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a microbiota humana

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1 
 
A MICROBIOTA HUMANA 
 
Entende-se por microbiota do organismo a presença de micro-organismos que 
estabelecem residência permanente ou não, sem causar infecções ou nenhum outro dano 
ao hospedeiro em situações normais. 
Importante salientar que: a distribuição dos microrganismos pelo seu organismo 
ocorre de forma heterogênea, ou seja, diferentes partes do seu corpo abrigam diferentes 
seres. Isso se deve ao fato que cada região do seu corpo possui diferentes faixas de pH, 
temperatura, disponibilidade de nutrientes, dentre outros fatores que atraem esses seres 
microscópicos. 
A microbiota pode ser dividida em: 
a) transitória ou alóctone: compreendendo os micro-organismos que permanecem 
por pouco tempo no organismo, sem estabelecer uma colonização significativa. Órgãos 
como esôfago, estômago e pulmões normalmente abrigam essa população. 
b) residente ou autóctone: compreendendo os micro-organismos que colonizam o 
organismo em condições de simbiose com o hospedeiro, por período de tempo 
indeterminado, em situações normais. Órgãos como boca e intestino grosso são comuns 
a esse tipo de grupo. 
Alguns fatores são importantes que afetam essa microbiota são: idade, sexo, 
estresse, hospitalização, condições socioeconômicas e, principalmente, condições de 
higiene. 
A instalação dessa microbiota ainda é um assunto em estudo. Durante a gestação, 
o ambiente uterino é estéril e o recém-nascido passa a ser colonizado ainda no canal 
vaginal materno, durante o parto normal. Crianças nascidas de parto cesáreo passam a ser 
colonizadas logo após o nascimento, por micro-organismos maternos, do ambiente local 
e da equipe médica que o manipula. 
Com poucos dias de vida, o recém-nascido já se encontra totalmente colonizado, 
porém, o tempo que a microbiota residente leva para se estabelecer pode variar, levando 
até dois anos para se estabilizar, como é o caso da microbiota intestinal. 
1.Relembrando conceitos 
 A relação entre a microbiota normal e o hospedeiro é chamada de simbiose, uma 
relação entre dois organismos na qual pelo menos um é dependente do outro. A simbiose 
abrange, principalmente, três mecanismos de relação. São eles: mutualismo, 
comensalismo e parasitismo. 
 
2 
 
 
1.1.Comensalismo 
Um dos organismos beneficia-se, enquanto o outro não é afetado. Muitos dos 
microrganismos que fazem parte da nossa microbiota normalmente são comensais; 
incluindo Staphylococcus epidermidis, que habita a superfície da pele, as corinebactérias, 
que habitam a superfície do olho, e determinadas micobactérias saprofíticas, que habitam 
o ouvido e as genitálias externas. Essas bactérias vivem em secreções e células 
descamadas e não trazem nenhum benefício ou prejuízo aparente para o hospedeiro. 
1.2.Mutualismo 
É um tipo de simbiose que beneficia ambos os organismos. Por exemplo, o 
intestino grosso contém bactérias, como a E. coli, que sintetizam vitamina K e algumas 
vitaminas do complexo B. Essas vitaminas são absorvidas pela corrente sanguínea e 
distribuídas para uso pelas células do corpo. Em troca, o intestino grosso oferece 
nutrientes utilizados pelas bactérias, permitindo a sua sobrevivência. 
1.3.Parasitismo 
Um organismo beneficia-se obtendo nutrientes à custa de outro organismo. Muitas 
bactérias causadoras de doenças são parasitas. 
 
2. Principais microrganismos encontrados pelo organismo 
 
2.1.Pele 
A microbiota da pele encontra-se aderida à superfície do extrato córneo e no 
interior do folículo piloso. Uma vez que a microbiota do extrato córneo é removida por 
processos mecânicos ou químicos, a microbiota do folículo piloso é a responsável pela 
recolonização da pele, e em até 8 horas, a microbiota já está restabelecida. 
 A microbiota normal da pele contem números relativamente altos de bactérias 
gram-positivas, como os estafilococos e os micrococos. Essas bactérias tendem a ser 
encontradas sem soluções concentradas de sal ou açúcar. A pele ou epiderme não é um 
ambiente muito favorável para colonização por diversos fatores, porém possui outras 
áreas com características favoráveis a proliferação bacteriana. Algumas considerações 
importantes: 
 
