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lo 77085186 BIBUOTECA FACULDADES INTEGRADAS PITÁGORAS ex.4 616-053.9 MOR PRI ~ .. .". .' . ..•.. .. . ... . .. . . .. .• .. . •.... . . ... .• ........................................... ..• . ..• . . •.... .. -............ . .• ... .. ....••.. ... . .• . ....•.. ....• ... .• ..•.. • fi .oomíID!IJ~~~~ .- I •••••• - _~Ií.41Ir;"I!II'E~~J • • •• .•.• .• .•• •.• ••.••.•.• ••.•••• • •• 1 •• •• • •• I •••• ti .•• o oo o o o ..........,- _Jl' O, 00' m~~~<!m1lil~«iIíiJID~~~~~ SUMÁRIO • MÓDULO I: Gerontologia Básica 1. Demografia e epidemiologia do envelhecimento nO BrasiL 03 Maria Fernanda Lima-Costa, Ana Amélia Camarano 2, Bases do envelhecirhento do organismo e do psiquismo 21 Edgar Nunes de Moraes, Adriana Letícia A. Silva 3. Fisiologia do envelhecimento aplicada à prática clínica .37 Edgar Nunes de Moraes, Rodrigo Ribeiro Sanros, Adriana Letícia A. Silva MÓDULO 11:Avaliação Multidimensional do Idoso 4. Avaliação clínico-funcional do idoso 63 Edgar Nunes de Moraes, Flávia Lanna de Moraes, Adriana Keller, Marco Túlio Freitas Ribeiro 5. AValiação ..da ~ognição e do humor 85 Edgar Nunes.de Moraes, Flávia Guerra Joviano' S. Lanna 6. Avaliação da mobilidade : : 105 Edgar Nunes de Moraes; Rodrigo Zunzarren Megale 7. Avaliação da comunicação : 115 Erica de Araújo Brandão Cóuto, Lilian Felipe, Edgar Nunes de Moraes 8. Adaptação ambiental 125 Mozarr Joaquirn Magalhães Vidigal, Janine Gomes Cassiano 9. Exames complementares. em geriatria 139 Guilherme Birchal Collares, Marília Campos Abreu Marino 10. Tomada de decisão em geriatria 149 Flávio Chaimówicz 11. Protocolo de avalié;lção multidimensional do idoso ; 157 Edgar Nunes de Moraes \~ MÓDULO 111:Estratégias de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças 12. Aterosclerose: diagnó~~ico e tratamento 189 Edgar Nunes de Moraes 13. Vitaminas e reposição hormonal em geriatria 203 ,I Edgar Nunes de Moraes, Marília Campos Abreu Marino 14. Exercício físico no idoso :~•.......221 '.' Valéria Maria de Azeredo Passos, Marília Campos Abreu Marino, Maura Aparecida Meira Maia,. Raquel Rodrigues Britto, Edgar Nunes de Moraes 15. Rastreamento de câncer no idoso , : 231 Juliana Alves do Carmo, Flávia Lanna de Moraes, Edgar Nunes de Moraes 16. Imunização no idoso , 239 Edgar Nunes de Moraes, Flávia Lanna de Moraes, Hellen Livia Drumond Marra <íZ))steoporose: diagnóstico e tratamento 253 Cristiane Hemandes da Silva, Edgar Nunes de Moraes /\ \~ A sexualidade na adultez velha 261 Roberto Patrus Mundirn Pena, Márcia Teixeira de Freitas. MÓDULO IV: Grandes síndromes geriátricas 19. Abordagem do idoso com incapacidade cognitiva ;: !,..••••••••.•..••••••••...••••.273' Edgar Nunes de Moraes, Maurício Viotti Daker 20. Exame neu ropsicológico 293 Climene Mendonça ~ 21. Demências reversíveis ::: ::. .303 Edgar Nunes de Moraes, Marília Campos Abreu Maríno, Ana Luíza R~gani Barcelos " 22. 'Demências irreversíveis , : ~ 313 Edgar Nunes de Moraes,Rodrigo Ribeiro Santos @23. Depressão: diagnóstico. e tratamento : 343 Silvana de Araújo Silva, Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha 24. Defirium: diagnóstico e tratamento : , 351 Marco Polo Dias Freitas, André Luiz de Menezes 25. Tratamento dos sintomas comportamentais e reabilitação cognitiva .359 Edgar Nunes de M?raes, Mauricio D.Viotti, Marcela Guimarães de Assis Tirado, Mariana Ybarra 26. Cuidando do cUidador :: , 371 Juliana Elias.Duarte, Renata Vaz de Melo, Raquel Souza Azevedo ~ 27. Instabilidade postural: abordagem diagnóstica 381 . Rodrigo Zunzarren Megale, Edgar Nunes de Moraes 28. A fisioterapia na instabilidade postura I 395 Gisele Cássia Gomes ~ 29. Abordagem diagnóstica e terapêutica do idoso com tontura ..405 Denise Utsch Gonçalves ~30. lniobilidade ; 411 Gelson Rubem Alves de Almeida, Nilson Fonseca Amaral, Edgar Nunes de Moraes; ~_.Raquel Souza Azevedo . 31'. Inconti nência uriná ria 423 I ~ .Arlindo Maciel, Maura Aparecida Meira, Rosângela Corrêa Dias, Luciana Moreno Marques . 32. Incontinência feca I 439 Edgar Nunes Moraes, Maura Aparecida Meira 0$ 33. latrog enia : ; 443 Edgar Nunes de Moraes, Rodrigo Ribeiro Santos, Marco Aurélio Romano-Silva MÓDULO V: Neuropsiquiatria Geriátrica @34. Sono e envelhecimento .:.. 459 Dirceu de Campos Valladares Neto, José Soares Moi Filho, Marco Polo Dias Freitas '::f 35. Uso de benzodiazepínicos no idoso .471 Jussl'ra Mendonça Alvarenga, Marco Túlio de Aquino ~ 36. Tremores nó idoso: diagnóstico, tratamento e fisioterapia da doença de Parkinson .477 Débora Palrila Maia,Antonio Lúcio TeixeiraJúnior, Mauro C. Q. S. Cunningham, Francisco Cardoso, Fátima R.P. doulart, Luci Fuscaldi-Teixeira Salmela, Christina D. C. M. Faria 37. Acidente vascular cerebral: prevenção, diagnóstico, tratamento clínico e reabilitação fisiote ráp ica 487 . Leonardo Domas de Oliveira, Edgar Nunes de Moraes, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, Christina Danlelli Coelbo de 'Morais Faria, rátima Rodrigues de Paula Goulart MÓDULO VI: Gerenciamento da Poli patologia 38. Abordagem da hipertensão arterial e hipotensão ortostática 501 Edgar Nunes de Moraes, Adriana Leticia A. Silva 39. Insuficiência cardíaca congestiva no idoso : .513 Edgar Nunes de Moraes, Henrique Cerqueira 40. Insuficiência coronariana no idoso ~ .523 Cláudia Drummond Guimarâes Abreu, Maria Aparecida Camargos Bicalho 41. Doença pulmonar obstrutiva crônica 533 Edgar Nunes de Moraes, Cristina Sartini, Maria Ercília Souza 42. Pneumonia adquirida na comunidade : 543 Ênio Roberto Pietra Pedroso, Luis Felipe José Ravic\~e Miranda 43. Diabetes mel/itus no idoso : .553 Edgar Nunes de Moraes, Faust~ Azambuja 44. Osteoartrite no idoso , .563 Cristiane Hernandes da Silva, João Marcos Domingues Dias, Rosângela Corrêa Dias, .~ Edgar~unes_de~orae~ . '. . . ~5. Constlpaçao Intestina I ~ 577 Edgat Nunes de Moraes, Nilson Fonseca Amaral ". 46. Principais alterações dermatológicas no idoso , 583 Marcelo Grossi Araújo, Claudemir Roberto Aguilar MÓDULO VII: Reabilitação 47. Princípios da reabilitação geriátrica ; 597 Leani Souza Máximo Pereira 48. O uso de tecnologia assistiva por idosos ; 609 Maria Aparecida Ferreira de .Mello 49. Acupuntura e envelhecimento ..~ : : 623 Cláudia Moreira da Costa, Hong Jin Pai, Yolanda Maria Garcia MÓDULO VIII: Princípios da Paliação 50. Cuidados paliativos em geriatria : ..\. 633 Fausto Aloísio Pedrosa Pimenta, Josefino Fagundes da Silva, Edgat Nunes de Moraes '. 51. Controle da dor : : ,645 Fausto Aloísio Pedrosa Pimenta, Josefino Fagundes da Silva , MÓDULO IX: Políticas Públicas e Serviços deA~enção à Pessoa Idosa si. Pa.rticipação e direitos das pessoas idoSàs : 655 Dorotéia Fernandes Silva, Patrícia Guirnaraens Ferreira, Maria José Rodrigues, Simone Montez Pinto Monteiro, JÚIlÍaElizabeth dos Reis Rezende 53. Rede assistencial de atenção à pessoa idosa :......•.............................................................665 Edgar Nunes de Moraes, Eliana Márcia Fialho do Sousa Bandeira, Dorotéia Fernandes Silva, Mariana Christine Assis Faria de Medeiros 54. Políticas públicas, serviços e programas de atenção à pessoa idosa :.679 Dorotéia Fernande~ Silva, Patrícia Guimaraens Ferreira lndice Remissivo ~ ::: , 689 .•. • MÓDULO. Gerontologia Básica \. \ ~:. :: \ . Maria Fernanda Lima-Costa Ana Amélia Camarano 11 DEMOGRAFIA E EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO NO ,BRASil O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA social do idoso através de sua participação na família e no mercado de trabalho, A quinta e as seções subseqüentes referem-se à epide- miologia do envelhecimento no Brasil, focalizando a situa- ção de saúde da população idosa; a sua capacidade funcio- nal e autonomia; os estilos de vida relacionados à saúde e o uso e avaliação de serviços de saúde, Por população idosa està se considerando a de 60 anos e mais, tal como estabelecido na Política Nacional do Idoso e no Estaruto do Idoso, De uma maneira geral, os dados utilizados foram extraidos de pesquisas com abran- gência nacional, tais como os censos demográficos brasi- leiros,o Movimento de Autorizaçõesde Internações Hospitalares do Sistema Único de Saúde e as Pesquisas Nacionais por Amostras de Domicílio, Para temas especí- ficos foram utilizados resultados do inquérito de Saúde dos Adultos na RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte e do Projeto BambuL INTRODUÇÃO o envelhecimento populacional é uma das mais impor- tantes mudanças'demográfica e social observadas em quase todo o mundo. Esse fenômeno, inicialmente observado de forma lenta e progressiva em paises desenvolvidos, passa a ocorrer com enorme velocidade em paises em desenvolvi- mento, É, sem duvida, a maior conquista social do século XX. No entanto, há que se recon!Jecer que ela traz grandes desafios para as sociedades contemporãneaS.. Um dos desafios trazidos diz respeito à maior demanda por serviços de saúde e o despreparo dos sistemas de atenção para lidar com essasmudanças. Populações envelhecidas apresentam maior carga de doenças e agravos não-transmissíveis, assim como de incapacidades, resultando em maior e mais pro- longado uso de serviços de saúde. Políticas de saúde para a população idosa devem se basear na promoção da saúde ao longo de todo o ciclo da vida e em políticas que atendam às necessidades específi- cas dessa população. Políticas de integração social' e de conscientização da necessidade de um estilo de vida condi- zente com uma melhor saúde devem fazer parte de um, "pacote de saúde", O presente capítulo contempla os aspectos acima ,Visão Geral mencionados. Inicia-se, na segunda seção, descrevendo a dinâmica de crescimento do subgrupo populacional O envelhecimento populacional é, hoje, um fenôme- aqui considerado idoso e o seu perfil sociodemogriífi- ' no proeminente mundial. No caso brasileiro, pode ser co, Na terceira e quarta seções analisa-se a integraçã~" ex~mplificado pelo aumento da participação da popula- 3 ------------------------------------------.lIiI!iiI"'" Fonte: IBGE/Censo Demogáfico de 1940 e 2000 -Figura 1.1: Distribuição etária por sexo - Brasil, 1940 e 2000 ção com 60 ou mais anos de idade no total da popula- ção nacional: de 4% em 1940 para 8,6% em 2000. Nos últimos 60 anos, o número absoluto de idosos aumen- tou nove vezes. Em 1940, era de 1,7 milhões e, em 2000, de 14,5 milhões. Projeta-se para 2020 um contin- gente de aproximadamente 30,9 milhões pessoas que terão 60 ou mais anos (BELTRÃO et aI., 2004). Desde os anos 40, as taxas mais altas de crescimento populacional têm sido observadas entre a população idosa, sendo que nos anos 50, esta já atingira valores superiores a 3% ao ano. Entre 1991 e 2000, ela atingiu 3,4%. Além disto, a proporção da população "muito idosa," ou seja, a de 80 anos e mais, também está aumen- tando, alterando a ca"mposição etária denU:o do próprio grupo. Entre 1991 e 2000, o número de octagenários bra- sileiros cresceu a uma taxa média anual de 5,4%. Em 2000, esse segmento foi responsável por 12,6% do total da população idosa. Isto quer dizer que também a popu- lação considerada idosa está envelhecendo. Tais alterações resultam na heterogeneidade do seg- mento idoso. Por exemplo, esse grupo etário abrange um intervalo de aproximadamente 30 anos. Compreende pessoas na faixa de 60 anos que, pelos avanços tecnológicos da medicina, podem estar em 11 100% -80% 60 % 40% 20% 0% Homens - Visão Geral INSERÇÃO DO IDOSO NA FAMíLIA A família é uma das instimições mais importantes e eficientes no tocante ao bem-estar dos indivíduos e á dis- tribuição de recursos. A hipótese do trabalho é que, dada a predominância em quase todo o mundo de um mode- lo de. políticas sociais que privilegia o enxugamento do Estado, as familias estão sendo cada vez mais requeridas para cuidarem dos segmentos "vulneráveis". Em muitos países, aparece como a única alternativa de apoio à popu- lação idosa. Isto tem se dado tanto pela co-residência como pela transferência de bens e recursos financeiros. Os seus membros se ajudam na busca do bem-estar cole- tivo, constituindo um espaço de "conflito cooperativo" onde se cruzam as diferenças entre homens e mulheres e as intergeneracionais. Daí surge uma gama variada de arranjos familiares. Por outro lado, em quase rodo o mundo tem crescido o período em que os filhos passam como economica- mente dependentes de seus pais, na maioria dos casos, dois fatores: a maior longevidade das mulheres e o recasamento, mais freqüentemente observado entre homens idosos. Também é bem mais elevada a propor- ção de mulheres solteiras, separadas, desquitadas e/ou divorciadas. Sintetizando, aproximadamente 60% das ídosas brasileiras não tinham companheiro, proporção trés vezes mais alta do que a de homens. Mu1here~ Casados • Viúvos Sep. Desq. e Div • Solteiros Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 2000-Figura 1.2: Distribuição proporcional dos idosos brasileiros por estado conjugal- 2000 Composição por idade, sexo e estado conjugal Uma das formas mais utilizadas de se visualizar o envelhecimento de uma população é através da pirámi- de erária, mostrada na Fig. 1.1. Esta apresenta a distri- buição etária por sexo da população brasileira em 1940 c 2000. O movimento de envelhecimento pode ser reconhecido pelo estreitamento da base e alargamento do topo da pirámide. Este último foi mais expressivo entre as mulheres. Um dos resultados é maior propor- ção de mulheres dentro do segmento idoso. Considerando a população idosa como um todo, observa-se que 55% dela sãó formados por mulheres. Quando desagregada pelos subgrupos de idade, a dife- rença entre essas proporções aumenta, principalmente, entre os mais idosos. A proporção do contingente feminino' é mais expressiva quanto mais idoso for o segmento, fato este explicado pela mortalidade diferen- ciaI por sexo. Isto leva á constatação de que "o mundo dos muito idosos é um mundo das mulheres" (CARS- TENSEN & PASUPATHI, apud GOLDANI, 1999). De acordo com Lyod-Sherlock (2004), mesmo que a velhice não seja universalmente feminina, ela possui um forte componente de gênero. POt exemplo, mulhe- res idosas experimentam mais probabilidade de fica- rem viúvas e em.situação socioeconômica desvantajo- sa. A maioria das idosas brasileiras de hoje não tiveram um trabalho remunerado durante a sua vida adulta. l\lém disso, embora vivam mais do que os homens, passam por um período maior de debilitação física antes da morte do que eles. Por outro, são elas mais do que os homens que participam de atividades extrado- mésticas, de organizações e movimentos de mulheres, fazem cursos especiais, viagens e trabalho remunerado temporário. Diferentemente do que fizeram na sua vida adulta, progressivamente assumem o papel de che. fes de família e de provedoras. J á homens mais velhos tém mais dificuldades de se adaptarem á saída do mer- cado de trabalho (GOLDANI, 1999). . A Fig. 1.2 mostra a distribuição percentual da popu- lação idosa por estado conjugal e sexo para o ano de 2000. Entre os homens, predominam os casados. Já entre as mulheres predominam as viúvas e as casadas, ambas apresentando proporções iguais. Enquanto 77,3% dos homens eram casados, a proporção compa- rável para mulheres foi de 40,8%. Por outro lado, enquanto 40,8% das mulheres eram viúvas, 12,4% dos homens encontravam-se nesta categoria. Isso se deve~ pleno vigor físico e mental, bem como pessoas na faixa de 90 anos, que devem se encontrar em situações de mais vulnerabilidade. A heterogeneidade do segmento idoso não se deve apenas a diferenças na composição etária. Dadas as diferentes trajetórias de vida experimentadas pelos ido- sos, eles têm inserções distintas na vida sQ~ial e econó.- mica do pais. Essa heterogeneidade, seja em termos etários ou socioeconômicos, traz também demandas diferenciadas, o que tem 'rebatimento na formulação de políticas públicas' para o segmento .. O crescimento da população idosa é conseqüência de dois processos (CAI\iIARANO, 2002): a alta fecun- didade no passado, observada nos anos 50 e 60, com- parada à fecundidade de hoje, e a redução da mortali- dade da população idosa. Por um lado, a queda d~ fecundidade modificou a distribuição etáriadá popula- ção brasileira fazendo com que os idosos passassem a ser um componente cada vez mais expressivo dentro' da população total, resultando no envelhecimento pela bas~. Por outro, a redução da mortalidade trouxe como conseqüéncia o aumento no tempo vivido pelos ido- sos, is.to é, alargou o topo da pirámide, provocando o envelhecimento pelo topo. ~I~ I I t. 6% 4% 90e + 85-8~ 80-84 75-79 70-74 65-69 61).<;4 55-59 50-54 45-49 4D-44 35-39 30-34 25.29 20-24 15-19 10-14 5-9 0-4 8% 4 \ ' 5 Fonte: Censo Demogcifico de 1980, 1991 e 2000 ~ura 1.3: Distribuição da população idosa por condição no domicílio e sexo. Brasil - 1980, 1991 e 2000 Mulheres 2000 Mulheres 1980 - Â- Homens 1980 -.-- Homens 2000 80+75.79 (23,1%). Estas diferenças são determinadas, em grande parte, pelo estágio do ciclo vital das família~,com ido. sos, nas quais a maioria destes já não vive com seus filhos, bem como pela sobremortalidade masculina, que faz com que as mulheres sobrevivam por mais tempo sós ou com fllhos. Em 2000, a proporção de mães idosas morando sós com os fJ.1hosfoi de quase quatro vezes maior do que a de pais. Na comparação entre estruturas familiates que con- têm idosos e aquelas que não os contêm, destaca-se, entre as primeiras, proporção mais alta de mulhcres sozinhas e de mães com fJ.1hossem cônjuges. Estas categorias representavam aproximadamente 15,9% e 17,2% das famílias com idosos. O mesmo fenômeno não ocorre com as familias sem idosos residentes. As mães com fJ.1hosnas famílias que não contavam com a presença de idosos representavam 13,0% do total de famílias. Uma outra diferença importante entre as estruturas familiares consideradas é o peso das famílias extensas. Entre as famílias que tem idosos tesidindo, 43,0% são extensas ou seja, contêm, também, outros parentes. Estes tanto podem ser os idosos nessa condição ou netos, irmãos, sobrinhos de chefes idosos. Mais impor- tante do que a referida proporção é o reconhecimento do seu crescimento expressivo no período; esta pro- porção foi de 25,2% em 1980. Vários trabalhos têm mostrado um aumento da complexidade dos atranjos familiares que contêm idosos. O Quadro também mostra, tendo presentes as limi- tações dos dados apresentados, qüe as famílias brasilei- ra~ que contêm idosos estão em melhores condições 70.7465.69 50 60 40 20 30 10 Arranjos Familiares com Idosos A proporção de domicílios chefiados por idosos vem crescendo ao longo do tempo. O total de domicí- lios brasileiros foi de 17,7% em 1980 e passou para 20,9% em 2000. Em contrapartida, a proporção de domicílios que contêm idosos na condição de pais/sogros e/ou outros parentes apresentou redução de 4,5% para 3,3%',no mesmo período. Apresenta-se; no Quadro 1.1, uma comparação do perfil estatístico das famílias brasileiras que contêm idosos e das que não contêm em 2000. Observa-se que as famílias com a presença de idosos, quer na qualida- de de chefes de sua própria família ou mesmo como parte de uma outra família, apresentam uma estrutura bastante diferenciada das que não contê~ idosos, como esperado. São famílias menores, em etapas do ciclo vital mais avançado e, conseqüentemente, com estruturas mais envelhecidas. Os chefes das famílias que continham idosos apresentavam idade média de 65,2 anos e os das famílias sem idosos de 39,3 anos. As primeiras contam também com uma presença maior de mulheres na condição de chefes ou pessoas de referên- cia; 36,4,% e 21,2,%, respectivamente, nas famílias com e sem idosos. Em termos das diferenças nos arranjos familiares internos, o Quadro 1.1 mostra que, enquanto nas famí- lias sem idosos predominam os ar~anjos do tipo casais com fllhos (65,7%), entre as famílias com idosos a pre- sença de casais com fllhos foi de 36,3%. Destaca-se, também, entre as últimas, a expressiva proporção "de casal sem filhos (19,9%) e de pessoas vivendo Só~\ 60.64 Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 1980 e 2000-Figura 1.4: Percentual de idosos na condição de outro parente por sexo e idade - Btasil, 1980 e 2000 •;•I J j I---- Chefe H Cônjuge H Oue. pare~tes H ChefeM CónjugeM O~.t.parentes M 200520001995 mulheres idosas predominavam as cônjuges. Esta pro- porção diminuiu ao longo do tempo em prol do aumen- to da proporção de mulheres chefes de família, que pas- sou a ser o status predominantemente das mulheres idosas em 2000. Uma maneira de avaliar a dependência dos idosos sobre as familias, com base em dados secundários, é atra:. vés da proporção de idosos cuja relação com o chefe da família era a de "parentes" ou "agregados". Em geral, este grupo é composto de pais ou sogros que, na falta de renda ou autonomia fisica ou mental, vão morar com filhos ou outros parentes. Essa proporção está também mostrada na Figura 1.3 e, em oposição à de chefes, decresceu entre os 20 anos analisados, especialmente entre as mulheres. Entre estas, passou de 32,9% para 19,7% e entre os homens a variação foi de 12,3% para 9,0%. Isto sugere a redução da dependência dos idosos sobre a família. Também,. no cáso da relação famíliar, as mulheres apresentam proporção mais alta de "dependentes" do que. os homens. Experimentam menos autonomia e per- centual mais alto de pessoas que não têm rendimentos, provavelmente por isto moram em casa de "outros parentes". Acredita-se que parte desta "dependência", no caso da falta de' renda, por ex~mplo, está mais associada a um baixo status social no passado do que à idade. A proporção de outros parentes cresce com a idade, conforme mostra a Fig. 1.4. Entre 1980 e 2000, as'referi- das proporções decresceram em todas as faixas etárias, tendo sido o decréscimo mais acentuado o observado entre as m'U1h~rescom menos de 80 anos. Esta propor- ção se red~i.i quase à metade. Entre os homens, a redu- ção foi menor e crescente com a idade. 19901985 ~~- .- - . - ~.. - .. - .... - .. - ..... " •.................. .........•........ ..............• 19801975 90 80 70 60 50 40 30 20 10 idosos. Isto se deve à instabilidade do mercado de traba- lho, ao maior tempo despendido na escola e à maior fra- gilidade das relações afetivas. Em ambos os casos, a co- residência de pais idosos e fllhos aparece como uma estratégia familiar utilizada para beneficiar tanto as gera- ções mais novas como as mais velhas. Variações na renda dos pais e dos filhos desempenham papel importante na co-residência. Na análise do caso brasileiro, há que se levar em conta a queda generalizada da fecundidade, o aumento também generalizado da participação das mulheres (a tradicional cuidadora dos segmentos dependentes da família) nas atividades econômicas bem como as mudanças expressi- vas nos arranjos famíliares (separações, co-habitação, aumento da proporção de mulheres que nunca se casa- ram e/ou que nunca tiveram fllhos). Isto tem dificultado e irá dificultar ainda mais a atuação das famílias como promotoras de apoio à população idosa. Um primeiro ponto a se destacar na análise da inser- ção do idoso na família é que, enquanto apenas 8,6% da população brasileira tinha 60 anos e mais em 2000, 24,1% do total das familias continham pelo menos uma pessoa nessa idade. Esta proporção é crescente no tempo, uma vez que em 1980 era de 21,6%. A Fig. 1.3 mostra a distribuição dos idosos segundo a sua condição no domicílio em 1980, 1991 e 2000. Esta posição é bastante afetada por sexo. A grande maioria dos idosos do sexo masculino chefia as suas famílias, proporção que não se alterou ao longo do tempo; ficou ao redor de 87%. Chama-se a atenção para o aumento da proporção de homens cônjuges que, embora bastan- te baixa, experimentou aumento de 0,4% em.1980 para 3,9% em 2000. Por outro lado, em 1980, entre as 6 O,., }' \ . 7 Quadro 1.1: Estrutura das famílias segundo a presença de idosos. Brasil-2000 +--- • :','r:--::,,=:!,',',".._ ..__ ._---- lo etário de 60 a 64 anos, decrescendo com a idade nos dois anos considerados. Em 2000, a taxa de atividade entre os homens deste grupo etário foi de 57,1% e, entre as mulhe- res, de 19,2%. A participação dos idososcom idade entre 75 e 79 anos é bem inferior. Entre os homens, ficou em torno de 19% e, entre as mulheres, de 4%, o que mostra a velocidade da queda da participação dos idosos com a idade. Alguns fatores que podem ser associados à menor participação dos idosos no mercado de trabalho são: maio- res gastos públicos em benefícios sociais, menor proporção de população ocupada em atividades agricolas, maior urba- nização, dentre outros. A Fig. 1.6 mostra a distribuição da população idosa segundo a sua participação no mercado de trabalho e con- dição de aposentadoria em 2000. Foram consideradas qua- tro categcrias: aposentado puro, aposentado que trabalha, trabalhador puro e os demais. A categoria predominante é a de aposentados puros, na qual se encontravam 58,1% da população idosa. Somando-se a esta categctia a d~ aposen- tados que trabalhavam, pode-se concluir que aproximada- mente 2/3 da populàção idosa estavam aposentados. Aproximadamente um quarto das pessoas idosas não foi enquadrado em nenhuma dessas categorias. Deste contin- gente, 80,5% eram mulheres. Por outro lado, 17% das pes- soas idosas trabalhavam, sendo que a metade era aposenta- da. Este percentual é bastante diferenciado por sexo. A grande maioria, 76,7%, são homens, sendo que 51,1% são aposentados que trabalhavam. A coincidência entre traba- lho e aposentadoria é .menor entre as mulheres. Do total das idosas, 3,2% trabalhavam e eram aposentadas. r..,,"..:, .,,,•~ 40 80 30 100 10 50 20 70 60 O interesse em analisar a inserção do idoso no merca- do de trabalho deve-se ao próprio envelhecimento popu- lacional, que leva ao envelhecimento da População Economicamente Ativa (PEA). Além disto, O mercado de trabalho brasileiro apresenta uma particularidade: o apo- sentado retoma a ele ou, em alguns casos, permanece exercendo as mesmas atividades. A despeito da universa- lização da Seguridade Social, a contribuição da renda do trabalho na renda do idoso é importante. Neste sentido, trabalhar para O idoso aposentado pode significar renda mais elevada bem como autonomia física e mental e maior integração social. A taxa de atividàde da população idosa masculina dimi- nuiu de 44,5% em 1980 para 37,3% em 2000 e a feminina aumentou de 7,4% para 11,1%. No caso das mulheres, isto reflete um efeito coorte, ou seja, o aumento da participa- ção das mulheres no passado recente. A População Economicamente Ativa (PEA) envelheceu, ou seja, a sua idade média passou de 33,2 anos em 1980 para 34,7 em 2000. A Fig. 1.5 apresenta as taxas de participação da população brasileira ~m 1980 e 2000. A participação é sempre mais elevada entre os homens. Observa-se também que as ta.xasde atividade dos ido- sos são mais baixas que a dos adultos, especialmente entre mulheres. Entre os idosos, ela atingiu seu pico no interva- INSERÇÃO DO IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO Participação na Atividade Econômica --------------------------------------~-----~- r.-- f . I i i li I i I I I I i I I I I j i I ~ I I I J 'f: pessoas que trabalham e maior número de beneficiá- rios da Seguridade Social. Isto se deve, em alguma medida, aos tipos de arranjos internos e etapas de ciclo familiar que estabelecem diferentes relações de depen- dência econômica entre os membros das famílias. Por outro lado, não se pode deixar de mencionar a impor- tância dos benefícios da Seguridade Social na composi~ ção da renda dessas famílias. Já foi visto em. outros tra'" balhos que as aposentadorias desempenham papel muito importante na rençla dos idosos, especialmente das mulheres, e essa importância cresce com a idade. econômicas do que as demais famílias. São relativa- mente menos pobres, se medidas pela proporção daquelas cujo rendimento médio mensal per capita é menor do que um salário minimo. As famílias que não contêm idosos apresentam proporção de famílias pobres quase duas vezes mais elevada que as que con- têm (27,8% e 15,0%). O rendimento mensal per capita das famílias que contêm idosos é mais elevado e seus membros depen- dem menos da renda do chefe do que o das que não contêm. No entanto, conram com menor número de -Características das familias' Todas.as familias Famílias sem idosos Famílias com idosos Perfil das famOias Ta.manho médio 3,8 3,9 3,5 N° médio de filhos 1,6 1,8 1,1 Rendimento .Médio familiar per capifa " 293,5 281,9 333,6 Proporção média da renda que depende do chefe 67,4 70,0 59,7 N° médio de pessoas que trabalham 1,3 1,4 1,0 N° médio de beneficiários .0,4 0,2 1,2 Proporção de famílias que recebem até 1/2 salário mínimo 24,7 27,8 15,0 Características dos chefes de família Idade média do chefe (Anos) 45,5 39,3 65,2 Proporção de chefes mulheres 24.8 21,2 36,4 Distribuição dos tipos de famílias (%) Nucleares 77,3 : 83,8 57,0 Casal sem filhos 10,6 9,1 15,2 Casal com filhos 47,7 57,2 17,8 ~fàe com filhos 8,9 9,4 7,4 Mulher sozinha 4,4 2,7 9,9 Pai com filhos 1,2 1,0 1,8 Homem sozinho 4,5 4,4 4,8 Extensas 22,7 16,2 43,0 Casal sem filhos 1,9 1,0 4,6 Casal com filhos 10,9 8,5 18,4 Mãe com filhos 5,1 3,6 9,8 Mulher sozinha 2,5 1,3 6,0 . Pai com filhos 0,6 0,3 1,7 liIfII Homem sozinho 1,7 1,5 2,5 Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 2000 Notas: (1) As familias foram definidas segundo o Censo Demográfico como o conjunto de pessoas ligadas por laços de parentesco, dependência doméstica ou nOrIn:lS de convivência, que residissem na mesma unidade domiciliar. Foi considerada t:unbêm a pessoa que mora sozinha em uma unidade domiciliar, também parenres, agregados e/ou empregados sem vinculo de parentesco. (2) Rendimento médio fanúliar/Nr (apiM inclui a soma de todos os rendimenros das pessoas na familia dividido pelo número de pessoas destas fanúlias. 15-19 20-24 25-29 30-34 30-34 35-39 40-44 45-49 50_54 55-59 60-64 65-69 75.79 80+ Fome: IBGE/Censo Dcmogcifico de 1980 e 2000•• Figura 1.5: Taxa de atividade por idade e sexo Brasil, 1980 e 2000 8 9 2000 Mulheres• Homens 1980 Fonte: IBGE/Censo Demogrâfico de 1980 e 2000 30 25 20 15 10 Figura 1.9: Contribuição dos idosos na renda das familias com idosos Brasil, 1980 e 2000.' '1Er.