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ISSN 2176-1396 INCLUSÃO ESCOLAR: RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA Taiane Vieira da Silva1 - PUCPR Grupo de Trabalho: Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo visa abordar as contribuições da relação família-escola mediante o processo inclusivo na primeira etapa da educação básica. Abordar-se-á a educação inclusiva em uma perspectiva multifocal, envolvendo a educação infantil e o processo de inclusão escolar nessa modalidade, visto que o intuito de se estabelecer um vínculo com a relação família-escola no processo inclusivo seria um embasamento para se compreender o real sentido da inclusão escolar. Embora nessa faixa etária não exista tanta rejeição por parte dos alunos com relação à inclusão de alunos com necessidades especiais, se faz necessário um convívio precoce para se estabelecer a realidade a qual poderão vivenciar. Mediante as análises percebeu-se que ambos apresentam dificuldades em estabelecer este vínculo e fazer fluir esta parceria, por não se ter muito amparo legal que determine a inclusão para esta modalidade educacional, uma vez que os documentos complementares deveriam servir para apoiar essa e outras parcerias, as quais proporcionaria uma integração melhor no que se refere à inclusão escolar na primeira infância. Em suma, estes e outros conceitos foram abordados por meio de uma análise documental, na qual foram utilizados como fundamentos teóricos Paula (2007), Szymanski (2010), Facion (2009), Mantoan (2008), Fernandes (2007), Guerbert (2010), Pereira (2004), e Vitaliano (2010), entre outros. As contribuições da relação família-escola no processo de inclusão escolar na Educação Infantil delineiam-se as políticas educacionais sobre a inclusão escolar e sobre como ocorre o processo de inclusão escolar, em um contexto geral. A análise final levanta alguns aspectos relevantes, dentre os quais pode-se perceber a abertura de uma lacuna no envolvimento de pais e professores ao se proporcionar uma real educação inclusiva. Assim pressupõe que a inclusão está em fase de processo progressivo, o qual apresenta uma caminhada extensa para seu efetivo legal e social. Palavras-chave: Relação família-escola. Educandos com necessidades especiais. Inclusão. Educação Inclusiva. 1 Graduada em Pedagogia pela PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atua como professora de Educação Infantil na rede municipal de São José dos Pinhais - PR. Especialista em Psicopedagogia clínica e institucional e em Educação Especial pelo RHEMA Educação - Instituto de Ensino. Contato: taivieiras@gmail.com. 14243 Introdução A presente pesquisa tem como tema Inclusão Escolar, com ênfase na relação família- escola. A opção pelo assunto resulta dos questionamentos sobre as contribuições da relação família-escola no processo de inclusão escolar. A atualidade surge frente à aplicação da política de inclusão escolar, buscando verificar como este processo é realizado nos diferentes níveis da educação básica, especificamente em sua primeira etapa: a educação infantil. Com a alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a Lei nº 12.796/2013, aborda uma nova perspectiva sobre o processo inclusivo, como proposto no art. 58: Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. (BRASIL, 2013, s/p). É de conhecimento que a Educação Especial e a Educação Inclusiva caminham juntas para um processo mobilizador, o qual insere pessoas com necessidades especiais educativas na rede regular de ensino. Contudo, a primeira se refere a uma modalidade de ensino e a segunda é um atendimento especializado ofertado para pessoas com necessidades especiais, que estejam inseridas em diferentes níveis da educação básica ou ensino superior. Analisada essa diferenciação, a alteração na LDB de 1996, criou denominações para cada limitação ou ausência cognitiva do estudante, sendo atendido conforme sua individualidade e peculiaridade, e não como um ser denominado portador de necessidades especiais. Assim, lê-se no antigo art. 58 da LDB 9394/96 que “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.” (BRASIL, 1996, s/p). Estas e outras alterações vieram para radicalizar a educação, proporcionando um ensino de qualidade e para que seja acessível a todos. Abordar a educação inclusiva nos diferentes níveis de ensino