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ATIVIDADE FÍSICA E ESPORTIVA ADAPTADA 2 SUMÁRIO ESCLARECENDO OS TERMOS ADOTADOS ....................................................................... 4 POSICIONAMENTO DIANTE DAS DEFICIÊNCIAS ............................................................... 4 O PORQUÊ DA ATIVIDADE FÍSICA ADAPTADA .................................................................. 5 INCIDÊNCIA DAS DEFICIÊNCIAS NO BRASIL ..................................................................... 6 DEFICIÊNCIA VISUAL (DV) .................................................................................................... 7 CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DA DV ................................................................................. 7 HISTÓRIA DA DV NO BRASIL ................................................................................................ 9 QUEM É O DEFICIENTE VISUAL? E O CEGO? .................................................................. 11 ATIVIDADE FÍSICA E DV ...................................................................................................... 17 ESPORTE ADAPTADO PARA DV ........................................................................................ 26 COMPETIÇÕES INDIVIDUAIS – MASCULINAS E FEMININAS .......................................... 32 ATIVIDADES FÍSICAS, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DO DV ....................................... 40 DEFICIÊNCIA AUDITIVA (DA) .............................................................................................. 43 ORALISMO E LÍNGUA DE SINAIS ....................................................................................... 44 FALA E LINGUAGEM ............................................................................................................ 46 CONCEITO E TIPOS DE SURDEZ ....................................................................................... 47 DEFICIÊNCIA AUDITIVA E DESENVOLVIMENTO MOTOR ................................................ 51 ATIVIDADE FÍSICA E DA ...................................................................................................... 53 UTILIZAÇÃO DE RECURSOS PEDAGÓGICOS .................................................................. 55 ESPORTES ADAPTADOS PARA O DA ............................................................................... 56 FILMES QUE APRESENTAM A DEFICIÊNCIA AUDITIVA .................................................. 57 DEFICIÊNCIA MENTAL ........................................................................................................ 57 CATEGORIAS DE DEFICIÊNCIAS ....................................................................................... 58 CARACTERÍSTICAS DO DEFICIENTE MENTAL (DM) ........................................................ 58 SISTEMA 2002 – CONCEPÇÃO DE DEFICIÊNCIA MENTAL (AAMR) ................................ 58 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO BASEADO NO QI .............................................................. 60 DEFICIÊNCIA MENTAL LEVE, MÉDIA E PROFUNDA. ....................................................... 61 SUGESTÕES DE ATIVIDADES ............................................................................................ 65 RECURSOS E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS ................................................................. 68 ESTIMULAÇÃO PRECOCE .................................................................................................. 69 FATORES DE RISCO E CAUSAS DA DM ............................................................................ 69 OLIMPÍADAS ESPECIAIS ..................................................................................................... 70 JOGOS PARALÍMPICOS PARA DM ..................................................................................... 72 UM PROGRAMA DE GINÁSTICA OLÍMPICA DESTINADO A CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA MENTAL ................................................................................................................................ 76 3 SINDROME DE DOWN (SD) ................................................................................................. 78 AUTISMO .............................................................................................................................. 89 EFEITOS PSICOLÓGICOS DA DEFICIÊNCIA FÍSICA ........................................................ 98 OBJETIVOS DA ATIVIDADE FÍSICO-ESPORTIVA COM ALUNO DF ................................. 98 PARALISIA CEREBRAL (PC) ............................................................................................... 99 LESÃO MEDULAR (LM) ...................................................................................................... 118 TETRAPLEGIAS .................................................................................................................. 120 T6 – PARAPLEGIAS ........................................................................................................... 120 AMPUTAÇÃO ...................................................................................................................... 123 HISTÓRIA DO ESPORTE ADAPTADO .............................................................................. 131 PARALIMPÍADAS ................................................................................................................ 132 CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL .......................................................................................... 135 MANUAL DE REGRAS DE DESPORTOS (FUTEBOL) ...................................................... 137 CHUTE INICIAL ................................................................................................................... 147 BOLA FORA E DENTRO DO JOGO ................................................................................... 149 CONTAGEM DE GOLS ....................................................................................................... 149 TIROS LIVRES .................................................................................................................... 153 ARREMESSO LATERAL ..................................................................................................... 156 TIRO DE META ................................................................................................................... 157 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 164 4 ESCLARECENDO OS TERMOS ADOTADOS Os temas abordados neste estudo têm o objetivo de proporcionar informações teóricas, práticas e úteis aos profissionais da Educação Física e áreas afins, assim como, a sociedade e a aqueles que se interessam por pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Antes de tecer qualquer comentário sobre a Educação Física Adaptada é preciso, como responsável pela explanação, assumir determinadas posturas e vocabulários que se tornarão, a partir deste momento, frequentes em nossas discussões e leituras. Inicialmente esclareço aos leitores que os conteúdos tratados aqui dentro da disciplina, denominados Educação Física Adaptada (EFA), vocês encontrarão conteúdos semelhantes em disciplinas com denominações diferentes como Atividade Motora Adaptada (AMA), Atividades Físicas Adaptadas, (AFA) que, embora possuam uma terminologia diferente, desenvolvem estudos e ações práticas para pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. POSICIONAMENTO DIANTE DAS DEFICIÊNCIAS A partir deste momento, apropriando-se da palavra deficiência, a qual utilizei no parágrafo acima, passo a assumir uma segunda posição bastante polêmica sob o ponto de vista de terceiros, porém utilizadas por mim dia a dia, com muita tranquilidade e com o pensamento de que ao mencioná-la não estou me referindo a questões externas ou visíveis como a aparência, mas a característicaspessoais como todos nós possuímos. Assim penso ao me expressar da mesma forma como se estivesse me referindo às pessoas altas, baixas e às suas características e suas individualidades biológicas. Além desse motivo é possível analisar estes termos que foram adotados e empregados às pessoas que apresentam algum tipo de deficiência sob outra ótica, para esta reflexão recorri a Sassaki (2003) que quanto a esses termos afirma que: São considerados corretos em função de certos valores e conceitos vigentes em cada sociedade e em cada época. Assim, eles passam a ser incorretos quando esses 5 valores e conceitos vão sendo substituídos por outros, o que exige o uso de outras palavras. (SASSAKI, 2003). A minha tranquilidade e segurança na adoção e aplicação da palavra deficiência, cego, surdo e outras que certamente pela minha vida profissional já foi aplicada, deve-se ao contato e convívio com esta população que inicialmente me preocupava em usar determinados termos a fim de não passar a impressão de sentimentos preconceituosos ou mesmo discriminatórios, e para minha surpresa eles mesmos me tranquilizavam dizendo: “Professora, sou cego mesmo não precisa falar deficiente visual”. A partir daí percebi que nossos conflitos internos e nossa insegurança são maiores que as realmente existentes nesta população, se é que existem. O PORQUÊ DA ATIVIDADE FÍSICA ADAPTADA Atualmente, a Educação Física Adaptada tornou-se um grande desafio frente à variedade de deficiências que cresce dia a dia com origens (etiologias) diferentes, ou quando se manifestam e ainda são desconhecidas, o que impossibilita a ação e intervenção