•..iC"jfl .FI! F rp:~.':i..i(il C'C.i: o()-,:r-!'v[: 11~íll'd~f\lT0r~c:P.?A~.f1. . -- _._- - ..-.-._---- 4{) 11 35 composição, ou seja, o maior peso de grupos mais velhos, como também maior cobertura do sistema pre" videnciário. Isto é particularmente verdade para as mulheres que foram as grandes beneficiárias das mudanças constitucionais no que diz respeito à Previdência Rural. Os idosos são responsáveis por uma contribuição importante na renda das familias em que estão inseri- dos, contribuição esta que tem crescido ao longo do tempo. Em 1980, a contribuição do rendimento do idoso na renda da sua familia foi de 46,6% e passou para 58,5% em 2000. Essa contribuição é diferenciada por sexo (Fig. 1.9). Como já mostrado em outros tra- balhos, as famílias com idosos são famílias que contêm, também, fllhos e netos. Isto pode ser explicado, por um lado, pelas melhores condições de vida dos idosos e, por outro, pelo aumento da exclusão e da limitação das oportunidades para os jovens em curso no país. Essa situação tem exigido dos pais desses jovens, pro- vavelmente, na faixa etária considerada iáosa, um apoio material adicional. Mas a contribuição dos outros parentes na renda famíliar não é desprezível. Do que foi mencionado, pode-se concluir que no nível micro, o grau de dependência dos individuos ido- sos é, em boa parte, determinado pela provisão de ren- das por parte do Estado. Isso sugere que quando se reduzem ou se aumentam os benefícios previdenciá- rios, o Estado não está simplesmente atingindo indiví- duos, mas uma fração considerável dos rendimentos de famílias inteiras. Isso é importante de ser notado. por- que, como conseqüência, o perfil do Sistema Previdenciário construído hoje influirá na distribuição futura da renda das familias. •• --------------------~--. 80 anos Mulheres Homens Mulheres anos ou mais 75.79 Homens 2000 70.74 Mulheres 65 a 69 1980 60a64 Homens 10 20 Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 2000 252tJ entre 1980 e 2000. Para a população idosa masculina, a contribuição da renda das aposentadorias e pensões na sua renda total passou de 35,5% em 1980 para 51,3%. Em con- trapartida, a proporção que vinha da renda do trabalho declinou de 45,3% para 37,5%. 60 80 100 4{) Entre as mulheres, a importância da renda das apo- sentadorias e pensões ê maior do que entre os homens, dado O peso que as pensões por viuvez aí representam. Os dois tipos de benefícios foram responsáveis por 58,1% da renda das mulheres idosas em 1980 e passa- ram a serem responsáveis por 75,3% em 2000. O aumento da importância das aposentadorias na renda das pessoas idosas pode estar refletindo um efeito'\ • Outros rendimentos li Rendimento da aposentadoria e pensão Rendimento de todos os trabalhos Fonte: IBGE/Censo Demográfico de 1980 e 2000 """Figura 1:8: Composição da renda da população idosa segundo as túntes de rendimento. Brasil, 1980 e 2000. ---------------------~ ....~. ----------------------._.,.; ----------------------Figura 1~7: Proporção de idosos com renda zero por sexo e idade Brasil, 2000. tii'M Mulheres 18,28 13,34 6,89 5,61 4,88 4,65 3,77 2,76 2,27 2,08 35,46 Ocupações Trabalhadoras agrícolas Trabalhadoras dos serviços domésticos em geral Operadoras de máguinas de costura de roupas Vendedoras ambulantes Produtoras agrícolas Vendedoras e demonstradoras em lojas ou mercados Cozinheiras Trabalhadoras serviços de manutenção e,.Çonservação Gerentes de produção e operações Garçonetes, barwomen e copeiras Outras ocupações A Fig,:1.8Jmostra que a maior parte da renda dos ido- sos, em :WÇ)O, provinha da aposentadoria tanto para homens quanto para mulheres e esta importáncia cresceu. Fonte dos Rendimentos (4,9%). Esta última proporção é bem maior entre os homens ocupados. O emprego doméstico é a segunda ocupação mais importante entre as mulheres. Absorveu 13,3% delas. O comércio também se destaca como importante atividade. Cerca de 10% das mulhe- res idosas exerciam atividades neste setor em 2000 .. Rendimentos A proporção dos idosos sem renclimento é baixa; sendo . maior entre as mulheres, decrescendo com a idade (Fig. 1.7). Dentre os idosos brasileiros, menos de 12,7% não tinham renda em 2000. Essa proporção foi bem menor do que a observada em 1982, quando fora de 21%. Essa redu- ção .se deve ao aumento das mulheres com algum rendi- mento. Os diferenciais entre homens e mulheres na pro- porção mencionada foram também bem expressivos. Em 1981,2,5% dos homens idosos não tinham rendimento e, entre as mulheres, a proporção referida foi de 37,4%. Em ..2000, a proporção de mulheres sem renclimento atingiu 18',5%me a de homens 5,8%. Essa melhoria é resultado da ampliação da cobertura da previdência rural e da legislação da ~ssistência social estabelecidas pela Constituição de 1988, que garante aos idosos carentes maiores de 65 anos um saiário mínimo mensal. " 16,12 15,82 4,71 4,50 4,20 3,45 3,41 2,37 2,11 1,82 41,50 Homens MulheresHomens 100";', 90% 80"1, Ocupações Trabalhadores agrícolas Produtores agrícolas Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados Produtores em pecuária Trabalhadores de estrururas de alvenaria Gerentes de produção e operações Vendedores ambulante's Quadro 1.2: Proporção da população idosa segundo as principais ocupações por sexo - Brasil, 2000 o Quadro 1.2 mostra o perfil ocupacional da popula- ção idosa em 2000. Aproximadamente 37% dos homens idosos exerciam ocupações ligadas às atividades agropecuá- rias. As suas duas principais ocupações foram de trabalha- dores agrícolas (16,1%) e produtores agricolas (15,8%). Sorruim-se a estes, ém quarto lugar, os produtores pecuá- rios (4,5%). O comércio também absorveu parte importan- te dos trabalhadores idosos brasileiros. Cerca de 8% deles dividiam-se entre atividades em lojas e supermercados (4,7%) e vendedores ambulantes (3,4%). A agricultura é também uma importante atividade absorvedora 'de mulheres idosas. Aí se encontravam cerca de 23% das idosas ocupadas em 2000. A maior parte eram trabalhadoras agrícolas (18,3%) e a menor desempenhava ocupações de produtoras agrícolas • Aposentado puro • Aposentado que trabalha Trabalhador puro Não é aposentado e não trabalha Fonte: IBGE/Censo Demográfico 2000-Figura 1.6: Proporção de idosos por sexo segundo sua condição de aposentadoria e trabalho - Brasil, 2000. 10 Guardas e vigias Ocupações mal especificadas Garçons, barroen e copeiros Outras ocupações-Fonte: IBGE/Censo Dcmognífico de 20GO 12 Quadro 1,3: Distribuição percentual de alguns indicadores da condição de saúde, segundo a fai.xaetária em uma amostra' representativa da população brasileira com 60 ou mais anos de idade. bus, fazer compras, preparar o próprio alimento, admi- nístrar o próprio dinheiro ou tomar remédios. Esse estudo menci~nado mostrou um resultado curioso, quando as informações foram desagregadas por sexo; a prevalência de incapacidades para as AVDs não diferia entre homens e mulheres, ao passo que a incapa- cidade para as AIVDs era maior entre as mulheres. Isto sugere que fatores outros, que não a condição de saúde, estejam levando as idosas, em comparação aos idosos, à maior incapacidade para desenvolver algumas atividades instrumentais da vida diária na área estudada. Diversos estudos têm mostrado que a idade prediz, independente de outros fatores, a incapacidade fun- cional. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte verificou-se que a incapacidade para realizar pelo menos uma AVD aumentava de 2,5% para 4,6% e 17,3% nas faixas etárias de 60-69, 70-79 e 80 e mais anos. A incapacidade para a realização das atividades instrumentais aumentou de 8,2% para 18,5% e 47,0% nas mesmas faixas etária~ (Figura 10). Cotho comen- tado anteriormente, os idosos mais' velhos constituem o segmento populacional que mais cresce na popula- ção brasileira. Mesmo considerando os avanços na medicina, que tem contribuído para melhoras expres- sivas nas condições de saúde da população muito idosa, não se pode desconhecer que crescimento de idosos mais velhos leva a um aumento da carga de incapacidades nessa população, a menos que medidas efetivas de prevenção sejam adotadas. 13 Figura 1.11: Prevalência de incapacidades para realizar pelo menos uma entre cinco atividades da vida diária (AVDs) e atividades instru- me'ntais da vida diária (AIVDs) em uma amostra representativa de 1.774 idosos residentes na região metropolitana de Belo Horizonte. - A hipertensão arterial constitui um dos problemas de saúde pública mais relevantes neste país. As doenças cerebrovasculares representam a causa mais freqüente de mortalidade entre idosos brasileiros, superando a mortalidade devida a doenças isquêmicas do coração. '\s doenças cerebrovasculares refletem, entre outros fatores, o controle precário da hipertensão arterial, e espera-se a substituição dessas pelas doenças isquêmi- cas do coração nas sociedades que alcançam um bom nive! de Saúde Pública. Resultados do Projeto Bambuí, anteriormente mencionado, são emblemáticos dessa situação. Como no resto do país, as doenças cerebro- vasculares representam a principal causa de morte entre idosos Bambuienses. Na linha de base da coorte, foram examinados 1494 idosos, 919 dos quais eram hiperten- 50S. Entre os hipertensos, 578 (63%) estavam sendo tratados,' mas, entre os tratados, somente 224 (39%) apresentavam pressão arterial em níveis considerados adequados. As razões para o não tratamento e/ou para a interrupção do seu uso incluíam dificuldades de aces- so aos medicameç.tos, redução da dose prescrita por razões econômica.s e re-interpretação da informação prestada pelo médico, entre outros fatores. Essas obser- vações são um bom exemplo de como é dificil a abor- dagem da hipertensão arterial entre idosos, na ausência de um efetivo programa de Saúde Pública para preven- ção e controle da mesma. A capacidade funcional é um dos principais compo- nentes da saúde do idoso e tem sido importante para a formulação de novos conceitos de saúde, comoa "expectativa de vida ativa" . Escalas como Atividades da Vida Diária: AVD (que incluem atividades como alimen- tar-se e tomar banho) e Atividades Instrumentais da Vida Diária: AIVD (que incluem atividades como ir às com- pras e preparar alimentos) são muíto usadas para avaliar a capacidade funcional. Estima-se que 900 mil idosos brasileiros não conseguem ou têm muita dificuldade para alimentar-se, tomar banho ou ir ao banheiro. Um inquérito, realizado em uma amostra representa- tiva de adultos residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mostrou que 5% dos idosos necessita- vam de ajuda para realizar pelo menos uma entre cinco AVDs (vestir-se, tomar banho, transferir-se da cama para uma cadeira, usar o toilete e alimentar-se). Essa prevalên- cia, como era de se esperar, era mais alta para pelo mep.os uma AIVD: 11% necessitavam de ajuda para sair de ôÍi\~, CAPACIDADE FUNCIONAL E AUTONOMIA I I I - Anos Boaj11uito Boa --''':'~'''~-I - _ Razoável .