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1 MUDANÇAS FISIOLÓGICAS – O ENVELHECIMENTO O envelhecimento humano é caracterizado por declínio lento e natural na estrutura e na função orgânica que se desenvolve após a maturação sexual e o fenótipo adulto jovem. Em outras palavras, envelhecer está associado à redução ou até mesmo perda de determinadas ações fisiológicas e imunológicas, tema que será abordado no resumo. O envelhecimento é acompanhado de um processo que chamamos de senescência, pode ser entendido como declínio ou mesmo deterioração das propriedades funcionais em níveis celulares, teciduais e orgânicos. De uma maneira geral, o que os artigos e estudos trazem sobre o principal evento a respeito do envelhecimento é a deterioração da eficiência do sinal de transdução, ou seja, o mecanismo de sinalização celular num indivíduo idoso vai se tornando, ano após ano, cada vez menos eficiente. Assim, no envelhecimento biológico, há uma progressiva e, de certo modo, previsível perda da coordenação celular e da função tecidual, de tal maneira que o organismo se torna gradualmente menos capaz de se reproduzir e de sobreviver. 1.Alterações fisiológicas 1.1. Estrutura corporal Com o envelhecimento, ocorre uma alteração na massa magra do indivíduo, com importante perda de musculatura estriada esquelética. Estima-se uma perda de 10% dessa massa muscular entre os 30 e os 50 anos e de cerca de 1% ao ano a partir dessa idade, o que ocasiona uma redução da taxa metabólica basal de aproximadamente 4% ao ano, nessa fase da vida. Há redução no número e volume das fibras musculares do tipo II, envolvidas no processo de contração muscular rápida e, também, redução no número de neurônios alfa motores espinais, principal razão para a perda de fibras musculares. Além disso, ocorre uma redução no volume de água do organismo, principalmente aquele instalado no compartimento intracelular. 2 A sarcopenia é definida como redução na massa magra e na força muscular, sendo considerada uma marca do processo de envelhecimento. Vários mecanismos podem ser implicados no seu aparecimento: perda dos neurônios alfa motores na medula, deficiência nas secreções de hormônio do crescimento (GH) e de fator de crescimento insulina-símile (IGF-I), deficiência na produção de andrógenos e de estrógenos, inadequada ingestão proteica, desregulação na produção de citocinas catabólicas e reduzida atividade física. Portanto, a redução na massa muscular e a prolongada inatividade física nos idosos pode diminuir a sensibilidade à insulina e, consequentemente, impedir a utilização adequada de glicose, seu armazenamento e seu uso em tecidos periféricos, principalmente no músculo. Contudo, existe um aumento localizado do tecido gorduroso, principalmente nas regiões abdominal, visceral e intramuscular, o que aumenta o tempo de meia de vida de drogas lipofílicas, o que representa uma modificação de significância clínica para o idoso. 1.2. Sistema endócrino a) Hormônio do Crescimento (GH) A secreção e as concentrações séricas de GH diminuem com a idade, tanto no estado basal como em resposta aos estímulos e, em paralelo, há redução das concentrações séricas do fator de crescimento induzido pelo GH, insulin-like growth fator 1 (IGF-I), fenômeno conhecido como somatopausa. Além disso, está associada à redução na secreção do hormônio de liberação do GH hipotalâmico (GHRH) e à diminuição na responsividade somatotrófica ao GHRH. 3 Normalmente, a secreção de GH ocorre, principalmente, durante o sono em suas fases de ondas lentas. Portanto, a presença de distúrbios do sono, tão comum em idosos, também pode afetar negativamente esse processo. b) Hormônio antidiurético (ADH) Nos idosos, a responsividade renal ao ADH encontra-se reduzida, tornando-os mais vulneráveis à privação de água. A secreção de ADH frente à elevação da osmolalidade plasmática (mediada por osmorreceptores) pode ou não estar aumentada em idosos, enquanto a resposta à depleção volumétrica (mediada por barorreceptores) está aumentada. Em síntese, o idoso sente menos sede, logo está mais sujeito a um quadro de desidratação. c) Melatonina A secreção de melatonina pela glândula pineal diminui durante o processo de envelhecimento. Essa diminuição pode estar associada à pior qualidade de sono nos idosos. d) Função adrenocortical A glândula suprarrenal envelhecida não apresenta significantes aspectos