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Cirurgia 2 – Câncer de Próstata O câncer de próstata é o câncer mais comum nos homens, depois do câncer de pele não melanoma do tipo basocelular e espinocelular, que também é o mais comum nas mulheres, que em segundo vem o câncer de mama. A incidência do câncer de próstata vem aumentando devido o aumento da expectativa de vida e envelhecimento da população. A expectativa de vida em 1960 era de 50 anos, hoje, no último senso a média é deve ser de uns 76 anos. Nos anos 90 os idosos (>60 anos) representavam 7% da população, o que corresponde a aproximadamente 10 milhões de pessoas. Há 2 anos representavam 14% da população, aproximadamente 21 milhões de pessoas. Hoje deve estar em torno de 17%. A estimativa é que em 2040 a população geriátrica ultrapasse a população infantil (J invertido na epidemiologia nos países desenvolvidos). O grupo dos “muito idosos”, 80 anos ou mais, é o que mais cresce proporcionalmente no Brasil. Estimativa Global O câncer de próstata representa 28% de novos casos diagnosticados de câncer, sendo o número 1, mas não é o mais letal. O mais letal é o câncer de pulmão, que tem uma incidência menor, porém letalidade maior, na casuística americana. No Brasil, esses dados não mudam muito, o câncer de próstata fica em torno de 30,8% e nas mulheres o câncer de mama fica em torno de 27,9%, pelos dados do INCA de 2012. Esse mapa mostra a incidência global de câncer, quanto mais azul escuro a incidência é maior, para todos os tipos de cânceres. Esse mapa mostra a mortalidade global por câncer, em amarelo mostra o câncer de pulmão como o maior causador de morte por câncer nesses países. Esse mapa mostra a incidência dos tipos de cânceres nesses países, no Brasil o câncer de pulmão continua sendo o principal. Os em ver estão relacionados com o TGI, como fígado e intestino. Esse mapa mostra a incidência de câncer em homens, em rosa podemos observar a incidência de câncer de próstata. Esse mapa mostra a incidência de câncer de próstata, em azul escuro são os países onde a incidência do câncer de próstata é alta. Esse mapa mostra a mortalidade por câncer de próstata, podemos ver que na américa do norte a incidência é alta, mas a mortalidade não é tanta, ou seja, o diagnóstico e o tratamento é feito com maior eficiência do que na américa do sul, onde a incidência é alta e a mortalidade também. ▪ O que mudou no tratamento do câncer de próstata nos últimos 20 anos? A descoberta do PSA em torno da década de 91/92, possibilitando um diagnóstico mais precoce e um tratamento mais adequado. A taxa de mortalidade do câncer de próstata reduziu em 44% no EUA, o mesmo aconteceu com o câncer de pulmão, muito por políticas que estão desincentivando o uso do cigarro. A importância no rastreamento se dá porque geralmente o câncer de próstata em fase inicial não apresenta sintomas, e alguns pacientes podem nunca ter sintomas (é uma doença traiçoeira). Quando provoca sintomas é geralmente algum problema miccional, como urgência, dificuldade, hematúria, porém também são sintomas de hiperplasia prostática benigna (muito mais comum e gera muito mais sintomas que o câncer de próstata). Anatomia e função da próstata A próstata é uma glândula no formato de uma nós, que fica entre a bexiga e o início da uretra peniana, posteriormente fica a parte distal do reto e anteriormente a sínfise púbica. A função dela é produzir líquido seminal, 70- 75% do volume ejaculado. Por que o câncer de próstata não dá tanto sintoma? Tem o adenoma que é a parte central que ocasiona a hiperplasia prostática benigna, e temos a cápsula em que esses tumores ocorrem em 70% das vezes. O tumor que começa a crescer na parte periférica da próstata (cápsula), até ele chegar no centro da próstata, atingir a uretra e causar sintomas, demora (imagem da próstata com o tumor em azul), então ele já não é um tumor inicial quando começa a fazer algum tipo de obstrução, hematúria, algum sintoma, por isso é importante a detecção precoce (rastreamento). Fazendo uma analogia com uma mexerica: tem a casca da mexerica que seria a parte periférica da próstata, o miolo que seria o adenoma e o meio dos gomos por onde passa a urina. Por que é importante fazer o toque retal? No toque sentimos a região mais periférica da próstata (cápsula) – onde geralmente se inicia o tumor. Há um sinergismo do toque + PSA, juntos aumentam a sensibilidade para detecção do câncer de próstata. Qual a função do PSA, apenas detectar o câncer? Não, é uma proteína que liquefaz sêmen após a ejaculação. Logo após a ejaculação o sêmen é mais espesso, e o justamente essa função do PSA que liquefaz o esperma, para fazer com que os espermatozoides entrem no útero e fecundem o óvulo. Todos os casos da figura abaixo, podem ocorrer com PSA normal, seja num tumor do tamanha de um grão de feijão (1ª figura), seja