--............_--- Ruim/Muito ruim ~--"-""-:::',._- • ......:..'=:-- 0.25 .i, 0.75 1.00 h.so 0.00 " boa ou muito boa e 10,5% a consideram como ruim ou muito ruim. Essa avaliação piora com a idade, assim como com a situação sócio econõmica. A prevalência de doenças ou condições crônicas entre idosos brasileiros ê alta, uma vez que 69% relatam ter pelo menos uma doença ou condição crônica. Por OUtro lado, somente 14% haviam interrompido suas atividades habituais por problemas de saúde nas duas'semanas pié- cedentes (Quadro 1.3). Hipertensão e artrite/reumatis- mo são as doenças mais 'freqüentemente auto-referidas, o que é também observado em outras populações idosas. É importante salientar que as prevalências de hipertensão e diabete auto-referidas entre idosos brasileiros são muito semelhantes às observadas em outras popUlações idosas. Fonte: Projeto Bambuí (dados não publicados)-Figura 1.10: Probabilidade de sobrevivência em cinco anos entre idosos, segundo.i auto-avaliação da saúde no exame inicial (projeto Barnbuí, \.997) " Faixaetária - 80+ Total 60-69 70-79 12,1 15,1 19,9 13,9 65,7 73,1 74,7 69,0 42,4 46,7 43,9 43,9 34,0 41,2 44,9 "- 37,S 16,6 21,7 24,0 19,0 9,5 11,7 10,6 10,3 Fonte: mGE (1998) In: ümll..Costa ec ai. Cadernos de Saúde Pública 2003; 735-743. SITUAÇÃO DE SAÚDE Principaisdoenças ou condiçõescrõnicas relatadas Deixou de realizar atividades habitunis nas duas últimas semanas por problemas de saúde Relatou ter pelo menos uma doença crônica Indicador A situação de saúde é geralmente descrita em termos da mortalidade e da morbidade de uma dada população. A mortalidade da população idosa brasileira tem sido exausti- vamente descrita em outras publicações e não será conside- rada no presente trabalh~. De uma maneira geral, em gran- des inquéritos de base populacionàl, as condições de saúde são aferidas por meio da morbidade auto-referida. Os indi- cadores correspo~dentes referem-se ao estado geral de saúde e a condições específicas de saúde (doenças e condi- ções relacionadas). Entre os indicadores gerais, destacam- se a auto-avaliação da saúde, a interrupção das atividades habituais por problemas de saúde e ter estado acamado em período recente, além do número de dias com incapacida- de devido a problemas fisicos ou mentais. Os indicadores específicos incluem as doenças mais freqüentes entre ido- sos, como, por exemplo, a hipertensão arterial e a artrite. A auto-avaliação da saúde é muito utilizada em pesqui- sas gerontológicas, sobretudo aquelas conduzidas em paí- ses desenvolvidos, porque apresenta confiabilidade e vali- dade equivalentes a outras medidas mais complexas da con- dição de saúde e prediz de forma robusta e consistente a mortalidade e o declínio funcional. Resultados recentes de um estudo de coorte (projeto Bambw'), no qual são acom- panhados anualmente 1.606 idosos no estado de 1'finas Gerais, mostram que essas observações são válidas tam- bém para a nossa realidade.A probabilidade de sobrevivên- cia nos' cinco anos subseqüentes era significativamente mais baixa entre aqueles que haviam avaliado a sua saúde como ruim ou muito ruim no exame inicial (Fig. 1.10). Para o conjunto da população idosa brasileira, verifi- ca-se que 25% dos idosos consideram a sua s'aúde como Hipertensão Artrite/reumatismo Doença do coração Diabete -,-------------------------------------------- 1 : A amostra induiu 28.943 idosos 1 : Amostr3 de t.n4 pessoas com 60 ou mais anos de idade 2 : Amostra de 11.927 pessoas com 20 li 59 anos de idade. RP(IC 95%): lUzão de prevalcnci:l.ajustada por sexo, utilizando-se a Regressão de Poisson (intervalo de confiança robusto). A fai:rneniria de referênda foi a de 20-59 anos. *: não espccifia a duração da atividade. Fontes: Lima-Cost2. 2004 a (www.epqrr.fiocruz.brjNESPE) e lima-COSta. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2004b; 13: 201-208. COhsultas médicas e hospitalizações que as evidências da efetividade desse exame para a redução da mortalidade por câncer de mama são mais fortes nessa faixa etária. A vacinação anual contra a gripe é recomendada para todos os brasileiros com 60 ou mais anos de idade e é oferecida gratuitamente nos serviços do Sistema Único de Saúde. Informações sobre o uso de serviços preventivos de saúde pela população idosa ainda são raras no Brasil. Resultados do inquérito de saúde da Região Metropolitana de Belo Horizonte mostraram a cober- tura de alguns exames é alta, sendo semelhante ou superior ao observado entre idosos norte-americanos (Quadro 1.5). No estudo mencionado, foram descritas altas prevalências de determinações da pressão arterial e da dosagem de colesterol, nos intervalos recomenda- dos. A cobertura da vacinação contra a gripe estava dentro da meta estabelecida pelo Ministérío da Saúde. Mas as prevalências da mamografia, do exame de Papanicolau e da pesquisa de sangue oculto ,nas fezes foram mais baixas, especialmente a última. . Quando comparados aos mais jovens, os idosos tiveram, com maior freqüência, a sua pressão arterial e o seu nível de colesterol aferido nos intervalos reco- mendados. Mas a realização da mamografia diminuiu significativamente entre as idosas, em comparação às mais jovens, mesmo considerando-se uma faixa etária (60-69 anos) sobre a qual não há controvérsias quanto à efetividade desse exame. Observações semelhantes foram feitas em relação ao exame de Papanicolau, que foi signíficativamente menos freqüente entre as idosas. A descontinuidade do exame de Papanicolau após os 65 anos de idade é aceitável apenas para a paciente que houver apresentado resultados normais desses exames nos anos precedentes. Não se sabe se a redução do exame de Papanicolau entre idosas belorizontinas está seguindo essa recomendação. Um outro resultado preocupante foi que a realização da pesquisa de sangue oculto nas fezes não aumentou com a idade, como seria de se esperar devido ao aumento do risco de cân- cer de cólon. Esses resultados, conforme ressaltado em outra ocasião (LIMA-COSTA, 2004 a, c), indicam que a prevenção entre idosos tem recebido menos atenção do que entre os mais jovens, pelo menos no que se refere aos exames mencionados. O número de consultas médicas aumenta gradualmen- te com a idade, alcançando o pico na faixa etária superior, USO DE SERViÇOS DE SAÚDE O uso de serviços de saúde é mais freqüente entre idosos devido à maior prevalência e incidência de doen- ças e condições crônicas. Dessa forma, o uso e a avalia- ção de serviços de saúde ocupam papel central na epide- miologia do envelhecimento. Na presente seção foram considerados alguns dos indicadores mais relevantes desse uso para a população idosa brasileira: (a) uso de serviços preventivos, (b) consúltas médicas e hospitaliza- ções e. (c) avaliação da qualidade da assistência por meio da mortalidade hospitalar. outras populações idosas, é devido a (a) maior preocu- pação com a saúde e/ou surgimento de doenças ou agravos, levando a hábitos mais saudáveis, (b) viés de sobrevivência, como conseqüência da mortalidade pre- coce en tre pessoas com maioresexposições ao risco ao longo da vida e (c) efeito de coorte, uma vez que coortes diferentes podem ter hábitos diferentes. Saliente-se, entretanto, que as menores exposições ao risco aqui mencionadas não podem ser traduzidas por menor necessidade de promoção da saúde entre idosos. Pelo contrário, os riscos atribuíveis nessa faixa etária são mais altos, devido à maior incidência de doenças, assim como devido à perduração dos hábitos. Uso de serviços preventivos de saúde Existem evidências de que a detecção de casos, e conseqüente tratamento, podem reduzir a morralidade por várias das mais importantes causas de mortalidade entre idosos neste país. Essas evidências são restritas a alguns exames, a certas faixas etárias e a intervalos pré- determinados entre os exames. De uma maneira geral, recomenda-se: (a) a determinação da pressão arterial a cada dois anos, entre homens e mulheres com 20 ou mais anos de idade; (b) a dosagem de colesterol a cada cinco anos, entre homens com 35 ou mais e mulheres com 45 ou mais anos de idade; (c) o exame de Papanicolau a cada três anos, entre mulheres com 18- 20 ou mais anos de idade; e (d) a pesquisa de sangue oculto nas fezes a cada dois anos, entre homens e mulheres com 50 ou mais anos de idade. Em relação à mamografia, existe certa controvérsia. Nos Estados Unidos, recomenda-se a sua realização rotineira em mulheres corri 40 ou mai~ anos de idade. No Canadá, a sua realização, como exame de rotina, é recomenda- da somente para a faixa etária de 50-69 anos, uma vez\, 12,8 21,1 0,56 (0,49-0,64) 15,4 31,5 0,42 (0,37-0,48) 14,0 10,8 1,35 (1,13-1,61) 4,3 3,1 1,31 (1,05-1,63) InquérilOde Saúdeda RMBH 60 + anos 20-29 anos RP (IC95%) de risco para outras doenças, tais como hipercolestero- lemia. Além disso, a obesidade está associada a diver- sos tipos de cânceres. Para adultos que não fumam e não bebem excessivamente, a alimentação é o mais importante determinante modificável.da sua condição de saúde. Dietas ricas em legumes, verduras e frutas têm sido associadas à redução de doenças .cardiovascu, lares e alguns tipos de cânceres. Recomend~-se a inges- tão diária de pelo menos cinco porções de frutas, ver, duras e legumes fresc,os 'ou a ingestão diária de 400 ~ 500 gramas desses alimentos. De uma maneira geral, informações sobre estilos de vida relacionados à saúde de idosos brasileiros são r~s. Resultados do inquérito de saúde da Região Metropolitana de Belo Horizonte, anteriormente men- cionados, mostraram que essa população apresentava altas prevalências de hábitos prejudiciais à saúde. Com' exceção do hábito de fumar, os idosos belorizontinos apresentavam maiores exposições ao risco do que, por. exemplo, os idosos norte-americanos. A freqüência de bebedores excessivos era duas vezes maior, o consumo diário de frutas, verduras e legumes frescos era sete vezes menor e eles eram praticavam menos exercícios nos moméntos de lazer, como pode ser visto no Quadro 1.4. Quando cofnparados aos I mais jovens, os idosos residentes na RJ.