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IDENTIFICAÇÃO: nome completo, idade, profissão, naturalidade, estado civil (para saber se há vida sexual ativa), raça. Idade: Permite situar a paciente em uma das diversas fases da vida da mulher, quais sejam infância, puberdade, maturidade, climatério e senilidade. Sabe-se que certas patologias são mais frequentes em determinadas faixas etárias, facilitando assim o raciocínio diagnóstico. Raça: Como exemplo, temos que mulheres negras tendem a apresentar leiomioma uterino mais frequentemente que mulheres brancas. Naturalidade e procedência: sua importância reside no fato que certas doenças são mais comuns em determinadas regiões, como o câncer da mama, que é mais frequente em mulheres procedentes dos Estados Unidos. Profissão: em algumas situações assumem importância capital, como no caso de mulheres grávidas que lidam com materiais tóxicos (gráficos). Religião: que pode fornecer informações sobre costumes, práticas e hábitos de vida da mulher. QUEIXA PRINCIPAL: é o motivo que levou o paciente a ir no médico. Ex: Corrimento há 10 dias. HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL (HMA): descrever melhor a queixa principal. Por exemplo, corrimento tem mau odor? Piora após relação sexual? Há prurido? Qual a cor do corrimento? Piora após o fim da menstruação? Faz-se um histórico da evolução das manifestações clínicas, desde seu início até o momento da consulta. Todas as particularidades devem ser minudenciadas, tais como períodos de melhora espontânea, medicação utilizada, exames laboratoriais e possíveis tratamentos clínicos e/ou cirúrgicos realizados. INTERROGATÓRIO SISTEMÁTICO: dar mais atenção ao aparelho urinário e ao aparelho gastrointestinal, pois são mais relacionados ao aparelho genital. Aparelho digestivo merece atenção especial, visto que muitas vezes algumas alterações digestivas podem ser confundidas com queixa ginecológica, tais como a diverticulite ou a apendicite, pela semelhança das manifestações clínicas. Queixas do aparelho urinário são, frequentemente, motivo de consulta ao ginecologista. Entre as mais frequentes encontram-se as cistites e as litíases renais. As mamas, a nosso ver, merece consideração especial. A dor, se relatada, deve ser bem caracterizada quanto à intensidade, ritmo, característica e local. Da mesma forma, a queixa de nódulo implica em determinar o número, local, tempo de aparecimento, consistência, mobilidade, crescimento rápido ou não, presença de nódulos axilares e regularidade de sua superfície. Interrogar sobre a possibilidade de saída de secreção pelo mamilo e, se presente, caracterizar coloração, quantidade, saída espontânea, se é uni ou bilateral, se por um ou mais ductos. ANTECEDENTES FAMILIARES: algumas ginecopatias tendem a se repetir entre membros de uma mesma família como, por exemplo, os leiomiomas. Histórico de câncer (câncer de ovário, de mama e de útero). Carcinoma de endométrio é relacionado com histórico familiar. Carcinoma de colo de útero não é relacionado com histórico familiar. ANTECEDENTES PESSOAIS: já fez alguma cirurgia ginecológica? Bebe? Fuma? O passado de doenças contagiosas da infância deve ser esclarecido, pois doenças como rubéola, toxoplasmose, sarampo, caxumba e outras assumem importância capital, durante o período reprodutivo da mulher. A história de infecção urinária de repetição nos fornece subsídio para a hipótese de má formação do aparelho renal. O passado de doença sexualmente transmitida deve ser investigado e esclarecido, pois pode ser causa de infertilidade. ANTECEDENTES MENTRUAIS: menarca; DUM (data da última menstruação); caracterização do ciclo menstrual (DURAÇÃO DO FLUXO E VOLUME/DURAÇÃO DO CICLO); dismenorreia. O interrogatório deve começar pela idade da menarca (primeiro episódio menstrual da vida da mulher). A data da última menstruação tem importância e deve ser anotada com destaque, principalmente se a paciente se encontrar no menacme. Se a paciente for idosa, indagar a data da menopausa (última menstruação, encerrando o período de menacme). Normalmente, a menopausa ocorre entre os 48 e 52 anos de vida. O intervalo entre as menstruações deve ser, em média, de 28 dias, porém variações de 26 a 32 dias