requer uma série de quesitos para que ocorra com qualidade. Para Fávero (FÁVERO apud in MANTOAN, 2008, p. 17): Há uma crescente constatação de que elas devem ter acesso à mesma escola e à mesma sala de aula que qualquer outro aluno. As mudanças necessárias para que isso ocorra 14244 com qualidade, além de garantirem às pessoas com deficiência seu direito à igualdade, talvez sejam uma contribuição para a melhoria do ensino em geral. A autora ainda aponta que: O direito à educação tem peculiaridades. Não é qualquer tipo de acesso à educação que atende ao princípio da igualdade de acesso e permanência em escola (art. 206, I, CF), bem como a garantia de Ensino Fundamental obrigatório (art. 208, I, CF). Isto significa que, conforme todos sabem, não pode estudar em qualquer lugar sem se cumprir certos requisitos legais. (FÁVERO apud in MANTOAN, 2008, p. 18) Estes requisitos legais, criados tanto no Brasil como também no exterior, segundo Dall’Acqua e Vitaliano (2010), tratam-se de um novo conceito de educação. Para os autores: O paradigma educacional denominado inclusão vem se consolidado desde os anos finais do séc. XX, alicerçado nas proposições expressas em dois eventos mundiais importantes que culminaram em duas declarações: Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994). (DALL’ACQUA e VITALIANO, 2010, p. 25) Partindo destes pressupostos, a inclusão escolar é um processo que vem progressivamente acontecendo nas escolas, no intuito de fazer com que todos os educandos aprendam juntos, independentemente de suas características, habilidades ou limitações, oferecendo a todos as mesmas oportunidades de ensino. A inclusão e a integração são dois conceitos abordados frequentemente neste processo educativo, porém se configuram em dois procedimentos que apresentam significativas diferenças. A inclusão faz com que o ambiente se adapte aos educandos com necessidades especiais. Já no processo de integração, o ambiente não faz alterações, e o indivíduo precisa se adaptar à escola. Segundo Mantoan (MANTOAN apud in FERNANDES, 2007, p. 30): O processo de INTEGRAÇÃO refere-se especificamente à inserção escolar de alunos com deficiências o que compreende um continnum que envolve um leque de possibilidades que vão desde as classes comuns até locais específicos, como classes e escolas especiais. O critério para a decisão de qual seria a melhor proposta de atendimento repousa nas CONDIÇÕES INDIVIDUAIS de cada aluno, suas possibilidades de participação e acompanhamento das atividades desenvolvidas no contexto escolar. À escola não cabe nenhuma ação de modificação de sua estrutura ou de suas práticas pedagógicas, pois são as habilidades e as aptidões individuais do estudante que determinam sua capacidade de se ADAPTAR às exigências da escola (...). A escola que atende o público inclusivo, precisa cumprir uma determinação legalde adaptar o ambiente para receber os educandos com necessidades especiais, favorecendo o acesso físico para sua locomoção, além de disponibilizar materiais e suportes específicos, que 14245 virão a favorecer a aprendizagem do educando. A instituição deve ainda valorizar a essência do sujeito, transformando o meio ao qual está inserido, para atender suas devidas necessidades. O intuito deste estudo, portanto é correlacionar as contribuições do contato direto entre família e escola, sendo esta uma relação muito importante para o desenvolvimento integral dos alunos com necessidades especiais e/ou inclusivos. O objetivo principal é analisar as contribuições da relação família-escola no processo de inclusão escolar na Educação Infantil. Partindo disso, delineiam-se os objetivos específicos, os quais focalizam as políticas educacionais sobre a inclusão escolar e descrever o processo de inclusão escolar, em um contexto geral. Procedimentos metodológicos A metodologia advém de uma abordagem qualitativa, na qual foi utilizado a análise documental. De acordo com Flick (2004), a abordagem qualitativa tem como finalidade trazer ações vivenciadas cotidianamente, onde o pesquisador investiga o objeto de estudo, baseando-se em técnicas previamente selecionadas para uma pesquisa de/com qualidade. Na pesquisa qualitativa, consiste em determinar se as descobertas são embasadas em material empírico e se os métodos foram adequadamente selecionados e aplicados ao objeto em