secundária (relacionada a doenças como o lúpus, doenças autoimunes, uso de medicamentos ou drogas e doenças infecciosas). Como existe um antígeno que é podocitário e a formação do IC é entre a membrana e o podócito (IC subepiteliais), são normalmente formados por IgG e C3. O IC começa a fazer com que a membrana reaja, produzindo spikes (prolongamentos), que vai fazendo o espessamento da membrana. Na fase inicial, os glomérulos não apresentam alterações na microscopia de luz, a medida que evolui, surge espessamento regular, global e difuso da parede dos capilares, sem o aumento da celularidade dos tufos e a imunofluorescência revela depósitos granulares de IgG. Essa doença possui uma instalação insidiosa e indolente, sindrome nefrótica é o principal aparecimento, possui proteinúria não seletiva, hipertensão arterial discreta e hematúria (microscópica é mais comum). Na esquerda há glomérulo com alça aparentemente mais espessada, na direita vemos um PAS com a maior espessura da membrana. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 É possível ver com maior acurácia na prata, parece um cilio por cima da membrana, vemos spikes bem desenvolvidos na da esquerda, estágio 3, e na da direita com spikes menosdesenvolvidos, de estágio 2. Os depósitos estão sobre a membrana e em preto vemos os prolongamentos, que são os spikes. O quadro azul mostra a classificação quanto aos estágios, do lado esquerdo mostra os IC e a relação deles com a membrana, e na direita mostra a emissão dos spikes até o espessamento da membrana como um todo. Padrão granular de depósito, desenhando certinho a alça capilar glomerular. Glomerulonefrite membranoproliferativa: (é subaguda, pois tem um componente de lesão aguda, que é a proliferação celular). Predomínio em crianças maiores que 8 anos e adultos jovens. Se caracteriza pelo espessamento das alças capilares e aumento da celularidade do tufo glomerular, a forma primária tem etiologia desconhecida e acomete crianças e adultos, a forma secundária está relacionada a neoplasias, doenças infecciosas (destaque para a hepatite C), reumatológicas e genéticas. Há um aumento global e difuso do volume glomerular e da celularidade dos tufos pela proliferação das células do mesângio. A apresentação clínica mais comum é a sindrome nefrótica com hematúria microscópica, pode aparecer hipertensão arterial, e, em alguns casos, a hematúria pode ser macroscópica, e os pacientes cursam com hipocomplementemia (redução do C3 sérico). Há dois tipos, tipo 1 com o predomínio da deposição de IC circulantes ou formação em situ, é a forma mais comum e pode ser primária ou secundária (mais comum). Tipo 2 predomina a deposição de C3 e depósitos intramembranosos. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Há uma proliferação de células mesangiais e endoteliais com lobulação dos tufos, espessamento difuso das alças capilares com o glomérulo bastante aumentado de volume e com aspecto lobulado, característico dessa. Nessa imagem conseguimos ver o aspecto de membrana dupla. Eletronica vemos a membrana basal do capilar glomerular e o mesângio e vemos um depósito (com a letra D) entre o endotélio e a membrana. (A partir daqui ela não deu, mas está no livro) Glomerulopatias hereditárias Síndrome de Alport: Resulta da anormalidade na molécula do colágeno tipo 4 (que é o principal componente estrutural da membrana basal) promovendo alterações estruturais e funcionais da membrana basal glomerular. Pode ser transmitida ligada ao cromossomo X, na qual os homens têm a sindrome completa e as mulheres apenas portadoras do gene, e quando transmitida por herança autossômica, ambos os gêneros podem ser afetados. Cursa com hematúria, surdez, lesões oculares múltiplas e lesões renais progressivas. Os sintomas aparecem na primeira ou segunda década de vida com hematúria macro ou microscópica e cilindros hemáticos, pode ter proteinúria variável e nos casos avançados pode ter HA, homens cursam com insuficiência renal entre 20 e 50 anos, e em mulheres a evolução é mais benigna. Doença da membrana basal delgada (hematúria familial benigna): Possui transmissão autossômica dominante, se manifesta com hematúria assintomática, proteinúria discreta e função renal preservada, cursa com adelgaçamento difuso da membrana basal e possui um bom prognóstico. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Glomerulopatias em doenças sistêmicas Diabetes Melito: É uma das principais causas de doença renal crônica, relacionada a fatores genéticos, hemodinâmicos e metabólicos, além de hiperglicemia e deficiência de insulina. Cursa com o espessamento difuso da membrana basal dos glomérulos, túbulos e capilares (não só dos rins, mas de outros órgãos como pele, retina, etc), fazendo o que chamamos de microangiopatia diabética. As modificações da membrana basal estão ligadas a hiperglicemia, por conta dela, parece haver um aumento do colágeno do tipo 4 e fibronectina, redução de proteoglicanos e interferência na associação de moléculas, isso causa uma expansão mesangial e compressão dos capilares, além da alteração da função de depuração de macromoléculas. Na clínica, vemos hiperfiltração glomerular carcaterizada pelo aumento da depuração de creatinina, microproteinúria, proteinúria não nefrótica, sindrome nefrótica e insuficiência renal crônica. Amiloidose: É uma doença de depósito fibrilar que pode acometer os rins, paciente apresentam proteinúria assintomática ou com sindrome nefrótica, e pode aparecer insuficiência renal crônica se as lesões forem acentuadas. Os rins ficam de volume aumentado, superfície lisa e capsula descola de forma fácil, vemos a cortical espessa e sem muita coloração e a medular com congestão. Inicialmente, os depósitos amiloides formam nódulos no mesângio, e mais tardiamente formam depósitos na região subendotelial e subepitelial, a deposição começa no polo vascular e vai ocluindo os capilares de forma progressiva, até obstruir o glomérulo. Lúpus eritematoso sistêmico: É uma doença inflamatória crônica de natureza autoimune e a glomerulopatia relacionada com ela ocorre por deposição de complexos DNA-antiDNA nos glomérulos. Podemos classificar os achados glomerulares dessa em 5: Glomérulo normal, Glomerulonefrite mesangial (pequena expansão do mesângio com proliferação celular discreta ou moderada e depósitos granulares de imunoglobulinas e complemento), Glomerulonefrite proliferativa focal, Glomerulonefrite proliferativa difusa e glomerulonefrite membranosa. Púrpura de Henoch-Schonlein: Púrpura que acomete a pele das faces extensoras dos membros e das nádegas, dor abdominal, vômitos, hemorragias intestinais, dores articulares não migratórias e distúrbios renais e é mais frequente na primeira década de vida. Pode haver um comprometimento desde focal até difuso, com depósitos de IgA na imunofluorescência. Poliangiite com granulomas: Está associada com a hipersensibilidade a agentes inalados, sendo infecciosos ou não, é uma vasculite sistêmica granulomatosa e necrosante que compromete o trato respiratório e vasos de pequeno e médio calibre e nos rins ela se manifesta por proteinúria, hematúria e insuficiência renal.
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