3 
 
• em algumas partes do corpo, como axilas, ouvido, palmas, períneo e região anal, 
a quantidade de água disponível é suficientemente alta para albergar uma 
microbiota residente; 
• o pH (4-6) da pele é levemente ácido, devido a quantidade de ácidos orgânicos 
produzidos por estafilococos (mutualismo) e secreções oleosas e salinas, pelas 
glândulas sebáceas e sudoríparas, respectivamente. Esse pH faz com que certos 
microrganismos não sejam capazes de se instalar. O suor contém cloreto de sódio, 
fazendo com que a pele se torne hiperosmóstica, acarretando assim um estresse 
osmótico nas bactérias; 
• ocorre, na pele, a produção de lisozima (muramidase) pelas glândulas sudoríparas, 
enzima esta que é capaz de lisar a parede celular de Staphylococus epidermidis; 
• as glândulas sebáceas secretam lipídeos complexos que podem ser parcialmente 
degradados por enzimas produzidas por Propionibacterium acne (coco Gram 
positivo) e transformados em ácidos graxos insaturados que tem atividade 
microbicida em determinadas espécies de bactérias e fungos. Alguns desses óleos 
são voláteis e podem causar um certo odor; 
#detalhe: Os produtos secretados por tais glândulas, também servem de nutrientes (água, 
uréia, eletrólitos e ácidos graxos), especialmente para S. epidermidis e corinebactérias 
(comensalismo). Bactérias Gram negativas normalmente são encontradas em locais mais 
úmidos. 
 
Staphylococus epidermidis 
 
4 
 
 
2.2. Ouvido externo 
A microbiota normal do ouvido 
externo é muito semelhante à da pele, 
com estafilococos coagulase negativa e 
Corynebacterium, predominantemente. 
Menos freqüentes estão os Bacillus, 
Micrococcus e algumas espécies de Neisseria. 
Alguns bacilos Gram negativos também 
podem estar presentes, como Proteus, 
Escherichia e Pseudomonas, 
ocasionalmente. Alguns fungos também podem 
ser encontrados nesta aéreacomo os dos gêneros Aspergillus, Alternaria, Penicillum, 
Candida e Saccharomyces. 
 
2.2.Olho 
As células epiteliais que cobrem os olhos podem ser consideradas como uma 
continuação da mucosa ou da pele. Muitos micróbios podem infectar os olhos, 
principalmente através da conjuntiva, a membrana mucosa que recobre a parte interna das 
pálpebras e a região branca dos globos oculares. Ela é uma camada transparente de células 
vivas que substituem a pele. A conjuntiva pode ser estéril ou estar colonizada por ureus, 
corinebactérias (difteróides) e S. pneumoniae. Culturas da córnea e da conjuntiva também 
podem apresentar Brahamella catarrhalis, Escherichia, Klebsiella, Proteus, Enterobacter, 
Neisseria e algumas espécies de Bacillus; poucos anaeróbios estão presentes. 
2.3.Vias aéreas 
Vários microrganismos potencialmente patogênicos fazem parte da microbiota 
normal do trato respiratório superior. Entretanto, geralmente não causam doença, uma 
vez que os microrganismos predominantes da microbiota normal suprimem seu 
crescimento competindo com eles por nutrientes e produzindo substâncias inibidoras- 
fenômeno que chamamos de antagonismo. Em contrapartida, o trato respiratório inferior 
é quase estéril– embora a traqueia possa conter algumas bactérias –, devido ao 
funcionamento geralmente eficaz do elevador ciliar nos brônquios. 
As fossas nasais são colonizadas predominantemente por Staphylococcus e 
Corynebacterium. Há indivíduos que após receberem antibióticos β-lactâmicos passam a 
serem colonizados por Klebsiella pneumoniae, E. coli e P. aeruginosa, devido à supressão 
ou redução da microbiota da região. 
Na faringe e traqueia encontramos Streptococcus alfa-hemolíticos e não 
hemolíticos, Neisseria, Staphylococcus, difteróides, Haemophilus e Mycoplasma. Os 
bronquíolos e alvéolos são normalmente estéreis. 
SAIBA MAIS... 
O gênero Staphylococcus é um 
dos principaiscolonizadores da 
pele humana. S. epidermidis 
está presente como principal 
componente da microbiota da 
pele em 90% da população; já S. 
aureus é encontrado em torno 
de 10 e 40%. 
 