estudo. As relevâncias das descobertas e a reflexividade dos procedimentos são critérios adicionais. (FLICK, 2004, p. 21) Para Severino (2007) a análise documental, apresentada no texto como pesquisa documental, não diz respeito somente há documentos públicos legais ou teóricos, mas mostra que revistas educacionais, jornais, livretos, imagens e até mesmo filmes, podem ser utilizados como fonte de pesquisa, a considerar que o próprio investigador trará a matéria-prima. Segundo o autor, a pesquisa documental: É toda forma de registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições de análise por parte do pesquisador. Pode ser tomada em três sentidos fundamentais: como técnica de coleta, de organização e conservação de documentos; como ciência que elabora critérios para a coleta, organização, sistematização, conservação, difusão dos documentos; no contexto da realização de uma pesquisa, é a técnica de identificação, levantamento, exploração de documentos fontes do objeto pesquisado e registro das informações retiradas nessas fontes e que serão utilizadas no desenvolvimento do trabalho. (SEVERINO, 2007, p.124) 14246 Por estes motivos, optou-se em utilizar dessas técnicas de pesquisa, para o desenvolvimento do tema. Fundamentação Teórica Este estudo traz a educação inclusiva em uma perspectiva multifocal, subdividindo-a em: a) A Educação Infantil e o processo de Inclusão Escolar e; b) A relação família-escola no processo inclusivo. A Educação Infantil e o processo de Inclusão Escolar O processo de inclusão visa à promoção do desenvolvimento das potencialidades e capacidades das pessoas com necessidades educativas especiais, nos diferentes níveis regulares de ensino. Incluir o estudante na educação básica ou nível superior favorece tanto o aspecto social como também o cognitivo e afetivo do educando. A inclusão existe para combater a exclusão, como é possível ver segundo Dall’Acqua e Vitaliano (2010): (...) a educação inclusiva diz respeito ao acolhimento a todas as pessoas que apresentam alguma condição considerada como uma “diferença” ao padrão estabelecido socialmente como desejável ou “normal”, que foram historicamente excluídas da escola. (p.24) Ainda a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) aponta que: A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de intervenção precoce que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social. (PNEE/PEI, 2008, p. 16) Considerando isso, observa-se a importância de se incluir crianças com necessidades especiais nas creches e pré-escolas, uma vez que as convivências favorecerão o processo de socialização com o meio e com outro. 14247 Segundo a Lei de Diretrizes e Bases Nacional, nº 9.394/96, apontado no título V, capítulo II, seção II, art. 29: A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. (BRASIL, 1996, s/p) Nota-se que quanto mais cedo se dá o ingresso do estudante, melhor será o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades cognitivas, afetivas e sociais. Deve-se garantir que, na instituição que este estiver matriculado, o aluno poderá contar com o serviço de atendimento especializado a pessoas com necessidades educativas especiais. A instituição educacional infantil que assume a modalidade de ensino do processo inclusivo, ou seja, a educação especial promove uma série de levantamentos frente a preocupações ou dilemas para a equipe pedagógica e corpo docente, pois tal desconhecimento do assunto afeta na capacidade pedagógica dos professores, influi na criação de espaços e ambientes que devem ser acessíveis aos educandos e ainda remete-se no bem-estar da criança que passará o dia inteiro na instituição. Para Carvalho (2007, p. 19) a educação especial é: [...] o conjunto de recursos que todas as escolas devem organizar e disponibilizar para remover barreiras para a aprendizagem de alunos que, por características biopsicossociais, necessitam de apoio diferenciado daqueles que estão disponíveis na via comum da educação escolar. Conforme a mesma autora se tornam necessárias mudanças que estejam a favor do bem estar dos educandos. No ponto de vista de Bergamo (2009, p. 46), pode-se perceber que: [...] uma escola [é] inclusiva quando: respeita as peculiaridades e/ou potencialidades de cada aluno, organiza o trabalho pedagógico centrado na aprendizagem do aluno, onde este é percebido