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Faculdade Brasileira – MULTIVIX Iris Melo Layla Garcia Raphael Comerio Ragner Freitas Marcus Mulinario PLANTAS TÓXICAS PARA EQUÍDEOS E RUMINANTES Vitória- ES 2020 SUMÁRIO: RESUMO......................................................................................................................03 1.INTRODUÇÃO .........................................................................................04 2.DESENVOLVIMENTO...............................................................................04 3. CONCLUSÃO........................................................................................13 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................14 RESUMO: A ocorrência de morte de bovinos e equinos causada por ingestão de plantas tóxicas no Brasil é frequente. Estas mortes súbitas normalmente se manifestam sem sinais clínicos e sem achados de necrópsia relevantes, gerando grandes perdas econômicas. De acordo com MELLO et al., 2010, a falta de alimentos e a escassez de pastagens de qualidade são os principais causadores das intoxicações. Palavras- chave: Plantas tóxicas, intoxicações. ABSTRACT: The occurrence of death of cattle and horses caused by ingestion of toxic plants in Brazil is frequent. These sudden deaths usually manifest themselves without clinical signs and without relevant necropsy findings, generating great economic losses. According to MELLO et al., 2010, the lack of food and the scarcity of quality pastures are the main causes of intoxications. Keywords: Toxic plants, intoxications. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, houve um aumento do interesse pelo estudo de plantas tóxicas, principalmente no Brasil, visto que hoje se qualifica como um dos maiores produtores de produtos de origem animal. De acordo com os dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, entre os meses de janeiro e maio de 2017 foram abatidos 8.583.436 bovinos em todo país e segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes – ABIEC e ANUALPEC, entre os meses de janeiro e março do mesmo ano foram exportadas 3.416.40 toneladas do produto (ABIEC, 2019; ANUALPEC, 2019). Com esses valores, reconhece-se o interesse de se conhecer as plantas que estão nas pastagens desses animais, pois a maioria destas fazem parte da base alimentar deles, quando criados em sistema extensivo. 2- DESENVOLVIMENTO I. SENECIO SPP A ingestão de Senecio spp. (família Asteracea) é, provavelmente, a principal causa de morte de bovinos por agentes tóxicos nas regiões central e sul do Rio Grande do Sul. As plantas deste gênero são conhecidas popularmente como maria-mole ou flor-das-almas. Essas plantas são anuais e encontram condições propícias de umidade, luminosidade, solo e temperatura para seu intenso desenvolvimento no Rio Grande do Sul. Senecio brasiliensis é uma planta perene, herbácea, ereta, de até 2m de altura. Possui caule glabro, cilíndrico, geralmente ramoso na parte superior, folhas alternadas, pecioladas, com a face inferior branco- pubescente e inferior glabra, de 10-20 cm de comprimento; capítulos radiados, com 40-50 flores de cor amarela. As espécies do gênero Senecio são geralmente pouco palatáveis, mas, mesmo assim, são ingeridas pelos bovinos principalmente, durante os meses de maio a agosto, que coincide com menor disponibilidade de forragem para o gado (MÉNDEZ & RIET-CORREA, 2008). Nesse período, as plantas apresentam maior concentração das substâncias tóxicas, por estarem em brotação. Os princípios ativos tóxicos são os alcaloides pirrolizidínicos e a biossíntese destes alcaloides inicia-se nas raízes da planta e são transportados para as folhas e flores, onde sofrem alterações moleculares, originando os diferentes tipos de alcaloides pirrolizidínicos. Esses alcaloides por si só não apresentam toxicidade, mas tornam-se tóxicos quando transformados no fígado a uma forma altamente reativa, conhecida como de-hidropirrolizidinas e depois o álcool pirrol. Os