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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais Texto do Filme “Batismo de Sangue” O filme “Batismo de Sangue”, produzido em 2007 por Helvécio Hatton, foi baseado no livro testemunhal Batismo de sangue: guerrilha e morte de Carlos Marighella, de Frei Beto, publicado em 1982. A obra é uma demonstração de violência e crueldade em decorrência da implantação do sistema ditatorial no Brasil, que se iniciou em 1964 e estendeu-se por vinte anos. Retrata um período de resistência no Brasil, no qual as personagens do filme vivenciam os acontecimentos violentos, de ameaça e tortura, impostos às vítimas que se opunham ao sistema ditatorial vigente. A história emociona pela sua contingência e pela sua verdade. A crueldade narrada no livro é explicita no filme em cenas fortes, que aproximam o espectador da realidade vivida naquele período. O filme Batismo de Sangue retrata a vida de freis dominicanos em busca da liberdade política no Brasil e a integração deles nas lutas contra os abusos da Ditadura, juntamente com Carlos Marighela, comandante do grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional e um dos maiores nomes da resistência ao Governo Militar, e algumas lideranças sindicalistas e estudantis, no filme, assim como na realidade, eram chamados de presos políticos. Nesse contexto, a deposição de João Goulart, em 1964, marcou o início do regime ditatorial. Os meios de comunicação sofreram censuras e indivíduos contrários ao governo passaram a ser investigados e perseguidos por determinados setores da polícia ligados ao governo, e usados como formas de repressão. Ainda no fim da década de 1960, pouco após a aprovação do Ato Institucional número 5 (13 de dezembro de 1968), o Brasil mergulha nos anos mais duros desse período. Com o endurecimento do AI5, não restou aos outros grupos políticos, a luta armada contra a ditadura militar. A trama evidencia explicitamente a capacidade de um Estado autoritário, em impor ao cidadão métodos de tortura física e psicológica para obter informações sobre grupos contrários ao modelo político vigente. O filme mostra a participação e a vida de quatro jovens idealistas que almejavam um país livre: Tito de Alencar, Betto, Oswaldo e Fernando. O frade católico e cearense, Tito de Alencar, estudava Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Devido aos seus ideais e a sua forte luta contrária ao regime ditatorial, foi preso por participar do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP). Fichado pela polícia, tornou-se alvo de perseguição pela repressão militar. Acusado de oferecer apoio a Carlos Marighella, foi preso novamente em novembro de 1969. Tito foi submetido à palmatória e choques elétricos, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Em fevereiro do ano seguinte, quando já se encontrava em mãos da Justiça Militar, foi retirado do Presídio Tiradentes e levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban). Durante três dias, bateram sua cabeça na parede, queimaram sua pele com brasa de cigarros e deram-lhe choques por todo o corpo, em especial na boca, “para receber a hóstia”. Uma cena muito forte no filme, é quando Fleury obriga Tito a beijar a sua mão gritando as Projeto “Cinema e ensino de história” Disciplina: História Turma: 3º ano Administração Aluno(a): Ana Flávia Norberto Umbelino Data de Entrega: 01/05/2020 Professora: Luciane Silva de Almeida http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil_13out1968.htm flavi Retângulo flavi Retângulo seguintes palavras: “Beija a mão do Papa”. Depois de tanta violência, Tito tentou suicídio e foi socorrido a tempo no hospital militar. Na prisão, escreveu sobre a sua tortura. O documento correu pelo mundo e se transformou em símbolo da luta pelos direitos humanos. Em dezembro de 1970, Tito foi banido do Brasil pelo governo Médici e seguiu para o Chile. Sob a ameaça de novamente ser preso, fugiu para a Itália. De Roma, foi para Paris, onde recebeu apoio dos dominicanos. Traumatizado pela tortura, Frei Tito submeteu-se a um tratamento psiquiátrico. Nas ruas da capital francesa, ele “viu” o espectro de seus torturadores e cometeu suicídio. No dia 10 de agosto de 1974, um morador dos arredores de Lyon encontrou o corpo de Frei Tito suspenso por uma corda pendurada em uma árvore. As práticas de torturas psicológicas e físicas eram lideradas por Fleury, um dos maiores torturadores na época em que se passa o filme 1968-1973. As torturas sofridas pelos freis foram com o intuito de se chegar a Carlos Marighela. Após inúmeras torturas eles acabaram por entregar algumas informações