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Centro de Ciências do Homem – CCH Licenciatura em Pedagogia – EAD / semipresencial Disciplina: Psicologia Social Aplicada à Educação Equipe: Gustavo Smiderle e Bianca Monteiro de Castro 9º Encontro: Tensões entre lógicas da escola e das famílias das classes populares Meta: Apresentar uma abordagem que se valha das diferenças de socialização em casa e na escola para ajudar a entender as dificuldades no relacionamento entre professores e pais de alunos de famílias pobres. Objetivo: Ao final dessa aula (da leitura destas noções preliminares e do texto de referência), você deverá ser capaz de: a) Aplicar ao seu contexto profissional (atual, se já trabalha na área, ou futuro) os conhecimentos adquiridos mediante as leituras. Introdução Chegamos, em nossas reflexões, a um ponto em que nos perguntamos sobre o peso de instituições como a família, a escola e a mídia na socialização das nossas crianças e adolescentes. No encontro passado (a gente não se encontra fisicamente, mas usamos esta palavra de propósito para marcar a ideia de que não estamos sozinhos), selecionamos um texto que enfatizou a influência da socialização familiar sobre o desempenho na escola. A ênfase estava, então, na família. Desta vez, voltamos a pensar nas relações entre o mundo da família e o mundo da escola, mas temos como foco a escola. Nosso texto de referência é o artigo "Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: confrontação entre lógicas socializadoras", de Daniel Thin. Embora seja um trabalho escrito na França, com base em dados daquele país, você vai perceber que a discussão se aplica em grande medida às inquietações que temos aqui no Brasil. O texto circula todo o tempo em torno da questão das diferenças entre o mundo da escola e o mundo das famílias das classes populares. Por exemplo: na escola, o ritmo da vida é totalmente diferente do ritmo da vida cotidiana numa família considerada pobre. O tempo da escola é todo organizado, estruturado, e sobra o mínimo possível de tempo livre. Como diz o texto, “impera a obsessão pela ocupação incessante das crianças, sobretudo das crianças pobres, que não devem ficar entregues a si mesmas e deixadas nas ruas” (THIN, 2006, p. 216). Outra diferença: na escola não se aprende observando e imitando a prática de alguém, como é comum no ambiente das classes populares, mas sim por intermédio de exercícios descolados da prática. O autor argumenta que o modo de autoridade dos pais também é entendido de forma muito diferente por eles próprios e pela escola. Grosso modo, com os pais ocorreria uma vigilância ou um controle direto sobre o comportamento das crianças enquanto elas estão por perto, com a aplicação de sanções (“castigos”) quando alguma regra é desrespeitada. Como a gente poderia dizer em linguagem coloquial, é “preto no branco”: isto pode, aquilo não pode, e, se houver desrespeito à orientação, a consequência é esta. Não haveria, da parte dos pais, uma orientação para os momentos em que os filhos estão fora de suas vistas. Em outras palavras, as práticas dos pais de famílias populares agem mais pela pressão exterior do que pela busca de um autocontrole das próprias crianças. Ora, de modo inverso, a escola hoje valoriza a autonomia, entendida como a capacidade de as crianças comportarem-se, por si mesmas, de acordo com as regras da vida escolar e, de modo mais amplo, social. (THIN, 2006, p.217). O texto sinaliza uma série de outros “desencontros” ou “curtos-circuitos” nessa relação entre professores e pais de alunos de classes populares, como as diferenças de linguagem (um estilo muito direto e sem abstrações no ambiente doméstico e uma linguagem abstrata na escola) e as distintas expectativas (para as famílias, o que se aprende na escola tem que “servir” para alguma coisa mais imediata em termos de ascensão social ou de sobrevivência, enquanto para a escola o conhecimento tem um caráter mais abstrato, no sentido de conhecer por conhecer). Leia o artigo e anote os pontos mais importantes. Situando a abordagem no contexto de nossas discussões anteriores, você vai notar que o autor rejeita explicitamente o esquema funcionalista segundo o qual a sociedade (pensada como um todo) forneceria valores gerais a serem internalizados pelos indivíduos. Em vez disso, pensa-se em diversas formas de socialização, que têm a ver com condições específicas de existência dos grupos e dos indivíduos. Boa leitura, e qualquer dúvida acione os canais de tutoria! Referências bibliográficas: THIN, Daniel. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola: confrontação entre lógicas socializadoras. Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 32 maio/ago. 2006
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