com sujeito do processo e não mais como seu objeto e o professor torna-se mais consciente de seu compromisso político de equalizar oportunidades, na medida em que a igualdade de oportunidades envolve, também, a construção do conhecimento, igualmente fundamental na instrumentalização da cidadania. No caso da Educação Infantil, deve-se ter muita cautela para trabalhar na perspectiva da inclusão escolar, pois há casos que os educandos ditos normais poderão ser excluídos, devido ao tratamento dado pelo professor, de forma inconsciente, que se diferencia na atenção dada somente a ele. 14248 Contudo, a instituição infantil que adere à educação especial, promove uma série de alterações para a equipe pedagógica e corpo docente, pois interfere e aprimora a capacitação dos professores que atenderão tais crianças com deficiências, adaptando e promovendo mudança dos espaços e ambientes que devem ser acessíveis aos educandos, como também ampliando os recursos para gerar o bem estar da criançano âmbito escolar. Na Resolução de nº 04/2009, esta aborda como implantar as mudanças no ensino regular, sem enfocar em uma determinada modalidade ou etapa educacional. Tal documento trata das Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, especificadamente na modalidade da Educação Especial. No seu Art. 2º, diz que: O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. (BRASIL, 2009, p. 1) Paula (2007) também aborda esta questão das mudanças físicas nas escolas inclusivas, pois: Uma escola inclusiva deve garantir, também, condições para que as crianças possam se locomover em todos os ambientes, providenciando a construção de rampas ou elevadores para o acesso, inclusive aos pisos superiores, de banheiros, adaptados para acomodação de cadeiras de rodas, colocação de corrimãos, instalação de piso antiderrapante, sinalização para os alunos com baixa visão e para os alunos surdos. Assim todos os alunos terão condições de frequentar a totalidade das aulas. Devemos lembrar que a Constituição de 1988 assegura igualdade de condições de acesso e permanência no sistema educacional para todos. (p. 11) Ao serem adaptados os ambientes fora da sala de aula, outro fator importante para a criança com deficiência, é proporcionado o contato direto com o meio, promovendo a interação com os demais alunos, pois na educação infantil, o aprendizado prevalece e se dissemina quando os educandos interagem uns com os outros. Neste nível de ensino, o estudante que possui a deficiência física ou intelectual pode interagir com o outro sem discriminação ou exclusão, pois segundo Paula (2007, p. 9), “O ingresso da criança na escola, na educação infantil (creche e pré-escola) é de fundamental 14249 importância, por todos os aspectos físicos, sociais, emocionais e psicológicos, etapa ótima do desenvolvimento, que servirá de base para toda a sua vida futura”. Esta ideia de interação e mediação, segundo Rego (1995) era defendida pelo teórico Vygotsky como a proposição da socialização do indivíduo, no qual o autor aborda que a aprendizagem atua como um resultado das relações estabelecidas por meio do contato com o outro. Vygotsky criou algumas hipóteses sobre esta aprendizagem, advinda da interação com o próximo (REGO apud in VYGOTSKY, 1984). Partindo destes pressupostos apresentados por Rego (1995), Vygotsky analisava o indivíduo como um ser ativo que pode, através da relação com a sociedade e o meio, se transformar e mudar também o meio no qual vive. Além de possuir uma bagagem cultural e social, o sujeito vive em constante aprendizado, visto que esta mediação feita com o ambiente trata-se da interação social. Assim, o teórico aborda a questão da análise psicológica, na qual o indivíduo conserva as características básicas dos processos psicológicos, exclusivamente humanos. Dessa maneira, segundo Facion (2009), pode-se afirmar que o processo de inclusão possui caráter sócio interacionista, o qual aborda a essência do estudante sob a mediação que é feita juntamente com a interação no meio e com os outros. A socialização e interação, citada por Rego (1995), só acontecerá a partir do momento que for estabelecida uma relação dos pais com a escola, no intuito de melhorar o bem estar e a qualidade do ensino da criança inclusa. Isso tudo é possível, pois deixa claro que a inclusão é um processo, ou seja, não teremos um retorno imediato ou preciso, ela é feita progressivamente no cotidiano da criança. A relação família-escola no processo de inclusão escolar A ligação da família com a escola potencializa o processo de ensino e aprendizagem do educando, na etapa educacional. A escola complementa as ações da família e vice-versa. Para entrelaçar estas instituições primordiais na vida humana, é importante abordar como ocorre esta parceria na vivência de educandos com necessidades especiais inseridos na rede regular de ensino, considerando as contribuições presentes desta relação família-escola, vinculando-o com o processo educacional destas crianças inclusivas. 