de atrofia, embora se observe aumento de tecido fibroso em seu parênquima. Entretanto, em idosos, podem ocorrer algumas alterações na secreção dos três principais hormônios adrenocorticais: ➢ Cortisol e ACTH: As taxas de secreção de cortisol diminuem com a idade, mas não há alterações significativas em sua concentração sérica, mesmo em indivíduos muito velhos, devido à redução na taxa de sua depuração metabólica. Os níveis séricos basais do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) também permanecem inalterados, assim como a frequência dos seus pulsos secretores. Após um estímulo estressor, tal como doença aguda ou cirurgia, os níveis de pico sérico de cortisol são maiores e permanecem elevados por mais tempo nos idosos, quando comparados aos adultos jovens. Portanto, possivelmente, a sensibilidade ao mecanismo de feedback negativo do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal esteja diminuída com a idade; ➢ Aldosterona: As taxas de secreção de aldosterona e também suas concentrações séricas se reduzem com a idade, em tal magnitude que, próximo aos 70 anos, essa queda pode se aproximar de 50%; ➢ Deidroepiandrosterona (DHEA): Os esteroides suprarrenais – DHEA e sua forma sulfatada (DHEAS) – são os principais esteroides encontrados na circulação humana. Secretados pelo córtex suprarrenal, são precursores dos hormônios esteroides sexuais masculinos e femininos, que incluem a testosterona, o estradiol e a progesterona. Devido a sua menor secreção, seus níveis séricos, bem como os de todos os andrógenos, declinam com a idade em tal monta que, por volta dos 75 anos, alcançam uma redução de 20%. Entretanto, o significado clínico dessa diminuição ainda é controverso. 4 e) Função adrenomedular Enquanto as concentrações séricas de epinefrina são semelhantes ou até levemente inferiores em idosos quando comparadas às de adultos jovens, as de norepinefrina são mais elevadas. Esses altos níveis de norepinefrina refletem um aumento da atividade do sistema nervoso simpático e não da medula suprarrenal. Regulação alimentar Na senescência, a regulação alimentar depende também de alterações endócrinas encontradas durante o envelhecimento, particularmente, associadas aos hormônios insulina, leptina e adiponectina. Em idosos, por exemplo, a sensibilidade à ação da insulina está reduzida, podendo-se constatar, com frequência, estados de hiperinsulinemia e de diminuição na tolerância à glicose. Essa observada resistência insulínica encontra-se, pelo menos parcialmente, relacionada com a diminuição da proteína carreadora de glicose (GLUT 4) no tecido muscular. Com o aumento da idade há diminuição das concentrações séricas de leptina, um hormônio que promove diminuição do apetite e é produzido pelo tecido adiposo de modo proporcional à massa de gordura corporal existente no organismo que, como comentado anteriormente, diminui na senescência. É conhecido que a adiponectina é um hormônio proteico secretado pelos adipócitos, que produz redução na resistência insulínica, apresenta propriedades anti- inflamatórias e diminui o risco aterogênico. Contudo, seus índices de secreção são inversamente proporcionais à quantidade de gordura visceral abdominal, a qual, como já dito, aumenta com a idade. Portanto, em idosos há diminuição das concentrações séricas de adiponectina. 1.3. Sistema nervoso central Durante o envelhecimento, os principais tipos de células cerebrais sofrem alterações estruturais que resultamem: morte neuronal, retração e expansão dendrítica, perda e remodelação sináptica, além da reatividade da célula glial (astrócitos e micróglia). Essas alterações estruturais podem ter origem nas modificações que ocorrem nas proteínas citoesqueléticas e na deposição de proteínas insolúveis, tais como a proteína tau no interior das células e a substância amiloide no espaço extracelular. Assim, com o envelhecimento, há perda de massa e de volume cerebral que pode chegar a 20% ao redor dos 80 anos. Nesse processo, a substância negra e a região temporal mesial no hipocampo são as áreas mais afetadas, sofrendo perda de cerca de 50% e 25% de massa cerebral, respectivamente. No cérebro senescente, há considerável evidência de remodelação sináptica que, provavelmente, se relaciona às alterações na árvore dendrítica e no número de neurônios. Por exemplo, em algumas regiões do cérebro pode haver diminuição no número de sinapses, mas elas podem ser supridas pelo aumento da área de sinapses remanescentes; além disso, em outras regiões cerebrais pode não ocorrer perda sináptica. 