de profissionais como da área de Educação Física. Já não contamos apenas com alterações genéticas, ou problemas congênitos, mas, atualmente devido a grandes transformações ocorridas no meio ambiente, a situação socioeconômica de muitas famílias brasileiras que vivem em condições precárias de higiene e saúde têm aumentado progressivamente o número de casos de pessoas que apresentam deficiências. De acordo com Mauerberg-de-Castro (2007) desde a II Guerra Mundial, em torno de 70 mil diferentes sintéticos químicos foram desenvolvidos para uso em alimentos, cosméticos, fertilizantes, pesticidas e outros produtos. Atualmente, mais de mil novas substâncias são desenvolvidas anualmente. Estas substâncias estão em contato com a população por meios diretos e indiretos, com e sem controle de seus efeitos sobre o organismo das pessoas. O que sabemos e estamos acompanhando é que o número de patologias atualmente existentes na sociedade é alarmante, e ao mesmo tempo em que nos assusta pelo avanço quantitativo e qualitativo, pela diversidade que elas vêm se apresentando, novos estudos e pesquisas surgem por 6 parte de profissionais da área da saúde que buscam caminhos por meio de orientações, medicamentos, intervenções e a prática de atividades físicas, a fim de que garantir a esta população uma melhor condição de saúde e qualidade de vida. INCIDÊNCIA DAS DEFICIÊNCIAS NO BRASIL Após a promulgação da Lei n.7.853/89 que trouxe a obrigatoriedade para que fossem incluídas em censos nacionais as questões relativas às pessoas que apresentam deficiências, em 1991 o Brasil passou a contar com mais informações sobre os deficientes por meio do Censo Demográfico, cujos resultados apresentaram cerca de 1,7 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência vivendo em nosso país, um valor equivalente a 1,14% da população total. Em 2000, no novo Censo Demográfico o quadro já se apresentou diferente e com valores numericamente maiores que saltaram para a casa dos 24,6 milhões de pessoas que se declararam com algum tipo de deficiência, cuja representação também passou a ser 14,5% da população total distribuídas da seguinte forma: 19,8 milhões na zona urbana e 4,8 milhões na zona rural. Embora possa se notar um aumento de 14,5% de pessoas que apresentam alguma deficiência entre o Censo demográfico de 1991 e 2000, algumas considerações devem ser levantadas como mudanças nas questões do Censo de 2000 que permitiu agrupar a este valor (14,5%) uma maior variedade de tipos de deficiência, a questão da incapacidade que incluiu a população idosa nesse segmento que apresenta dificuldades em função do processo de envelhecimento. Agora que já conseguimos ter uma ideia do contingente populacional que apresenta deficiência no cenário nacional, resta-nos conhecer qual a prevalência de cada tipo de deficiência dentro dele. Dos 24,6 milhões de deficientes existentes no Brasil, 48,1% corresponde a deficiência visual; 27% a deficiência física ou motora; 16,7% a deficiência auditiva e 8,3% a deficiência mental (Censo, 2000). É importante esclarecer ao leitor que esta classificação em tipos de deficiência na prática não é funcional e nem sempre representa a realidade em que trabalhamos ou vivemos. Esta colocação torna-se significativa quando nos deparamos com pessoas que apresentam múltiplas deficiências, como, por exemplo, não possui uma 7 perna e é cego. Dentro deste exemplo classificaríamos como? Deficiente físico ou visual? Ou os dois? Porém no momento esta não é uma questão importante para este estudo e nem traçada como objetivo para ele, e somente foi levantada para esclarecer ao leitor que para efeitos didáticos e de organização textual esta classificação das deficiências em visual, física ou motora, auditiva e mental será adotada, e dentro de cada uma delas, quando for necessária, outra deficiência relacionada à classificação que no momento estiver sendo discutida será elucidada. Como estamos começando a organizar os nossos estudos, é importante a partir deste momento, explicar como será estruturado o conteúdo sobre cada tipo de deficiência. Inicialmente, destacarei os períodos históricos (1) mais importantes de cada uma delas, a partir disto à evolução conceitual (2), para depois apresentá-las dentro do contexto educacional (3), esportivo (4) e da saúde e qualidade de vida (5) desta população. DEFICIÊNCIA VISUAL (DV) CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DA DV 8 A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em mais de 1,5 milhões o número de cegos no mundo. No Brasil este número chega a mais de 825.000 cegos, ou seja, perto de 7% da população brasileira possui algum tipo de deficiência visual. EmMato Grosso do Sul, temos um total geral de homens e mulheres com deficiência visual equivalente a 198. 358 (UBC-União Brasileira de Cegos). A deficiência visual é caracterizada pela perda parcial ou total da capacidade visual, em ambos os olhos, levando o indivíduo a uma limitação em seu desempenho habitual. Ela pode ser congênita ou adquirida. Congênita é quando a criança nasce sem resíduos de visão, ou mesmo perde a visão até os três anos de idade. Até essa idade, a criança ainda não grava imagens e não forma conceitos. A partir daí, porém, a cegueira é adquirida (MOSQUERA, 2000, p. 27). FIGURA – ÓCULOS PARA ALUNOS <http://www.usp.br/agen/bols/2000/rede554.htm> Então, quer dizer que se utilizo óculos porque sem ele me sinto limitada em desempenhar determinadas funções dependendo exclusivamente dele para me sentir independente, posso ser considerada como deficiente visual? Sim ou não como resposta não altera a minha condição ou situação visual, mas certamente altera a maneira como as pessoas me “veem” ou passarão a me “ver”, se assim eu for classificada. Fizemos a discussão de um item da definição, mas outros pontos ainda podem ser discutidos e algumas questões levantadas. Por exemplo, como chamarmos uma pessoa que não possui um olho, e o outro que possui enxerga perfeitamente? Para alguns autores, neste caso a pessoa não é considerada deficiente visual porque no único olho ele não apresenta perda parcial nem total e do outro lado, vamos dizer assim,não possui, nenhum órgão da visão. 9 No entanto, entendermos que as pessoas que apresentam perda parcial da visão e as pessoas que apresentam perda total da visão, assim como o momento e a origem destas perdas, torna-se importante para o entendimento de determinados comportamentos e ações que poderão estar impedindo esta pessoa de (con) viver melhor consigo e com as pessoas que o cercam. Estas relações são estabelecidas no ambiente escolar, esportivo, no trabalho, com os amigos e com a família. Para nossos estudos nos restringiremos a três ambientes conforme traçado inicialmente no objetivo, que são: escolar, esportivo e da saúde. INCIDÊNCIA DE DEFICIENCIA NO BRASIL FONTE: IBGE, Censo, 1920. HISTÓRIA DA DV NO BRASIL É necessário apresentar um pouco de história para entendermos como os deficientes visuais foram atendidos no Brasil primeiramente e quais as questões que envolviam este atendimento. A partir deste breve histórico chegaremos a atual situação do DV nas escolas. No Censo Demográfico de 1920, já apareciam dados de indivíduos que apresentavam deficiência sensorial, os chamados na época como “cegos” e “surdos- mudos” as pessoas com deficiência visual e auditiva. O quadro abaixo representa a incidência destas deficiências. 10 Segundo Jannuzzi (2004), em meados do século XIX teve início a educação para crianças com deficiência visual, predominantemente institucional e vinculada à área médica. No final deste mesmo século, é criada no Brasil uma instituição governamental direcionada para o atendimento educacional de pessoas cegas conhecido como Instituto Imperial dos Meninos Cegos hoje, atual Instituto Benjamin Constant. O Instituto Benjamin Constant foi criado a partir da iniciada de José Álvares de Azevedo, jovem cego descendente de família abastada e que, ainda menino e a conselho do Dr. Maximiliano Antônio de Lemos, amigo de um tio seu, fora mandado estudar em Paris, no Instituto Imperial dos Jovens Cegos, idealizado por Valentin Hauy e que também servira de escola a Louis Braille, onde, aliás, desenvolveu o Sistema Braille. Regressando da França em 1852, após ter permanecido por oito anos, lançou-se à luta pela educação de seus compatriotas, ora escrevendo artigos em jornais, ora ministrando aulas particulares dos conhecimentos lá adquiridos. Foi na condição de professor que se tornou amigo do Dr. José Francisco Xavier Sigaud, francês naturalizado brasileiro e médico da Imperial Câmara, cuja filha cega, Adéle Marie Louise Sigaud, veio a ensinar o sistema Braille trazido da França. Encantado com tal técnica, resolveu criar uma instituição, aprovada pelo império de Dom Pedro II, que, ao ser fundado, teve o nome de Instituto dos Meninos Cegos, e logo depois Dr. Benjamin Constant Botelho de Magalhães que lecionou muitos anos no instituto. A preocupação com a Educação Física para alunos cegos, segundo informações colhidas junto a professores cegos aposentados do Instituto Benjamins Constant, já existia nesta Instituição desde a primeira década do século. A atividade física era orientada por um instrutor, funcionário da Instituição, que ocupava o cargo de “Mestre de Ginástica”. Em 1931, houve uma demonstração especial de ginástica calistênica, por alunos cegos do IBC, treinados pelo Tenente Bonorino, do 3º Regimento de Infantaria, situado na Urca, já utilizando o uniforme de ginástica. Essa demonstração especial realizou-se na Fortaleza de São João, por ocasião de uma visita do General Leite de Castro, Primeiro Ministro da Guerra, do Governo do Presidente Getúlio Vargas. A prática da ginástica calistênica prevaleceu para os alunos do IBC até 1937, época em que se deu o fechamento da Instituição, para obras. 