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Historia da cloroquina parte II

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A outra versão da história é interessante e também é o que “[…] nos traz de volta à síntese da qui-
nina. Entre 1907-09, Paul Rabe determinou a conectividade correta entre os átomos da quinina, no
entanto, a determinação da estereoquímica absoluta teve que esperar até 1967 quando foi possí-
vel a elucidação por cristalografia de raios-X” (Oliveira e Szczerbowski, 2009)
Por não ser um medicamento fácil de encontrar as pesquisas continuavam na tentativa de conse-
guir um substituto para ele, feito de forma sintética e com acessibilidade para todos. “A busca por 
um medicamento que pudesse substituir a quinina acentuou-se com a Primeira Guerra, quando as 
tropas alemães enfrentaram sérias epidemias de malária no front. Os alemães, além disso, foram 
privados de sua principal fonte de matéria-prima, com a tomada de suas possessões coloniais na 
África.” (Silva, 2020)
Esta procura pelo substituto da quinina, despertou também a atenção de um gigante do ramo far-
macêutico alemão, que começou sua pesquisa na tentativa de produzir algo que pudesse substituir
o remédio escasso. “Foi neste momento que a empresa farmacêutica alemã Bayer deu início a um 
esforço sistemático de encontrar um medicamento contra a malária, beneficiando-se da robusta 
tradição em estudos químicos, forjada a partir da estreita aliança com as universidades germânicas
e institutos científicos.” (Silva, 2020)
Mas o medicamento natural sendo ainda promissor precisavam fazer ele render mais, por isso […] 
os alemães compraram por US$ 20,00 uma libra de sementes (453,592 g) de Cinchona ledgeriana, 
que possui a maior porcentagem de quinina e rapidamente estabeleceram plantações extensivas 
desta espécie, dominando o mercado mundial. Em 1918, a maior parte do mercado mundial era 
suprido pelos alemães que obtiveram enormes lucros com este comércio, enquanto o Peru e a Bo-
lívia, de onde o medicamento foi originado, quase nada receberam.” (Oliveira e Szczerbowski, 
2009) Dessa forma a Alemanha trabalhava em duas frentes na tentativa de não ficar sem a quinina 
e de quebra, tentar encontrar um substituto para ela.
Ainda “Em 1918, Paul Rabe e Karl Kindler publicaram um artigo intitulado "Partial Synthesis of Qui-
nine. The Cinchone Alkaloids. XIX", onde descreveram, com poucos detalhes experimentais, a 
transformação inversa àquela realizada por Pasteur. Ou seja: partindo da d-quinotoxina, obtiveram 
a α-halocetona, que foi transformada na quininona, a qual foi reduzida formando a quinina. Em 
1939, Rabe recuperou uma amostra do trabalho de 1918, recristalizou e caracterizou mais uma vez
a quinina, obtida pelo método acima.” (Oliveira e Szczerbowski, 2009)
Mesmo assim a busca pela sintetização da quinina continuava e outras pesquisas também eram re-
alizadas em várias vertentes e antes da Segunda Guerra Mundial começar, a descoberta da cloro-
quina foi um dos destaque dessas pesquisas. “A cloroquina foi descoberta em 1934 por Hans An-
dersag e os seus funcionários dos laboratórios da Bayer, batizando-a com seu primeiro nome de re-
ferência: Resochin.” Mas não foi um medicamento de uso imediato, por isso “A droga foi ignorada 
por uma década, porque era considera muito tóxica para uso humano. Ao invés disso, a DAK usou 
a Cloroquina análoga, a 3-metil-cloroquina, conhecida como Sontochin.” (Wikipédia, 2020)
Enquanto irrompem rumores da Segunda Guerra Mundial as pesquisas prosseguem a todo vapor e
“[...] com a invasão da Polônia em 1939 e o início das hostilidades que levaram à Segunda Guerra 
Mundial, havia grande interesse na obtenção da quinina sintética, uma vez que as plantações co-
merciais estavam localizadas na ilha de Java na Indonésia, então sob domínio japonês.” (Oliveira e 
Szczerbowski, 2009) Para o resto do mundo a quinina era extremamente escassa, quando conse-
guiam encontrar.
Na explosão da Segunda Guerra Mundial a quinina já era um remédio conhecido e extremamente 
comercializado, mas com a ilha de Java ocupada pelo exército japonês e a outra parte da plantação
nas mão dos alemães, o medicamento ficou concentrado em uma única região da Europa, em 
Amsterdã (Holanda). Isto nunca é bom! Prova disso é que “Em 1940, durante a Segunda Guerra 
Mundial, o exército alemão apoderou-se de toda a reserva de quinino da Europa ao invadir Ams-
terdã, na Holanda. Quando os japoneses invadiram a Indonésia em 1942, os Estados Unidos e seus 
aliados ficaram quase sem fornecimentos de quinino.” (Ramos, 2020)
Com a falta do medicamento e com “O risco de contágio das tropas em combate, acarretando em 
mortes de soldados, levou a investimentos para a obtenção de quinino de forma sintética, ou seja, 
produzida em laboratório.” (Ramos, 2020) Se não conseguiam obter o medicamento natural, ti-
nham que encontrar outra saída para suprir sua falta e tentar salvar as vidas de seus soldados.