5 No processo de envelhecimento, os sistemas neurotransmissores também sofrem várias alterações, como as citadas a seguir: • Sistema colinérgico: os neurônios colinérgicos desempenham funções nos processos de aprendizado e de memória. Durante o envelhecimento pode ocorrer deficiência em um ou mais aspectos dos sinais de transdução colinérgica, incluindo: transporte de colina, síntese e liberação de acetilcolina, além do acoplamento dos receptores muscarínicos a seus carreadores proteicos à base de trifosfato de guanosina (GTP); • Sistema dopaminérgico: com o avançar da idade, ocorrem diminuições nos níveis de dopamina, de transportadores dopaminérgicos e de locais carreadores dos receptores D2 no striatum; • Sistema monoaminérgico: Os principais neurotransmissores monoaminérgicos cerebrais são a norepinefrina e a serotonina. O envelhecimento é associado à diminuição dos níveis de liberação evocada de serotonina e dos locais de ligação serotoninérgicos, que podem contribuir para distúrbios como a depressão; • Sistema de aminoácidos transmissores: no cérebro humano, o glutamato é o principal neurotransmissor excitatório, enquanto que o principal neurotransmissor inibitório é o ácido gama-aminobutírico (GABA). Porém, pouco se sabe sobre o impacto causado pelo envelhecimento fisiológico nas vias de transmissão desses neurotransmissores. 1.4. Sistema cardiovascular Uma das grandes mudanças no idoso é o enrijecimento das grandes artérias, decorrente de deposição aumentada de colágeno associada a alterações qualitativas nas fibras de elastina. Esse aumento na rigidez arterial conduz à elevação gradual da pressão arterial sistólica e também ao aumento da impedância para a ejeção ventricular esquerda; 6 assim, aumenta a denominada pós-carga. Um marcador desse enrijecimento vascular é o aumento da velocidade da onda de pulso arterial observado nos idosos; lembre-se de que a reflexão precoce dessa onda de pulso na periferia resulta em maior impedância para a ejeção ventricular na sístole tardia. O relaxamento miocárdico, um processo ativo que envolve gasto de energia, encontra-se atenuado no envelhecimento; possivelmente, isso acontece pela dificuldade na liberação de cálcio por parte das proteínas contráteis no fim da sístole e também pelo retardo na recaptação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático. No interstício do tecido miocárdico há aumento tanto de colágeno como de tecido adiposo; essas modificações resultam em maior rigidez tecidual, situação que é potencializada pela hipertrofia miocítica compensatória em resposta ao aumento da pós-carga e também à apoptose dos miócitos. A resultante da combinação de alteração do relaxamento ventricular e de redução da complacência miocárdica é a diminuição do enchimento sanguíneo do ventrículo esquerdo, durante os 2/3 iniciais da diástole. Essas alterações são acompanhadas de dilatação e de hipertrofia atrial esquerda, e também do aumento da força de contração atrial; isso preserva o volume diastólico final do ventrículo esquerdo, o principal determinante do volume ejetado a cada sístole, bem como o débito cardíaco. Essas alterações na função diastólica do ventrículo esquerdo e no átrio esquerdo predispõem as pessoas idosas ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca do tipo diastólico; ou seja, predispõem os idosos àquela insuficiência cardíaca em que há a preservação da fração de ejeção ventricular esquerda, bem como a arritmias supraventriculares, tais como a fibrilação atrial. 7 Nos idosos também é observada menor resposta à estimulação β-adrenérgica; portanto, há diminuição da frequência cardíaca máxima (FC máx). Outras alterações que se associam à redução do débito cardíaco máximo durante o envelhecimento são o declínio do pico de contratilidade ventricular (mediado por receptores β1-adrenérgicos) e da vasodilatação periférica (mediada pelos receptores β2- adrenérgicos). Essas condições resultam em redução do fluxo sanguíneo aos músculos e à pele durante os exercícios, trazendo uma dificuldade adicional ao idoso para o controle de sua temperatura corpórea. Ocorrem, ainda, alterações degenerativas na área tecidual onde se localiza o nodo sinusal; isso resulta em perda progressiva das