Tg e Tgo são as temperaturas de transição vítrea do polímero reticulado e não reticulado, respectivamente, e Mc a massa molar entre as reticulações, que é inversamente proporcional ao grau de reticulação. O efeito da reticulação na rigidez pode ser exemplificado com os produtos à base de elastômeros: luvas cirúrgicas – macias e flexíveis – 100-150 meros entre as reticulações; luvas domésticas – mais rígidas – 50-80 meros entre as reticulações; Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello 44 pneus – borracha rígida – 10-20 meros entre as reticulações; ebonite – borracha extremamente dura – até 5 meros entre as reticulações. Sugestões de atividades práticas Efeito da massa molar. Selecione diversos grades de uma petroquímica, correspondentes a uma série de produtos sintetizados do mesmo polímero. Como as petroquímicas, em geral, não informam as massas molares dos seus grades, isso geralmente é refletido por diferenças no índice de fluidez4. 4 O índice de fluidez (melt flow index, MFI) é um parâmetro amplamente adotado pela indústria petroquímica para diferenciar os vários grades produzidos. Expresso em g/10min, o MFI é uma medida do escoamento do polímero fundido através de um capilar em temperatura e pressão pré-estabelecidos. Quanto maior a massa molar, menor o índice de fluidez. Um exemplo de procedimento pode ser visualizado nesse link. Transição vítrea na prática Existem diversas situações práticas em que a presença de solventes interfere na Tg do polímero e, portanto, na sua aplicabilidade. Por exemplo, um selo de carta (outrora bastante utilizado) ao ser umedecido adquire características adesivas. Isso ocorre pois o selo possui uma película de poli(álcool vinílico) que, sendo solúvel em água, reduz a sua Tg original de ~50°C para uma temperatura abaixo da ambiente, tornando-o pegajoso. Caso semelhante, mas não tão intenso ocorre com as fibras de algodão (celulose). Para passar a ferro um tecido de algodão sugere-se umedecê-lo para facilitar a “deformação”. A umidade atua entre as moléculas polares e rígidas de celulose, aumentando a sua mobilidade e, assim, permitindo um passar a ferro mais suave. Essa também é a razão pela qual produtos à base de poliamidas têm tenacidade superior em ambientes com maior umidade atmosférica. Tanto no caso da celulose quanto dos náilons, a água não chega a solubilizar o polímero, mas reduz um pouco as interações intermoleculares das regiões amorfas, reduzindo a Tg e, assim, afetando o comportamento. Em todos os exemplos acima tem-se polímeros e solvente com ligações por pontes de hidrogênio. https://www.youtube.com/watch?v=XhsWsM3XQZU http://www.uckg.org/pt/wp-content/uploads/2015/02/DENTROO.png https://static1.casapraticaqualita.com.br/articles/8/53/8/@/573-alguns-ferros-de-passar-possuem-mais-fun-article_content_img-2.jpg https://lh3.googleusercontent.com/proxy/-su4LWZN4mx2gawcRqEnd71bHyNyVsYTOtZ9ipBLtZGcO1j6YLwR3eHfSG62r3c4qR-S0lspl0TiyrGAEw Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello 45 Prepare corpos de prova e avalie as diferenças nas curvas tensão-deformação ou na resistência ao impacto. Atente que, como os grades também podem variar em termos de distribuição de massas molares e composição, a diferença de comportamento pode não ter uma única explicação. Claro, o ideal seria medir a massa molar das amostras para correlacionar com as propriedades mecânicas. Comportamento térmico de termoplásticos e termofixos. Aqueça uma peça à base de polímero termoplástico (como PE ou PP), observando o amolecimento/fusão. Em seguida, resfrie e observe a solidificação/cristalização. Realize o mesmo procedimento com uma peça de termofixo (uma borracha ou uma resina epóxi endurecida) observando que, nesse caso não ocorre amolecimento. Caso o aquecimento prolongue, haverá decomposição do material. Anisotropia pelo aquecimento. Um produto com orientação molecular tende a sofrer retração após atingir a temperatura vítrea ou de fusão. Ao aquecer um copinho descartável até acima de 100°C, observe a direção de retração predominante. Isso é resultado de uma orientação molecular preferencial gerada durante a fabricação. Anisotropia por propriedades. Existem diversas maneiras de observar esse efeito. Por exemplo, comparando as propriedades mecânicas de do PP na forma de fibras e na forma moldada. Observe-se uma diferença significativa nas curvas tensão-deformação e nas propriedades finais, como resistência tênsil, alongamento máximo e módulo elástico. O copinho descartável também pode ilustrar esse comportamento, onde o rasgamento do copinho é mais fácil em uma das direções. Emaranhados moleculares. Uma analogia simples para se verificar a influência do tamanho da cadeia nos emaranhados moleculares e, por consequência, na coesão mecânica do material, seria desenovelar completamente um carretel de linha – ou vários carreteis, com cores diferentes. Observe que facilmente as linhas tornam-se entrelaçam, comportando-se como uma grande massa interconectada mecanicamente. Compare essa situação com o mesmo tipo de linha, mas com os fios cortados em pequenos comprimentos, digamos 10cm. Nessa última situação o nível de inter-dependência é muito menor, resultando em menos coesão mecânica – assim como ocorre com as moléculas poliméricas. Transição vítrea. Os exemplos comparativos citados na seção 2.5 podem ser observados pelas técnicas de DSC, TMA ou DMA. Uma maneira mais simples, e sem o rigor científico, pode ser realizado pelo aquecimento de uma amostra em uma placa, observando-se, com a ajuda de um termômetro infravermelho, a faixa de temperatura em que o material deixa de ser vítreo/rígido e passa a borrachaso/flexível. Esse último procedimento é mais recomendado para polímeros totalmente amorfos, onde essa transição térmica é mais evidente. Estrutura e Propriedades de Polímeros Marcelo Silveira Rabello 46 Sugestões para estudo complementar Akcelrud, L. 2007. Fundamentos da ciência dos polímeros (Manole: São Paulo). Billmeyer, F.W. 1984. Textbook of Polymer Science (Wiley: New York). Canevarolo Jr., S.V. 2010. Ciência dos Polímeros (Artliber: São Paulo). Elias, Hans-Georg. 1987. Mega Molecules (Springer: Berlin). Gedde, U. W. 1995. Polymer Physics (Chapman & Hall: London). Rudin, A. 2014. Ciência e Engenharia de Polímeros (Elsevier: São Paulo). Tager, A. 1978. Physical Chemistry of Polymers (Mir Publishers: Moscow). Referências Ahmed, D.; Hongpeng, Z.; Haijuan, K.; Liu Jing; Yu, M. 2014. 'Microstructural developments of poly (p- phenylene terephthalamide) fibers during heat treatment process: a review', Mat.Res., 17. Auhl, D., J. Ramirez, A. E. Likhtman, P. Chambon, and C. Fernyhough. 2008. 'Linear and nonlinear shear flow behavior of monodisperse polyisoprene melts with a large range of molecular weights', Journal of Rheology, 52: 801-35. Billmeyer, F.W. 1984. Textbook of Polymer Science (Wiley: New York). Birley, A. W., B. Haworth, and J. Batchelor. 1992. Physics of Plastics (Hanser: Munich). Biron, M. 2014. Thermosets and Composites (Elsevier: Oxford). Bower, D. I. 2002. An Introduction to Polymer Physics (Cambridge University Press: New York). Curtis, J. W. 1970. 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