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Oralidade e Escrita A oralidade e a escrita são duas formas de variação linguística, onde a ora- lidade é geralmente marcada pela linguagem coloquial (ou informal), enquanto a escrita, em grande parte, está associada à linguagem culta (ou formal). A Fala, a Leitura e a Escrita Quando falamos com os amigos ou familiares utilizamos a linguagem in- formal, constituída por marcas da oralidade, seja abreviações, erros de concor- dância, gírias, expressão menos prestigiadas, prosódias. Importante notar que historicamente, a fala precede a escrita, ou seja, a escrita foi criada a partir da comunicação entre os homens bem como da neces- sidade de registro. Claro que a linguagem informal não pode ser considerada errada uma vez que os falantes da língua utilizam a informalidade de acordo com determinados contextos. No entanto, quando estamos conversando com superiores no trabalho, por exemplo, essas marcas são deixadas de lado, para dar lugar a uma linguagem mais cuidada, ou seja, aquela em que não notamos as marcas da oralidade, e que intuitivamente utilizamos em determinados contextos de produção que exigem formalidades. Feita essa observação, note que mesmo nas situações de oralidade, pode- mos utilizar uma linguagem mais preocupada ou formal, por exemplo, nas apre- sentações em público. Um dos fatores mais importantes para a construção da linguagem deve se à leitura, posto que as pessoas que mantém o hábito da leitura têm muito mais facilidade para se expressarem e claro, para perceber o contexto em que estão inseridas e qual das linguagens devem usar. Além disso, o hábito de leitura melhora a escrita, que na maior parte dos casos, deve adotar a linguagem formal e das normas gramaticais para se expres- sar. Da mesma forma que na oralidade, o ato de escrever está intimamente rela- cionado com o contexto em que está inserido. Ou seja, quando mandamos um bilhete na sala de aula para uma amiga, certamente, a linguagem utilizada não é formal, sendo fortemente marcada por traços da oralidade. Por sua vez, quando a professora pede a produção de um texto, aquela lin- guagem utilizada no bilhete não deve ser usada na redação, visto que esse se trata de um texto formal, cujas normas e regras gramaticais devem estar presen- tes. O mais importante da diferença entre a oralidade e a escrita é perceber em qual contexto você deve usar a linguagem despretensiosa (coloquial) ou a lin- guagem formal, que exige conhecimento prévio das normas da língua. Nesse caso, quando produzimos um texto, as marcas extremamente “nor- mais” da oralidade como gírias, vícios de linguagem, abreviações, erros orto- gráficos e de concordância, não devem ser aplicadas. Em resumo, na linguagem escrita não devemos produzir as falas e os mo- dos que usamos quando estamos falando. Isso empobrece o texto. Observe que a escrita é uma representação da fala que exige algumas regras próprias. Por exemplo, os sinais de pontuação. Quando falamos, fica claro pela entonação ou mesmo pela linguagem cor- poral e/ou facial do falante, que tal enunciado é uma pergunta. Por outro lado, quando escrevemos é necessário a inserção do ponto de interrogação para que o leitor compreenda a pergunta no texto. Assim, se for intencional, podemos usar a linguagem informal, por exem- plo, na regionalidade das falas dos personagens de um texto. Linguagem Verbal e Não Verbal A linguagem verbal é aquela expressa através de palavras escritas ou fala- das, ou seja, a linguagem verbalizada. Já a linguagem não verbal utiliza dos signos visuais para ser efetivada, por exemplo, as imagens nas placas e as cores na sinalização de trânsito. Vale ressaltar que ambas são modalidades comunicativas, sendo a comu- nicação definida pela troca de informações entre o emissor e o receptor com a finalidade de transmitir uma mensagem (conteúdo). Nesse sentido, a linguagem representa o uso da língua em diversas situa- ções comunicativas. As duas modalidades são muito importantes e utilizadas no dia a dia, no entanto, a linguagem verbal é a mais empregada. Quando escrevemos um e-mail, utilizamos a linguagem verbal, expressa pela escrita, e quando observamos as cores do semáforo, estamos diante da lin- guagem visual (não verbal). Em resumo, se a transmissão de informações na mensagem é realizada me- diante o uso de palavras, trata-se de um discurso verbal. Caso contrário, se a mensagem não é produzida pela escrita, estamos utilizando um discurso com linguagem não-verbal. Linguagem Mista Além da linguagem verbal e não verbal há a linguagem mista (ou híbrida), a qual agrega essas duas modalidades, ou seja, utiliza a linguagem verbal e não verbal para produzir a mensagem. Um exemplo de linguagem