podem ser normais. Precisa saber da DUM dos últimos 6 meses para avaliar a duração do ciclo. Duração do ciclo é 1º dia da DUM de um mês até o dia anterior da DUM do mês seguinte. A duração do fluxo menstrual é de 4 a 5 dias. Pequenas variações (3 a 8 dias) podem ocorrer e, também, são consideradas normais. A quantidade de sangue perdido deve oscilar entre 25 e 100 ml. Vale ressaltar que mulheres que sangram por mais tempo (8 dias) podem perder maior volume (até 200 ml). A cor deve ser vermelho escuro, fluido, não formando coágulos. Formas de quantificar o volume da menstruação é através do nº de absorventes por dia/ em cruzes. +++ apresenta coágulos na menstruação ++++ há algum grau de anemia Ciclo Eumenorreico – ciclo normal (duração do fluxo em torno de 8 dias, perdendo 50 – 80 mL, duração do ciclo é de 25-30 dias) Algomenorréia é a menstruação acompanhada de dor, é sintoma menstrual comum e causa frequente de consulta ao ginecologista. Por este motivo, deve ser bem caracterizada quanto ao tipo, se em cólica, em peso ou contínua, quanto à intensidade, se é leve, moderada ou forte e quanto ao período de aparecimento, se pré- menstrual, menstrual ou pós-menstrual. Dismenorreia é a cólica menstrual. Pode ser: Primária: ocorre durante um período de 2-3 anos após a menarca. A dor vai regredindo com o tempo. Vai reduzir com o início da vida sexual ou com o parto normal, pois vai favorecer uma frouxidão da musculatura. Secundária: muitos anos após a menarca, em torno de 30 anos de idade. A dor é progressiva, comum na endometriose. ANTECEDENTES SEXUAIS: coitarca (quando iniciou sua vida sexual?); ISTs; UP? (único parceiro); dispareunia (dor durante a relação sexual); métodos contraceptivos atuais; libido; orgasmo; sinusorragia (sangramento durante relação sexual). Dispareunia superficial: ocorre no início da penetração. Comum no climatério devido a diminuição do estrogênio (paredes sem a lubrificação necessária). Dispareunia profunda: ocorre na menacme. Comum na endometriose. Interrogamos sobre a presença de corrimento vaginal, caracterizando o tempo de duração, a quantidade, a coloração, o odor, possíveis variações com o ciclo menstrual, tipo de tratamento utilizado e o resultado do mesmo. Questiona-se, ainda, a realização de cauterização, quando e quantas vezes elas ocorreram. Alterações vulvares, como prurido, tumores ou outras como fístulas e prolapsos devem ser investigados. ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS: gestações, partos (normais ou cesáreas), abortamentos precoces (até 12 semanas) e tardios (após 12 semanas); curetagem; peso ao nascer; idade do parto; evolução do puerpério; amamentação (fator de proteção para câncer de mama). Curetagem: limpar as paredes do útero pós- aborto para evitar endometrite. Pode ser diagnóstica e cirúrgica pós-aborto. Quando essa curetagem é feita de forma abrasiva (muito forte), essas paredes vão colabar e podem provocar a Síndrome de Asherman, causando infertilidade temporária. Diabetes gestacional pode gerar bebês macrossômicos OBS: amamentação é fator de proteção para câncer de mama, pois durante a amamentação não há produção do estrogênio ao nível ovariano. Já que o estrogênio é vilão do câncer de mama. Quem não amamenta não tem esse repouso fisiológico do estrogênio. O ovário nunca ficou sem produzir estrogênio, a não ser na amamentação. EXAME GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO: MAMAS - inspeção estática e dinâmica, palpação dos linfonodos, palpação superficial e profunda das mamas, expressão mamilar ABDOME - palpação superficial e profunda de baixo ventre, percussão OGE (Observação da genitália externa) - monte venus,pilificação, labios externos e internos, sulcos interlabiais, meato uretral, coloração introito vaginal, himen, glandulas maiores e menores da vagina, manobra de valsalva, perineo OGI (Observação da genitália interna) - especular: paredes vaginais, colo utero, orificio externo, conteudo vaginal. TOQUE: simples- permeabilidade da vagina, elasticidade das paredes vaginais, fundos de saco, consistência do colo do útero, mobilidade, indolor ou não. Combinado- posição do útero, volume, superficie, contornos, anexo direito e esquerdo. O que è menstruação? Nem