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direito civil - personalidade e capacidade - 01

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Esquem a t i zado – P r o f e s so r S t an l e y C o s ta 
P í l u l a s d e C i v i l – C on cu r so s Púb l i c o s e Exam e s da OAB 
 
 
Professor Stanley Costa 
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Dose #01 – Personalidade e Capacidade 
 
 
1. PESSOAS NATURAIS 
Considera-se pessoa o ente jurídico susceptível de direitos e deveres na ordem civil, 
trata-se, pois, do sujeito das relações jurídicas (sujeito de direito). De acordo com Carlos 
Roberto Gonçalves (2015, p.104): “Relação jurídica é toda relação da vida social regulada pelo 
direito (...). O direito subjetivo (facultas agendi) consiste numa relação jurídica que se estabelece 
entre um sujeito ativo, titular desse direito, e um sujeito passivo, ou vários sujeitos passivos, 
gerando uma prerrogativa para o primeiro em face destes”. 
A ordem jurídica reconhece a existência de duas espécies de pessoas: (i) pessoa natural 
é o ser humano, ente dotado de complexidade biopsicológica, também chamada de pessoa 
física; (ii) pessoa jurídica é o agrupamento de pessoas naturais para alcançar um objetivo 
comum. 
Em nosso ordenamento jurídico, os animais não são considerados sujeitos de direitos e 
deveres, razão pela qual, por exemplo, não podem ser beneficiados com testamento. O que a 
lei autoriza é que o testamento seja destinado a uma pessoa com o encargo de cuidar de animais 
determinados. De igual modo, são excluídos do conceito de sujeitos de direitos as entidades 
místicas, como santos e almas. 
 