pirrois causam danos irreversíveis ao fígado e lesam as células hepáticas por inibição da mitose (efeito alquilante) causando megalocitose, necrose e redução no número de hepatócitos que são substituídos por tecido fibroso. Com isso, levam ao aparecimento do quadro clínico e até a morte decorrente à disfunção hepática. Alguns dos sinais clínicos apresentados pelos bovinos ao ingerir as plantas são: constante necessidade de defecar, apesar do reto estar vazio (tenesmo); prolapso retal, diarreia, decúbito e morte entre 24 e 72 horas (RIET-CORREA et al., 1998). Já nos equinos, há sinais clínicos de distúrbios neurológicos como depressão, ataxia, andar a esmo, pressão da cabeça contra objetos, dificuldade em apreender os alimentos, disfagia e cegueira (GAVA & BARROS, 1997). Outros sinais envolvem inapetência, perda de peso, cólica, lacrimejamento excessivo ou secreção ocular mucopurulenta, secreção nasal serosa, glossite diftérica ventral e crostas no plano nasal, tetos, ponta das orelhas e na vulva, edema subcutâneo, icterícia e fotossensibilidade. Os principais achados histopatológicos consistem em fibrose hepática. Testes de função hepática (indicativos da intoxicação), assim como os estudos histológicos de biopsias hepáticas podem ser eficientes para estabelecer um prognóstico naqueles animais não afetados clinicamente. De acordo com Barros et al. 2007, o diagnóstico por biopsia hepática é um meio rápido e seguro para detectar se os animais estão afetados ou não e permitir o abate antes que perdas econômicas maiores ocorram. Não existe tratamento específico nem sintomático que permita recuperar os animais com sinais clínicos da doença. Porém, há experimentalmente, tentativas de controle da intoxicação, alterando-se o processo de biotransformação hepática dos APs. usando aminoácidos para suprir a conjugação com os pirrois, como por exemplo, a cisteína (Spinosa et al. 2008). Figura 1- DIAGRAMA MOSTRANDO O PONTO PARA INTRODUÇÃO DA AGULHA DE BIÓPSIA- Fonte: Claudio S.L. Barros; Luis M.L. Castilho; Daniel R. Rissi; Glaucia D. Kommers; Raquel R. Rech Figura 2- Vaca afetada com fotossensibilidade devido à insuficiência hepática em toxicose por Senecio brasiliensis apresentando conjuntival hiperemia e secreção ocular mucopurulenta. Figura 3- Erosões e ulcerações do plano nasal coberto por crostas em uma vaca com fotossensibilidade devido a insuficiência hepática Figura 4-Biópsia hepática de uma vaca afetada no surto de seneciose. Perturbação da arquitetura hepática. Figura 5- Vulvite fibrinonecrosante e vestibulite. Vaca com fotossensibilidade devido a insuficiência hepática em Senecio brasiliensis. II. PTERIDIUM ESCULENTUM Conhecida como samambaia ou samambaia austral, é uma espécie do gênero samambaia nativa de vários países do hemisfério sul. Essa espécie cresce a partir de rizomas (caules) rastejantes, cobertos por pelos avermelhados. Deles surgem grandes frondes (conjunto de folhas) mais ou menos triangulares, que crescem até 0,5–2 metros de altura. As frondes são rígidas com uma faixa castanha. Sua distribuição geográfica parece estar ligada a diversos fatores abióticos como temperatura, umidade e pH. As samambaias possuem a mais ampla distribuição, ocorrendo em todos os continentes exceto na Antártica e em todos os ambientes, exceto nos desertos. No Brasil está distribuída em praticamente todos os estados, porém sua presença é mais notável nas regiões Sudeste e Sul. Podem ser encontradas principalmente em solos ácidos e de baixa fertilidade, pastagens, beiradas de estradas e campos nativos, esta espécie é a principal causade intoxicação por plantas tóxicas em bovinos no Estado de Santa Catarina. A toxidade da planta possui um efeito cumulativo, os sintomas variam da dose diária após uma ingestão e o tempo em que a planta está no organismo do animal, havendo três formas diferentes de intoxicação. Forma aguda (SHA): Diátese hemorrágica ou (suor de sangue). Os bovinos começam a manifestar sinais clínicos após algumas semanas da