\1BH apreserhavam menores exposi- ções ao risco. Eles fumavam e 'bebiam menos, pratica- vam mais exercícios durante os períodos de lazer e consumiam com mais freqüência cinco ou mais por- ções de frt,Jtas,;verduras ou legumes frescos em bases diárias. Ess.e ~omportamento, também observado em 65 + anos. Estilode vida ESTILOS DE VIDA RELACIONADOS À SAÚDE Estudos epidemiológicos têm mostrado que doen- ças e limitações não são conseqüências inevitáveis do envelhecimento e que o uso de serviços preventivos, eliminação de fatores de risco e adoção de hábitos de saudáveis são importantes determinantes do envelheci- mento bem sucedido. Do ponto de vista da Saúde Pública, os cinco mais importantes fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis são o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade ou sobrepeso, a hiper- tensão e a dislipidemia. O tabaco é um dos mais poten- tes agentes carcinogênicos para o ser humano e o seu consumo é identificado como a maior causa' passível de prevenção de doenças. Existe~ indícios de que a inter- rupção do hábito de fumar aumenta a sobreilida em cerca de dois a três anos em indivíduos com 65 ou mais anos de idade, que fumam até dez cigarros por dia. O consumo elevado de álcool está associado à hipertensão arterial, ci~rose, acidente vascular hemor- rágico e aos cânceres da oro faringe, laringe, esôfago e fígado. As atividades físicas e exercícios, em qualquer idade, reduzem a morbidade e a mortalidade por doen- ça isquêmica do coração, hipertensão, obesidade, dia- betes, osteoporose e transtornos mentais. Recomenda- se a realização de exercícios físicos na maiOria dos dias da semana, de preferência todos os días, por pelo menos 30 minutos. O risco de morrer apresenta uma relação linear com o índice de massa corporal. Pessoas com sobrepeso têm uma probabilidade mais alta de desenvolver hipertensão, diabetes do tipo II e fatores . . Quadro 1.4: Estilos de vida relacionados à saúde em uma amostra representativa de idosos residentes na Região Metropolitana de Belo Horízonte (R1\1BH)', em comparação a uma população externa e aos participanres mais jovens do mesmo inquérito' . EstadosUnidos Fumantes atuais 10,0 Consumo de 5 ou mais drinques de bebidas alcólicas em uma 7,9 ocasião nos últimos 30 dias (bebedores excessivos) Atividades físicas diárias ou quase diárias, por 20-30 minutos 31,1 * durante os momentos de lazer nos últimos 90 dias Consumo diário de 5 ou mais. porções de frutas, verduras ou 32,2 legumes frescos- 14 15 http://www.epqrr.fiocruz.brjNESPE r. (Ipi,:.'. t:~si~c df! --ê':-.i:'a e :::.,;~, ....!::,ra ------------_. __ ._---- ---_.__ ._.- 21 1,0 65 2.86 (1,96.4,18) 2002 59 2,86 (1,93-4,25) 11 1,0 2001 18 1,0 20001999 Hospital SantaCasade Misericórdia- SãoPaulo TM 21 RR (lC95%) 1,0 Hospital8 - Riode Janeiro TM 24 53 RR (lC95%) 1,09 5,26 (0,67-1.77) (3,35-8,25) Hospital14-Rio de Janeiro TM 101 128 194 245 RR(lC95%) 4,88 7,62 18,01 11,91 (3,34-7,14) (5,26-11,02)(12,16.26,68)(8,75-16,21) público e alcançou notoriedade nacional, é um exemplo de violência institucional. Entre os meses de abril de junho de 1996, verificou-se alta ocorrência de óbitos entre idosos internados nessa clínica, resultando no des- credenciamento temporário da mesma pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Um estudo espidemiológico analisando as taxas de mortalidade nesse hospital, por meio do movimento de autorizações de internações hospitalares entre 1993 e 1996, mostrou que o excesso de mortalidade na clínica já vinha ocorrendo desde 1993. Esse excesso era obser- vado mesmo após ajustamentos das taxas de mortalida- depor características como idade, sexo e o diagnóstico que justificou a internação. Esse estudo mostrou que os óbitos poderiam ter sido evitados, caso este excesso de mortalidade tivesse sido detectado e as providências cabíveis houvessem sido tomadas. Mais recentemente, essa mesma metodologia foi utilizada para investigar todos os hospitais localizados em capitais brasileiras, que realizaram pelo fuenos 200 internações anuais de idosos sob cuidados prolonga- dos. Alguns resultados deste trabalho estão apresenta- dos no Quadro 1.6. Durante todo o período investiga- do, o Hospital 14 apresentou claro excesso de mortali- dade, que persistiu nos quatro anos considerados. As implicações desses resultados são evidentes, indicando necessidade de investigações mais profundas no hospi- tal em questão. Esse estudo é um exemplo muito inte- ressante de uma das aplicações da epidemiologia do envelhecimento, qual seja, a vigilância da mortalidade hospitalar. vç:-\:~,-';~.'~<I.A.E EPII:::?r,r,IC'.O(!A DO ~NVr:! Hl:C1~.1F~JTO:~O BPftS!!--~----- Quadro 1.6: População residente, por sexo, segundo os grupos de idade :- Brasil- Censo demográfico 2000 Ano ••••• 19,3 m20 % 17,8 ~ 16,3 15 14,3 12,0 11,5 10 I II 60-69 70-74 80+ 60-69 70-74 80+ Homens Mulheres 3,4 A Epidemiologia fornece instrumentos para detectar a violência institucional contra os idosos. Em hospitais que produzem Autorizaçõesde Internações Hospitalares no àmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (Ministério da Saúde, 1998), é possível verificar se as taxas de morta- lidade estão dentro de um limite considerado aceitável ou se existe excesso de mortalidade. O episódio ocorrido na Clínica Santa Genoveva, no Rio de Janeiro, que veiÓ~ . Razão Avaliação da qualidade da assistência por meio da mortalidade hospitalar 60-69 70.79 Fonte: AIH.DATASUS In: Loylola-Filho et al. Epidemiologia e Serviços deSaúde2004;130:229.38. " --._------------------ Figura 1.13: Razãoentrea proporção('lo) de internaçõeshospita- lares nu âmbito do Sistema Único de Saúde e o tamanho propor- cional (%) da faixa etária no conjunto da população brasileira. Fonee: IBGE (1998). In: Lima-Costa er alo Cadernos de Saúde/Pública 2003:735.743 •••• Figura 1.14: Distribuiçãopercentualde hospitalizaçõesnos últimos 12 meses em uma amostra de 28.943 idosos representativos da popu- laçãobrasileiracom 60 ou mais anos de idade, segundo O sexo •••• Faixa etária 4.6 Mulheres 5.4 Homens 60+50.5940-49 1.7 30.39 Inquéritode Saúdeda RMBH - 60ou maisanos Adultos' RP(IC95%) 97,7 90,6 1,08(1,07-1,09) 94,3 86,0 1,11(1,08-1,14)' 97,0 95,7 1,02(1,00:1,03) 67,5 78,S 0,86(0,82-0,91) 65,0 78,6 0,84(0,76-0,91) (60-69anos) 18,4 17,9 1,01(0,87-1,17) _66 1.3 N' 20.29 zações são razoavelmente semelhantes em ambos os sexos, como ROdeser observado na Fig. 1.14. ~. J Fonte:mGE (1998)In:Fonte:Lima-Costa2004a (www.epqrr.fioeruz.br/NESPE)••• Figura 1.12: Média do número de consultas médicas no ano ante- rior em uma amostra de 13.701adultos residentes na região metropo- litana de Belo Horizonte, segundo a fai."Caetária e o sexo 87(ambosos sexos) 87(ambosos sews) 58.77 75(65-74anos) 64 98 35(50oumaisanos) EstadosUnidos 65 ou maisanos Dosagem de colesterol há cinco anos ou menos entre homens> 35 anos de idade Dosagem de colesterol há cinco anos ou menos entre mulheres> 45 anos de idade Dererminaçào da pressão arterial há dois anos ou menos entre homens e mulheres > 20 anos de idade Mamografia há dois. anos ou menos entre mulheres com 50-69anos Uso como pode ser visto na Fig. 1.12. A média do número de consultas médicas é mais alta entre as mulheres, em com- paração aos homens, em todas as faixasetárias. Para o con- junto da população idosa brasileira, dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicilios, em 1998, mostra- ram que somente 28% dos idosos deste pais não haviam consultado um médico no ano precedente, ao passo que 28% haviam consultado uma ou duas vezes e 44% haviam tido trés ou mais consultas médicas nesse período. Em países desenvolvidos, o uso de serviços de saúde é três a quatro vezes maior entre pessoas com 65 ou mais anos de idade, em relação à sua participação no tamanho da população. No Brasil, a razão hospitalização/tamanho da população aumenta progressiv~ente com a idade, confor- me pode .servisto na Fig. 1.13. A proporção de hospitalizações anuais entre idosos varia entre países: 10% no Japão, 14% no Reino Unido, 16% na Alemanha e 18% nos Estados Unidos e Canadá. A prevalência anual de hospitalizações entre os idosos bra- sileiros (14%) está dentro dessa variação. É importante salientar que, embora as consultas médicas entre idosas sejam mais freqüentes do que entre idosos, as hospitali- Quadro 1.5: Uso de serviços preventivos de saúde em uma amostra representativa de 1.774 idosos residentes na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) I, em comparação a uma população externa e os participantes mais jovens do mesmo inquérito'. Exame de Papanicolau há três anos ou menos entre mul- heres > 20 anos que possuíam útero Pesquisa de sangue oculto nas fezes há dois anos ou menos ~entre homens e mulheres> 50 anos Vacinação contra a gripe há um ano ou menos entre homens e mulheres> 60 anos "'"1 : Amostra de 1.i74 pessoas com 60 ou mais anos de idade 2: Amostra de 11.927 pessoas com 20 a 59 anos de idade. 