11 Mais tarde com a abertura do IBC em 1944 e o reinício de suas atividades escolares têm-se notícias de uma mudança de orientação na prática da Educação Física para alunos cegos. A partir dessa época a Educação Física foi considerada fator importantíssimo no processo educacional dos alunos cegos, no que diz respeito a problemas de postura, equilíbrio, marcha, recreação, integração e socialização. Essa valorização deu-se, por meio da contribuição e orientação de professores de Educação Física diplomados pela Escola Nacional de Educação Física, que começaram as primeiras experiências com alunos cegos do Instituto Benjamim Constant. A partir de 1946, professores de Educação Física em caráter interino, passaram a exercer as suas funções dando aulas a alunos cegos no IBC. Em 1947, seis professores aprovados em Concurso Públicos desenvolveram um trabalho para melhorar a orientação da Educação Física a alunos cegos, contando com equipamentos modernos adquiridos na época. A partir de então, práticas como atletismo, ginástica rítmica, luta livre e recreação, começaram a ser introduzidas no processo educacional das pessoas cegas, conforme informações colhidas entre professores e funcionários do IBC (BARUKI et. al, 2007). A partir da criação do IBC, ex-alunos do Instituto com o auxílio de pessoas influentes na sociedade foram responsáveis pela criação de outras organizações responsáveis pela formação e orientação para o trabalho e educação para cegos. E hoje nas escolas como se encontram os alunos DV? Estão presentes nas aulas de Educação Física? É importante inicialmente sabermos que a partir da educação especial no final do século XVIII e início do século XIX, quando houve a institucionalização especializada dos indivíduos em condição de deficiência e a preocupação da sociedade em prestar apoio aos deficientes, mas, o que acabou ocorrendo foi à segregação destes. Porém no século XX ocorreu a expansão da escolarização básica e consequentemente o aumento dessa população nas escolas. (SILVA et.al,2008) Para tanto, foram necessárias algumas alterações para que o aluno DV fosse recebido no ambiente escolar, tanto o cego como a pessoa com baixa visão. QUEM É O DEFICIENTE VISUAL? E O CEGO? 12 FIGURA – PESONAGEM DE INCLUSÃO <http://johannaterapeutaocupacional.blogspot.com.br/2011/07/os- personagens-de-inclusao-da-turma-da.html> Pessoa que apresenta baixa visão é aquela que possui dificuldade em desempenhar tarefas visuais, mesmo com prescrição de lentes corretivas, mas que pode aprimorar sua capacidade de realizar tais tarefas com a utilização de estratégias visuais compensatórias, outros recursos e modificações ambientais. Os recursos para baixa visão partem do princípio de que a imagem deve ser ampliada. Sendo assim, eles são divididos em três grupos de acordo com Bonatti (2005): a) Para perto: lupas manuais, lupas de apoio, óculos com adições especiais; b) Para longe: os sistemas telescópicos que são esteticamente apresentáveis e tem um custo elevado, além de reduzirem o campo visual; c) Sistemas de videomagnificação: usados para a ampliação da imagem projetada por meio da tela da televisão. Não podemos atualmente desconsiderar e deixar de mencionar os esforços e estudos efetuados na área da deficiência visual, no que diz respeito aos avanços tecnológicos como as novas metodologias de ensino, que oportunizam o aprendizado e acesso a estas pessoas as escolas e outros ambientes, sobretudo permitindo-lhes uma condição de vida mais independente. Para isso, recorri aos estudos de Bonatti 13 (2005) que em seu trabalho intitulado “Desenvolvimento de equipamento de auxílio a visão subnormal”, percebeu o quanto poderia ser cansativo para um DV segurar a lupa o tempo todo em uma mão durante sua leitura, em que o foco também deve ser ajustado constantemente. Seu estudo teve como produto final à elaboração de um protótipo para utilização com a lupa conforme figura abaixo: FIGURA– EQUIPAMENTO DE AUXÍLIO A VISÃO SUBNORMAL Lendo este trabalho uma questão me deixa intrigada, quandopenso no DV que utiliza este recurso diariamente. Será que ele não se sente desestimulado nas aulas algumas vezes pelo cansaço? Não sei, mas, considerando que o conhecimento é importante e para evitar o desestímulo devem ser utilizados diversos recursos pedagógicos a fim de proporcionar ao aluno uma aprendizagem prazerosa e significativa. A pessoa é considerada cega quando a perda que ela apresenta vai desde a percepção luminosa até a ausência total de visão. Geralmente essas pessoas desenvolvem os outros órgãos dos sentidos como a audição, olfato, paladar e o tato para auxiliarem no seu desenvolvimento global, e que denominamos de “sentidos remanescentes”, importantes e utilizados para locomoção, orientação, reconhecimento, percepção dos espaços e pessoas meio pelos quais os DV, constroem seu mapa mental utilizando como ferramenta esses canais que são os outros sentidos já que não podem contar com a visão. Diferente da pessoa com baixa visão, a pessoa cega necessita utilizar o sistema Braille para a comunicação da escrita. 14 A simples utilização de óculos ou lentes de contato não é suficiente para caracterizar a deficiência visual, pois a prescrição de correção óptica adequada pode conferir ao indivíduo uma condição visual ideal. Se um indivíduo perder a visão de um dos olhos, mas o outro olho tiver uma visão normal, este não é considerado deficiente visual, pois para isso são necessários que tenha comprometimento em ambos os olhos. A terminologia para se referir à pessoa que apresenta deficiência visual tem sido alvo de intermináveis discussões: deficiente visual, cego, portador de deficiência visual, pessoa com baixa visão, portador de visão subnormal. Estes são alguns dos termos frequentemente encontrados na literatura sobre deficiência visual. Há várias classificações para a deficiência visual, que variam conforme as limitações e os fins a que se destinam. Apesar das pessoas com deficiência visual possuírem em comum o comprometimento do órgão da visão, as alterações estruturais e anatômicas promovem modificações que resultam em níveis diferenciados nas funções visuais, que interferem de forma diferenciada no desempenho de cada indivíduo. Sendo assim, torna-se necessária à existência de classificações, que de acordo com as necessidades e particularidades apresentadas pelo deficiente visual, possibilite-os ter uma participação ativa no meio educacional, esportivo e social. Na literatura, a classificação da deficiência visual baseia-se em alguns parâmetros como: Legais, para efeito de elegibilidade em programas de assistência e obtenção de recursos junto à previdência social; clínicos, para diagnóstico, tratamento e acompanhamento médico especializado; educacionais, relacionados aos recursos necessários para o processo ensinoaprendizagem; Esportivos, como critério de divisão em diferentes categorias para competições e eventos esportivos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeriu a classificação das deficiências visuais baseada na Acuidade Visual e no Campo Visual. a) Acuidade visual: pode ser definida como a capacidade de distinguir detalhes. Esta é tomada a partir da relação entre o tamanho do objeto e a distância onde está situado. O procedimento básico de avaliação da acuidade visual envolve a apresentação de uma sequência de estímulos padronizados progressivamente menores, a partir de distâncias também padronizadas. O resultado é baseado na relação entre os valores distância/tamanho, podendo ser representado por diferentes 15 escalas. A avaliação é feita utilizando a escala de Snellen (MEY e ALMEIDA, apud in GORGATTI E COSTA, 2005, p. 33). b) Campo visual: a função macular (visão central) é determinada pela acuidade visual (AV). O restante da retina (visão periférica) determina o "campo visual". Quando fixamos um ponto, fixamos com a mácula, mas cada olho poderá ver em torno desse ponto de fixação uma área ampla, determinada "campo visual" (FUNDAÇÃO HILTON ROCHA, 1987, p.36). De acordo com as classificações para o nosso estudo vamos enfatizar as seguintes: 1a. Classificação educacional • Enfatiza os efeitos da limitação visual sobre a habilidade crítica da leitura; • O instrumento padrão usual é a Escala de Snellen; • Pessoa Cega: é aquela que possui perda total ou resídua mínimo de visão, necessitando do método Braille como meio de leitura e escrita e/ou outros métodos, recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo ensino- aprendizagem. • Pessoa com baixa visão: é aquela que possui resíduos visuais em grau que permitam ler textos impressos à tinta, desde que se empreguem recursos didáticos e equipamentos especiais, excluindo as deficiências facilmente corrigidas pelo uso adequado de lentes (BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto, 1993). 2a.Classificação esportiva FIGURA – VELOCISTA ADRIA ROCHA SANTOS ESPECIALISTA NOS 100, 200 E 400 METROS. 