14250 Partindo do princípio que a educação inclusiva é um trabalho social e pedagógico, são considerados como público alvo deste ensino pessoas com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação, ou seja, educandos que possuem limitações ou ausências cognitivas e podem estar inseridos na rede regular de ensino, como qualquer outro aluno. Com base em Fernandes (2007, p. 45) a inclusão é um: “Movimento ligado à valorização de TODAS as pessoas independente de suas diferenças individuais, inclusive àquelas com deficiências”. Chama-se atenção para o fato de que incluir precisa partir de um processo educacional, o qual visa equiparar, interagir e socializar as pessoas com necessidades especiais, de maneira que todos aprendam juntos, sem acepção de ensino. Fernandes (2007, p. 37) aponta também que: “[...] são necessárias mudanças estruturais que envolvem a remoção de barreiras físicas e materiais e a organização de suportes humanos e instrumentais, para que todos possam ter a participação social em igualdade de oportunidades e condições.”. Para Guerbert (2010), incluir trata-se de adequar os espaços para atender os educandos, e integrar é inserir o estudante especializado no âmbito escolar, sem objetivo algum, não havendo readequação e reestruturação de acesso para aqueles que possuem limitações ou dificuldade de se locomover, como também recursos para atendê-los. A definição de integração, segundo a teórica, nada mais é do que: [...] a inserção pura e simples das pessoas com necessidades educativas especiais, sem que haja nenhuma adaptação específica do contexto para o desempenho de tais atividades, utilizando-se, para isso, somente recursos previamente disponíveis. (GUERBERT, 2010, p. 32) Observa-se que as terminologias “integração” e “inclusão” se confrontam constantemente quando o assunto é educandos com necessidade especiais. O correto é abordar como deveria ser a educação inclusiva destas crianças e como fazer para que este processo ocorra. A autora Fernandes (2007, p. 45) define que a educação inclusiva é “um movimento que compreende a educação como um direito humano fundamental e a base para uma sociedade mais justa [...]”. Um mundo no qual se permita que todos possam conviver e socializar em qualquer contexto/ambiente. 14251 Partindo desses conceitos, nota-se que a inclusão estigmatizou a educação e seus paradigmas, mas como a relação família-escola contribui para este cenário continuar a se destacar? Antes de tudo, para que haja uma verdadeira parceria entre a família e a escola, deverão ser adotados encaminhamentos metodológicos diversificados para atender tais educando com necessidades especiais e adequar os espaços físicos para tornar o processo de inclusivo mais produtivo e bem-sucedido. Uma vez que, este trabalho visa à formação humana do indivíduo e a busca de um lugar na sociedade é preciso o apoio e o suporte de ambas as instituições responsáveis pelacriança: a Família e a Escola. Szymansky (2010, p.22) descreve que “É na família que a criança encontra os primeiros “outros” e, por meio deles, aprende os modos humanos de existir – seu mundo adquire significado e ela começa a construir-se como sujeito”. Para a autora a relação família-escola trata-se de uma parceria entre a escola e pais e/ou familiares dos educandos, conceituando-as ambas responsáveis pela aprendizagem da criança. A família, nesta perspectiva, é uma das instituições responsáveis pelo processo de socialização realizado mediante práticas exercidas por aqueles que têm o papel transmissor – os pais – e desenvolvidas junto aos que são os receptores – os filhos. (SZYMANSKI, 2010, p. 20) E a escola é uma instituição de ensino que, segundo Szymanski (2010, p. 99) tem como “obrigação de ensinar (bem) conteúdos específicos de áreas do saber, escolhidos como sendo fundamentais para a instrução de novas gerações”. Segundo Pereira (2004, p.17) “Cabe à escola, cada vez mais, interagir com a família e a sociedade, com projetos que resgatem o valor humano de cada um, de cada aluno. É na vivência com o outro ser humano que a criança se permitirá avaliar seus conhecimentos.”