5 
 
 
2.4.Trato Geniturinário 
A urina normal é estéril, porém pode se tornar contaminada com a microbiota da 
pele próxima ao final de sua passagem pela uretra. Assim, a urina coletada diretamente 
da bexiga tem um menor número de micróbios contaminantes que a urina eliminada 
normalmente. 
Em se tratando das mulheres: quando a menina nasce, o nível de estrogênio materno 
presente no organismo estimula a proliferação de Lactobacillus, gênero dominante nos 
primeiros seis meses de vida. A presença de Lactobacillus (mutualismo) em mulheres 
saudáveis é importante na manutenção do equilíbrio da microbiota, uma vez que as 
bactérias deste gênero fermentam o glicogênio presente na vagina, diminuindo o valor do 
pH local, criando, assim, um ambiente desfavorável às bactérias com crescimento em pH 
neutro. A maior parte dos lactobacilos da vagina produz peróxido de hidrogênio, que 
também inibe o crescimento de outras bactérias. O estrogênio (hormônio sexual) promove 
o crescimento dos lactobacilos pelo aumento da produção de glicogênio pelas células do 
epitélio vaginal. O glicogênio é rapidamente decomposto em glicose, que os lactobacilos 
metabolizam em ácido láctico. Outras bactérias, como os estreptococos, vários anaeróbios 
e algumas gram-negativas, também são encontradas na vagina. O fungo leveduriforme 
Candida albicans é parte da microbiota normal de 10 a 25% das mulheres, mesmo que 
elas sejam assintomáticas. 
Durante a pré-menarca e a menopausa, o valor do pH vaginal aumenta e a 
população de Lactobacillus já não é mais tão abundante, coexistindo com 
Corynebacterium, Staphylococcus e Escherichia. A gravidez e a menopausa 
frequentemente são associadas a altas taxas de infecções no trato urinário. A razão é que 
os níveis de estrogênio são mais baixos, resultando em populações menores de 
lactobacilos e, portanto, em menor acidez vaginal. 
A uretra masculina normalmente é estéril, exceto por contaminações microbianas 
próximas à abertura externa. A microbiota da uretra é composta basicamente por 
Staphylococcus epidermidis, Corynebacterium, Streptococcus e E. coli. 
 
 
 
6 
 
 
 
 
2.5.Trato gastrointestinal 
 
É no trato gastrointestinal que temos a maior quantidade e diversidade de espécies da 
nossa microbiota. 
 
A cavidade oral contém microrganismos capazes de resistir a remoção mecânica 
que acontece na superfície das gengivas e dentes. Aqueles que não são capazes de se 
aderir acabam sendo removidos durante o movimento da saliva na boca sendo levados ao 
estômago e destruídos pelo ácido clorídrico. A contínua descamação celular que acontece 
na superfície do epitélio também contribui para sua remoção. Aqueles microrganismos 
capazes de colonizar a boca encontram um ambiente bastante propício para crescimento, 
já que existe água e nutrientes em abundância, pH neutro, temperatura e a presença de 
outros fatores de ajudam o crescimento. A boca é colonizada horas após o nascimento. 
Inicialmente é composta por Streptococcus, Neisseria, Actinomyces, Veillonella e 
Lactobacillus. Algumas leveduras também estão presentes. A maioria dos 
microrganismos da boca são aeróbios e anaeróbios obrigatórios. 
Quando o primeiro dente nasce, os anaeróbios (Porphyromonas, Prevotella e 
Fusobacterium) tornam-se predominantes devido ao ambiente anaeróbio criado no espaço 
entre os dentes e gengivas. Quando os dentes começam a crescer, Streptococcus sanguis 
e S. mutans aderem a sua superfície; S. salivarius (mutualismo) adere à superfície epitelial 
da boca e da gengiva e coloniza a saliva. Esses estreptococos produzem glicocálix e outros 
fatores de aderência que contribuem para sua adesão as superfícies da cavidade oral. A 
presença dessas bactérias contribui para a formação de biofilme, cáries, gengivite e 
doença periodontal. 
Alguns microrganismos da boca desembocam no estômago, onde o pH é bastante 
baixo, chegando a valores entre 2 e 3, o que acarreta a morte de tais microrganismos. Por 
esta razão o estômago contém menos de 10 bactérias viáveis por milímetro de fluido 
 
7 
 
gástrico. As mais frequentes são as dos gêneros Sarcina, Streptococcus, Staphylococcus, 
Lactobacillus, Peptostreptococcus e algumas leveduras como Candida. Caso ultrapassem 
rapidamente o estômago, ou sejam ingeridos com a comida, alguns microrganismos 
podem até resistir ao baixo pH, como é o caso das micobactérias. 
 