16 www.percepcoes.org.br A classificação esportiva é utilizada nas competições e é especificada pela InternationalBlind Sport Association (2005). • B1: Ausência total da percepção da luz em ambos os olhos, ou alguma percepção da luz, mas com incapacidade para reconhecer a forma de uma mão em qualquer distância ou sentido. • B2: Da habilidade de reconhecer a forma de uma mão até uma acuidade visual de 2/60 metros e/ou um campo visual inferior a 5º de amplitude. • B3:Desde uma acuidade visual superior a 2/60 metros até 6/60 metros e/ou um campo visual de mais de 5º e menos de 20º de amplitude. Todas as classificações devem ser feitas medindo o melhor olho e a correção mais elevada possível. Isto significa que todos os atletas que usam lentes de contato ou vidros devem corrigir normalmente durante a classificação, se pretenderem ou não as usar durante a competição. A letra "B" refere-se ao termoblind, que significa cego, segundo a InternationalBlind Sport Association (2005). 17 ATIVIDADE FÍSICA E DV O corpo com deficiência movimenta-se assim como qualquer outro corpo. O que muitas pessoas pensam, de forma equivocada, é que o deficiente visual não pode realizar nada sem ter ajuda de outra pessoa, ou seja, ele não tem a capacidade de vivenciar e experimentar uma atividade motora ou o esporte de maneira independente. As atividades motoras, principalmente o esporte acontece de forma positiva e relevante para essas pessoas, trazendo os mais diversificados benefícios como: locomoção, equilíbrio, noção espacial, conscientização corporal, agilidade, amplitude dos movimentos em geral, maior integração com outros indivíduos, melhora da autoestima, e da autoconfiança. As atividades físicas podem contribuir nas perdas ou defasagens motoras e afetivas provocadas pela ausência da visão, comumente encontradas no deficiente visual, que precisam ser trabalhadas para pelo menos não serem acentuadas. Se analisarmos e conhecermos as características comuns dos DV será mais fácil entendermos, assim como elaborarmos um plano de atividades que vão de encontro as suas necessidades. Então vejamos quais são estas características que se apresentam com frequência em uma pessoa com DV: • Mobilidade prejudicada; • Equilíbrio falho; • Esquema corporal e cinestésico não internalizados; • Locomoção dependente; • Postura defeituosa; • Expressão corporal e facial muito raras; • Coordenação motora bastante prejudicada; • Lateralidade e direcionalidade não estabelecidas; • Inibição voluntária não controlada; • Falta de resistência física; • Tônus muscular inadequado; • Falta de autoiniciativa para ação motora. 18 As pessoas cegas, em geral as crianças, apresentam desenvolvimento inferior nas áreas motora, cognitiva e afetivo-social. O potencial mental delas não é diminuído pela cegueira. Pode ser diminuídopelas limitações impostas por seu déficit sensorial. A audição fornece pistas quanto à direção e distância dos objetos que produzem sons, mas não traz uma ideia dos objetos como tal. Quando utilizam o tato constroem o conceito dos objetos por partes, conforme passam os dedos e mãos sobre eles, construindo assim primeiramente sua aprendizagem de partes específicas para formar o todo, o completo. Geralmente nas crianças videntes o primeiro contato com os objetos a visão oferece uma informação do todo (caminho inverso), posteriormente ela passa a percepção das partes. As figuras abaixo representam as duas formas de aprendizado por uma criança cega e por uma criança vidente. FIGURA - USO DO TATO FIGURA - USO DA VISÃO 19 A família, muitas vezes, com cuidados excessivos, na intenção de proteger a criança cega acaba sem perceber prejudicando seu desenvolvimento motor geral. A relação da criança cega com o meio é fundamental para o seu desenvolvimento em todos os aspectos, e quanto menos ela interagir fisicamente no ambiente, menos oportunidades ela tem de formar conceitos básicos, menos ela relaciona-se com as pessoas e mais ela se fecha dentro do seu mundo particular e restrito pela falta de informações visuais. Sem dúvida a educação física é um importante aliado na interação social, no incremento das funções da inteligência e principalmente no desenvolvimento das condições motoras dos indivíduos cegos. Por meio de atividades lúdicas, podemos alcançar os 3 domínios e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas. As defasagens no desenvolvimento geral da criança cega, que se apresentam como estatisticamente relevantes, são mais acentuadas na área motora. (PEREIRA SOUZA, 2007). A Educação Física Adaptada para o DV tendo como ponto de partida o conhecimento, o controle e domínio do corpo, utiliza o movimento como estratégia e enfatiza: 1. A diminuição da limitação motora; 2. Desenvolvimento da autoconfiança, autoestima, colaboração e coparticipação; 20 3. Ampliação das possibilidades de formação de conceitos por meio da exploração dos ambientes e das situações de aprendizagem. Formação de imagens e esquema corporal (internalização). 4. A superação de situações-problema por meio da descoberta do corpo e do movimento. FIGURA– BRINCADEIRA “CABRA CEGA” Conversamos até agora sobre as atividades físicas e a sua relação com o desenvolvimento motor, cognitivo, social e afetivo do DV, mas na prática como isso se efetiva? Vimos também que podemos proporcionar-lhes estas aprendizagens de formas mais variadas e diferenciadas possível, pois a Educação Física nos oferece um contexto imenso e diversificado por meio de jogos, esportes, danças, atividades rítmicas etc. Chegamos ao momento de colocarmos algumas atividades que possam ilustrar e incentivá-los a criação de outras. As atividades que serão aqui registradas tratam- se de exercícios elaborados por acadêmicos de Educação Física quando trabalhamos juntos na disciplina Educação Física Adaptada. Atividade 01: Lateralidade, confiança no grupo. • Em colunas os alunos deverão segurar no ombro dos colegas e caminhando pelo espaço, sob o comando do professor (direita, esquerda, um salto, 21 para trás etc.) deverão realizar os movimentos solicitados ao mesmo tempo e trocados constantemente. A coluna que fizer as mudanças em conjunto será o grupo vencedor. Atividade 02: Expressão corporal. • Os alunos em duplas sentados um de frente para o outro em círculo. Primeiramente os que estão sentados na parte interna do círculo farão expressões com a face “cara e bocas” (sorrindo, bravo, triste, chorando) e o colega a sua frente tentará descobrir o que seu parceiro está expressando no momento. • Variação: aluno em pé brincando de estátua ou imitando um animal e o colega da frente por meio do tato tentará adivinhar a imitação. OBS: O DV não se utilizando deste sentido deixa de utilizar também as suas expressões faciais e não se manifesta por meio dela seus sentimentos. A posição da cabeça fica baixa e seu corpo comunica-se do tronco para baixo timidamente. Este exercício é importante a partir do momento que lhe mostra que a ausência da visão não lhe tira os demais sentidos nem o movimento dos músculos e comunicações que estes transmitem por meio da face. Atividade 03: Caminhar sobre a corda. • Caminhar sobre a corda estendida no chão, descalços, passando uma perna à frente da outra, com os braços na linha dos ombros. • Associar a este exercício uma parada no meio da corda para a realização de uma posição estática (avião, apoio sobre um pé). • Caminhar sobre o Banco Sueco. OBS: É importante que durante a realização destes exercícios a postura do DV seja orientada com a cabeça reta, não para baixo, com o “olhar” para frente. Atividade 04: Telefone sem fio com o corpo. • O primeiro aluno de cada grupo fará certo movimento em que o segundo aluno do seu grupo segurando no seu ombro tentará entendê-lo e realizá-lo para o 22 seguinte e assim sucessivamente. Ao chegar ao último aluno ele realizará o movimento para o primeiro que iniciou e criou o movimento a fim de que ele possa senti-lo e perceber se foi mudado ou não. Outras atividades propostas por autores da área da Educação Física Adaptada: FIGURA - CRIANÇA CEGA GUIADA POR CORDA FONTE: Mauerberg-de-Castro, 2005. GRUPO DE CRIANÇAS E ADULTOS CEGOS DURANTE UM PROGRAMA DE NAVEGAÇÃO EM AMBIENTES NATURAIS FONTE: Mauerberg-de-Castro, 2005. 23 FIGURA -ATIVIDADES LÚDICAS ENTRE PARES FONTE: Atividades Lúdicas entre Pares (MEC, 2001). ATIVIDADES GRUPAIS FONTE: Atividades Grupais (MEC, 2001). O professor de Educação Física em suas aulas não deve colocar o DV nas atividades como “cone humano”, mesário ou juiz porque nestas funções ele não está adicionando ao seu desenvolvimento. Quanto às perguntas recomenda-se começar na “O que você consegue enxergar?” e não “quanto você consegue enxergar?” 