mista são as histórias em quadrinhos, em que acompanhamos a história por meio dos desenhos e falas das personagens. Linguagem Formal e Informal As duas variantes linguísticas da língua podem ser classificadas em lingua- gem formal, chamada de linguagem culta, e a linguagem informal, também de- nominada por linguagem coloquial. Assim, enquanto a linguagem formal é utilizada através das normas gra- maticais (por exemplo, numa entrevista de emprego), a linguagem informal é aquela espontânea e despreocupada com as regras (por exemplo, numa conversa entre amigos). Podemos citar inúmeros exemplos de linguagem verbal e não verbal uma vez que recebemos esses dois tipos de mensagens todos os dias sem nos darmos conta de sua diferença. Quando assistimos uma palestra (ou uma aula) estamos decodificando a mensagem do palestrante (emissor), o qual se expressa por meio do signo lin- guístico (palavra e expressões). Nesse caso, a comunicação verbal está sendo efetivada e a palavra é o có- digo utilizado. Outros exemplos de comunicação verbal são: diálogos, leitura de livros, revistas, dentre outros. Por outro lado, quando estamos assistindo uma apresentação teatral em que o ator se expressa por mímicas (linguagem corporal) e não emite nenhuma pa- lavra, estamos diante da linguagem não verbal. Outros exemplos de linguagem não verbal podem ser: linguagem corporal, gestos, pinturas, esculturas, apresentações de dança, dentre outros. Veja esta tira de Luis Fernando Verissimo: A tira é construída em três cenas. Nelas, se verifica uma si- tuação de conversação entre os personagens envolvidos. A filha é quem representa papel de locu- tor, isto é, a pessoa que fala, na primeira cena. Os pais são os in- terlocutores, isto é, as pessoas com quem se fala. Essa tira re- trata uma situação de comunica- ção, pois as pessoas interagem pela linguagem, de tal forma que modificam o comportamento do outro. Assim, o que uma pessoa transmite a outra na forma de lin- guagem chama-se mensagem. A comunicação ocorre quando, ao emitirmos uma mensagem, nos fazemos compreender por uma pessoa. Em um ato de comunicação não estão em jogo somente palavras, mas tam- bém gestos e movimentos. Quando empregamos esses elementos com a inten- ção de estabelecer uma comunicação, estamos usando diferentes linguagens. Essa Linguagem, por conceito, é a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas. Tais sinais que permitem o ato de comunicação são os chamados signos linguísticos. Segundo o escritor e linguista Umberto Eco, define-se como signo aquilo que “à base de uma convenção social previamente aceita, possa ser en- tendido como algo que está no lugar de outra coisa”. Por exemplo, quando se diz que alguém é uma raposa, por uma convenção, estabelece-se que se trata de alguém esperto, por uma analogia com o animal, o vocábulo “raposa” está em lugar de “esperto” no contexto. A partir desses conceitos, percebe-se que, na tira, houve uma falha na co- municação entre o pai e namorado da filha. O rapaz não entendeu a mensagem porque a palavra “Shakespeare”não representa um signo para ele, não comunica nada: o nome do escritor inglês é interpretado como algo para beber. Os signos podem ser verbais (as palavras) ou não verbais (gestos, símbolos, cores, até o tom de voz). Repare que em um anúncio de sorvetes, por exemplo, há, normalmente, sol e uma luz alaranjada, signos que representam o calor. Da mesma maneira, propagandas que querem sugerir uma certa intelectualidade costumam usar atores com óculos, signo de uma possível bagagem cultural. Tais signos, juntos, ajudam o interlocutor a perceber a intenção da mensagem que se quer passar. São signos os sinais verbais ou não verbais, que apresentam dois eixos de significação: uma parte perceptível (sons, letras) e uma parte inteligível (con- ceito). Assim, no campo das palavras, entende-se por signo linguístico a unidade constituída de expressão e de conteúdo, de significante e de significado, respec- tivamente significante → coroa significado → 1. arranjo de flores; 2. ornamento de reis, rainhas; 3. idoso. Veja que a propaganda acima explora os recursos do significado do signo “coroa”. Por se tratar de uma propaganda de empresa funerária, a palavra está ligada ao arranjo de flores presente em funerais; no entanto, a figura do senhor em destaque também faz alusão à gíria usada para idosos, ou seja, arranjar uma companheira. Leia este anúncio da LPCE (Liga portuguesa contra epilepsia): (Recolhido do site: http://www.lpce.pt) A intenção do anunciante é divulgar a ideia do voluntariado para ajudar à associação. Os questionamentos dirigidos ao público (“Sente necessidade de ser útil? Necessidade de dar apoio e suporte?”) se juntam à conclusão simples, po- rém