3: Faixa eciria correspondenre à indicada para o exame (ver primein coluna). RP(IC 95%); Razio de prevalencia ajustada por sexo. utilizando-se a Regressão de POlsson Qntervalo de confianç:l robusto). A faixa etária de refcrtncia foi a de 20-59 anos. 4: RP n,io ajust:J.da. . .; não especifica a duração da atividade. Fonte~; lima-Cosu 2004 li (www.cpqrr.fiocruz.brjNESPE)elima-Costa.EpidemiologiaeServiços'de Saúde 200~; 13: 209-215. 16 i,. \ ' 17 http://www.epqrr.fioeruz.br/NESPE CONCLUSÕES Uma das conclusões a que se chegaram neste trabalho .é que a relação entre envelhecimento e dependência não é tão clara. Uma parcela expressiva de indivíduos, apesar de serem considerados idosos, ainda está em pleno vigor fisico, gozando de boa saúde. Estão inseridos no merca- do de trabalho, mesmo aposentados, e assumem papéis não esperados como o de suporte a outros membros da família, especialmente a filhos adultos. Uma das razões se dá pela maior renda dos idosos vis a vis alguns segmen- tos populacionais como os jovens. Isto resulta em que o peso da sua renda no orçamento de suas famílias seja expressivo. Foi visto que as aposentadorias e pensões desempenham papel muito importante na renda dos ido- sos, e, em especial, das mulheres. A outra razão deve-se à queda da mortalidade conjugada às melhorias nas con- dições de saúde provocadas por uma tecnologia médica mais avançada bem como a universalização da Seguridade Social, maior acesso a serviços de saúde e outras mudanças tecnológicas, que levaram o idoso bra- sileiro a ter a sua expectativa de sobrevida aumentada, a ter reduzido o seu grau de deficiência física ou mental, a poder chefiar mais suas famílias, trabalhar e viver menos na casa de parentes. Pode-se dizer que em geral, o idoso está em melhores condições de vida que a população mais jovem; apresen- ta um rendimento maior, uma parcela maior tem casa própria, casa esta já paga e contribui significativamente na renda das famílias. Nas famílias, cujos idosos são che- fes, encontra-se uma proporção significativa de filhos e netos morando juntos. Esta situação deve ser considera- da à luz das transformações porque passa a eco~omia brasileira levando a que os jovens estejam experimentan- do grandes dificuldades em relação à sua participação no mercado de trabalho, o que tem repercutido em altas taxas de desemprego, violências de várias ordens, crimi- nalidade, gravidezes precoces, etc. Por outro lado, os resultados mostram a influência da idade no aumento da vulnerabilidade da população. As doenças crônicas são mais freqüentes e uma parcela não desprezível da população idosa não consegue realizar ati- vidades da vida diária e atividades instrumentais da vida diárias, essenciais para a completa autonomia. Essas difi- culdades são mais freqüentes nas idades mais avançadas. É este o segmento que demanda cuidados, o que no caso brasileiro recai em quase toda a sua totalidade sobre a família, principalmente sobre as mulheres. Grande parte 18 desses idosos mora em casa de familias na condição de outros parentes. A inatividade potencial atribuivel aos indivíduos idosos é mais observável entre as mulheres. São mais vulneráveis do ponto de vista de menor autonomia fisi- ca e/ou mental e apresentam uma proporção mais ele- vada de sem rendimentos. Para elas, é.mais fácil associar o envelhecimento com a inatividade, ~as:não necess~- riamente com a dependência econômica, Isto se de'\e também à sua menor participação na atividade econô: mica no passado. O casamento. foi uma' condição importante para o bem estar econômico dessas mulhe- res na última fase da vida. Mostrou-se, também, que, apesar da alta prevalência de pelo menos uma doença crônica entre os idosos bra- sileiros, somente uma parcela pequena dessa populaçã'o havia deixado de realizar atividades rotineiras. devido a problemas de saúde em períodos recentes ou havia sido hospitalizada no último ano, mostrando que a imensa maioria dessa população não está sujeita a esses eventos.' As, informações existentes disponíveis apontam para hábitos menos saudáveis dos idosos residentes na RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte, em comparação, por exemplo, aos idosos norte-americanos. Isto é verdadeiro para o consumó excessivo de álcool, consumo inadequa-' do de frutas, verduras e legum~s frescos e ausência de ati- vidades fisicas nos momentos de lazer. Com relação ao uso de serviços preventivos de saúde, foram encontradas altas prevalências, no que se refere a medidas da pressão arterial, determinações sanguíneas de colesterol e vacina . I contra a gripe,:mas prevalências mais baixas foram encon- tradas para'a fuamografia, exame de Papanicolau e pesqui- . sa de sangqe oculto nas fezes. Esse conjunto de resulta- dos revela a necessidade de mais investimentos em pre- venção para a população idosa. As prevalências de hipertensão e de artrite auto-refe- ridas, assim como a prevalência de incapacidade para realizar pelo menos uma entre três atividades da vida diária entre idosos brasileiros, são muito semelhantes às observadas em outras populações idosas. Os padrões de utilização de serviços médicos (consultas médicas e hospitalizações) estão dentro das variações observadas internacionalmente. . Chama a atenção o rápido envelhecimento da popu- lação brasileira, sobretudo o crescilIl~nto proporcional e absoluto dos idosos mais velhos. Devido à maior vulne- rabilidade dessa população às doenças e às suas conse- qüências, o seu crescimento mostra o aumento da carga de doenças e de incapacidades. Somente medidas efetivas de prevenção poderão mudar essas tendências. REFERÊNCIAS Beltrão Ki, Camarano AA, Kanso S. Dinâmica populacional brasileirana viradado séculoXX; texto para discussãon° 1034. Rio de Janeiro: IPEA; 2004. CII11:JranD iV\. Envelhecimento da população brasileira:uma mntribuição demográfica.In: FreitasEV et ai.,organiza- dores.Tratado de geriatriae gerontologia,RiodeJaneiro: SBGG; 2002. p. 58-71. Cam:tranoAA. Socialpolicyand the wellbeingof older peopie ai a time of economic slowdown: the case of Brazil. In: Uoyd-Sherlock P, organizador. Living longer: ageing, development and socialprotection. USA:Unrisd; 2004. GoldaniAA.Mulheres e envelhecimento:desafiospara novos contratos intergeracionais e de gênero. In: Camarano AA, organizador. Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros.Rio deJaneiro: IPEA; 2004. Lima-CostaMF,BarretoS]I;l,GiattiL.Condiçõesde saúde,capa- cidade funcional,uso de serviçosde .saúde e gastos com medicamentosda população idosa brasileira:um estudo descritivobaseadona PesquisaNacionalpor Amostrasde Domicilio.Cad SaúdePública2003; 19(3): 735-43. , \ ,., . :'.:r ~ ::~,:~IAF ~Y1:. ".Jv1IC':.O(!A n,.' ~f~VF!H:t:"IMENT1 i¥) ;?P,~:':_ --_._- ---- ._- - -----_._" Lima-CostaMF.A saúde dos adultos naRegiãoMetropolitana de Belo Horizonte: um estudo epidemiológicode base populacional.BeloHorizonte: NESPE/FIOCRUZ/UFMG; 2004.120 p. [Acessoem: jan. 2007]. Disponível em:www.cpqrr.fiocruz.br/nespe. Lima-Costa MF. A escolaridade afeta igualmente comporta- mentos prejudicias à saúde de idosos e adultos mais jovens? Inquérito de Saúde da RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2004; 13: 201-8. Lima-CostaMF. Influênciada idade e da escolaridadeno uso de serviçospreventivos de saúde:Inquérito de Saúdeda RegiãoMetropolitanade Belo Horizonte,Minas Gerais, Brasil.Epidemiol ServSaúde 2004; 13: 209-15. Guerra HL, GiattiL,Lima-CostaMP.Mortalidadeem interna- ções de longa duração comoindicador da qualidadeda assisténcia hospitalar ao idoso. Epidemio! Serv Saúde 2004; 13: 247-53. Uoyd-SherlockP. Ageing,development and socialprotection: Generalisations, myths and stereotypes.! In: Lloyd- SherlockP, organizador.Livinglonger:ageing,develop- mem and socialprotection. USA:Unrisd; 2004. 19 http://www.cpqrr.fiocruz.br/nespe. BASESDO ENVELHECIMENTO DO ORGANISMO E DO PSIQUISMO • ao V:rJn~ilidad~'ll\lÍmi~'!P~~mffiSíl5UílJa1Ie Quadro 2.1: Envelhecimento idoso funciona tão bem quanto o jovem. A diferença mani- festa-se nas situações onde se torna necessário a utilização das reservas homeostáticas, que, no idoso, são menores. Além disso, cada órgão ou sistema envelhece de fornla dife- renciada. A VARlABIUDADE é, portanto, cada '"ez maior na medida em que envelhecemos (Quadro 2.1). Edgar Nunes de Moraes Adriana Letícia A. Silva' CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO o envelhecim~nto. representa a conseqüéncia ou os efeitos da passagem do tempo. Estes efeitos podem ser positivos ou negativos e são observados nas diversas dimensões do indivíduo: organismo (envelhecimento biológico) e psiquismo (envelhecimento psiquico). Tàdas as dimensões são igualmente importantes, na medida em que são coadjuvantes para a manutenção da autonomia e independéncia. ENVELHECIMENTO BIOLÓGICO A Eg. 2.1 mostra a relação entre a funcionalidade global do organismo e o ciclo da vida (infância, adolescência, adul- Todas as pessoas, animais e plantas passam por trans- tez e velhice). <t):s&'hu:íiho~ma .."ilffi'511ãS-suas-fiill- formações com o passar dos anos. Essas modificações çQy_s,orgãnicas'Per-voll'ã'Oos-30'PIG'ãOOs.Ér!tr=s~'Rj1jo podem ser consideradas como urna involúção morfológi- anos-há~iliZa<ja0.e;~a-partlr--:a-aí;-um:aeGlíffiO::fíl:rlc-iü==l ca e funcional que afeta a maioria dos órgãos e leva a um ~::PJ2~e-ssiv0>€..Q!Jl-:1l:perda"fum:iorurl~ob1rl:lk::1"0iof.illl0. gradual declínio na performance dos individuos, cuIrni- Portanto, quanto maior a reserva funcional, menor será a nando com a morte. O termo envelhecimento é utilizado repercussão do declinio considerado fisiológico (envelheci- para indicar tais transformações. mento fisiológico). Para exemplificar melhor, vamos utilizar O envelhecimento biológico é inexoráve~ dinâmico e o modelo da osteoporose. O pico de massa óssea ocorre por irreversíve~ caracterizando-se pela maior V1JLNERABI- volta dos 25-30 anos. Entre 30 e 50 anos, a massa óssea LIDADE às agressões do meio interno e externo e, portan- mantém-se estável. Após os 50 anos, a perda óssea na to, maior susceptibilidade nos rnveis cel~, tecidual e mulher varia 2 a 3%/ano, podendo, pOrtanto, levar à osteo- órgãos/aparelhos/sistemas. Entretanto, não significa adoec, perna (envelhecimento fisiológico) ou à osteoporose (enve- cer. Senilidade não é diagnóstico. Em condições basais, o \lpeCÍ\J1entopatológico), aumentando o risco de fraturas. 