ingestão, sendo eles, perda de apetite, perda de peso, diarreia e corrimento sanguinolento pelas narinas, gengiva e trato gastrointestinal. Pode se observar as mucosas pálidas, febre e sangramento espontâneo em qualquer ferida. A morte pode acontecer de uma a duas semanas após a manifestação dos sintomas. Intoxicação crônica (HEB): Hematúria enzoótica bovina, se caracteriza pelo surgimento de tumores ou nódulos de coloração amarelada ou avermelhada na bexiga, além de coágulos sanguíneos. As mucosas do BO ficam pálidas, além da perda de peso, as vacas em lactação diminuem de forma significativa sua produção de leite, os sintomas podem persistir por mais de um ano, o animal urina sangue de maneira intermitente podendo evoluir a óbito. Intoxicação crônica: Essa forma costuma acometer o maior número de óbitos. Ocorre a formação de carcinomas (tumores) no trato digestivo superior, o animal tosse e demonstra dificuldade para engolir, também pode se observar regurgitação. Dentro da cavidade oral pode aparecer a formação de úlceras, esses sinais podem evoluir em um período de quatro meses levando em seguida o animal a óbito. Figura 6-Bexiga de animais com hematúria enzoótica provocada por ingestão de plantas de samambaia (C) Massas tumorais invasivas em superfície de corte da língua, de coloração brancacenta e áreas amareladas (correspondente às concreções de queratina). (D) Fígado, na superfície de corte, há uma massa tumoral branco amarelada dividida por septos de tecido conjuntivo fibroso, em múltiplos lóbulos comprimindo o parênquima hepático adjacente. (E) Rúmen, proliferação neoplásica invasiva de queratinócitos, com formação de pérolas de queratina. HE, obj.20x. (F) Observa-se infiltrado de linfócitos e plasmócitos na periferia da neoplasia, além de áreas multifocais de mineralização, em meio à massa tumoral. HE, obj.20x.. Fonte: Fabiana M. Boabaid; Luiz G.S. Oliveira2 , André G.C. Dalto, Paulo M. Bandarra, Felipe S. Souza, Luciana Sonne e David Driemeier. O diagnostico pode ser dado através da observação dos sinais clínicos presentes no bovino, caracterizando uma intoxicação. Pode ser feito um trabalho de necropsia nos animais que evoluíram a óbito para entender a causa e consequentemente intervir nos outros animais do rebanho. Esta doença não possui um tratamento em específico, mas pode ser feito algumas medidas paliativas, tais como o uso de antibióticos para evitar infecções secundárias e evitar o contato dos animais com a samambaia, retirando-os das áreas infestadas. III- LANTANA CAMARA Conhecida como camará, cambará, dentre outros. Se trata de um arbusto ornamental da família das verbenáceas. Essa espécie conta com um arbusto com 0,5-2m de altura, ramificado e pode conter espinhos ao longo dos galhos; folhas ovaladas, borda serreada, ápice agudo e textura razoavelmente áspera; inflorescências no final dos ramos, composta por flores pequenas e coloridas. É reconhecida como tóxica e a ingestão pode levar ao óbito. Essa planta tem colonizado novas áreas através de dispersão de sementes por pássaros, se espalha facilmente e se desenvolve com rapidez. Possui uma Ampla distribuição no Brasil, com ocorrência desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul. Nativa das Américas, o camará está presente em 60 países, causando perda nos rebanhos bovinos. O principal fator para que ocorra a intoxicação está relacionado a baixa oferta de alimentos associada à presença de alguma espécie de Lantana tóxica na pastagem. Todas as partes da planta são tóxicas, principalmente os frutos, os dois principais compostos ativos conhecidos são os ácidos triterpenos pentacíclicos, sendo os dois principais o lantadeno A e o lantadeno B, que causam danos ao fígado e a fotossensibilização. Esses princípios ativos atuam diretamente no fígado causando lesões que impedem a excreção biliar de agentes tóxicos resultantes do metabolismo animal. Os sinais podem vir a se manifestar em até duas etapas, sendo que na primeira o animal irá se encontrar em um estado de