O duodeno contém poucos microrganismos porque recebe o suco gástrico, a ação 
da bile e a secreção pancreática. Cocos e bastonetes Gram positivos, Enterococcus 
faecalis, Lactobacillus, difteróides e leveduras (Candida albicans) estão normalmente 
presente no jejuno. Na porção distal do íleo, a microbiota torna-se mais parecida com a 
do cólon. É no íleo que o pH se torna mais alcalino. Com isso bactérias anaeróbias Gram 
negativas e membros da família Enterobacteriaceae começam a se estabelecer. 
O intestino grosso ou cólon apresenta a maior comunidade microbiana no corpo. 
O cólon pode ser visto como um local onde ocorre uma enorme fermentação e a 
microbiota consiste basicamente de anaeróbios, Gram negativos, não formadores esporos, 
e bastonetes Gram positivos formadores de esporos e não formadores de esporos. Não 
apenas a maioria dos microrganismos é de anaeróbios, mas várias espécies estão presentes 
e em grande número. 
 
 Devido a presença de produtos ácidos, originados de processos fermentativos, o 
valor do pH luminal é, aproximadamente, 5,5. Este ambiente levemente acidificado 
permite a competição entre as bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta 
(AGCC), e bactérias que utilizam carboidratos, como Bacteroides spp., além de estimular 
a produção de butirato. A diminuição desse valor do pH, dificulta a permanência de 
bactérias do gênero Eubacterium, utilizadoras de lactato, e com isso, permitem acúmulo 
de ácido láctico. 
 
8 
 
 A presença de butirato no cólon intestinal é responsável por modificações da 
microbiota. Os substratos butirogênicos levam a modulação da população microbiana 
colônica, induzindo a multiplicação de espécies produtoras de butirato e permitindo um 
equilíbrio entre a presença de Eubacterium spp. e Bifidobacterium spp. Bactérias 
produtoras de butirato são capazes de fermentar produtos do metabolismo de 
oligossacarídeos produzidos por bifidobactérias. Produtos intermediários de processos 
fermentativos de bifidobactérias da microbiota, como lactato, por exemplo, são 
encontrados em baixas concentrações em indivíduos saudáveis, pois são 
metabolizados por Eubacterium spp. 
O equilíbrio da diversidade na microbiota intestinal é mediado por interações 
bacterianas que modulam a composição da microbiota controlando a densidade celular. 
Essas interações são observadas tanto na produção de AGCC como visto acima, como 
também no controle de expressão gênica por “quorum sensing”. Bactérias benéficas 
controlam via “quorum sensing” a densidade polulacional de bactérias patogênicas 
presentes na microbiota, como Clostridium, por exemplo. 
A mucosa intestinal humana é a principal interface entre o sistema imunológico e 
o ambiente externo. O intestino é considerado o maior órgão imunológico do corpo 
humano, abrigando cerca de 80% das células imunológicas e é responsável pela produção 
de um terço de anticorpos, necessários ao Sistema Imunológico Inato e Adaptativo, além 
de modular as funções digestivas, imunológicas, metabólicas, endócrinas e o tropismo 
intestinal. 
O padrão de produção de anticorpos pelos linfócitos B intestinais é diferente do 
sistema imunológico sistêmico, de maneira que o isótipo de imunoglobulina produzido 
preferencialmente é a IgA, que possui várias funções importantes na proteção das 
superfícies mucosas. São produzidos dímerosde IgA ligadas a um componente secretório, 
sendo o complexo molecular chamado IgA secretória, diferente daquela encontrada no 
sangue. Esta IgA secretória alcança o lúmen intestinal e reage com antígenos específicos, 
impedindo a interação física dos agentes nocivos com a superfície da mucosa. 
 