1.1. O início da pessoa natural 
Este certamente é o maior ponto de discórdia da parte geral do Direito Civil. Isto se deve 
ao fato de que o Código Civil, em seu artigo segundo, dispõe que “a personalidade jurídica da 
pessoa natural começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os 
direitos do nascituro”. Assim, de acordo com nosso Código Civil o nascimento com vida é o 
marco inicial da pessoa natural, esta é a chamada teoria natalista. 
Dissertando sobre a teoria natalista, o grande mestre Carlos Roberto Gonçalves leciona 
(2015, p.108): “Muitas são as críticas à mencionada teoria. Afirma-se, por exemplo, que, 
entendendo que o nascituro não é uma pessoa, admite a referida teoria que ele deve então ser 
tratado como uma coisa; olvida-se, ainda, de que há, no Código Civil, um sistema de proteção ao 
nascituro, com as mesmas conotações da conferida a qualquer ser dotado de personalidade”. 
Ainda sobre o tema, Flávio Tartuce expõe em seu Manual de Direito Civil (2017, p. 66): 
“(...) o art. 2º do CC/2002 continua colocando em colisão as teorias natalistas e concepcionistas. 
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A polêmica não foi encerrada pelo fato de a norma continuar a utilizar os termos nascimento e 
concepção. Na primeira parte, o artigo parece indicar que o nascituro não é pessoa, não tendo 
direito. Entretanto, na sua segunda parte afirma o contrário. (...) O grande problema da teoria 
natalista é que ela não consegue responder à seguinte constatação e pergunta: se o nascituro 
não tem personalidade, não é pessoa; desse modo, o nascituro seria uma coisa? A resposta 
acaba sendo positiva a partir da primeira constatação de que haveria apenas expectativa de 
direitos. (...) Do ponto de vista prático, a teoria natalista nega ao nascituro até mesmo os seus 
direitos fundamentais, relacionados com a sua personalidade, caso do direito à vida, à 
investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome e até à imagem. Com essa negativa, a 
teoria natalista esbarra em dispositivos do Código Civil que consagram direitos àquele que foi 
concebido e não nasceu. Essa negativa de direitos é mais um argumento forte para sustentar a 
total superação dessa corrente doutrinária”. 
Por tudo isso, apesar do disposto no artigo segundo do Código Civil, a teoria mais 
pacificamente adotada no Brasil, inclusive pelas cortes superiores, é a teoria concepcionista. De 
acordo com essa corrente a personalidade jurídica começa no momento da concepção, caso 
contrário, não seria possível o nascituro titularizar direitos. No ordenamento jurídico brasileiro 
são diversos os direitos do nascituro: (i) titularidade dos direitos de personalidade (ex.: direito à 
vida, integridade física e moral); (ii) é considerado herdeiro (CC, art. 1798); (iii) pode ser 
beneficiado por testamento (CC, art. 1.799); (iv) pode ser beneficiado por doação (CC, art. 542); 
(v) tem direito a alimentos; (vi) tem direito a saber quem é o pai; (vii) tem direito ao recebimento 
de DPVAT; etc. 
Existe ainda uma última corrente, denominada teoria da personalidade condicional. Os 
adeptos dessa teoria entendem que os direitos assegurados ao nascituro encontra-se em estado 
potencial, sob condição suspensiva. Desta forma, o nascituro seria uma pessoa condicional, pois 
a aquisição da personalidade acha-se sob a dependência de evento futuro incerto, qual seja, o 
nascimento com vida. Essa corrente esbarra, assim como a natalista, na quantidade de direitos 
que o ordenamento jurídico confere ao nascituro, os quais podem ser exercidos e defendidos, 
inclusive em juízo, antes mesmo de nascer. 
De qualquer forma, para você concurseiro, se a banca questionar sobre a TEORIA 
ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL, responda que é a TEORIA NATALISTA, por mais que a doutrina 
e a jurisprudência nos diga o contrário, porque o texto do artigo segundo expressamente 
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enuncia que “a personalidade jurídica da pessoa natural começa do nascimento com vida; mas 
a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. 
Independentemente da discussão sobre o início da personalidade, é necessário sabermos 
quando ocorre o nascimento com vida. O que efetivamente define o nascimento com vida é a 
respiração. Por meio de um exame clínico chamado docimasia hidrostática de Galeno, é possível 
aferir se os pulmões da criança chegaram a inflar ou não. Se isso aconteceu, então a criança 
nasceu com vida. 
Essa informação é de grande valor para o Direito, tanto que, de acordo com a Lei de 
Registros Públicos, se houve nascimento com vida e morte subsequente, é necessário a lavratura 
de dois assentamentos, o de nascimento e o de óbito (LPR, art. 53 §2º). No âmbito do direto 
sucessório, por exemplo, se alguém morre deixando a esposa grávida, o bebê já é herdeiro desde 
a concepção, entretanto, ele somente se tornará proprietário da herança se vier a nascer com 
vida. 
SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO 
TEORIA NATALISTA 
A personalidade civil começa do nascimento com vida. Teoria 
expressamente prevista no artigo segundo do Código Civil de 
2002. 
TEORIA CONCEPCIONISTA 
A personalidade civil começa no momento da concepção, 
tanto é verdade que o nascituro é titular de diversos direitos 
da personalidade. A ressalva fica por conta dos direitos 