todo sangramento é menstruação! Pode ser sangramento de fundo de saco, de parede vaginal, de carcinoma. Menstruação é um sangramento periódico, transitório, proveniente da cavidade uterina e do controle neuroendócrino (hipotálamo-hipófise-gônada) Caracterização ciclo menstrual eumenorréico: (frequência-21/35), duração (1/8dias), quantidade(1/80ml) 28dias/4dias ; 2+/IV ou ppd (28 dias é a frequência, 4 dias é a duração e 2+ é a quantidade) Deprivação é uma “menstruação” de quem toma anticoncepcional, mas não é proveniente do eixo neuroendócrino. Ao parar de tomar a pílula, vai ter deficiência de estrogênio, por isso vai sangrar, por essa deprivação de estrogênio. Quem toma anticoncepcional não ovula, por isso não engravida. Controle Neuroendócrino do Ciclo Menstrual: Composto pelo hipotálamo-adenohipófise- gônada (ovários). Hipotálamo libera GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) e Dopamina. O sistema límbico influencia na regulação do ciclo menstrual, já que esse sistema vai ser influenciado/ vai captar informações externas. Ex: estresse ou algum evento importante/ marcante pode desregular o ciclo menstrual. Adenohipófise, ao ser estimulada pelo GnRH, vai liberar FSH e LH. FSH e LH vão até os ovários estimular a liberação de estrógeno e progesterona. O estrógeno possui 3 subtipos: estradiol (mais potente, possui função no ciclo menstrual), estriol e estrona. Ciclo ovariano e endometrial ocorrem simultaneamente. CICLO OVARIANO: Há a parte medular (central) e periférica (onde ocorre a maturação folicular). Não temos células-tronco que renovam nossos folículos! Folículos vão reduzindo sua quantidade com o tempo. A cada mês 1 folículo vai ser escolhido para ovular – o que tiver maior número de receptores para FSH será escolhido. Ao escolher o folículo, ele vai crescendo e amadurecendo. Quem dá o comando inicial é o FSH! À medida que o folículo vai amadurecendo, FSH vai estimular para que o folículo produza estradiol (estrógeno). Contudo, por feedback negativo, quando o estradiol já estiver em uma quantidade muito elevada, o estradiol vai mandar mensagem induzindo o FSH a parar de aumentar os níveis de estrógeno. Consequentemente, o FSH vai reduzindo seus níveis séricos, pois a estimulação de estrógeno não precisa mais ser realizada. Quando FSH reduz e o estradiol está elevado, o estradiol vai induzir a produção de LH. Quando chega no pico de LH vai ocorrer ovulação (aproximadamente 24h após o pico). Esse óvulo sai na fase de prófase meiótica. Estradiol vai fazer um feedback negativo= impede produção de FSH Estradiol vai fazer um feedback positivo= estimula produção de LH Já no endométrio, o óvulo vai se transformar em um corpo lúteo. O corpo lúteo vai liberar a progesterona – níveis elevados de LH vai induzir a produção de progesterona pelo corpo lúteo. O abortamento precoce pode ocorrer por uma insuficiência do corpo lúteo, pode estar produzindo pouca progesterona. O corpo lúteo que manterá a produção de progesterona, capaz de estabilizar o endométrio enquanto a placenta em formação não se torna autossuficiente. O corpo lúteo “segura” a gravidez até a 8ª semana. Caso não ocorra a fecundação, o corpo lúteo vai involuir. Não ocorreu gravidez LH vai reduzir seus níveis Progesterona vai reduzir seus níveis. CICLO ENDOMETRIAL: O corpo do útero possui duas camadas, endométrio e miométrio. ENDOMÉTRIO- Fornece um local adequado para a implantação e nutrição do blastocisto. Endométrio possui três camadas: camada profunda ou basal (regenerar a camada superficial), camada média ou esponjosa (não há função), camada superficial ou compacta (camada que vai descamar, sofre ação hormonal). Histeroscopia Endométrio na Fase Proliferativa: Presença de pontos luminosos (orifícios glandulares) Visualização dos óstios tubários Endométrio na Fase Secretória: Bem vascularizado Não enxerga óstios tubários Endométrio na Fase de Climatério: Rósea pálido, esbranquiçado Não possui uma boa vascularização Enxerga bem os óstios tubários SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL (hemorragia uterina anormal): pode ser uma ausência de sangramento ou um maior sangramento. Não necessariamente é hemorragia. É avaliado pelo NÚMERO DE ABSORVENTES POR DIA ou NÚMERO