24 Porque para ele esta medida deverá ter um referencial que ele não tem condições de definir pelo fato de não enxergar. Na maioria das deficiências visuais, a iluminação forte potencializa a visão. No caso do albinismo e o glaucoma a claridade é um problema. Existe alguma atividade física contraindicada? Existem, mas para isso é preciso obter algumas informações como: • A causa da cegueira; • Pessoas com cegueira total há poucas contra-indicações; • Restrição com as que possuem baixa visão; • Pessoas com Deslocamento de retina não podem sacudir a cabeça, esporte de contato, mergulho e natação. • Glaucoma: não podem ficar em posição de apoio invertido (cabeça para baixo) e natação em submersão. Glaucoma: O glaucoma é uma doença causada pela lesão do nervo óptico relacionada à pressão ocular alta. (IBC, 2005). FIGURA – NERVO ÓPTICO <www.hojf.com.br> FIGURA - OLHO COM GLAUCOMA 25 www.hojf.com.br Conversar com o DV e mediante a conversa fazer algumas perguntas como: Quais são as atividades que você gosta? Como você gosta de correr? Com um guia? Com cabo-guia? Sozinho? Recomendações para que o aluno se movimente com independência nas aulas de Educação Física é preciso que inicialmente: • Reconhecer o local quantas vezes for necessário. • Deixar os materiais existentes no local sempre na mesma posição. • Se os materiais forem mudados deverá ser feito um novo reconhecimento do local pelos alunos cegos e ele deverá ser avisado. • Deixá-lo sentir no local o vento das portas, janelas e a iluminação para que ele possa construir o mapa mental do local. Durante a prática das atividades físicas: • Haverá em determinados momentos, necessidades de demonstração de algum exercício. Esse deverá ser feitocom ajuda física, tocando o aluno e deixando que ele possa tocá-lo. • É absolutamente necessário que o professor saiba o nome de seus alunos. Além da demonstração de interesse, assume um papel importante na segurança do aluno. Eles não poderão responder a expressões acompanhadas de gestos do tipo: Ei! Você aí!! Pare!! http://www.hojf.com.br/ 26 • Uso de dicas específicas ambientais tais como: muretas, muros, odor característico, textura do solo e da parede, posição do sol, auxiliarão o DV na sua locomoção e formação de mapa mental do ambiente físico. • Procure evitar ambientes com muitos estímulos sonoros para as atividades com seu grupo. • Nunca saia de uma conversa com o seu aluno cego antes de avisá-lo, tampouco entre em um grupo sem comunicar a sua chegada. • Não tenha melindres em avisar ao seu aluno, sobre qualquer problema em seu vestuário. ESPORTE ADAPTADO PARA DV O Esporte Adaptado refere-se ao esporte modificado para atender e suprir as necessidades especiais dos deficientes. Os programas de esporte adaptados são realizados em vários ambientes com objetivos diversos. Como segunda parte deste estudo farei agora junto a vocês um levantamento dos esportes adaptados praticados pelos DV. Não é intenção deste estudo discutir as questões técnicas, táticas e de regras de cada modalidade, mas apenas apresentá- las a vocês. Iniciarei descrevendo a vocês sobre o Goalball, sabem por que? Por que é o único esporte para o DV que não é considerado adaptado, pois foi criado exclusivamente para eles. Considera-se esporte adaptado aquele cuja regra, material, ou mesmo espaço físico e metodologia sofrem alterações para atender determinada deficiência. No caso do Goalball isto não aconteceu. Suas regras, matérias, espaços já foram criados visando atender os DV. Em que consiste este jogo? Falaremos rapidamente sobre ele. Em 1946 o austríaco HanzLorenzen e o alemão SettReindle desenvolveram uma atividade para ajudar na reabilitação de soldados veteranos que haviam adquirido a deficiência visual durante a Segunda Guerra Mundial. Era o goalball. Nos Jogos Paraolímpicos de Toronto, em 1976, o esporte foi disputado em caráter de exibição e a partir dos Jogos de Arnhem 1980, na Holanda, entrou para o programa da competição. As mulheres fizeram sua primeira participação nos Jogos 27 de Nova York 1984. Em 1978, na Áustria, foi realizado o primeiro Campeonato Mundial da modalidade. Atualmente é praticado nos cinco continentes do mundo. Como é jogado? É um esporte coletivo, em que participam duas equipes de três jogadores, com no máximo, mais três atletas (reservas). Competem, na mesma classe, atletas classificados como B1, B2 e B3, segundo as normas de classificação desportiva da InternationalBlind Sports Federation (IBSA), separados nas categorias masculina e feminina. O desenvolvimento do jogo é baseado no uso da percepção auditiva para a detecção da trajetória da bola, que tem guizos, e requer uma boa capacidade de orientação espacial do jogador para saber onde está localizada. O silêncio no decorrer da partida deve ser absoluto para que os jogadores não sejam prejudicados. O principal objetivo é que cada equipe jogue a bola rasteira para o campo adversário e marque o maior número de gols em dois tempos de 10 minutos jogados. Os três jogadores atacam e defendem. Abaixo as figuras mostram os jogadores no momento da defesa e do ataque. DEFESA 28 FIGURA – JUDÔ PARALÍMPICO www.medalhabrasil.com.br ATAQUE 29 A arte marcial foi à primeira modalidade de origem asiática a entrar no programa Paralímpico. O judô Paralímpico é disputado por atletas cegos ou deficientes visuais. Desde a sua entrada no quadro dos Jogos Paralímpicos, na década de 70 já se praticava esta modalidade. A estreia, no entanto, foi nas Paraolimpíadas em 1988, em Seul, mas nesta época, só lutaram os homens com deficiência visual. E assim foi em Barcelona, Atlanta e Sydney. As mulheres só puderam competir nos Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004. Os atletas lutam pelo ouro seguindo praticamente as mesmas regras da Federação Internacional de Judô. A deficiência faz com que os judocas utilizem sua sensibilidade por meio do tato e seu equilíbrio. Os únicos três aspectos que diferem o judô Paralímpico são: • Os atletas já iniciam a luta com a pegada feita; • Ocorre a interrupção da luta quando os oponentes perdem o contato; • Não há punições para quem sai da área de combate. Judocas das três categorias oftalmológicas, B1 (cego), B2 (percepção de vulto) e B3 (definição de imagem) lutam entre si. O atleta cego (B1) é identificado com um círculo vermelho em cada ombro do quimono. JUDÔ PARALÍMPICO www.cpb.org.br 30 30 Em Seul (1988), Jaime de Oliveira (categoria até 60 kg), Júlio Silva (até 65 kg) e Leonel Cunha (acima de 95 kg) conquistaram a medalha de bronze. Com esses resultados, o judô passou a ser a quarta modalidade brasileira a subir no pódio Paralímpico. Atlanta (1996) teve um significado especial: o Brasil conquistou pela primeira vez a medalha de ouro com o judoca Antônio Tenório da Silva, na categoria até 86 kg. Em Sydney, Tenório foi novamente campeão Paralímpico, desta vez na categoria até 90 kg. As mulheres não ficam atrás. Karla Cardoso (até 48 kg) conquistou no Mundial da IBSA, em 2003, a vaga de Atenas. Danielle Bernardes (até 57 kg) ganhou o bronze e também carimbou seu passaporte para a Grécia. Em Atenas os brasileiros brilharam mais uma vez, com a medalha de ouro de Antônio Tenório (até 100 kg), a prata de Eduardo Amaral (até 73 Kg), a prata de Karla Cardoso (até 48 kg) e o bronze de Daniele Silva (até 57 kg). Classificação Funcional Nesta modalidade os atletas deficientes visuais das classes B1, B2 e B3, competem juntos, ou seja, do atleta completamente cego até os que possuem acuidade visual parcial. • B1 – Cego total: de nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos até a percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou direção. • B2 – Lutadores que já têm a percepção de vultos. Da capacidade em reconhecer a forma de uma mão até a acuidade visual de 2/60 ou campo visual inferior a 5 graus. • B3 – Os lutadores conseguem definir imagens. Acuidade visual de 2/60 a 6/60 ou campo visual entre 5 e 20 graus. KARLA CARDOSO CATEGORIA ATÉ 48 KG 31 www.cpb.org.br Considerações: Todos os atletas classificados como B1 deverão ter um círculo vermelho com 7 cm de diâmetro costurado na parte externa de ambas as mangas. O centro do círculo deverá ser posicionado a cerca de 15 cm do ombro. Isto é necessário para que os juízes apliquem as regras específicas. Quando um participante também for surdo, um pequeno círculo azul com 7cm de diâmetro deverá ser colocado nas costas do judogi, na parte superior direita da gola. Isto é necessário para que os juízes apliquem as regras específicas. 32 Todas as classificações serão baseadas em ambos os olhos, com a ajuda das melhores lentes corretivas, ou seja, todos os atletas que usam lentes de contato ou óculos devem utilizá-los durante o teste (se forem usá-los durante a competição). COMPETIÇÕES INDIVIDUAIS – MASCULINAS E FEMININAS Regras Internacionais de Judô Publicadas pelo Subcomitê de Judô da IBSA Paralimpíada e Campeonatos Mundiais 1. Cada país pode inscrever um participante por categoria de peso; 2. Os grupos visuais B1, B2 e B3 competirão juntos; 3. A duração de cada luta é de: Masculina – 5 minutos – tempo efetivo de luta; Feminina – 5 minutos – tempo efetivo de luta. 4. Cada participante tem direito a um intervalo de 10 minutos entre cada luta. 5. Dependendo do número de participantes inscritos em uma determinada categoria de peso, se aplicamas seguintes regras: • Se forem inscritos mais de 6 participantes em uma única categoria de peso, serão necessárias duas repescagens; • Se forem inscritos até 6participantes em uma única categoria de peso, será necessária somente uma repescagem; • Se forem inscritos 4 a 5 participantes em uma única categoria de peso, o sistema olímpico será usado; • Se forem inscritos até 3 participantes, o título Paralímpico ou mundial não será concedido. Campeonatos Regionais Individuais 1. Cada país pode inscrever dois participantes por categoria de peso; 2. Os grupos visuais B1, B2 e B3 competirão juntos; 3. A duração de cada luta é de: • Masculina – 5 minutos – tempo efetivo de luta; • Feminina – 5 minutos – tempo efetivo de luta; 33 4. Cada participante tem direito a um intervalo de 10 minutos entre cada luta. 5. Dependendo do número de participantes inscritos em uma determinada categoria de peso, se aplicam as seguintes regras: • Se forem inscritos mais de 6 participantes em uma única categoria de peso, serão necessárias duas repescagens. • Se forem inscritos até 6 participantes em uma única categoria de peso, será necessária somente uma repescagem. • Se forem inscritos 4 a 5 participantes em uma única categoria de peso, o sistema olímpico será usado. • Se forem inscritos até 3 participantes, o título regional não será concedido. Torneios Individuais Internacionais 1. O número de inscrições por categoria de peso será estabelecido pelo organizador do evento. 