localmente quase ocupando toda a próstata (2ª figura) ou em casos de extravasamento extra-prostático, atingindo até a bexiga (3ª figura). Por isso a importância do toque. Início do screening A sociedade brasileira de urologia (SBU) preconiza o início a partir dos 50 anos para a população geral e a partir dos 45 anos para a população de alto risco (negros, pacientes com familiares de 1º, 2º ou 3º grau com câncer de próstata). Hoje em dia tem-se feito PSA ao redor dos 40 anos de idade, e em cima desse resultado fazer um tratamento mais individualizado. (Isso não é consenso, seguir o que é preconizado pela SBU). PSA de 2 → realizar de 6 em 6 meses, se PSA de 0,5 ou 0,25 pode ser mais espaçado, a cada 2 ou 3 anos. Métodos de rastreamento (para direcionamento de condutas) ➢ Relação PSA livre/total (quando ao toque normal ou PSA entre 4 e 10): o que significa, parte do PSA circula livre e parte conjugado com proteínas, então se divide a fração livre sobre a total, quando essa razão fica abaixo de 18% é sugestivo (não é patognomônico) de câncer. ➢ PCA3 é um mRNA detectado na urina, porém tem disponibilidade muito baixa e elevado custo. Tem indicação em casos de PSA elevado e biópsia negativa, podendo indicar nova biópsia. ➢ Ressonância nuclear magnética ➢ PI-RADS (tem o mesmo princípio do BI-RADS para mama): 1 e 2 descarta qualquer neoplasia clinicamente significante, 3 indeterminado, 4 e 5 indicam biópsia porque tem risco de câncer clinicamente significativo. Como é realizada a biópsia de próstata? Com o mesmo transdutor do ultrassom transvaginal, paciente em sedação, decúbito lateral, é introduzido pelo ânus, é setorizado a biópsia ou saturada em áreas mais suspeitas. Existe também a fusão de imagem entre a ressonância e o ultrassom, colocadas num software onde conforme passa a mão no ultrassom, a imagem paralela vai mostrando o mesmo local na ressonância. E então detectando a imagem na ressonância que é invisível no ultrassom, da para guiar e saturar a biópsia nessa região. Tratamento O tratamento varia muito, não há um padrão. No câncer de próstata é levado em consideração o estadiamento do câncer, idade do paciente e diferenciação celular. Estadiamento (quão alastrado a neoplasia está): ▪ Localizado ▪ Localmente avançado ▪ Avançado: com metástase para os ossos (primeiro sítio de metástase do câncer de próstata), pulmões ou fígado. ❖ Não adianta propor um tratamento agressivo na próstata, sendo que a neoplasia já se alastrou para todo o corpo. Idade: ▪ Se o câncer de próstata, por exemplo, for diagnosticado hoje e não for feito nada, só vai começar a ter sintomas daqui há 12 anos. ▪ Não tem sentido, por exemplo, fazer um tratamento agressivo em um paciente com aproximadamente 75 anos, comprole constituída, sem dependentes financeiros, aposentado. Diferente de um paciente de 48 anos recém casado, ou com filhos pequenos, provedor da família, dinâmico laboralmente, que tem impactos se for afastado da sua rotina muito maior do que um idoso. ▪ Tende a ter um tratamento mais agressivo (associação de métodos: cirurgia, radioterapia e hormônios) quanto mais novo for. Diferenciação celular: ▪ Quão indiferenciada é a neoplasia ▪ Quão agressiva é a neoplasia O tratamento é individualizado, vai depender de todas as condições citadas e da vontade e decisão do paciente. Além da aceitação, pois os tratamentos mexem com a potência, ereção e continência (uso de fralda). Opções de tratamento Curativos ▪ Observação: pacientes idosos, com comorbidades, sequelado devido AVE, acamado. ▪ Vigilância ativa: na América do Sul não é tão praticada, pois precisa identificar um tumor ainda não agressivo, não alastrado, não compromete muitos fragmentos na biópsia, toque não alterado, PSA pouco elevado. Acompanhamento semestral com novas biópsia, toque, e se houver mudança desses parâmetros institui tratamento curativo. ▪ Cirurgia: retirada da próstata ▪ Radioterapia ▪ Braquiterapia ▪ HIFU Paliativos ▪ Hormonioterapia: pode ser utilizada em conjunto com radioterapia ▪ Quimioterapia ▪ Radioterapia ▪ Imunoterapia Doença localizada à próstata (tratamentos curativos) Vigilância ativa: grau histológico baixo de agressividade, volume tumoral pequeno, PSA baixo, toque retal sem alteração. Hoje em dia com a tecnologia faz-se uso do Oncotype e Decipher, eles pegam a biópsia e analisam geneticamente o grau de diferenciação celular, em relação a classificação de Gleason. Então, por exemplo, uma biópsia que é classificada como grau 1, geneticamente estão analisando para realmente ver se é de baixo grau, pois pode ser na realidade um grau 3. É possível com a vigilância ativa postergar uma cirurgia (prostatectomia) sem impactar na cura. Prostatectomia radical: cirurgia para retirada total da próstata, é o tratamento mais realizado no intuito de curar o câncer de próstata. Existem basicamente três formas de realizar a cirurgia: ➢ Aberta: realiza-se um corte um pouco abaixo do umbigo até a região pubiana, onde a próstata é retirada com a vesícula seminal e são dados pontos entre a bexiga e a uretra. ➢ Videolaparoscopia ➢ Robótica assistida: cirurgia robótica para próstata e a cirurgia de robô mais feita no mundo, pois é o lugar perfeito, o anel pélvico é estreito, o espaço é pequeno e tem várias estruturas próximas. (Em segundo lugar cirurgias ginecológicas). Complicações da prostatectomia radical ➢ Incontinência: devido a proximidade do ápice prostático com o esfíncter. 