células com função de marca-passo, que cria uma separação parcial ou completa entre o nodo sinusal e o restante do tecido atrial. Estima-se que, por volta dos 75 anos, mais de 90% dessas células com função de marca- passo perdem sua capacidade de iniciar um impulso elétrico. A condução do estímulo elétrico por meio do nodo atrioventricular também se torna mais lenta e a calcificação da estrutura cardíaca resulta em um aumento da prevalência de anormalidades de condução infranodular, tais como o bloqueio fascicular anterior esquerdo e o bloqueio completo de ramo. A condução do estímulo elétrico por meio do nodo atrioventricular também se torna mais lenta e a calcificação da estrutura cardíaca resulta em um aumento da prevalência de anormalidades de condução infranodular, tais como o bloqueio fascicular anterior esquerdo e o bloqueio completo de ramo. 1.5. Sistema respiratório No indivíduo senil, devido a alterações no tecido conectivo, há redução no tamanho das vias respiratórias, e os sacos alveolares tornam-se mais superficiais. A complacência da parede torácica diminui como consequência de modificações 8 esqueléticas, tais como: acentuação da cifose dorsal, calcificações das cartilagens condrocostais e degenerações costovertebrais. Com a idade, a retração elástica do tecido pulmonar diminui, o que facilita a expansão pulmonar durante a inspiração profunda e, assim, tenderia a aumentar a CPT. Entretanto, devido à rigidez da parede torácica durante o processo de envelhecimento, o esforço inspiratório máximo não é capaz de alcançar alto volume pulmonar; portanto, a CPT, geralmente, encontra-se estável. Outros componentes relevantes para a adequada função respiratória são a força e a resistência da musculatura respiratória, sendo importante a observação de que a força da musculatura diafragmática é aproximadamente 25% menor em pessoas idosas saudáveis quando comparadas aos adultos jovens. 1.6. Sistema renal A redução do fluxo sanguíneo renal (FSR) é acompanhada de aumento da resistência nas arteríolas aferentes e eferentes, independentemente do débito cardíaco ou de reduções na massa renal. Essa alteração contribui para a menor eficiência dos rins envelhecidos na resposta à sobrecarga ou à perda de líquidos e de eletrólitos. A redução linear no número de néfrons ao longo da vida é notória e, provavelmente, é o principal fator para o menor ritmo de filtração glomerular observado no decorrer da senescência renal. Com a perda glomerular, a área tubulardo néfron também se degenera, sendo recomposta por tecido conectivo. Desenvolve-se o mesmo mecanismo compensatório, com hipertrofia e hiperplasia tubular nos néfrons remanescentes, principalmente, na região do túbulo contornado proximal. 1.7. Sistema digestório 9 1.8. Sistema hematopoiético A produção de certos fatores de crescimento, particularmente a interleucina 6 (IL- 6), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interferona-γ (INF-γ), parece aumentar com o envelhecimento. Essas observações levam à noção de que a idade é acompanhada da desregulação da produção desses fatores do crescimento, causando produção excessiva de algumas citocinas e subprodução de outras e interferindo, também, na geração de glóbulos vermelhos. Há consistência nas publicações científicas de que o avançar da idade não modifica o número absoluto das populações celulares e o número de leucócitos e de neutrófilos circulantes se mantém. Presume-se, maximamente, um descenso leve no número de neutrófilos. Embora o número de plaquetas também não se altere com o envelhecimento, o fibrinogênio, os fatores de coagulação (V, VII, VIII e IX), o cininogênio de alto peso molecular e a pré-calicreína aumentam, assim como os fragmentos da degradação da fibrina (dímero D), produzindo um estado pró-coagulante de risco para eventos trombogênicos. 2. Alterações imunológicas As alterações do sistema imunológico resultantes do envelhecimento são denominadas de imunossenescência e acarretam em uma série de consequências para os idosos. As consequências mais evidentes são o aumento da susceptibilidade a infecções e a pior resposta a vacinas, resultando em maior morbidade e mortalidade dos idosos. 