2. A duração e o sistema de luta serão estabelecidos pelas regras do torneio; 3. O árbitro deve ser informado sobre a duração da luta antes de subir ao tatame; 4. Dependendo do número de participantes inscritos em uma determinada categoria de peso, se aplicam as seguintes regras: • Se forem inscritos mais de 6 participantes em uma única categoria de peso, serão necessárias duas repescagens. • Se forem inscritos até 6 participantes em uma única categoria de peso, será necessária somente uma repescagem. • Se forem inscritos 3 a 5 participantes em uma única categoria de peso, o sistema olímpico será usado. A – COMPETIÇÕES MASCULINAS POR EQUIPE: Campeonatos Mundiais e Regionais 1. Cada país pode inscrever uma única equipe representante, composta pelas seguintes categorias de peso: Até 66 kg; até 90 kg; 34 Até 73 kg; acima de 90 kg; Até 81 kg; 2. Os países participantes podem inscrever dois atletas por categoria de peso; 3. A equipe deve ter pelo menos 3 categorias de peso para ser admitida na competição; 4. Os atletas podem competir na categoria de peso imediatamente acima da sua, entretanto isto deve ser comunicado antes da entrega da ficha com a escalação da equipe, dez minutos antes de cada “luta”. 5. Os mesmos atletas podem retornar à sua categoria de peso natural nas disputas seguintes. Após ser notificada, a composição da equipe não pode ser modificada durante a disputa, somente nas disputas seguintes, mas sempre com os atletas que constam no relatório de pesagem. 6. No caso de uma contusão, serão seguidas as regras da IJF. 7. A equipe com o maior número de vitórias é a vencedora: Em caso de igual número de vitórias, a equipe com o maior número de pontos de judô é a vencedora; Caso a igualdade persista, serão sorteadas três categorias de peso na presença dos Chefes de Delegação das equipes, para a realização de três lutas com uma decisão por vitória forçada. No sorteio, categorias em que os países não inscreveram atletas serão excluídas. 8. Os grupos visuais B1, B2 e B3 competirão juntos; 9. Nos casos não previstos nestas regras, serão seguidas as da IJF. Torneios Internacionais 1. Cada país pode participar com mais de uma equipe, de acordo com decisões dos organizadores. 2. As regras do Subcomitê de Judô da IBSA e da IJF se aplicam a estes tipos de eventos; 3. Os grupos visuais B1, B2 e B3 competirão juntos. B – COMPETIÇÕES FEMININAS POR EQUIPE: 35 Campeonatos Mundiais e Regionais 1. Cada país pode inscrever uma única equipe representante, composta pelas seguintes categorias de peso: Até 52 kg; Até 57 kg; Até 63 kg. 2. Os países participantes podem inscrever dois atletas por categoria de peso; 3. A equipe deve ter pelo menos 2 categorias de peso para ser admitida na competição; 4. As atletas podem competir na categoria de peso imediatamente acima da sua, entretanto isto deve ser comunicado antes da entrega da ficha com a escalação da equipe, dez minutos antes de cada “luta”. 5. As mesmas atletas podem retornar à sua categoria de peso natural nas disputas seguintes. Após ser notificada, a composição da equipe não pode ser modificada durante a disputa, somente nas disputas seguintes, mas sempre com as atletas que constam no relatório de pesagem. 6. No caso de uma contusão, serão seguidas as regras da IJF. 7. A equipe com o maior número de vitórias é a vencedora: Em caso de igual número de vitórias, a equipe com o maior número de pontos de judô é a vencedora; Caso a igualdade persista, será sorteada uma categoria de peso na presença dos Chefes de Delegação das equipes, para a realização de uma luta com uma decisão por vitória forçada. No sorteio, categorias em que os países não inscreveram atletas serão excluídas. 8. Os grupos visuais B1, B2 e B3 competirão juntos; 9. Nos casos não previstos nestas regras, serão seguidas as da IJF. Torneios Internacionais 1. Cada país pode participar com mais de uma equipe, de acordo com decisões dos organizadores. 2. As regras do Subcomitê de Judô da IBSA e da IJF se aplicam a estes tipos de eventos; 3. Os grupos visuais B1, B2 e B3 competirão juntos; 36 Natação Na natação foram adaptadas poucas regras para a prática de DV. Elas se baseiam nas normas da Federação Internacional de Natação - e as provas disputadas são: livre, costas, peito e borboleta, divididas nas classificaçõesB1, B2 e B3, sendo que cada uma disputa entre si. Para os nadadores B1 é obrigatório o uso de uma venda totalmente opaca. Em 1980 foi introduzido o tapper nas provas para atletas B1 e B2. Sabem o que é o Tapper? É um técnico que fica à beira da piscina segurando um bastão com uma bola de tênis na ponta, que serve para tocar nas costas do atleta para que ele saiba a hora exata da virada. FIGURA – TREINAMENTO COM TAPPER www.atimais.blogspot.com Atletismo O Atletismo para Deficientes Visuais é constituído basicamente por todas as provas que compõem as regras oficiais da Federação Internacional de Atletismo - I.A.A.F., com exceção das provas de salto com vara, lançamento do martelo, corridas com barreira e obstáculos. As provas são divididas por classificação B1, B2 e B3 e as regras são adaptadas para os atletas B1 e B2. Para esses, é permitido o uso de sinais sonoros e 37 de um guia, que corre junto com o competidor para orientá-lo. Eles são unidos por uma corda presa às mãos e o atleta deve estar sempre à frente. As provas para os competidores B3 seguem as mesmas regras do atletismo regular. Ádria Santos é a maior medalhista cega da história paralímpica brasileira com 12 medalhas. FIGURA– CORRIDA COM GUIA http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=16090 FIGURA - SALTO EM DISTÂNCIA COM ORIENTAÇÃO www.cpb.org.br 38 Futebol Futebol Para Deficientes Visuais No Brasil O Brasil é uma superpotência no Futebol de 5, como é conhecido o futebol para cegos. A modalidade começou a se desenvolver no país nos anos 60, em escolas e institutos de cegos, nos intervalos das aulas e não parou mais de crescer. A ABDC (Associação Brasileira de Desporto para Cegos) promove campeonatos de futebol de 5 desde sua fundação, em 1984. Hoje o Brasil é o país com mais equipes no mundo, com 40 times distribuídos por 21 estados.Por isso é também a nação que mais realiza competições. Conquistamos a medalha de ouro na primeira disputa nos Jogos Paralímpicos de Atenas (2004). Dois jogadores da nossa seleção receberam o título de melhores jogadores do mundo. São eles: Mizael Conrado e João Batista da Silva. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DESPORTOS PARA CEGOS – ABDC/Estatuto). Esta modalidade pode ser iniciada na escola, como foi realmente difundida e não contava com material adequado como bolas com guiso, no entanto atendia perfeitamente os deficientes visuais que jogavam o futebol com uma bola amarrada com saco plástico. As que são usadas atualmente em jogos internacionais da IBSA (InternationalBlindAssociation Sport) são de fabricação brasileira, confeccionadas por presidiários no programa "Pintando a Liberdade" feito pelo Ministério do Esporte. Essas bolas são distribuídas gratuitamente pelo mundo todo. Futebol Para Deficientes Visuais B1 Para esta classe várias adaptações foram feitas, mas a emoção do jogo foi mantida. O goleiro é o único jogador que enxerga, mas tem sua área limitada em um espaço de 5 x 2 metros. Se ele sair desta marcação, é pênalti. O jogo tem dois tempos de 25 minutos e um intervalo de 10 minutos. Em cada tempo são permitidas três faltas coletivas. A partir da quarta, todas são cobradas na forma de tiro direto. Cada time tem um "chamador", pessoa que fica atrás do gol adversário orientando o ataque. O goleiro também tem o papel de orientar a defesa. 39 A cobrança de pênalti e tiro direto tem um ritual específico: o "chamador" bate uma pequena barra de ferro nas duas traves para dar ao atleta a dimensão do gol. As laterais da quadra são cercadas de bandas, proteções que impedem que a bola saia. Isso tornou as partidas mais dinâmicas. Só há cobrança do lateral, com os pés, se a bola ultrapassar essas bandas. Caso contrário, o jogo segue normalmente. Os quatro jogadores de linha devem usar vendas nos olhos. Alguns jogadores B1 (cegos) têm uma leve percepção da luz e isso seria uma vantagem. As medidas da quadra são as mesmas do futsal, de 38x18m até 42x22m. As regras são as mesmas da FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado) com adaptações da IBSA. (COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO). Classificação Funcional Em Jogos Paralímpicos, esta modalidade é exclusivamente praticada por atletas da classe B1 (cegos totais) que não têm nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos; ou têm percepção de luz, mas com incapacidade de reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância ou direção. Para deficientes visuais B2 e B3 Esta modalidade não diferencia muito do futsal regular. Têm apenas algumas regras adaptadas e certa preocupação com a luz, esta deve ser homogênea, sem variações para que não atrapalhe o desenvolvimento do jogo. A bola deve ter uma cor chamativa, podendo ser verde, amarela ou branca para facilitar sua localização e percepção por parte dos jogadores. Nessa modalidade atletas com classificações oftalmológicas diferentes jogam na mesma equipe. Em quadra, cada time deve escalar pelo menos dois jogadores B2, que devem ser identificados por uma faixa, adesivo ou braçadeira, e no máximo dois B3. O goleiro tem sua atuação limitada e não pode sair da área de seis metros. Se tocar com o pé fora do limite é falta, punida com cartão amarelo. Toque com as mãos implica cartão vermelho direto. FIGURA– FUTEBOL PARA DEFICIENTES VISUAIS II 40 www.cbdv.org.br O que pode ser alcançado com a prática dos esportes? Algumas melhoras observadas e relatadas por DV em estudos realizados: 1- Autoestima e autorrealização; 2- Autonomia; 3- Melhoria das condições orgânicas e de saúde; 4- Desenvolvimento da coordenação motora dinâmica geral (equilíbrio, velocidade etc); 5- Entendimento, elaboração, conhecimento e reflexão sobre a aplicação das regras. ATIVIDADES FÍSICAS, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DO DV A atividade física dentro dos seus aspectos pedagógicos e o esporte tem alimentado uma bagagem motora, afetiva e social aos DV que os praticam. Estas práticas lhes proporcionam independência nas ações e na locomoção, elevam sua autoestima, melhoram a autoconfiança que é um sentimento pouco desenvolvido nas pessoas com DV como vimos no decorrer de nossos estudos. 