depender do controle durante a polimerização e também da estrutura química do monômero, se obtém polímeros com um percentual de estereoregularidade. Por exemplo, 97% isotático, 90% trans ou 99% cabeça- cauda. CH2 H CH2 CH3 CH2 H CH2 CH3 CH2 H CH2 CH3 CH2 H3C H CH2 CH2 CH2 H3C H CH2 CH2 CH2 H3C H CH2 Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello 34 2.4. Conformações e flexibilidade da cadeia polimérica Devido à natureza das ligações covalentes, aliado à energia térmica existente, as cadeias poliméricas podem assumir diferentes conformações, que são arranjos moleculares espaciais que podem ser alterados por rotações em ligações covalentes simples. Em outras palavras, o arranjo espacial não é fixo, podendo ser modificado inúmeras vezes em frações de segundo. Isso ocorre pois há uma certa liberdade de movimentação dos grupos da cadeia, que depende do caráter da ligação química na cadeia principal e dos substituintes laterais. Nos polímeros os principais tipos de conformações são as trans-gauche e as helicoidais. A conformação do tipo trans-gauche é a mais comum. Uma molécula orgânica pode assumir formas em zig-zag, estendida, caracterizando a conformação trans. O ângulo de equilíbrio entre os átomos de carbono é mantido, assim como a disposição espacial dos átomos e grupos substituintes. No entanto, como existe a possibilidade de rotação das ligações covalentes, esse ângulo de equilíbrio pode ser alcançado em uma outra disposição espacial da molécula, conforme esquema ao lado. As conformações podem ser alteradas livremente, resultando em um arranjo molecular não fixo. Como o número de arranjos conformacionais possíveis aumenta com o número de ligações químicas na cadeia principal, pode-se considerar que, no caso dos polímeros com suas milhares (ou de centenas de milhares) de ligações covalentes, a probabilidade desta molécula possuir apenas conformações trans (com a consequente cadeia completamente estendida) é extremamente baixa1. A alternância contínua de conformações trans e gauche, aliada aos grandes tamanhos moleculares, resulta em arranjos moleculares enovelados – por razões termodinâmicas, uma vez que a forma esférica é mais favorável energeticamente. Esse tipo de arranjo é predominante no estado fundido, em solução e nas frações amorfas dos polímeros sólidos. No caso dos cristais poliméricos, ocorrem sequências de conformação trans para favorecer a acomodação dos segmentos moleculares durante a cristalização. O fato de uma molécula polimérica apresentar a tendência a formar novelos e, além disso, possuírem grandes comprimentos e, por fim, coexistirem com inúmeras outras macromoléculas, existe a forte tendência dessas moléculas se enroscarem entre si, formando os chamados emaranhados moleculares. Esses emaranhados criam uma interdependência física entre as macromoléculas, com 1 Foi calculado que uma molécula de polietileno com massa molar 280.000g/mol teria 109542 possíveis conformações. Um número absurdo de 10, seguido por 9542 zeros. Todo o universo não possui tantas moléculas quanto uma simples cadeia de polietileno pode ter em possibilidades de arranjos espaciais! (Elias 1987) trans trans/gauche Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello 35 inúmeras consequências práticas, tais como: alta viscosidade do estado fundido e em solução, tenacidade e resistência tênsil dos polímeros, grande extensibilidade dos elastômeros, resistência ao stress cracking e limitação nos processos de cristalização. A densidade de emaranhados moleculares, portanto, é fator decisivo para o comportamento mecânico e reológico dos polímeros, sendo dependente essencialmente dos tamanhos moleculares, conforme os dados mostrados na Figura 2.11. A tendência dos polímeros de alta massa molar apresentarem comportamento mecânico superior é atribuído, em grande parte, aos emaranhados moleculares. O outro fator, a ser abordado posteriormente, é a formação de moléculas atadoras, unindo os cristais com as regiões amorfas, que também são fortemente dependentes da massa molar. Figura 2.11. Relação entre a massa molar (Mw) do poli-isopreno e o número de emaranhados por molécula. Baseado nos dados apresentados por (Auhl et al. 2008). Um outro tipo de conformação é a do tipo helicoidal, que ocorre quando o polímero tem grupos laterais volumosos. As cadeias assumem um perfil de hélice, com as ligações alternando nas formas trans e gauche, permitindo a acomodação das moléculas em distâncias mais próximas sem distorção das ligações da cadeia, isto é, mantendo os ângulos de equilíbrio. Esse tipo de conformação ocorre com estruturas moleculares regulares como os polímeros isotáticos e sindiotáticos e se mantém no estado cristalino. O passo da hélice depende do tamanho do substituinte lateral. Por exemplo, no polipropileno tem-se 3 unidades repetitivas por volta, enquanto no PMMA tem-se 5 unidades em 3 voltas. O perfil da hélice pode ser alterado com a temperatura, como ocorre no PTFE. Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello 36 Um fator bastante importante e inerente às formas configuracionais das moléculas é a flexibilidade da cadeia polimérica. A ideia de que as cadeias poderiam ser flexíveis e não cilindros rígidos, como se pensava até 1934, surgiu para explicar as grandes deformações reversíveis dos elastômeros. De fato, as rotações que ocorrem em torno das ligações na cadeia principal denotam uma natureza flexível dessas cadeias. Entretanto, essa facilidade de rotação molecular, alterando as conformações, varia de acordo com a estrutura química do polímero e é controlada pelo fator denominado “barreira de energia para rotação”. Tome-se como exemplo a Figura 2.12, em que uma molécula possui os níveis mais baixos de energia nos ângulos 60, 180 e 300°. Para que haja rotação molecular e o ângulo seja alterado de 60 para 180°, por exemplo, é preciso vencer a barreira de energia, indicada na figura. Essa barreira de energia pode ser fornecida pelo movimento térmico da molécula, caso a temperatura seja suficientemente elevada para isso. Agora imagine que essa molécula possua um grupo substituinte volumoso em que, para haver a rotação molecular, seria preciso vencer uma barreira de energia mais elevada para conseguir “arrastar” esse grupo. A cadeia, dessa forma, se torna menos flexível do que no caso anterior, com menos rotações moleculares. De modo semelhante, quando existem grupos mais polares será preciso superar a energia de interação intermolecular do grupo polar para haver rotação. Novamente, a cadeia se torna menos flexível. Assim, polímeros com grupos volumosos, como poliestireno e poli(metacrilato de metila), possuem cadeias mais rígidas as do o polietileno e as do polibutadieno, por exemplo. PVC, poliamidas e poliésteres, devido à presença dos seus respectivos grupos polares, têm cadeias mais rígidas do que os apolares com polietileno, polipropileno e poli-isopreno. Grupos volumosos (na cadeia principal ou lateral) e polares, como é de se esperar, têm efeitos aditivos, tornando a cadeia com rigidez extrema, como no caso das poliamidas aromáticas. Por outro lado, caso esses grupos estejam bem espaçados ao longo da cadeia, o enrijecimento será menor. Por exemplo, a poliamida 11, que tem 10 grupos CH2 entre os grupos polares de amida, é mais flexível do que a poliamida 6, que possui apenas 5 grupos CH2 entre os amida. Em outro exemplo, a flexibilidade