anorexia e diminuição ou parada dos movimentos no rúmen, também pode se observar fotossensibilização na forma de eritema, edema pulmonar e necrose das partes despigmentadas da pele, inquietação, icterícia, urina cor amarelo escuro ou marrom. Os animais que sobrevivem aos sinais da primeira etapa, seguem para segunda, se manifestando por aparecimentos de fendas cutâneas com desprendimento de pedaços da pele, formação de feridas expostas e com mau cheiro, os animais exibem bom apetite, o rúmen funciona normalmente, as fezes ficam normais, não se observa mais inquietação, icterícia ou alterações na cor da urina. A cura completa das feridas da pele pode levar semanas ou até meses. Figura 1. (A) Arbusto de Lantana spp. em meio à pastagem nativa; (B) animal fotofóbico e fraco deitado à sombra; (C) dermatite fotossensível com rachaduras e exsudação nas pregas da cauda; (D) focinho, olhos e orelhas com sintomas da doença Figura 7- Animal fotofóbico O exame histopatológico frequentemente revela vacuolização citoplasmática e necrose hepática, além de lesões dos túbulos renais (OBWOLO e ODIAWO, 1991). O diagnóstico para esta intoxicação deve ser relacionado com os sinais clínicos, observando se tem a presença desta planta nas pastagens. De acordo com Garcia et al., 2008, os métodos profiláticos devem ser aplicados a fim de se evitar as intoxicações. Entre eles estão o uso de cercas evitando acesso a áreas infestadas, erradicação da planta e utilização de suplementação alimentar, sobretudo nas épocas de escassez de alimento. O tratamento pode ser iniciado logo quando se observa o animal, retirando-o do sol. Pode ser administrado carvão ativado, por sonda intraruminal ou bentonita, na mesma dose. Também pode ser administrado vitaminas do complexo B e bilirrubina oxidase. 3- CONCLUSÃO O manejo de plantas tóxicas não é fácil e nem mesmo apto de se fazer a curto prazo. O estabelecimento e a disseminação dessas plantas ocorrem, principalmente, pelo desconhecimento do problema, pelo desinteresse do produtor rural e pela falta de planejamento a longo prazo. É importante lembrar que erradicar as espécies nem sempre é possível, mas deve-se reduzir os níveis de infestação, necessitando de conhecimento técnico para tal. Identificar corretamente as espécies, monitorar periodicamente as áreas e estabelecer planos de controle é a melhor decisão para tentar reduzir as mortes de animais por ingestão de plantas tóxicas nas pastagens do Brasil. 4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/- /publicacao/1088952/plantas-toxicas-em-pastagens-samambaia-do-campo-pteridium- esculentum-subsp-arachnoideum-kaulf-thomson-familia-dennstaedtiaceae> • Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/IhAFHI1wbILEG2C_201 3-6-25-16-29-55.pdf> • Disponível em: <http://plantastoxicas-venenosas.blogspot.com/2009/06/flor- das-almas.html#.YGzHauhKjIU> • Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/- /publicacao/1088952/plantas-toxicas-em-pastagens-samambaia-do-campo- pteridium-esculentum-subsp-arachnoideum-kaulf-thomson-familia- dennstaedtiaceae> • Disponível em: <https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fpublicacoes.epagri.s c.gov.br%2FRAC%2Farticle%2Fdownload%2F648%2F550%2F4415&psig=AO vVaw3lgDUmiKYwPSKncwHNmZhj&ust=1618437866568000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjhxqFwoTCLD0-P2d_O8CFQAAAAAdAAAAABAO> • Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 736X2011000700010> • Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/169780/1/COT-83- Plantas-Toxicas-Senecio.pdf> • Disponível em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100- 736X2010000500013&script=sci_arttext> • Disponível em: <http://herbarioturmanoturno.blogspot.com/2015/03/grupo-4- senecio-brasiliensis.html> • Disponivel em: <https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100- 736X2017001201423> • Disponivel em: <https://www.pubvet.com.br/uploads/d1ae0e51c1e9ee568c70f33c31c207e2.pd f>
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