3.A microbiota da criança até o adulto 
As bactérias anaeróbias facultativas como E. coli, Enterococos faecalis e E. 
faecium são as primeiras bactérias a colonizarem o TGI do recém-nascido, devido ao 
elevado teor de oxigênio que existe inicialmente. À medida que estas bactérias consomem 
o oxigênio, o meio se torna mais adequado para as bactérias anaeróbias restritas, como 
Bifidobacterium, Bacteriodes e Clostridium. Depois disso, pouco se conhece sobre quem 
são e como e quando se dá a entrada dos outros componentes do ecossistema digestivo. 
A microbiota da criança que nasce por parto vaginal é derivada inicialmente da 
microbiota fecal materna que contamina o canal de parto. Mais tarde a criança adquire 
bactérias presentes nos alimentos e no meio ambiente. Na criança que nasce por meio de 
parto cesáreo, não há participação da microbiota fecal materna, e o estabelecimento da 
microbiota intestinal normal é mais tardio. 
 
9 
 
As crianças amamentadas com leite materno têm mais bifidobactérias e 
estafilococos na microbiota intestinal, em relação às que tomam mamadeira que têm 
maior número de enterococos e clostrídeos. O leite materno favorece o crescimento de 
alguns grupos bacterianos de importância para a saúde do hospedeiro como as 
bifidobacterias cujo crescimento é favorecido pelos fatores bifidi. A baixa capacidade 
tamponante do leite humano permite também uma melhor atuação das bactérias 
produtoras de ácido lático pela redução do valor do pH intestinal desfavorável ao 
crescimento de vários micro-organismos patogênicos. As crianças amamentadas ao seio, 
quando comparadas com as alimentadas artificialmente, são menos colonizadas por 
enterobactérias, como E. coli e Klebsiella, sendo ainda menor o número de sorotipos de 
E. coli enteropatogênicos. 
Quando o desmame inicia, as crianças são expostas, pela primeira vez, a muitos 
carboidratos, diferentes e complexos. Uma quantidade significativa destes carboidratos 
vai escapar da digestão no intestino delgado e chegar ao cólon, assim como toda fonte de 
fibra dietética. Sabe-se que esses produtos servem de substratos alimentares para as 
bactérias colônicas e, possivelmente, influenciariam sa composição da microbiota 
intestinal das crianças neste período de vida. Segundo estudos experimentais, o impacto 
da introdução de alimentos não lácteos, provavelmente persistirá até a vida adulta. 
O uso de antibiótico pode afetar o padrão de colonização do TGI na criança. Os 
agentes antimicrobianos têm efeitos específicos em componentes individuais da 
microbiota ao invés de uma supressão geral e não específica e o perfil microbiano 
resultante influencia a população que emerge após a parada do tratamento. Algumas 
características fazem com que determinadas bactérias sejam consideradas benéficas para 
os seres humanos. As bifidobactérias e os lactobacilos talvez sejam os principais 
representantes entre as bactérias benéficas. São micro-organismos que não apresentam 
nenhum fator de patogenicidade para o homem e nunca foram envolvidas em episódios 
infecciosos no trato gastrointestinal. 
 Alguns fatores favorecem a implantação destas bactérias no TGI dos recém-
nascidos como o “fator bífido”, nutriente presente no leite materno que favorece 
especificamente a instalação e atuação destas bactérias, além de características próprias 
deste gênero bacteriano com uma alta capacidade de adaptação destas ao trato 
gastrointestinal humano. 
A otimização da microbiota intestinal pelo uso de pré e probióticos durante o 
período de colonização intestinal tem sido sugerida, entretanto, ressalta-se a importância 
de se conhecer mais profundamente como ocorre a instalação da microbiota e quais as 
consequências, em longo prazo, de possíveis intervenções neste processo. 
 
4. Probióticos 
Os probióticos são definidos como organismos vivos que proveem benefícios ao 
hospedeiro, quando inoculadas em quantidades adequadas. Os probióticos devem possuir 
pré-requisitos básicos para serem utilizados no ser humano, incluindo: ausência de 
 