41 Mas e na saúde e qualidade de vida como visualizamos a prática de atividades físicas para o DV? Primeiramente vamos discutir o que é saúde? Para esta discussão trago alguns conceitos de autores renomados. a) Primeiro a clássica definição de saúde adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1948 que a declara como "estado de completo bem- estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças", (IN MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, 1987). b) Tambellini, citado por Mataruna dos Santos (2000) complementa a definição da OMS, conceituando saúde como um bem coletivo que é compartido individualmente por todos os cidadãos. c) Minayo (1992) acrescenta que saúde é o resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. E Qualidade de Vida (QV)? A Organização Mundial da Saúde (OMS) define QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Nesta definição estão incluídos os seis principais domínios: físico, estado psicológico, níveis de independência, relações sociais, meio ambiente e espiritualidade. Como podemos a partir destes conceitos trabalharmos nas aulas de Educação Física e por meio do esporte contribuir com a saúde e qualidade de vida dos DV? Antes de começarmos a responder esta pergunta vamos alinhavar alguns pontos entre a saúde, QV e DV? Se trabalharmos com as palavras educação, lazer e trabalho (Minayo 1992) e ligarmos a elas os seis domínios da QV e imaginarmos todos sustentados por dois braços da Educação Física Adaptada, Aulas de Educação Física Adaptada (AEFA) e Esporte Adaptado (EA) formaríamos um quadro mais ou menos assim: TABELA - ATIVIDADE FÍSICA ADAPTADA Aulas de Educação Física / Escola Esporte Adaptado/ Competição 42 Esquema corporal, consciência do próprio corpo Autoestima e autorrealização Coordenação Dinâmica Autonomia e Independência Diminuição da limitação psicomotora geralmente apresentada. Melhoria das condições sociais e econômicas. Organização e estrutura espaço- temporal Melhoria das condições organofuncionais (aparelho circulatório, respiratório, etc.) Utilização de todo potencial sensorial e psicomotor. Utilização de todo potencial sensorial e psicomotor. FIGURA - ATIVIDADES DE LAZER FIGURA - ATIVIDADES DE AVENTURA www.tartarugas.net 43 Diante deste quadro organizado pelos exercícios e redações do próprio texto, temos condições de alinhavar e destacar alguns pontos desta tríade formada pela Educação Física Adaptada, Saúde e QV. a) As atividades físicas tanto realizadas nas escolas como os esportes coletivos e individuais são atividades que levam o DV ao contato e convívio com outras pessoas, outros ambientes, situações diferentes da sua rotina e, portanto, o lança a novas e diversas situações de aprendizagens. Sendo o nível de independência e relações social um dos domínios da QV, podemos baseados neste pressuposto, estabelecer uma relação positiva entre a Educação Física Adaptada e a QV dos DV. b) A escola e o esporte enquanto espaço de aprendizagem e socialização tem influência positiva sobre a saúde e QV dos deficientes visuais. c) A mobilidade independente traduzida pela autonomia e conquistada por meio de exercícios praticados nas aulas que colaboramcom a técnica de Orientação e Mobilidade vem de encontro aos aspectos físicos, mentais do conceito de saúde e ao domínio que corresponde ao estado psicológico. O DV durante seu desenvolvimento experimenta diferentes perdas funcionais que certamente comprometem a sua QV. Na sua infância sua limitação motora decorrente da falta de estímulo visual o impede de ter iniciativa e a curiosidade peculiar das crianças, ou seja, os seus interesses e escolhas, durante um período, passam a ser interesse e escolhas dos que os acompanha e que julga importante como estímulo. Diante disso a QV de uma pessoa com deficiência está diretamente relacionada com o grau de limitações que ela apresenta diante dos seis domínios no seu cotidiano. Independente da escolha pela prática de uma modalidade esportiva ou simplesmente pela prática de uma atividade física dentro do ambiente escolar ou fora dele, em uma academia, num parque, caminhada pelas ruas, o importante é percebermos que os DV conseguem por meio destas atividades expressar sentimentos de alegria, confiança, esforço, perseverança, que não conseguimos enxergar em seus olhos. DEFICIÊNCIA AUDITIVA (DA) Tudo que chega ao nosso cérebro passa pelos nossos sentidos, portanto se uma porta dos caminhos existentes para as informações chegarem a ele estiver 44 fechada, certamente alguma lacuna, ou alguma informação, se preferir assim, deixará de chegar, e assim de ser conhecida, explorada, transferida, relacionada. Início com a seguinte pergunta: todo surdo é mudo? Faço ainda outra pergunta: o surdo que por acaso, você conhece não emite nenhum som? Vejam bem que perguntei sobre som. Não perguntei se fala e veremos mais à frente a distinção entre fala e linguagem. Pesquisas demonstraram que os surdos podem vir a falar oralmente por meio de treinamentos com fonoaudiólogos, o que não é acessível a todos, e que também se comunicam com as mãos e as expressões corporais e faciais. Sendo assim, o surdo não é necessariamente mudo, ele pode não se expressar por meio da fala por não conhecê-la, e nunca ter ouvido as palavras, mas emite sons. Por muito tempo, o surdo foi considerado incapaz de estudar e trabalhar. Durante um período de aproximadamente cem anos a língua de sinais foi proibida nas escolas de todo mundo, obrigando os surdos a aprenderem a falar e fazer a leitura labial. (1888, Congresso Milão). Em 2002, a Lei 10.436 de 24 de abril sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso é reconhecida a LIBRAS como a língua dos surdos brasileiros. ORALISMO E LÍNGUA DE SINAIS Na década de 1960, o oralismo imperou e ainda persiste em algumas escolas e associações. Conforme Goldfeld (1997) o objetivo do oralismo era de integrar a criança surda na comunidade dos ouvintes para que a língua oral pudesse ser desenvolvida. A linguagem de sinais é considerada como língua natural, que utiliza canal espaço visual, criada por comunidades surdas pelas gerações. Quadro (1997) explica que a língua de sinais difere de comunidade para comunidade e que tem suas estruturas gramaticais próprias e independe da língua oral do país em que é utilizada. A língua de sinais (LIBRAS) foi padronizada e desenvolvida pelos surdos no Brasil para se comunicarem, em 1857, com a fundação do Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES). No Brasil além das LIBRAS, também é utilizada a datilologia, conhecido também como alfabeto manual. FIGURA – ALFABETO LIBRAS 45 FIGURA- DATILOLOGIA 46 46 Língua de sinais Dentre os cinco sentidos do homem, a audição é o principal sentido à distância, pois ela fornece informações sobre acontecimentos no meio ambiente; é uma forma de vínculo sócio emocional, e dá sinais de alerta importante para nossa segurança física. É, também, o órgão responsável pelo equilíbrio. FALA E LINGUAGEM 47 47 As primeiras palavras são um marco no desenvolvimento infantil. É motivo de alegria e início de uma comunicação entre pais e filhos mais afetuosa e interativa. A Fala é uma habilidade de comunicação complexa que reflete a evolução do pensamento e difere da linguagem que, por sua vez, pode ser expressa de várias formas, sendo a mais utilizada entre os seres humanos é a linguagem verbal. Toda forma de utilização de símbolos que possa ser reconhecida e utilizada por um grupo de indivíduos com o objetivo de trocar alguma informação denomina de linguagem. O ato de ouvir é um processo de escolha em que o cérebro seleciona as informações contidas em uma mistura de sons ambientais familiares ou não. Estes sons são energias que ocorrem a partir de vibrações randômicas e periódicas representadas por ondas mecânicas. CONCEITO E TIPOS DE SURDEZ A Deficiência Auditiva traz graves dificuldades na vida de uma pessoa, umas delas pode ocorrer no desenvolvimento do funcionamento normal dos processos auditivos; outra dificuldade pode ocorrer em nível das experiências sociais, já que a comunicação é um instrumento muito importante de interação social e emocional. O conceito mais usualmente empregado para designar as pessoas com deficiência auditiva é a perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender a fala por meio do ouvido. Alguns autores fazem distinção (no que se refere à surdez adquirida) em termos etários, classificando-a da seguinte forma: a) Pré-lingual - Ocorre quando a criança já nasce surda ou perde a audição antes do desenvolvimento da fala e da linguagem. É mais complexa para o desenvolvimento cognitivo da criança. De acordo com Camargo Neto (1996), a maioria das crianças surdas que perdeu a audição antes da aquisição da fala utiliza- se da língua de sinais. b) Pós-lingual - Perdeu a audição após a aquisição e desenvolvimento da fala e da linguagem. Nesse caso as crianças conseguem realizar a leitura labial. A DA não ocasiona, necessariamente, atrasos no desenvolvimento