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Alessandra Iovanovich de Paula Oliveira Ana Elise Ferro Maia Lays Fernanda de Paula Resende Samara Moreira Shayenne Campos de Oliveira Apresentação do caso Marvin Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia O relato Então doutora, eu vim de uma família muito pobre, meu pai não tinha educação nem instrução alguma. Mas ainda me lembro que era um homem de grande coração. Sempre trabalhador, ganhava a vida com muito suor. Ele sempre fez o melhor que pode, mas mesmo assim a vida não podia ser pior. Aprendemos a viver com o básico, sempre com pouco dinheiro para poder pagar todas as contas e despesas do lar. T: Como é falar do seu pai aqui agora? Possíveis intervenções Ao falar do meu pai, sinto saudades, ele sempre foi um exemplo pra mim, mas Deus quis vê-lo no chão com as mãos levantadas pro céu, implorando perdão. Chorei ao vê-lo assim. Ao se despedir de mim meu pai disse “boa sorte” com as mãos no meu ombro em seu leito de morte. Não vou esquecer jamais de suas ultimas palavras (choro). E disse “Marvin, meu filho, agora é só você. Toma conta da sua mãe e dos seus irmãos. Você é o responsável por todo mundo agora. E como eu estava chorando muito ele me disse: “seja homem, seja forte, não vai adiantar chorar, só vai me fazer sofrer”. T: Marvin, eu vi que você se emocionou ao falar sobre as últimas palavras do seu pai. Gostaria de saber como você fica ao lembrar dessas palavras? E sabe que ele tinha razão? Três dias depois de morrer meu pai eu queria muito fazer diferente. Queria saber as coisas, ser instruído, ter uma vida diferente da dele. Mas não botava nem o pé na escola, porque tinha que trabalhar para colocar a comida na mesa. Mamãe lembrava disso a toda hora. Vivia cobrando que queira me ver estudar, mas como? A vida foi muito dura comigo. Todo dia eu me levantava antes do sol sair. Eu dava duro, trabalhava sem me distrair. T: Imagino que não deve estar sendo fácil mesmo lidar com o luto do seu pai e a cobrança de assumir as responsabilidades de casa. Me descreva como se sente. Sabe, doutora, eu sinto como se eu estivesse sendo levado pela correnteza do rio, como se estivesse me afogando. As vezes acho que não vai dar pé. Eu queria fugir disso tudo, dessa vida. Mas fugir pra onde, né? Aonde eu estiver eu sei muito bem o que meu pai quis me dizer. Eu rezo muito e peço ajuda pra ele. Sempre digo: “ô meu pai, eu me lembro de tudo o que o senhor me disse, não me deixe esquecer das suas palavras. Parece que ainda consigo ouvir sua voz me dizendo: “Marvin, meu filho, a vida é pra valer, não tem tempo pra ficar frescando de brincadeira não. Olha pra mim, eu fiz o meu melhor com o que a vida me deu e ainda assim não consigo sair dessa vida de miséria.” “Essa nossa vida é muito injusta, pare de sonhar, o seu destino eu sei de cor, você vai ser igual a mim, ter uma vida dura como a minha.” T: Marvin, você me traz que é como se você estivesse sendo afogado pelo rio e eu percebo o quanto as palavras do seu pai ainda estão presentes. Vejo a saudade manifestada nas lembranças que ele deixou e a sua vontade de ter uma vida com outras oportunidades. Faz sentido? Faz sentido, doutora. E quer saber? Eu lutei muito tempo, mas ele tinha razão. Naquele ano que meu pai morreu eu dei um duro danado, tive que pegar um empréstimo no banco. Acreditei até que eu poderia fazer melhor, ganhar mais dinheiro se eu investisse. E então um dia uma forte chuva veio, e acabou com o trabalho de um ano inteiro. E eu aos treze anos de idade sentia todo peso do mundo em minas costas. Vida ingrata essa de trabalhar com a terra, sabe? Eu tentei levar de um jeito mais otimista. Repetia pra mim mesmo que meu pai estava errado, que eu ia fazer minha vida ser melhor que a dele. É aquela história, né? Eu queria jogar, mas perdi a aposta. T: Marvin, como é se escutar falando que você carrega todo o peso do mundo em suas costas? E difícil, olha que eu trabalhava feito um burro nos campos e nada. Só via carne se roubasse um frango. Meu pai cuidava de toda a família e por mais que eu desejasse fugir daquele destino, sem perceber, seguia a mesma trilha. Eu tinha muita vergonha da vida que eu estava levando. Quando precisava roubar pra comer minha mãe ficava brava. E toda noite minha mãe orava. E eu, vendo-a rezar ficava com raiva de Deus, porque ele não colocava comida na nossa mesa. Mas depois vinha um peso na consciência e eu pedia perdão. Mas Deus! Era em nome da fome que eu roubava. T: Marvin, eu estou te escutando dizer que essa foi a maneira que você encontrou de lidar com essa situação, você precisou trabalhar feito um burro e não viu resultado, precisou de roubar para comer e em alguns momentos ficou com raiva de Deus. Sim, aí agora eu estou aqui doutora. Dez anos passaram, cresceram meus irmãos. E esses dias os anjos levaram minha mãe pelas mãos. Chorei tanto! A dor tá de mais, sabe? E eu só lembro do meu pai me falando: Marvin, agora é só você, e não vai adiantar Chorar vai me fazer sofrer! Caso fictício criado com base na música Marvin do grupo Titãs 17
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