materiais (propriedade, crédito e débito), que só podem ser 
titularizado após o nascimento com vida. Teoria mais aceita 
pelos doutrinadores e jurisprudência brasileira. 
TEORIA DA PERSONALIDADE 
CONDICIONAL 
Sustenta que o nascituro é uma pessoa condicional, pois a 
aquisição da personalidade está subordinada a evento futuro 
e incerto, qual seja, o nascimento com vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Concepturo Concepção Nascituro 
Nascimento com 
vida: Respiração. 
Nascimento sem 
vida: Natimorto. 
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2. PERSONALIDADE e CAPACIDADE JURÍDICA 
Personalidade Jurídica é a “aptidão genérica para ser titular de direito e deveres”. Nos 
termos do artigo 2º do Código Civil, “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com 
vida” (corrente natalista). Urge ressaltar a existência de uma forte corrente doutrinária e 
jurisprudencial, segundo a qual a personalidade se inicia no momento da concepção (corrente 
doutrinária majoritária) 
 No Direito, o atributo da personalidade é o que nos faz pessoas, “sujeitos de direitos e 
deveres”. Toda pessoa é dotada de personalidade e por isso merece proteção jurídica especial 
(direitos de personalidade). 
De acordo com as lições de Cristiano Chaves (2016, v. 1, p. 173), “a personalidade jurídica 
é o atributo que reconhecido a uma pessoa (natural ou jurídica) para que possa atuar no plano 
jurídico (titularizando as mais diversas relações) e reclamar uma proteção jurídica mínima, 
básica, reconhecida pelos direitos da personalidade”. 
A Capacidade Jurídica, por sua vez, é considerada doutrinariamente como sendo “a 
medida da personalidade”. Ela se classifica em duas modalidades: (i) capacidade de direito (de 
aquisição ou gozo); (ii) capacidade de fato (de exercício). 
A CAPACIDADE DE DIREITO (de aquisição ou gozo) é reconhecida a todas as pessoas, sem 
qualquer distinção, e trata-se da “aptidão para adquirir direitos e deveres na ordem privada”. 
É notório que o conceito se aproxima bastante da própria ideia de personalidade, por vezes até 
se confunde com ela. O que ocorre é que os termos são intimamente relacionados. A capacidade 
complementa a personalidade. 
O próprio Código Civil deixa isso evidente no seu primeiro artigo, ao afirmar que “toda 
pessoa (‘quem tem personalidade’) é capaz (‘tem capacidade de gozo’) de direitos e deveres na 
ordem civil”. Em suma, todo aquele que tem personalidade também tem capacidade de direito. 
Ocorre, todavia, que A RECÍPROCA NÃO É VERDADEIRA. Nem todo aquele que tem 
capacidade também tem personalidade. Existem alguns sujeitos que são dotados de capacidade, 
mas não possuem personalidade jurídica, são os chamados “entes despersonalizados”, tais 
como o espólio, a herança jacente, a herança vacante, a massa falida e o condomínio. 
O ente despersonalizado, como o nome sugere, não é dotado de personalidade, mas, por 
uma questão político/social, a lei o atribui a possibilidade de titularizar e exercer alguns direitos 
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e deveres relacionados à sua própria existência. É reconhecida aos entes despersonalizados, 
portanto, a capacidade de direito, o que permite que sejam sujeitos em relações jurídicas 
patrimoniais, mas, pela falta de personalidade, não podem, por exemplo, sofrer dano moral. 
Talvez a grande chave do entendimento seja compreender que a pessoa, além da 
possibilidade de adquirir e titularizar direitos e deveres na ordem privada, exatamente pelo fato 
de ter personalidade, recebe uma proteção especial do Estado, materializada nos direitos de 
personalidade. 
A CAPACIDADE DE FATO (de exercício), por sua vez, não se confunde em nada com os 
outros termos. A capacidade de fato é conceituada como a “aptidão para exercer de forma 
autônoma os atos jurídicos da vida civil”. Essa aptidão é gradual, podendo a pessoa ser 
considerada absolutamente incapaz; relativamente incapaz; e plenamente capaz. 
A capacidade de fato pressupõe a capacidade de direito. Todo aquele que tem 
capacidade de fato, necessariamente tem capacidade de direito. O contrário, entretanto, não 
acontece, nem todo aquele que tem capacidade de direito terá capacidade de fato, por exemplo, 
uma criança de 5 (cinco) anos de idade. 
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves, “por faltarem a certas pessoas alguns 
requisitos materiais, como a maioridade, saúde, desenvolvimento mental e etc., a lei, com o 
intuito de protege-las, malgrado não lhes negue a capacidade de adquirir direitos, sonega-lhes 
o de se autodeterminarem, de os exercer pessoal e diretamente, exigindo sempre a participação 
de oura pessoa, que as representa ou assiste” (2015, p. 96). 
!! ATENÇÃO !! 
• Personalidade Jurídica: É o que nos faz pessoa. Aptidão para ser sujeito de direitos e 
deveres. Aptidão para receber uma proteção especial mínima (direitos da personalidade). 
• Capacidade de Direito (aquisição ou gozo): Aptidão para adquirir direitos e deveres na 
ordem civil. Toda pessoa tem capacidade de direito. Nem todo aquele que tem capacidade 
tem personalidade (entes despersonalizados). 
• Capacidade de Fato (exercício): Aptidão para exercer individualmente os atos da vida 
civil. A pessoa pode ser plenamente capaz; relativamente incapaz; ou absolutamente incapaz. 
 
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