21 EXECUÇÃO Refere-se à capacidade de realizar algo com os próprios meios Quadro 2.3: Conceito de Saúde (OMS, 1947) ••••"SaJiderepruenla o l!IaiJ cOllp/eto estado de hrn;.e.rlarftsicoJ pJ"iqllico r _ social e niio n/era/11m/r ol/sEneia de dOrfl(p 011 enftrntidade. " Em Geriatria, bem-estar e funcionalidade são equi- valentes. Representam a presença de autonomia (capa- cidade individual de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias regras) e inde- pendência (refere-se na à capacidade de realizar algo com os próprios meios), permitindo que o indivíduo cuide de si (AVDs básicas) e de sua vida (AVDs instru- mentais) (Fig. 2.2). A Classificação Internacional de Limitação, Incapacidade e Deficiência (ICIDH), revista em 2001, demonstra claramente os determinantes envolvidos no bem estar biopsicossocial ou Saúde dos indivíduos. É uma classificação da funcionalidade e da incapacidade humana, nos seus aspectos biopsicosociais, indepen- dente da faixa etária. Os termos funcionalida,de e inca- pacidade são bastante valorizados, em contraposição com o CID (Código Internacional de Doenças), que valoriza apenas um lado da questão: o da doença ou a situação que causou a seqüela, mas não apresenta outros fatores, como a capacidade do indivíduo em se relacionar com seu ambiente de vida (Quadro 2A). O CIF (Código Internacional de Classificação da Funcionalidade) é um sistema que organiza e padroni- za as informações sobre a funcionalidade das pessoas com deficiência, segundo uma nova abordagem, a da sua capacidade efetiva. Neste novo sistema de cl:issifi- FUNCIONALIDADE DECISÃO J? a capacidade individuaI de decisão e comando sobre as ações, estabelecendo e seguindo as próprias regras. Figura 2.2 Funcionalidade,independência e autonomia. \ ATMDADES DA VIDA DIÁRIA AVOs Básicas e Instrumentais próprias alterações. fisiológicas do envelhecimento (maior vulnerabilidade) são as variáveis que se intera- gem para determinar o risco de doenças, deficiências DU incapacidades na velhice. Portanto, se o indivíduo traz consigo uma carga hereditária desfavorável, o esti- lo de vida será o princip!ll determinante modificável do estado de saúde durante a sua velhice. Maior esforço deverá ser feito na implementação de estratégias de prevenção de doenças e promoção da saúde, desde a vida intra-uterina. Por outro lado, aqueles indivíduos com história familiar favorável terão muito mais chan- ce de atingir o potencial máximo de longevidade e fun- cionalidade, caso tenham um estilo de vida apropriado. Há certas desórdens associadas a mudanças especí- ficas que acompanham o processo de envelhecimento, às quais o idoso é particularmente vulnerável, como, por exemplo, os transtornos motores dp esôfago e a catarata. Algumas complicações de doenças ocorrem somente décadas após o início de determinadas doen- ças e, portanto, mais observadas no idoso, como as lesões de órgãos-alvo na hipertensão arterial e no dia- betes mellitus. Portanto, o envelhecimento aumenta a vulnerabilidade do organismos às agressões do meio interno e exterÍlo, predispondo às doenças. Praticamente todo idoso apresenta uma ou mais doen- ças/disfunções .. O "paciente pode conviver bem com suas doenças, sem que elas afetem a sua qualidade de vida. Daí o conceito de saúde como algo mais amplo do que simplesmente a ausência de doenças (OMS, 1947) (Quadro 2.3): . -------------------------------------------_.-- - r I I i I i f I I, ~ - conseqüências são percebidas na velhice, após décadas de exposição. As injúrias ambientais (hábitos de vida) interagem continuamente com a "bagagem genética" e as conseqüências biológicas são extremamente variáveis, de indivíduo a indivíduo. Além disso, não há marcadores específicos capazes de diferenciar as alterações da senes- cência (envelhecimento fisiológico) e da senilidade (envelhecimento patológico). Daí, a associação entre velhice e doença. Não quer dizer que todas as doenças aume':1tam em função da idade. Basicamente, podemos afirmar que existem dois grupos de doenças: " . • doenças que se relacionam com a idade, as quais se associam com mais freqüência ao envelhecimento. São chamadas de doenças crônico-degenerativas, que podem ser agrupadas em neurodegenerativas (doença de A1zheimere doença de Parkinson), cardiodegen~- rarivas (doença arterial coronariana, insuficiência car- díaca, acidente vascular cerebraD, osteodegenerativas (osteoporose, osteoartrose, etc), dentre outras; • doenças' que dependem da idade, as quais ~umen~ '; tam sua incidência de forma exponencial à medida que a idade aumenta: polimialgia reumática, arte"rite temporal, etc. Infelizmen\e, a maioria \ dos idosos apresenta o envelh"ecimento considerado"'patogênico, ou seja, asso- ciado a doenças e incapacidades. A prevalência de inca- pacidades em idosos com idade igual ou superior a 70 anos varia de 25% a 50%, dependendo do sexo e nivel socioeconôrIJ,Jeo. Ramos (1992), em São Paulo, verifi- cou que" 61°(0 dos idosos entrevistados precisavam de algum tipo de ajuda para realizar pelo menos uma das atividades'de vida diária (andar, comer, vestir-se, ir ao banheiro) e que 10% apresentava dependência total, impossibilitando o indivíduo de viver sozinho. A here- ditariedade, os fatores ambientais (estilo de vida) e as Velhice .._-------~-- Idade Adultez Envelhecimento Fisiológico InfânCia e adolescência Quadro 2.2: Envelhecimento fisiológico e patológico ENVa"1'lEClMeNre'FISfOEOGlt01Senesceíitia) Refere-se aos processos biológicos inerentes aos organismos e são inevitavelmente involutivos. Provavelmente, essas transformações sofrem 'influência do ambiente asico e social. Entretanto, ainda não se sabe a extensão do impacto ambiental, principalmente devido à dificuldade de desenvolvimento de um método que separasse a fração de declínio fisiológico inerente ao organismo daquelas advindas dos estresses ambien- tais anteriores ao envelhecimento. O envelhecimento fisiológico é dividido em: Envelhecimento usual: apresenta prejuízos significa'tivos, mas não são qualificados como doentes; Envelhecimento bem-sucedido: perda fisiológica mÍI1Íma,com preservação da função robusta em uma idade avançada. O processo de envelhecimento é "puro", isento de danos causados por hábitos de vida inadequados, ambientes inapropriados e doenças. Figura 2.1: Envelhecimento fisiológico e patológico •• o envelhecimento biológico pode ser fisiológico (senescência) ou patológico (senilidade)(Quadro 2.2). Seus principais determinantes são: hereditariedade e estilo de vida (fatotes ambientais). A hereditariedade é responsável por cerca de 30 a 50% da qualidade do envelhecimento, dependendo de cada órgão e/ou sistema. Portanto, se a história familiar é rica em doenças com caráter heredofami- liar, como as doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, cán- cer, depressão, doença de A1zheimer, etc, a qualidade do envelhecimento dependerá de um esforço maior na incor- poração de hábitos de vida mais saúdáveis. Por outro lado, se a herança é favorável, O estilo de vida saudável otimiza- rá mais ainda a qualidade do envelhecimento. Eft'vEtHEtlMENTOTSAlfDE o envelhecimento é o prim;ipm..fat<1lP<k"!"iSG~-a. d~«ffiinaclas,.demç ..:rs-e,",inmpaGidades.A passagem do tempo expõe o indivíduo a uma série de injúrias, cujas 22 Refere-se às alterações resultantes de traum..,lSe doenças que ocorrem no ciclo vital. Corno, por exemplo, a osteoartrite dos joelhos secundária à obesidade. Ainda é O que predomina.- Quadro 2.5 Conceitos da CIF INCAPACIDADE É um termo que abrange deficiências, limitação de atividades ou restrição na participação.- 25 Fatores Pessoais Histórico particular da vida e do estilo de vída do indivíduo ; -: "\ . Condiçãode Saúde (Doenças/Fatores de Risco) FatoresAmbientais Ambiente físico. social e de atitudes no qual as pessoas vivem e conduzem sua vida FacilitadofCI/ Barreiras Figura 2.3 Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) pessoas ou da população, que pode ser utilizada para propósitos de tomad(! de decisão ou plano de cuidados. A incapacidade não ê atributo de um indivíduo, mas sim um conjunto complexo de condições, muitas das quais criadas pelo ambiente .social (abordagem biopsi- cosocial com interação de várias perspectivas de fun- cionalidade). Por exemplo, o idoso pode: ter uma deficiência (desfiguração resultante de han- seníase ou ausência de uma unha) sem, tontudo, apresentar limitação da sua capacidade; ter limitações de capacidade sem asslstencia e nenhum problema de desempenho no ambiente habitual (tecnologia assistiva); ter pwblemas de desempenho sem deficiências ou limitações de capacidade (preconceitos, estigma ou discriminação); ter discretas deficiências em diversos sistemas fisio- lógicos principais que podem resultar em importan- te limitação ou restrição de sua participação. contextuais, ambientais (ambiente físico, social e de ati- tudes nas quais as pessoas vivem e conduzem a sua vida) e pessoais (histórico particular da vida e do estilo de vida do indivíduo). Desta forma, podemos entender melhor a complexa interação existente entre todas as dimensões envolvidas no conceito de Saúde do idoso: Autonomia ê a capacidade de decisão, diretamente relacionada á cognição e humor (motivação), enquanto que a independência ê a capacidade de execução daqui- lo que foi decidido e está diretamente relacionada á mobilidade e comunicação. Funcionalidade ê produto da preservação da cognição, humor, mobilidade e comunicação. A perda da funcionalidade resulta nas grandes síndromes geriátricas (incapacidade cognitiva, instabilidade postura!, incontinência esfincteriana, incapacidade comunicativa), cujo pano de fundo é a iatwgenia, que, por sua vez, ê a síndrome geriátrica mais comum e de mais fácil resohição
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