DE CRUZES EM 4. A incidência é maior na adolescência e no climatério, por motivos distintos. Na adolescência, há uma imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-gônadas. Podendo ocorrer períodos amenorreicos e períodos de duração maior do ciclo, por exemplo, devido a essa imaturidade. No climatério, há uma atrofia ovariana, assim, não produzem estrogênio e nem progesterona. Portanto, também haver uma desregulação do sangramento uterino. Ciclo Espaniomenorreico: ciclo maior que o normal. A paciente pode ficar 2 meses sem menstruar, por exemplo. Ocorre na adolescência e no climatério, por motivos diferentes. Classificação: Causas orgânicas. Afastar causas orgânicas do sangramento anormal. Causas hormonais. Podem provocar sangramento uterino anormal – sangramento uterino disfuncional. É normal, ocorre em adolescentes e climatéricas. Diagnóstico: A- Exame físico B- Avaliação laboratorial C- Ultrassonografia transvaginal D- Histeroscopia Tratamento: CLÍNICO: AINH (anti-inflamatórios não hormonais, como ácido mefenâmico e piroxicam) Ácido tranexâmico (agente antifibrinolitico) CURETAGEM CLÍNICA: Feita em pacientes que nunca tiveram coitarca. Paciente está sangrando e não conseguiu ser resolvido com a utilização de medicamentos. Então faço a curetagem clínica que consiste em utilizar altas dosagens de anticoncepcional para interromper o sangramento. TRATAMENTO CIRURGICO: Curetagem diagnóstica – só pode fazer em pacientes que já tiveram coitarca, que possuem vida sexual ativa. Vou fazer uma raspagem para colher material e enviar para anatomia patológica. Ao mesmo tempo, essa raspagem vai reduzir o sangramento. Deve ser realizada quando a paciente está sangrando muito. OBS: mesmo a histeroscopia sendo mais específica, não posso fazer na presença de sangramento. Então primeiro faço a curetagem diagnóstica para reduzir ou parar o sangramento. Ablação endometrial – raspagem ou queima o endométrio para não recidivar o sangramento. Histerectomia TRATAMENTO COMPLEMENTAR: Repouso Transfusão sanguínea Dieta adequada Avaliação emocional e psicoterapia OBS: Histeroscopia é uma biópsia dirigida, mas não pode fazer quando estiver sangrando, pois a visualização não fica adequada. Por isso, geralmente, faz a curetagem diagnóstica e depois a histeroscopia. Curetagem é “às cegas”, não é dirigida. Alterações na secreção, no metabolismo ou na excreção desses hormônios ou de seus reguladores determinam o comportamento do ciclo ovulatório e interferem em sua regularidade, bem como no volume e na duração dos fluxos menstruais. O hipotálamo libera o hormônio secretor de gonadotrofinas (GnRH) Neurotransmissores excitatórios (glutamato, neuropeptídeo Y e norepinefrina) e inibitórios (endorfinas e dopamina). Também atuam nessa regulação fatores ambientais, tais como estresse, exercíciosfísicos e desnutrição, que podem atuar como inibidores. A hipófise, então, em resposta à secreção de GnRH, produz duas gonadotrofinas: hormônio folículo estimulante – FSH (do inglês, follicle-stimulating hormone) e hormônio luteinizante – LH (do inglês, luteinizing hormone). O primeiro, FSH, como o próprio nome diz, tem por função estimular o recrutamento e o crescimento dos folículos ovarianos e a seleção para dominância até que o óvulo esteja maduro para ser fecundado; o segundo, LH, tem como finalidade produzir a luteinização das células somáticas foliculares (teca e granulosa), completar a maturação do óvulo e promover a ovulação O ovário, em resposta aos comandos hipotálamohipofisários, produz os esteroides sexuais, sendo eles os estrogênios e a progesterona Formação dos Folículos Ovarianos: O folículo ovariano é composto por um óvulo central e duas outras populações de células somáticas que se dispõem em camadas: granulosa, interna, e a teca, externa. Uma vez diferenciadas em óvulos, a camada de células estromais que os circundam transformam-se em células da granulosa inativas, com formato fusiforme, e, assim, dão origem aos folículos primordiais. Apesar do estado de quiescência em que se encontram durante a infância, o processo de atresia dos folículos primordiais continua a ocorrer, de maneira que grande parte da população de células germinativas não chega à fase adulta