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AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga Gerenciamento de Espaço O gerenciamento de espaço começa na análise de discrepância de modelo e, dependendo do resultado, será necessário fazer a supervisão, manutenção e recuperação de espaço ou até mesmo uma extração seriada em caso de falta excessiva de espaço. “Qualquer tentativa de desenvolver métodos preventivos em ortodontia deve ser baseada no desenvolvimento normal das dentições e nos possíveis fatores modificadores”. Isso é importante para que não se intercepte sem necessidade naquele desenvolvimento, já que pode causar até danos para o paciente. Até chegar na dentição permanente, espera-se que o desenvolvimento da dentição decídua e mista seja o mais favorável possível. O período da dentição decídua até a mista é bem longo (11,5 anos) e mudanças indesejáveis podem acontecer tanto por fatores hereditários quanto ambientais. Por esse motivo, é necessário realizar o acompanhamento desse desenvolvimento. A ortodontia preventiva e interceptativa é responsável pelo gerenciamento de espaço, em que é feito a orientação e supervisão de todo o crescimento e desenvolvimento da dentição. Para a supervisão de espaço, a discrepância de modelo deve ser positiva, sendo maior ou igual a 4 mm. Refere-se a uma vigilância constante, dinâmica e disciplinada do paciente oferecida pela ortodontia preventiva. Considera-se, também, que com a supervisão adequada na discrepância positiva, é possível resolver bastante problemas com o espaço livre de Nance. A prevenção refere-se ao ato ou efeito de prevenir (-se). É uma medida tomada por antecipação, a fim de evitar um mal (sinônimo de precaução, sobreaviso, cautela). A ortodontia preventiva faz a prevenção de potenciais interferências no desenvolvimento da oclusão. Para isso, é necessário ter uma vigilância regular do paciente. “Não intervir, mantendo o desenvolvimento da dentição em observação”. Para a manutenção de espaço, a discrepância de modelo deve ser nula ou positiva, sendo menor do que 4 mm. A preservação do espaço livre de Nance fornece espaço para manejo adequado das discrepâncias negativas em aproximadamente 70% dos casos. A perda prematura de dentes decíduos pode levar a movimentos indesejáveis dos dentes e deficiência do comprimento do arco dentário, produzindo ou aumentando a severidade das maloclusões. O objetivo da manutenção de espaço, por meio dos aparelhos mantenedores de espaço , é justamente evitar a perda do comprimento, da largura e do perímetro do arco dentário. A interceptação refere-se ao ato ou efeito de interceptar. A ortodontia interceptativa faz a eliminação de interferências existentes com os principais fatores envolvidos no desenvolvimento da dentição. A banda alça é um dispositivo fixo, unilateral, indicado para manutenção de espaço nos segmentos posteriores , tanto no arco inferior quanto no superior. mantenedores de espaço BANDA ALÇA AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga É restrito para manter o espaço de um dente, pois possui resistência limitada. É o mantenedor de escolha antes da erupção dos incisivos permanentes . Isso porque a utilização de outros aparelhos mantenedores, que encostam na região anterior, podem lesionar os gérmens dos incisivos permanentes (que se localizam na palatina dos dentes decíduos). O ideal é bandar o dente adjacente em uma sessão, mandar o aparelho para confecção no laboratório e, no dia da instalação/cimentação, extrair o dente, conter o sangramento e instalar o aparelho para ter o mínimo possível de perda de espaço. O arco lingual é o mantenedor indicado quando os incisivos permanentes estiverem erupcionados . Previne o movimento anterior dos dentes posteriores e o movimento posterior dos dentes anteriores (fica em contato com os incisivos. É bem interessante utilizá-lo quando se tem uma perda dentária precoce bilateral . Além de manter o espaço do dente perdido precocemente, também preserva o espaço livre de Nance. “Mais de 70% dos pacientes com manutenção de espaço por meio do arco lingual apresentam espaço adequado para o alinhamento dos incisivos”. O botão de Nance é um mantenedor de espaço superior bem semelhante ao arco lingual. É bastante efetivo, mas tem um botão de acrílico na região anterior do palato, perto dos incisivos que, muitas