10 
 
propriedade virulenta, capacidade de sobreviver no ambiente gastrointestinal, capacidade 
de aderir às superfícies mucosas e células epiteliais e ação inibidora de patógenos. 
Alguns exemplos incluem, alimentos à base de leite fermentado, assim como 
aqueles que contém bactéria liofilizada. Os microrganismos comumente utilizados nestes 
produtos são lactobacilos e bifidobactérias. 
Alguns estudos já relataram que a espécie Lactobacilus acidophilus, quando 
utilizada como suplemento em crianças, foi capaz de causar aumento no peso. Em outros 
estudos, a administração de L. casei em crianças com diarréia aguda, causada por 
rotavírus, proporcionou uma melhora acentuada. Além disso, quando a vacina contra 
rotavírus foi administrada com L. casei, pode ser observado um aumento nas células 
secretoras de IgM específica, causando uma soro conversão de IgA anti-rotavírus. 
Estudos indicam que o uso de probióticos pode aumentar a expressão de genes 
envolvidos na sinalização de proteínas das junções firmes, prevenindo a ruptura da 
barreira intestinal e também favorecendo sua recuperação após dano. 
Além disso, a capacidade de adesão tem sido uma das principais características 
buscada nos novos probióticos. Essa propriedade é importante para que interajam com as 
células epiteliais e células imunes do hospedeiro, e também para que estes atuem como 
antagonistas da adesão de patógenos. 
Algumas cepas de probióticos, como Lactobacillus reuteri, Lactobacillus 
plantarum, Bifidobacterium lactis, Bifidobacterium bifidum e Bifidobacterium longum 
produzem e secretam proteínas adesinas de muco, denominadas MUB (mucus-binding 
protein) que ficam ancoradas na parede celular, permitindo a adesão a estruturas 
específicas da mucosa intestinal humana. 
Alguns probióticos são capazes de sintetizar ácidos orgânicos e substâncias 
antibacterianas denominadas bacteriocinas. Os ácidos orgânicos, particularmente o ácido 
acético e o ácido lático, têm um forte efeito inibitório sobre bactérias Gram-negativas, e 
têm sido considerados os principais compostos antibacterianos responsáveis pela 
atividade inibitória dos probióticos sobre patógenos. Quando penetram a célula 
bacteriana, eles causam a redução do valor do pH intracelular ou o acúmulo de ácidos 
orgânicos ionizados, levando a morte bacteriana pela formação de poros e/ou inibição da 
síntese da parede celular. Foi demonstrado que determinados lactobacilos e 
bifidobacterias probióticas são capazes de matar diretamente a Salmonella typhimurium, 
in vitro. Além disto, alguns probióticos, principalmente lactobacilos, seriam capazes de 
produzir substancias inibidoras do crescimento de fungos. 
Bactérias probióticas têm demonstrado aumentar os níveis de IgA total e 
específica contra patógenos em vigência de infecção, sem induzir a produção de IgA 
contra o próprio probiótico. Micro-organismos simbiontes e probióticos podem induzir 
um estado de tolerância imunológica mediado pela ativação dos receptores do tipo Toll 
(TLR) na superfície das células dendríticas. Após ativação pelas bactérias probióticas, as 
células dendríticas iniciam uma resposta apropriada, induzindo a diferenciação do 
linfócito Tho em Treg, que tem um efeito inibitório sobre a resposta inflamatória Th1, 
Th2 e Th17. Lactobacillus induzem a diferentes perfis de secreção de citocinas pró e anti-
inflamatória. 
 
11 
 
 
 
5. Prebióticos 
Os prebióticos são substâncias não digeríveis, presentes nos alimentos, que 
estimulam seletivamente o crescimento e atividade de bactérias no cólon, trazendo efeitos 
benéficosao hospedeiro. 
Inulina e oligofrutose (ou fruto-oligossacarídeos - FOS), galacto-oligossacarídeos 
(GOS) e lactose, são os principais compostos prebióticos. Estes compostos estão 
presentes naturalmente em alimentos como a cebola, o alho, chicória e o leite. 
Estes compostos, quando fermentados pelas bactérias colônicas, levam a produção 
de AGCC, principalmente o acetato, o propionato e o butirato (efeito butirogênico). A 
maioria dos AGCC é absorvida pelo organismo humano sob a forma de energia. O 
butirato é oxidado e utilizado pelo próprio epitélio colônico e é considerado o AGCC 
com maior impacto sobre saúde epitélio intestinal. Ele cria um ambiente mais ácido, 
que protege contra a colonização por patógenos, possui efeito trófico no epitélio, favorece 
a diferenciação do enterócito, inibindo a proliferação (efeito anticarcinogênico) e possui 
atividade anti-inflamatória. 
Se, como alguns autores já demonstraram, bifidobactéria é o gênero predominante 
durante na alimentação com o leite materno em bebês, então já se pode pensar em 
fórmulas para uso infantil deste prebiótico.

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