reprodutiva. Foliculogênese e Esteroidogênese: O ovário, em resposta à ação das gonadotrofinas, realiza basicamente dois processos: a esteroidogênese, ou produção de esteroides sexuais, e a foliculogênese, que é o recrutamento e o desenvolvimento dos folículos ovarianos. O processo de foliculogênese tem início com o recrutamento folicular, durante o qual os folículos quiescentes tornam-se ativos e capazes de se desenvolver. A partir desse estágio, secundário, o folículo passa a ser mais sensível à ação do FSH, o qual determina a proliferação de células da granulosa e leva o folículo ao estágio terciário, com três camadas. Finalmente, o folículo pré-antral multilamelar, com quatro ou mais camadas, tornase claramente dependente do FSH – essa dependência do FSH inicia-se a partir do estágio secundário. Também compõem o folículo as células da teca, que se proliferam e passam a produzir androgênios pelo estímulo do LH. Assim, cabe à teca produzir progesterona e androgênios, os quais entram nas células da granulosa por difusão e, por ação da enzima aromatase, se convertem em estradiol pela ação do FSH. A granulosa avascular converte apenas os precursores que lhe são oferecidos pela teca. Tal interação entre as células da teca e da granulosa para a produção de esteroides sexuais ovarianos é chamada de “mecanismo das duas células”. A cada ciclo, cerca de mil folículos são recrutados, ou seja, saem do estado de quiescência para tornarem-se ativos. Todos eles iniciam seu desenvolvimento, porém, ao longo do processo de foliculogênese, a grande maioria entra em processo de atresia. Apenas alguns, cerca de 8 a 20, chegam ao estágio antral. São esses os folículos com verdadeiro potencial de completar o seu desenvolvimento e atingir o estágio de maturidade – os chamados folículos antrais iniciais –, que refletem o pool de reserva ovariana, uma vez que são proporcionais ao número de folículos primordiais presentes no ovário. Nessa fase são dependentes de FSH para o seu crescimento e, portanto, possuem receptores para esse hormônio, que são autorregulados positivamente, ou seja, quanto maior a ação do FSH, mais receptores surgem na superfície dessas células, aumentando a sensibilidade do folículo a esse hormônio. Sendo assim, quanto maior o folículo, maior a sensibilidade ao FSH. Por algum motivo ainda não conhecido, um dos folículos do pool se destaca e apresenta crescimento mais acelerado que os demais, o que faz com que ele se torne cada vez mais sensível e responsivo ao FSH do que seus pares em crescimento. Nessa fase, a produção de estradiol é máxima, o que promove feedback negativo sobre a hipófise, reduzindo parcialmente a liberação de FSH na circulação. Para aquele folículo maior e mais sensível, essa pequena queda na liberação de FSH não interferirá em seu desenvolvimento, entretanto, para todos os demais, haverá a desaceleração do crescimento, a qual culminará na atresia do folículo. Estabelece-se, dessa maneira, a dominância folicular. Ao final da fase folicular, já como folículo pré ovulatório, as células da granulosa passam a expressar também receptores para o LH, até então presentes apenas na teca. O aumento desses receptores na superfície das células granulosa, associado à redução dos receptores de FSH pelo mecanismo de autorregulação, leva à mudança no padrão de dependência do folículo do FSH para uma fase LH-dependente. A partir desse momento, a secreção de LH pela hipófise determinará a transformação luteínica dessas células, juntamente com a teca, além de dar início ao preparo do folículo para o processo ovulatório. Esse pico de LH é fundamental para o término da maturação folicular e o desencadeamento da ovulação, que ocorrerá 36 horas após. As células da parede folicular que permanecem no ovário após a ovulação, composto por células da teca e por células da granulosa, ambas sensibilizadas para ação do LH, entram em processo de luteinização. A síntese de esteroides é direcionada para a produção de progesterona, a qual terá papel fundamental na transformação endometrial e nos estágios iniciais do desenvolvimento embrionário. xxx O endométrio e a implantação embrionária: O endométrio é composto de múltiplas camadas e pode ser dividido em duas porções