vezes, pode atrapalhar no contato da língua com o palato, interferindo levemente na deglutição e na fala. Esse botão de acrílico também pode ser um problema se estiver fazendo muita pressão, pois pode causar irritação nos tecidos moles, além de dificuldade de higienização da mucosa, causando ainda mais inflamação se tiver acúmulo de alimento. O botão de Nance funciona com duas bandas cimentadas nos primeiros molares permanentes, na maioria das vezes. Ainda, esse mantenedor pode ser usado como um aparelho de ancoragem para tracionar um dente retido (também é possível fazer isso com o arco lingual). Os aparelhos removíveis dependem muito da colaboração do paciente. São úteis para manutenção do espaço posterior bilateral, quando mais de um dente foi perdido por segmento e os incisivos permanentes ainda não erupcionaram. Além disso, evitam a deglutição atípica e projeção de língua (quando o paciente perde um dente anterior), substituem parte da função oclusal/impedem a extrusão do antagonista e possuem vantagens estéticas e sociais. Recomendações: Cuidados e Controle! Testar a oclusão e retenção Motivar a criança para aceitar o seu uso Observar a fonética (som de R, S,T, V e Z) Ensinar a remoção e instalação para mãe/criança Motivar para a necessidade de higienizar O aparelho deve ficar na caixa ortodôntica Contraindicação dos Mantenedores de Espaço (em geral) Quando já houve perda de espaço. Quando o sucessor já estiver irrompendo. Quando há agenesia do sucessor. Quando não puder manter o controle do paciente. Quando não houver colaboração dos pacientes e pais. mantenedores de espaço ARCO LINGUAL mantenedores de espaço BOTÃO DE NANCE mantenedores de espaço REMOVÍVEIS ou FUNCIONAIS AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga Planejamento para os Mantenedores de Espaço Tempo decorrido desde a perda. Idade dentária do paciente. Quantidade de osso que cobre o dente sucessor. Sequência de erupção dos dentes . O mantenedor de espaço é indicado o mais cedo possível após a remoção ou avulsão dentária. Por isso, deve-se planejar e confeccionar o mantenedor antes da extração e instalá-lo na mesma consulta. Quanto maior o tempo decorrido maior a chance de fechar o espaço e quanto mais precoce for a extração, maior será o fechamento do espaço, principalmente se for antes da erupção do 1MP. A idade dentária do paciente é vista por meio do estágio de formação do sucessor permanente (estágio de Nolla). No estágio 6, quando a coroa está completamente formada, inicia-se o movimento eruptivo (bem lentamente). No estágio 7, com ⅓ da raiz formada, é de fato o momento em que ocorre o movimento eruptivo. No estágio 8, com ⅔ da raiz formada, já se tem o auge do movimento eruptivo. Quando o dente está nesse estágio, não precisa de mantenedor de espaço, pois já está erupcionando. Outra opção seria utilizar aparelhos que não interfiram nessa erupção, como o arco lingual, por exemplo. A extração do dente decíduo antes do início dos movimentos eruptivos (ou seja, com menos de ⅓ da raiz formada) do permanente ocorrerá atraso na erupção devido uma formação óssea sobre o dente permanente sucessor, tornando sua erupção mais difícil e lenta. Nesses casos, é imprescindível a instalação de um aparelho mantenedor de espaço. Em contrapartida, a erupção do dente permanente será acelerada nos casos em que o osso que o recobre apresenta-se destruído por infecção na época da perda do dente decíduo correspondente, podendo o permanente irromper com um mínimo de desenvolvimento radicular. Nesse caso, é normal que o dente erupcione girado. Observar a relação dos dentes em desenvolvimento e em erupção ao espaço criado pela perda precoce de um dente. Na recuperação de espaço, a discrepância de modelo é negativa. Pode ser distribuída, quando falta espaço ao longo do perímetro ou localizada, quando o problema é localizado, ou seja, envolve uma região ou um dente. O diagnóstico é criterioso e requer o uso de aparelhos recuperadores de espaço, em que se faz a recuperação da largura e do perímetro do arco para melhorar a posição eruptiva do permanente. A recuperação de espaço pode ser feita por meio de: Expansão/disjunção transversal dos arcos TEMPO DECORRIDO DESDE A PERDA IDADE DENTÁRIA QUANTIDADE DE OSSO QUE COBRE O DENTE SUCESSOR SEQUÊNCIA DE ERUPÇÃO DOS DENTES AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga Vestibularização - Projeção de incisivos Distalização do 1 MP Desgastes Interproximais Exodontias - Extração Seriada A recuperação de espaço pode ser tanto no arco superior quanto no arco inferior, mas tem aparelhos que só podem ser utilizados em um deles. É um aparelho removível, restrito à região posterior, tanto no arco superior, quanto no arco inferior. É eficaz e ideal para inclinar um molar (não movimenta a raiz - transladar) que pode ser movido para distal até 3 mm por 3 a 4 meses. Utilizado para perdas pontuais. O aparelho consiste numa placa de resina acrílica com grampos de retenção Adams, grampos auxiliares e arco vestibular de Hawley e, como componente ativo, a mola de Benac (pressão). Como todo aparelho removível, depende da colaboração e utilização pelo paciente. Utilizado para criar espaço quando o paciente tem redução na dimensão transversal maxilar (com ou sem mordida cruzada). Para a expansão/disjunção, a escolha do aparelho fixo ou removível depende da maturidade e colaboração do paciente. O disjuntor pode vir de várias formas: Hyrax, Haas (é o mesmo parafuso expansor que o Hyrax, porém com acrílico), McNamara (com acrílico na oclusal dos posteriores) etc. A expansão dentária geralmente é feita com aparelhos removíveis. No entanto, há uma possibilidade de fazer isso com um aparelho fixo: o aparelho quadrihélice. A sua ativação é fora da boca, o que confere uma desvantagem para esse aparelho, já que para reativar seria necessário tirar e cimentá-lo novamente. Nos dois casos, coloca-se a banda no molar. O que diferencia a removível da soldada (fixa) é que na removível é soldado um tubo de molar na banda que permite a remoção do componente ativo. É muito utilizado para discrepâncias esqueléticas, pois é um aparelho tanto ortodôntico quanto ortopédico (o que diferencia é a quantidade de força que coloca). Para recuperação de espaço, é possível utilizá-lo com uma força ortodôntica mais leve para distalização de molares. Esses aparelhos são compostos pelo arco facial, casquetes e tracionadores/elásticos. Depende da colaboração do paciente. MOLA DE BENAC recuperação de espaço superior EXPANSÃO/DISJUNÇÃO DOS ARCOS recuperação de espaço superior BARRA TRANSPALATINA (BTP) recuperação de espaço superior APARELHO EXTRABUCAL (AEB)AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga Existe a tração cervical (baixa), tração occipital (média) e tração parietal (alta) ou até mesmo combinado (tração alta e baixa). A tração cervical (baixa) mexe com toda a parte óssea e ainda faz a distalização molar e, como efeito colateral, também tem uma extrusão do molar (pela inserção baixa do aparelho). A escolha pela tração depende do que se quer pro paciente. Se o paciente já tem uma mordida aberta, por exemplo, não é indicado utilizar o AEB de tração cervical, enquanto é indicado que esses aparelhos sejam utilizados em pacientes braquifaciais (em que se tem um grande controle da musculatura e essa pequena extrusão não interfere no tratamento). No arco inferior, a expansão é mais limitada, pois não é possível fazer a disjunção na mandíbula como é possível na maxila pela sutura palatina mediana. Então, o que mais se utiliza na mandíbula é a expansão dentária, desgastes dentários e vestibularização dos dentes, por exemplo. O expansor inferior (aparelho de Schwarz) é um aparelho mandibular usado para melhorar a expansão dentária transversal. Faz-se ativações lentas. Tem um parafuso de ativação e grampos posteriores (geralmente sem arco vestibular). Em geral, pode ser feito de várias formas. Requer colaboração do paciente. Realiza expansão transversal e ânteroposterior (sagital). A placa lábio ativa também é considerada um aparelho removível miofuncional, pois coloca língua e bochecha numa posição correta, favorecendo uma expansão dentária pela função da musculatura da língua. É muito utilizado em pacientes com overjet acentuado que ficam com o lábio interposto, pois esse lábio consegue colocar o aparelho em posição adequada. Ao manter a musculatura do lábio inferior e bochechas longe dos dentes inferiores, o equilíbrio entre a pressão da musculatura externa e interna é quebrada e a língua é capaz de expandir o arco mandibular. A pressão do lábio inferior contra o escudo durante a deglutição é transmitida diretamente aos molares inferiores, resultando em uma ligeira distalização (bem