10 2.1. Imunidade inata Apesar da maior notoriedade das alterações da imunidade adaptativa na imunossenescência, a imunidade inata também é afetada pelo processo de envelhecimento. a) Neutrófilos No envelhecimento, não há redução no número de neutrófilos, nem na neutrofilia (aumento no número de neutrófilos no sangue) resultante de infecção aguda. Mas ocorre uma redução da atividade dessas células. Ou seja, a função e não o número de neutrófilos diminui com o envelhecimento). Ocorre diminuição da atividade quimiotáxica em resposta a fatores derivados do complemento, o que provoca atraso na chegada dos neutrófilos ao local da infecção, permitindo maior divisão do agente infeccioso. Também foi relatada redução da atividade fagocítica, disfunção na produção de radicais livres e diminuição na habilidade em responder aos fatores que aumentam a sobrevida (com aumento da susceptibilidade à apoptose). Além disso, o aumento do número de neutrófilos sofrendo apoptose no tecido pode resultar em persistência da inflamação. b) Monócitos/macrófagos Com o envelhecimento, ocorre uma redução no número de monócitos circulantes. Monócitos e macrófagos de idosos saudáveis apresentam prejuízo na fagocitose e na produção de radicas livres (implicando em prejuízo no combate à infecção) e na apresentação de antígenos (envolvida na pior resposta dos idosos à vacinação). Uma vez instalada a infecção, idosos possuem menor habilidade de prevenir a sua propagação. Alterações na função e expressão dos receptores de reconhecimento padrão dos macrófagos acarretam em diferenças nos níveis de citocinas produzidas por macrófagos 11 de indivíduos idosos, durante infecções. Não há um consenso linear sobre quais os efeitos do envelhecimento na complexa relação entre macrófagos e as diversas citocinas produzidas por eles. E nem sobre interações entre receptores de macrófagos, citocinas e receptores de citocinas tanto em macrófagos como em outras células imunológicas. Podem-se citar dois exemplos em direções opostas: a menor resposta dos idosos à vacina de influenza, e a resposta exagerada de idosos em infecções pelo vírus do Oeste do Nilo. O primeiro caso parece ser contribuído pela menor estimulação de proteínas co- estimulatórias em monócitos (devido às alterações em um tipo de receptor de reconhecimento padrão), importantes para a produção de anticorpos para o vírus da influenza. Muitos estudos mostraram um leve estado pró-inflamatório basal (sem a presença de doenças) por todo o corpo do idoso, que poderia influenciar a patogênia de várias situações crônicas relacionadas ao envelhecimento e que são afetadas pela inflamação (Doença de Alzheimer, diabetes tipo 2, câncer, aterosclerose, obesidade, osteoporose e osteoartrite, depressão e síndrome de fragilidade do idoso). O complicador para o entendimento desse estado inflamatório é o fato de que, apesar dos macrófagos serem as principais fontes de muitas citocinas, outras células (como adipócitos, fibroblastos e células endoteliais) também produzem essas proteínas. Esse estado inflamado pode ser responsável por menor produção de citocinas por macrófagos durante infecções (como se o sistema já estivesse desgastado, e não respondesse de forma adequada quando fosse necessário) e por falhas na apresentação de antígenos, o que poderia implicar em pior resposta a infecções e pior transição da imunidade inata para a adaptativa. Ainda, acredita-se que a inflamação relacionada ao envelhecimento também predisponha idosos à sepse (resposta inflamatória sistêmica, resultante de bacteremia). c) Células NK Nos idosos, o número de células NK está aumentado. Entretanto, a atividade individual de cada célula encontra-se reduzida com a idade. Parece haver uma compensação da redução na atividade através do aumento do número dessas células. Existe uma variação na atividade de células NK entre idosos, sendo que aqueles que possuem células NK mais citotóxicas (ou seja, com um nível de função semelhante a jovens) possuem menor propensão ao desenvolvimento de certos tumores, melhor prognóstico para alguns tipos de cânceres (como o câncer gástrico) e maior resistência a infecções virais. A produção de várias citocinas por células NK parece diminuir no envelhecimento, o que pode ter implicações na pior transição da resposta imune inata para a adaptativa, resultando em pior resposta para debelar infecções. As alterações relativas às células NK dos idosos podem ocorrer, em parte, por alterações na homeostase do zinco no envelhecimento. Alguns pesquisadores acreditam que a suplementação de zinco para idosos pode ser benéfica para aumentar a resistência a alguns tipos infecções. d) Células dendríticas 12 O número de células dendríticas (e de seus precursores) parece diminuir com o envelhecimento. Quanto à atividade, idosos saudáveis conservam a capacidade dessas células em apresentar antígenos e ativar linfócitos T. Já, células dendríticas de idosos com síndrome de fragilidade, induzem uma ativação de linfócitos T mais fraca (o que pode estar relacionado a uma pior migração das células dendríticas do tecido para os linfonodos). Acredita-se que essas alterações possam influenciar a predisposição de idosos às infecções e a pior resposta às vacinas. 