distintas: a camada basal, responsável pelo processo de regeneração após a descamação menstrual, e a camada funcional, que se transforma de maneira mais ativa ao longo do ciclo e é descamada mensalmente na ausência de implantação embrionária. As transformações endometriais que ocorrem em resposta a toda a produção hormonal ovariana têm como objetivo final o preparo do útero para a implantação do embrião formado. Nesse sentido, podemos dividir de maneira didática o ciclo menstrual em duas fases bastante distintas em termos de perfil hormonal. A fase de crescimento folicular, caracterizado pelo aumento das camadas de células da granulosa, crescimento do óvulo e produção predominante de estradiol, é denominada de fase folicular e ocorre na primeira metade do ciclo menstrual. Enquanto o período pós ovulatório, caracterizado pelo desenvolvimento do corpo lúteo e a produção predominante de progesterona, é denominada fase secretora ou lútea e ocorre durante a segunda metade do ciclo menstrual. O início da fase folicular é marcado pela descamação menstrual de um endométrio preparado no ciclo precedente no qual a implantação não ocorreu, portanto, o papel inicial do estradiol é o de cicatrizar o endométrio cruento após a descamação. Os receptores de estrogênios na superfície das células são autorregulados pelo próprio estradiol, portanto, ao longo do ciclo, a sensibilidade local à ação desse hormônio aumenta na mesma proporção de sua produção. Quando o endométrio atinge certa maturidade e já está proliferado, ele passa também a expressar receptores de progesterona que terão papel importante na próxima etapa do preparo endometrial, a diferenciação desse tecido durante a fase lútea (Fritz e Speroff, 2011d). A progesterona, em contrapartida, inibe os receptores estrogênicos, o que reduz seu efeito proliferativo. Após a ovulação, a progesterona passa a ser predominante, e o endométrio já sensibilizado pelo estrogênio desacelera a atividade proliferativa e inicia a diferenciação das glândulas do epitélio pseudoestratificado, tornando-as mais tortuosas e promovendo o acúmulo de glicogênio e glicoproteínas no citoplasmadessas células. Essas substâncias terão papel importante na nutrição do embrião nos estágios iniciais da implantação. O pico da produção de progesterona pelo corpo lúteo ocorre sete dias após a ovulação, ou seja, no meio da fase lútea. Nessa etapa, a diferenciação endometrial é máxima e é quando se espera que o embrião, geralmente fecundado na trompa, estará chegando ao útero, ou seja, é o momento em que a chance de implantação é máxima. Esse período, chamado de “janela de oportunidade”. Ao adentrar a cavidade endometrial, dois a três dias após a ovulação, o trofoblasto embrionário inicia a produção de gonadotrofina coriônica humana – hCG. Por isso, o hCG se liga de maneira cruzada nos receptores de LH no ovário e mantém o estímulo sobre o corpo lúteo, o que manterá a produção de progesterona, capaz de estabilizar o endométrio enquanto a placenta em formação não se torna autossuficiente. É um processo simbiótico em que o hCG placentário (trofoblasto) mantém o corpo lúteo e a progesterona do corpo lúteo mantém o endométrio íntegro até que a placenta se desenvolva. Ao redor das 12 semanas de gestação, quando a primeira onda de invasão trofoblástica se completa, a produção de hCG pela placenta é reduzida e o corpo lúteo degenera gradualmente, mas agora a placenta já é autossuficiente na produção dos hormônios que manterão a gestação até o final. Caso a implantação embrionária não ocorra, o corpo lúteo, que não receberá novos estímulos de LH, reduzirá a produção de progesterona, o que promove a liberação de enzimas líticas dos lisossomos e a liberação de prostaglandinas pelo endotélio dos vasos endometriais. Por ação das prostaglandinas, a musculatura lisa vascular sofre espasmos repetidos que levam à instabilidade do endométrio, isquemia do tecido em toda sua extensão e necrose. Todo esse processo culmina com a descamação de toda a camada funcional do endométrio, que, somando-se com um exsudato inflamatório, hemácias e enzimas proteolíticas, formará o fluxo menstrual, que marca o início de um novo ciclo.
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