fundamental: “com pequenos gestos podemos melhorar a vida de outras pessoas… seja voluntário”. Repare que o anúncio mostra várias mãos juntas como num “cabo de guerra”. Tal procedimento dá ao público uma imagem de que a associação pre- cisa de sua colaboração nesse “jogo”. Ora, essa imagem nos remete à ideia de que quanto mais pessoas estiverem ajudando, a tarefa a ser cumprida será menos árdua. A imagem das mãos no “cabo de guerra” é, portanto, um sinal que ajuda a perceber a intenção da mensagem do anúncio. É um signo não verbal. O ser humano utiliza diferentes tipos de linguagem, como a da música, da dança, da pintura, da fotografia. Essas várias linguagens se organizam em dois grupos: a linguagem verbal, que tem por unidade os signos verbais, as palavras; e as linguagens não verbais, que têm como unidade signos não verbais, como o gesto, a imagem, o movimento, como analisado acima. Há, ainda, as linguagens mistas, como a das histórias em quadrinhos, o cinema, a televisão, que utilizam a palavra e a imagem. Numa situação de comunicação, se empregamos palavras, gestos, movi- mentos, estamos empregando um código. Código é um conjunto de sinais con- vencionados socialmente para a transmissão da mensagem. Não só as palavras, gestos, são códigos, mas também os sinais de trânsito, os símbolos, o código morse, as buzinas de automóveis. É importante notar que só haverá comunicação utilizando um código se os interlocutores tiverem essa convenção internalizada. Determinados gestos podem representar sentidos di- ferentes dependendo das comunidades em que se vive. Na nossa comunidade, usamos a língua portuguesa como principal código. Língua é um tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si. Em cada sistema linguís- tico, há regras de diversas naturezas, sejam lexicais, sejam sintáticas. Quando escutamos palavras como love ou sun, percebemos que estamos diante do có- digo empregado na língua inglesa, pois se trata de palavras do vocabulário desse idioma. Porém, dominar bem uma língua não significa apenas saber seu vocabulá- rio; é preciso também ter domínio de suas leis combinatórias, de suas ordens internas, de sua sintaxe. Saber, por exemplo, que no código da língua inglesa o adjetivo vem sempre anteposto ao substantivo, enquanto que, na língua portu- guesa, a anteposição do adjetivo pode, inclusive, alterar o sentido da palavra. Outro traço fundamental em jogo nesse sistema linguístico é o aspecto fo- nético. Quantas vezes ouvimos nas resenhas internacionais sobre jogos da sele- ção brasileira a pronúncia “errada” do meio-campo Falcão, hoje comentarista de futebol? Invariavelmente ouvíamos “Falcao”, sem o til. Essa nasalização, característica da língua, causa dificuldades em falantes não nativos. Da mesma maneira, nós, falantes de língua portuguesa, apresentamos grandes dificuldades para a realização de certos fonemas de outros códigos linguísticos, como a pro- núncia do inglês the (com a língua entre os dentes, inclusive), ou ainda o ich alemão. Além disso, um conhecedor da língua é, presumivelmente, um conhecedor das nuances que regem essa língua. Um estrangeiro poderá ter dificuldades ao receber como resposta um “pois não”. Entrar na “lista negra” não significará uma cor dessa tal lista. Quando se fala em saber usar a língua, percebe-se que a intenção do falante é o que realmente importa, ele é o sujeito dessa ação e é fundamental dominá-la, até mesmo para jogar com suas possibilidades, com suas ambiguidades, seus duplos sentidos. Em outras palavras, em uma situação de conversação, será sempre o falante o sujeito da ação de escolher os enuncia- dos que melhor se ajustem às suas intenções. Toma-se um exemplo recolhido da fala do professor Agostinho Dias Carneiro, em uma palestra para professores de Língua Portuguesa no Colégio Pedro II: A menina, adolescente, chega a casa altas horas da noite. O pai, sisudo, esperando por ela: – A senhora sabe que horas são? – O pneu do carro do Rodrigo furou. – Que isso nunca mais se repita. Repare que a menina não respondeu ao que o pai perguntou. Ela jogou com a língua da maneira mais conveniente para ela. E o pai, ao lançar a fala final, definitiva, sabe que, na maioria dos casos, aquilo se repete, sim. Um usuário da língua deverá entender a nuance que regeu esse diálogo, no qual não vale o que se está dizendo, mas o que está subentendido. Dessa forma, como afirma o linguista russo Mikhail Bakhtin, a verdadeira substância da lín- gua não está num sistema abstrato de formas linguísticas, mas no fenômeno social da interação verbal, realizado através da enunciação. Diz ele: “A intera- ção verbal constitui assim a realidade fundamental da língua”.
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