pequena) e inclinação distal dos molares. Ocorre também a vestibularização dos incisivos que é um efeito colateral, mas geralmente também é almejado para o tratamento. É um procedimento terapêutico destinado a harmonizar o volume dos dentes com o dos maxilares, mediante a eliminação de alguns dentes decíduos ( caninos e primeiros molares ) e permanentes ( primeiros pré-molares ) na dentição mista. O objetivo é conciliar as diferenças entre a quantidade conhecida de material dentário e a deficiência permanente do osso de suporte. Feita em casos de discrepância de modelo negativa severa, em torno de 8/10 mm). É um procedimento longo que requer paciência e compreensão dos pacientes e familiares. É um procedimento de ortodontia interceptora com o propósito de diluir o apinhamento sem mecanoterapia. Evita tratamentos ortodônticos prolongados e movimentos dentais exagerados. recuperação de espaço inferior EXPANSOR INFERIOR (APARELHO DE SCHWARZ) recuperação de espaço inferior PLACA LÁBIO ATIVA (PLA/LIP BUMPER) AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga O mais importante para a extração seriada é um correto diagnóstico, sabendo que esse procedimento deve ser feito no início da dentadura mista. O verdadeiro desafio para o ortodontista é distinguir as crianças com deficiências insuperáveis no comprimento do arco daquelas para as quais há uma esperança de se obter um tratamento sem extrações. O diagnóstico correto leva em consideração os sistemas esquelético, muscular e dental. Para fazer a extração seriada, o paciente precisa ser: classe I esquelética (sistema esquelético) classe I facial (sistema muscular) DM > 7 ou 10 mm (sistema dental) Desvantagens . Aumento da sobremordida. Inclinação lingual dos incisivos. Tecido cicatricial nos espaços das extrações. Diastemas. Aumento da curva de Spee. A primeira fase coincide com o primeiro período transitório da dentição mista (substituição dos incisivos e erupção dos molares permanentes) em que há o diagnóstico de apinhamento primário definitivo genético. Faz-se a extração dos caninos decíduos com o intuito de promover o alinhamento dos incisivos permanentes. Por envolver a extração apenas de dentes decíduos, é considerada “reversível” em termos de integridade futura do arco dentário. * extração dos caninos ← movimento dos incisivos A segunda fase coincide com o segundo período transitório da dentição mista e constitui a fase crítica , pois se extrai um dente permanente (primeiro pré-molar), sendo que o pré-molar só é extraído após a sua irrupção na cavidade bucal. É considerada irreversível por envolver a extração de dentes permanentes. *extração dos 1ºM dec. ↑↓ irrupção dos 1ºPM há uma distalização dos laterais e um aumento da mordida profunda anterior *extração dos 1ºPM ↑↓ irrupção dos caninos Resumindo... 1. Extrair os caninos decíduos para permitir o auto-alinhamento fisiológico dos incisivos 2. Extrair os primeiros molares decíduos para acelerar a irrupção dos 1ºPM (sempre olhar a radiografia para ver a formação radicular do primeiro pré-molar) 3. Extrair os 1ºPM em irrupção para permitir uma irrupção distal mais favorável dos caninos permanentes 4. Permitir a irrupção dos caninos e 2ºPM estágios terapêuticos 1ª FASE estágios terapêuticos 2ª FASE AULA 8 Ortodontia I - 7º período - 2020/2 Manuella Soussa Braga Alinhamento dentário espontâneo (presença de diastemas,longos eixos incorretos, incisivos verticalizados e grau de mordida profunda anterior). Arco dentário após a utilização do programa de extração seriada seguido de aparelho ortodôntico fixo complementar. No arco superior, o canino é o último dente a erupcionar. No arco inferior, é necessário inverter a ordem de erupção dos caninos e pré-molares. Por isso, é preciso ter muita atenção para ⅔ de raiz formada do 1º pré-molar inferior e é muito importante avaliar a radiografia panorâmica (avaliar a raiz do 1º pré-molar e canino permanente). Na maioria das vezes se faz necessário o uso do arco lingual. Se o paciente perde o canino decíduo fora da época… extrai os primeiros molares decíduos, instala o arco lingual, extrai o primeiro pré-molar (consequentemente tem espaço pro canino) e aí se pensa em extrair o segundo molar decíduo e, como ele tá com o arco lingual, tem espaço e o segundo pré-molar também irrupciona.
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