1 a cada 10 após 6 meses, porque respondem bem à fisioterapia do assoalho pélvico. ➢ Impotência: os feixes da ereção passam lateralmente às 5h e 7h horas da próstata e penetram ao redor da uretra na base peniana, então devido a proximidade, pode afetar o nervo da ereção peniana e até a vascularização. Se já tinha impotência antes da cirurgia, há piora. Se Não tinha impotência, 4 a cada 10 passar a ser, porém há tratamento (inibidor da fosfodiesterase, ‘viagra’ – sildenafila, tadafila – ‘cialis’, ‘levitra’ – vardenafila, injeções intracavernosas, implante de prótese peniana). Radioterapia: feixes convergem em uma determinada área, o mais moderno é o IMRT (radioterapia de intensidade modulada) que pode direcionar para não atingir órgãos vitais, tendo o alvo ótimo para atingir a taxa de sucesso. Braquiterapia: são sementes radioativas implantadas no períneo do paciente, com o intuito de ter uma radiação localizada. Não é muito utilizada. HIFU (Ultrassom focado de alta intensidade): são microondas de ultrassom de alta intensidade, com o intuito de queimar a neoplasia. É um procedimento localizado, já tem o mapeamento com o quadrante, qual o lobo, se direito ou esquerdo. É realizada com o paciente deitado em decúbito lateral, anestesiado, e então é introduzido um probe transanal para realização do procedimento. Doença avançada (tratamentos paliativos) Hormonioterapia (Bloqueio Hormonal): fazendo uma analogia com a gasolina e o fogo, a testosterona seria a gasolina e o câncer seria o fogo, então tem que cortar a produção de testosterona para reduzir o crescimento e fazer a regressão do tumor. Existem drogas que simulam a castração (análogos do GNRH), dessa forma com a introdução do GNRH ele se mantem em níveis elevados, dessa forma não há secreção pulsátil, e não consequentemente não há produção do LH e FSH, sem a produção do LH não há produção de testosterona nos testículos, assim a testosterona reduz (castração química). Porém, a retirada dos testículos (orquiectomia) continua sendo o padrão ouro, principalmente em cânceres muito avançados, com muita metástase. Radioterapia: na imagem um exemplo de metástase em T3, paciente com dor, quase se tornando paraplégico por compressão medular, então faz o mapeamento e converge os feixes medular com o intuito de ‘matar’, reduzir ou impedir o crescimento da metástase, dessa forma, há alivio da dor e até impede a compressão medular, impedindo que ele se torne paraplégico. Quimioterapia: esse exame (imagem) é uma cintilografia (PET Scan), mostrando que tudo em preto é câncer, então, nesse paciente o intuito não é a cura. A imagem à esquerda é o antes da quimioterapia e a imagem à direita é o depois. Diferente de outros cânceres, como de testículo, mama, colo de útero, que tem uma resposta muito boa, a quimioterapia no câncer de próstata é exclusivamente paliativa, ela simplesmente reduz as lesões para controlar a dor, não é tão eficaz quanto em outras neoplasias com chances de cura. Exemplo de paciente do professor: Paciente 40 anos, dores intensas, paciente optou por orquiectomia, com melhora das dores, encaminhado para quimioterapia para otimizar a redução das metástases. Imunoterapia: as células tumorais acabam se tornando invisíveis ao nosso sistema imunológico em algum momento durante a indiferenciação, o câncer progride devido a essa situação. As drogas na imunoterapia ‘mostram’ para o nosso sistema imunológico onde estão as células neoplásicas/metastáticas e assim o sistema imune pode atuar contra. Vencedores do Nobel descobriram o HTLA e PD-L1. O HTLA aumenta os leucócitos e o ligante PD-L1 mostra onde as células neoplásicas estão. É uma descoberta promissora para câncer de pulmão, melanoma, bexiga e outros ainda em estudo. O grande problema é o custo, um ciclo completo de 6 meses custa mais de 300 mil. Dúvidas ❖ O uso da finasterida em baixas doses como 1mg visando a diminuição da queda de cabelos acaba sendo um protetor contra o câncer de próstata? É questionável ainda, pois acaba se usando para tratamento da hiperplasia prostática benigna a dutasterida ou finasterida, 5 mg, que é 5 vezes o tratamento de uma alopecia. Antigamente achava que usando desde os 40 anos poderia diminuir a incidência, mas é muito questionável.
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