motor, ainda que alguns autores afirmem que são frequentes as perdas de equilíbrio e 48 coordenação geral, por problemas vestibulares, neurológicos, privação do som, ausência de verbalização e superproteção dos pais (BUENO, 1995). O diagnóstico do nível de surdez com precisão só é possível com a audiometria, exame para avaliar o nível de surdez, a perda auditiva remanescente é medida em DECIBÉIS (dB). Quanto maior for o número de decibéis necessários para a criança responder a um som, maior e mais significativa será a perda auditiva. Como nem sempre é possível submeter o indivíduo a audiometria, existem procedimentos que podem ajudar você a fazer uma classificação grosseira do tipo de surdez, com o intuito de facilitar seu primeiro entendimento do problema e encaminhar o seu aluno. Esses procedimentos são: chamá-lo pelo nome; estalar os dedos ou bater palmas; deixar cair algo no chão com ruídos diferentes. FIGURA - BATER PALMAS ATRÁS DA PESSOA O sistema auditivo começa a evoluir a partir do 5º mês de gestação e se aperfeiçoa intensamente nos primeiros meses de vida, continuando a expandir suas conexões neurais por vários anos. A perda auditiva pode ser otimizada pela estimulação que deve iniciar aos 6 meses de idade. Por conta disso, é importante que o leitor tenha conhecimento de outros testes diagnósticos que podem ser feitos, antes ou associados à audiometria, considerando 49 diferentes faixas etárias, a fim de perceber, quanto mais cedo melhor, problemas na audição: • Nos primeiros dias de vida - Reflexo de Moro (Reagir aos sons com um movimento brusco); • 03 meses - Reflexo Cócleo-palpebral; • 06 meses - Reflexo de orientação-investigação; • 07 a 08 meses não reagir à voz e a linguagem. Segundo Mauerberg-de Castro (2007), as perdas auditivas podem ser observadas por meio de vários comportamentos ligados aosaspectos cognitivos, quando a pessoa apresenta uma desatenção contínua; aos aspectos afetivos e sociais apresentados por comportamentos agressivos, ansiosos, de teimosia; e aspectos motores como equilíbrio insuficiente. Graus de perda auditiva Surdez leve/moderada: perda auditiva de até 70 decibéis, que dificulta, mas não impede o indivíduo de se expressar oralmente, bem como de perceber a voz humana, com ou sem a utilização de um aparelho auditivo. Surdez severa/profunda: perda auditiva entre 70 e 90 decibéis. As pessoas não podem ouvir a voz, mas percebem sensações auditivas. Nesse caso a compreensão da palavra dependerá de uso de metodologia adequada, na surdez profunda há um impedimento da percepção da voz humana e não aprendizagem da fala. FIGURA - GRAUS DE PERDA AUDITIVA RELACIONADA AO ENTENDIMENTO DA FALA 50 http://www.centroauditivoaquarius.com.br/sobre-audicao/os-graus-de-perda- auditiva Para entendermos melhor os tipos de DA, convido-os a fazermos uma breve retrospectiva aos estudos anatômicos, referentes ao ouvido é claro, nosso foco de interesse, com a certeza de que a recordação sempre traz junto às lembranças novas maneiras de enxergamos e interpretarmos os conhecimentos. A descrição da anatomia do ouvido obedece a uma divisão em três partes: ouvido externo, médio e interno. O ouvido externo compõe-se do pavilhão auricular e do meado acústico externo; o pavilhão auricular é o primeiro elo da complexa cadeia responsável pela transmissão de vibrações sonoras do meio exterior para o cérebro. O meato acústico externo tem como finalidade conduzir as ondas sonoras no ouvido médio. A membrana do tímpano finaliza o conduto auditivo externo separando- o da caixa timpânica (ouvido médio). Tem como função proteger o ouvido médio e transmitir as ondas sonoras à cadeia ossicular. Destaca-se na caixa timpânica, uma cadeia de ossículos denominado martelo, bigorna e estribo. A condução e amplificação das ondas sonoras decorrem da ação coordenada desta cadeia de ossículos e de pequenos músculos. O ouvido interno apresenta uma forma semelhante à de um caracol. Tem como função receber as ondas sonoras conduzidas pelos ouvidos externo e médio e enviá-las ao córtex central por meio do mesmo nervo coclear. 51 51 É importante avaliar a estrutura do ouvido, relacionando-a com a perda da intensidade auditiva, e agora depois desta revisão temos condição para isso, que é a surdez de condução (ou Condutiva) e com a surdez neural (ou Neurosensorial). O que ë surdez de condução e neural? A de Condução resulta-se de alterações patológicas no ouvido médio, podendo ser produzida por malformação congênita ou adquirida. A consequência é a redução da intensidade dos sons que alcançam o ouvido interno, onde se inicia o nervo coclear. Se houver um aumento da intensidade do estímulo, as vibrações sonoras podem estimular a cóclea. Já a surdez neural é apresentada como uma das características da velhice, provavelmente causada pelo envelhecimento da cóclea. Ela leva a diminuição da capacidade de perceber sons. As perdas neurossensoriais são mais graves, tendo um comprometimento auditivo maior porque os danos sofridos afetam os órgãos sensoriais terminais ou células ciliadas da cóclea. Este tipo de perda é geralmente irreversível. (DUARTE et al, 2003). A surdez pode ser causada por enfermidades que levam ao comprometimento do ouvido externo, médio e interno, entre elas situam-se alguns fatores etiológicos, como meningite, a catapora, o sarampo, a rubéola e a sífilis. DEFICIÊNCIA AUDITIVA E DESENVOLVIMENTO MOTOR A partir do momento que estabelecemos uma relação entre o desenvolvimento motor e a DA, e por meio dela observamos por intermédio de pesquisas realizadas sob esta ótica que algumas crianças surdas podem apresentar prejuízos motores em decorrência de problemas auditivos, este fato nos instiga a buscar dentro das aulas de Educação Física mecanismos que possam auxiliar esta criança a melhorar seu desempenho e sua participação nas atividades de um modo geral. É neste momento que autores como Brunt e Broadhead (1982) Sherrill (1993), Mauerberg-de-Castro (2007) entram em cena com seus estudos para nos auxiliar em uma futura programação de atendimento. Na verdade uma programação, que aqui cabe melhor o termo planejamento, se faz dentro de um conhecimento prévio de uma situação. Dos estudos supracitados, de uma forma resumida apresentarei alguns resultados, porém suficientes para que novas diretrizes sejam traçadas em uma aula de Educação Física, como farei após apresentá-los. 52 a) Em 2000 crianças surdas entre 6 e 7 anos foram avaliados (Mauerberg- de-Castro) e algumas observações foram relatadas como: desvio de direção e instabilidade postural, inclinação com rotação anormal da cabeça, inclinação exagerada do coro para frente, lentidão na performance de tarefas motoras e passadas arrastadas (SHERRILL, 1998). b) Indivíduos com surdez hereditária apresentam pouca ou nenhuma diferença no equilíbrio comparada aos indivíduos não surdos. Já os indivíduos com surdez adquirida apresentam déficits de equilíbrio (principalmente o estático) comparados aos indivíduos com surdez hereditária. (BRUNT e BROADHEAD, 1982). c) Outros estudos referem-se às estratégias motoras desenvolvidas pelos DA que são amparadas em pistas visuais e proprioceptivas para compensar sua defasagem auditiva. Diante destes exemplos como resultados de pesquisas podemos observar que o equilíbrio tanto em movimento como o estático, a postura, a marcha e as ações motoras em geral, podem apresentar algum prejuízo na criança com DA. Ficou evidente também que os DA utilizam-se da visão e da propriocepção como canais de informações e trocas. Em função deste levantamento apresentarei algumas propostas de atividades físicas. ATIVIDADE 01: Cumprimento musical Os alunos dispersos ao som de uma música deverão se cumprimentar quando ela for interrompida pelo professor. O aluno DA deverá andar descalço a fim de sentir a vibração da música e perceber no momento que ela parar. As atividades que serão descritas abaixo foram retiradas do livro “Jogando com as Diferenças” Diehl (2006), porém não serão transcritas na íntegra. ATIVIDADE 02: Como chegar ao Rei Leão Um aluno será escolhido para representar o Rei Leão e ficará do outro lado, separado dos colegas. Cada colega do grupo deverá perguntar ao Rei Leão como deve fazer para alcançá-lo. O Rei Leão responderá quantos passos seu colega deverá dar e qual animal deve imitar para chegar até ele. A comunicação entre eles deverá ser feita na língua de sinais. Vence o colega que chegar primeiro perto dele. 53 ATIVIDADE 03: jogo dos cartões Os alunos em círculo passado a bola entre eles deverão ficar atentos aos cartões que serão mostrados pelo professor. Os cartões terão códigos previamente combinados: amarelo sinaliza arremessar a bola para qualquer colega, vermelho significa quicar a bola e passá-la, o cartão azul a bola deve ser arremessada para um menino, e o cartão rosa para uma menina. ATIVIDADE 04: Zoológico Cada aluno receberá uma ficha com o nome de um animal e deverá representá- lo no meio do círculo. Se no círculo houver um participante que julga ser também o animal que está sendo representado, irá ao seu encontro, enquanto os demais tentarão identificá-lo. A identificação será feita por meio da língua de sinais ou do alfabeto datilológico. Nas aulas de Educação física, antes da ação, os estímulos são peças importantes para o melhor aproveitamento das tarefas propostas. Recursos visuais, por exemplo, darão suporte as orientações para os exercícios. Podemos demonstrar com um aluno, apresentar o exercício, ou mesmo desenhá-lo para a turma. Essa atitude não corresponde desviarmos o pensamento ou
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