2.2. Imunidade adaptativa a) Linfócitos T A involução tímica que ocorre com o avançar da idade é bem conhecida, e causa prejuízos para a maturação de linfócitos T dos idosos. Uma implicação clínica muito importante da involução tímica é a recuperação mais prolongada de idosos a tratamentos quimioterápicos, quando comparado a pacientes pediátricos. A quimioterapia promove uma profunda redução no número de linfócitos, e, nos idosos, a recuperação dos níveis normais dessas células pode levar anos, em contraste com o tempo de recuperação de crianças (meses). Outro fenômeno bastante descrito em idosos é a alteração da proporção de tipos de linfócitos T. Com o envelhecimento, linfócitos T de memória (específicos para antígenos já conhecidos pelo organismo) tornam-se mais numerosos em relação a linfócitos T naive (responsáveis pela resposta a infecçõesnovas). Isso parece ocorrer devido a uma exposição crônica a antígenos de agentes infecciosos ao longo da vida (e proliferação das células de memória, em detrimento das células naive) e também devido à involução do timo (que se torna menos eficiente no fornecimento de linfócitos T naive). A escassez de linfócitos T naive pode resultar numa pior resposta à novas infecções pelos idosos (pneumonia, tuberculose, infecções do trato urinário, da pele e de tecidos moles).Já, o excesso de linfócitos T de memória está implicado em maior produção de citocinas, contribuindo para o estado pró-inflamatório dos idosos. A diminuição da resposta de linfócitos T citotóxicos ao vírus da influenza também é bastante relatada, o que pode tornar os idosos mais susceptíveis a esse vírus. Além disso, alterações nas subpopulações de linfócitos T citotóxicos (em partes devido às respostas ao citomegalo-vírus) podem estar relacionadas a maior susceptibilidade dos idosos a certos tipos de tumores, uma vez que essas células também são responsáveis pela destruição de células malignas. b) Linfócitos B 13 Nos idosos, o número de linfócitos B totais não está alterado, entretanto, da mesma forma que os linfócitos T, há uma redução no número de linfócitos B naive, concomitantemente com um aumento no número de linfócitos B de memória. A redução de linfócitos B naive ocorre devido à menor produção dessas células pela medula óssea. O aumento do número de linfócitos B de memória parece ser uma compensação desta redução, e não parece ocorrer devido a exposição crônica a certos tipos de agentes infecciosos (como no caso dos linfócitos T). Os mecanismos de defesa mediados por anticorpos estão deteriorados em idosos. Isso parece ocorrer principalmente devido a falhas em linfócitos T helper em induzir a ativação de linfócitos B, tornando os idosos mais susceptíveis a pneumonias, influenza, gastroenterites, bronquites e menos responsíveis a vacinas. Muitos estudos relataram uma diminuição na capacidade em produzir anticorpos de alta afinidade a determinados agentes infecciosos. Além de alterações na afinidade, menor número de anticorpos também foi observado em idosos vacinados contra influenza e Streptococcus pneumoniae, o que provoca menor eficácia dessas vacinas nos idosos. Também foi relatado um aumento de auto-anticorpos com o envelhecimento (como fator reumatóide, anticorpo anti-histona, anticorpo anti-DNA de cadeia dupla e anticorpo anti-cardiolipina), que parece ser decorrente, em parte, do aumento do número de linfócitos B de memória. Há especulações se isso poderia participar da maior vulnerabilidade dos idosos às doenças auto-imunes. Alguns pesquisadores acreditam que o aumento de auto-anticorpos em idosos não seja responsável por doenças auto-imunes, uma vez que tais anticorpos possuem uma baixa especificidade para órgãos. 14
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