necessárias para o encontro. E nesse encontro Carlos Marighela foi assassinado pelos policias, como forma de extinguir um movimento de resistência pela extinção de seu líder. Carlos Marighella nasceu em Salvador/BA em 1911, era um político, guerrilheiro e poeta. Carlos Marighella vivenciou a repressão de dois regimes autoritários: o Estado Novo (1937-1945), de Getúlio Vargas, e a ditadura militar iniciada em 1964. Foi um dos principais organizadores da resistência contra o regime militar e chegou a ser considerado o inimigo número um da ditadura. Militou durante 33 anos no Partido Comunista e depois fundou o movimento armado Ação Libertadora Nacional (ALN). Durante a ditadura na Era Vargas, foi preso por subversão e torturado pela polícia de Filinto Müller duas vezes. Ficou na prisão até 1945, quando foi beneficiado com a anistia pelo processo de redemocratização do país. Elegeu-se deputado federal constituinte pelo PCB baiano em 1946, como um dos mais bem votados da época. Mas, nesse mesmo ano, Marighella voltou a perder o mandato porque o governo Dutra, por orientação do governo estadunidense, cassou todos os políticos filiados a partidos comunistas. Foi expulso do PCB, em 1967, por divergências políticas, e no ano seguinte fundou o grupo armado Ação Libertadora Nacional, com dissidentes do partido. Com o recrudescimento do regime militar, os órgãos de repressão concentraram esforços em sua captura. Na noite de 4 de novembro de 1969, Marighella foi surpreendido por uma emboscada de na alameda Casa Branca, na capital paulista. Foi morto a tiros por agentes do Dops, em uma ação gigantesca coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. A morte de Marighella marcou a história da resistência armada urbana à ditadura militar no Brasil. Foi apresentada no filme, a Lei de Segurança Nacional (LSN), uma norma utilizada na ditadura (1964-1985) para enquadrar opositores e tratar divergências políticas como crime. Qualquer atitude ou pensamento que colocasse em risco a segurança do país, do ponto de vista militar, sofria censura. Um exemplo claro no filme, foi o momento que frei Tito foi entregue aos policiais enquanto estava escondido, uma vez que ela consistia que todo cidadão era responsável pela identificação dos “inimigos” do Estado e se não os acusasse seriam também considerados subversivos. Os freis dominicanos e diversas outras pessoas que pensavam diferente do governo foram submetidos à diversos tipos de torturas, entre eles: • O Pau-de-Arara consistia em uma barra de ferro que atravessava entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, onde a vítima ficava com o corpo pendurado a cerca de 20 ou 30 centímetros do solo. Este método tinha seus complementos como os eletrochoques, a palmatória e o afogamento. http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/filinto_muller http://memoriasdaditadura.org.br/grupos-da-luta-armada/#taticas-e-estrategias • O Choque Elétrico foi um dos métodos de tortura mais cruéis e largamente utilizados durante o regime militar. Geralmente, o choque dado através telefone de campanha do exército que possuía dois fios longos que eram ligados ao corpo nu, normalmente nas partes sexuais, além dos ouvidos, dentes, língua e dedos. O acusado recebia descargas sucessivas, a ponto de cair no chão. • A Cadeirado Dragão era uma espécie de cadeira elétrica, onde os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. • A Palmatória era como uma raquete de madeira, bem pesada. Geralmente, esta instrumento era utilizado em conjunto com outras formas de tortura, com o objetivo de aumentar o sofrimento do acusado. Com a palmatória, as vítimas eram agredidas em várias partes do corpo, principalmente em seus órgãos genitais. • Haviam vários Produtos Químicos que eram comprovadamente utilizados como método de tortura. Para fazer o acusado confessar, era aplicado soro de pentatotal, substância que fazia a pessoa falar, em estado de sonolência. Em alguns casos, ácido era jogado no rosto da vítima, o que podia causar inchaço ou mesmo deformação permanente. • Vários tipos de Agressões Físicas eram combinados às outras formas de tortura. • As Torturas Psicológicas eram formas de tortura que tinha o objetivo específico de provocar o medo, como ameaças e perseguições que geravam duplo efeito: fazer a vítima calar ou delatar conhecidos. As equipes da repressão eram normalmente divididas em três grupos. Um grupo capturava o preso; o segundo grupo o interrogava e o torturava; e o terceiro grupo sistematizava as informações obtidas. Portanto, havia uma certa divisão do trabalho no sistema repressivo. Havia também equipes de