. A autora Paula (2007) também aponta a família como sujeito responsável pela socialização imediata do sujeito, pois em casa que se estabelece os primeiros contatos de interação com o outro e convívio social. Enfatiza a autora que “É na família que aprendemos a nos relacionar com os outros. Portanto, a construção dessa sociedade inclusiva começa nas famílias. Os pais e as próprias pessoas com deficiência são seus principais agentes.” (PAULA, 2007, p. 7) 14252 A família é a chave para uma formação bem sucedida do estudante e a escola é o local onde ele vai ampliar seus conhecimentos técnicos e práticos, desenvolvendo também suas habilidades e capacidades conforme seu desempenho global. Segundo Szymansky (2010, p. 98): Ambas as instituições têm em comum (...) o fato de prepararem os membros jovens para sua inserção futura na sociedade e para o desempenho de funções que possibilitem a continuidade da vida social. Ambas desempenham um papel importante na formação do indivíduo e do futuro cidadão. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica enfatizam a participação da família para a ampliação total do educando desde a primeira etapa de educação. Conforme o Art. 22: “A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a ação da família e da comunidade.” (BRASIL, 2010). Esta relação se estende nos demais parágrafos do mesmo artigo, quando lê-se: § 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e do respeito mútuo em que se assenta a vida social devem iniciar-se na Educação Infantil e sua intensificação deve ocorrer ao longo da Educação Básica. § 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços promovendo ações a partir das quais as unidades de Educação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as crianças, em estreita relação com a família, com agentes sociais e com a sociedade, prevendo programas e projetos em parceria, formalmente estabelecidos. (BRASIL, 2010) A importância da família no desempenho escolar do educando, favorecerá tanto nos aspectos motores/físicos, como emocionalmente e intelectualmente. Em suma, para se resultar em um desenvolvimento de qualidade e eficaz, a escola e a família devem caminhar juntas para atingir o alvo comum que é o bem estar e a aprendizagem da criança com necessidades especiais incluída na rede regular de ensino. Considerações Finais A inclusão educacional não se trata apenas de inserir o sujeito em um ambiente, promovendo interações recíprocas entre ele, o meio e o outro. É um processo legal, político e social, o qual necessita da ajuda de pais/familiares, escola e comunidade para ser efetivamente concretizado. 14253 Esta questão é um tanto quanto intrínseca, pois além de precisar de amparo profissional, a inclusão escolar abrange uma participação conjunta de pais e escola, uma vez que são instituições responsáveis pela formação integral do indivíduo. Por maior ensejo que exista na parceria entre a escola e a família, nem sempre esses atores estão em envolvimento direto no atendimento os educandos/filhos, delegando a responsabilidade para o outro e não participando ativamente do processo. Portanto, é sabido que cada um tem o seu papel para consolidar a aprendizagem dos educandos, mas nem sempre é isso que acontece. Esperava dessa relação uma real parceria, onde os pais e a escola seriam elementos conectivos, mobilizando-se para a aprendizagem dos educandos. Em suma, não se trata mais de um tabu, no qual não se admite aceitar a convivência de educando com necessidades especiais junto com os demais educandos, ou ainda privá-los de direitos e deveres já conquistados. A inclusão é uma realidade presente e viva, na qual me inspira para concluir este trabalho, além de agregar e complementar ainda mais meus conhecimentos sobre como deve ocorrer à verdadeira inclusão, mediante a participação da família correlacionada com a escola. 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