apoio. Além dos policiais, outros “profissionais” ajudavam diretamente nas sessões e no cativeiro dos presos: médicos, psicólogos, escrivães de polícias e guardas de carceragem completavam o sistema. A pressão exercida pela censura impedia manifestações políticas e culturais que se confrontavam aos princípios políticos de um regime que, em nome de uma falsa democracia, exercia a opressão. As torturas foram instaladas sob a justificativa de garantir a “ordem e o progresso” estabelecidos pelo capitalismo, na tentativa de impedir a qualquer custo a proliferação do comunismo que chegara à América em Cuba (se é que assim é possível denominar a revolução cubana que levou Fidel Castro ao poder em 1959), após expandir-se pela Europa oriental. Com a divisão do mundo em dois grandes blocos ideológicos após a Segunda Guerra Mundial; sendo um liderado pelos Estados Unidos, incentivando o capitalismo; e outro liderado pela extinta União Soviética, incentivando o temível comunismo, a América Latina tornou-se um dos espaços para essa disputa. Ambos os sistemas tinham por base oferecer melhores condições de vida, sendo que o primeiro privilegiava a iniciativa privada, e o segundo, a hegemonia do poder estatal sob os meios de produção. A influência dos Estados Unidos como nação hegemônica na América alimentava a crença de que era preciso lutar para que não houvesse mudança ideológica. Sob essa perspectiva, o impedimento à liberdade de expressão tornou- se um mecanismo de defesa do Estado, nada mais é do que inibir a ameaça de surgimento de novas possibilidades de pensamento. A veracidade da crueldade é explicita no filme em cenas fortes, que aproximam o espectador da realidade vivida naquele período por Tito de Alencar que carregou consigo para o exílio (não somente no corpo, mas na mente que não conseguiu apagar as lembranças das torturas sofridas), os traumas que o levaram ao suicídio. http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-ditadura/shibata/ As técnicas eram tão brutais que podiam deixar sequelas permanentes nos torturados, além das torturas psicológicas que deixa marcas emocionais que podem durar a vida inteira. Nesse contexto do filme frei Tito foi preso também, e levado a torturas que lhe renderam uma perturbação psicológica que foi motivo de seu suicido programado pelo Regime no seu exílio na França, pois ficar longe de sua terra por qual tanto lutou caracterizava também uma pena. Somente ao final da ditadura, foi estipulada a Lei da Anistia, uma lei hipócrita ao ponto em que perdoava os “crimes” dos presos políticos e as torturas e violências dos militares e torturadores. É triste pensar que na nossa realidade, depois de tantos acontecimentos e relatos, depois de tanto sofrimento desse povo brasileiro, ainda existem indivíduos que pedem a volta do AI5, utilizando argumentos em que na época do governo ditatorial não existia violência e nem mesmo corrupção, esquecendo da forte repressão que a imprensa sofreu, uma vez que foi impedida de divulgar informações verídicas para a sociedade. A tortura está baseada na combinação de três elementos principais: humilhação, dor extrema e ruptura da sanidade mental dos presos políticos. Com menor ou maior grau de violência física, era uma decisão dos comandos das equipes de interrogatório. A repressão à base de tortura superou qualquer limite humanitário, violando os direitos humanos. Na música “Mil faces de um homem leal” dos Racionais Mc's, o papel social, a importância e o exemplo de Carlos Marighella são explícitos em sua letra, que apresenta teor politizado e provoca ação e mudança. É dirigida especialmente à camada marginalizada da população, e é contra o discurso do sistema opressor. Na música é feita uma ligação entre os acontecimentos sociais ligados à época de Marighella com os atuais. Por exemplo, “Essa noite em São Paulo um anjo vai morrer Por mim, por você, por ter coragem em dizer.” Esse verso, refere-se a morte de Carlos Marighella em São Paulo, por ter lutado contra a opressão e aos que ainda morrem em defesa da dignidade humana. No verso “Cê quer ser um homem também?”, a letra faz a alusão a Marighella e dirige uma pergunta aos novos combatentes que lutam por uma sociedade melhor. O filme “Batismo de Sangue” nos faz refletir a seguinte questão: Será que somente sob repressão acordamos e nos tornamos sujeitos da história?! A ditadura traz consigo tristes recordações, mas ao mesmo tempo marca um período em que o conformismo cede lugar à luta, à convicção de que cada indivíduo é um agente transformador da história. http://www.dhnet.org.br/
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