Por isso mesmo, com a guerra dilacerando a Europa as pesquisas prosseguiram e “Neste contexto 
de guerra, Robert Burns Woodward, tido como um dos "pais" da síntese orgânica, publicou em 
1944 um trabalho com o título "Total Synthesis of Quinine" em colaboração com William von Eg-
gers Doering. Este trabalho, apenas uma comunicação inicial, foi seguido por uma publicação com-
pleta em 1945 e deu origem a uma das grandes controvérsias do século XX.” (Oliveira e Szczer-
bowski, 2009)
Como não poderia faltar, novamente uma controvérsia em torno da quinina, agora na afirmação da
suposta sintetização dela, o que era esperado no mundo todo. Esta controvérsia em torno da sinte-
tização da quinina se deu devido a suposto engano dos autores do estudo. “Nas duas publicações, 
Woodward e Doering recorreram ao trabalho de Rabe e Kindler para afirmar que haviam sintetiza-
do a quinina. Na verdade, o que Woodward e Doering obtiveram foi a síntese do homomeroquine-
no racêmico e também a quinotoxina. Uma vez que Rabe já havia transformado a quinotoxina na 
quinina, Woodward aparentemente acreditou ser suficiente a referência ao trabalho de Rabe e 
Kindler, no que hoje seria conhecido como uma síntese formal.” (Oliveira e Szczerbowski, 2009)
Esta controvérsia ficou evidente quando ainda “[...] em 1944, Gilbert Stork, também um dos gran-
des nomes da síntese orgânica, escreveu a Woodward perguntando se ele havia reproduzido o tra-
balho de Rabe e Kindler para a obtenção da quinina. Não obteve resposta.” (Oliveira e Szczer-
bowski, 2009) O silêncio constrangedor dos supostos autores da descoberta da sintetização da qui-
nina, não deixava dúvidas, que havia algo errado. Taxativo “Em 2000, Stork declarou em uma en-
trevista a C & EN News,18 que a síntese da quinina por Woodward em 1944 não passava de um 
"mito acreditado por muitos".” (Oliveira e Szczerbowski, 2009)
A sintetização da quinina se mostrou um trabalho árduo e que não parecia ser uma descoberta 
para breve, apesar de todos os esforços dos cientistas. Porém todos precisavam de um medica-
mento que tivesse efeito parecido com a quinina no combate a malária. Já havia a cloroquina que 
estava em segundo plano, devido a sua toxicidade muito alta para o ser humano, mas isso estava 
para mudar.
 Ainda na Segunda Guerra Mundial, logo “Após as tropas aliadas chegarem em Tunis, a Sontochin 
caiu nas mãos dos Norte Americanos, que a enviaram de volta para os Estados Unidos para análise,
levando um novo interesse pela cloroquina." Em mãos americanas o medicamento foi desenvolvi-
do novamente. “Os Estados Unidos fizeram propagandas e (sic) deu suporte aos ensaios clínicos 
para usos contra a malária, em que depois foi revelado que a cloroquina tinha um efeito terapêuti-
co significativo como droga antimalárica.” Oliveira e Szczerbowski, 2009)
Com a Sontochin em mãos americanas, começou novamente o desenvolvimento deste produto e a
procura por um substituto da quinina. Por isso “Em maio de 1945, os pesquisadores norte-ameri-
canos realizaram um grande experimento em população numerosa de pessoas naturalmente infec-
tadas, em presídios, na Austrália e em uma fazenda inglesa no Peru. Comparada com as fórmulas 
anteriores,a droga, rebatizada de cloroquina (mas que correspondia à resochina) apresentava toxi-
cidade baixa, poucos efeitos colaterais e eficiente ação antiparasitária, com diminuição célere dos 
sintomas da malária. Em 1946, ela tornou-se disponível para a população civil, mesmo ano em que
foi desenvolvida a hidroxicloroquina, uma versão ligeiramente modificada da cloroquina.” (Silva, 
2020)
Lembrando que desde o tempo de sua descoberta e até este momento, a cloroquina não fazia par-
te dos medicamentos licenciados e liberados para consumo humano, somente “Em 1947, a droga 
foi aprovada para usos clínicos no uso profilático contra a malária." (Wikipédia, 2020) ou seja, so-
mente dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Mesmo assim ela continuou sendo um remédio controlado e ministrado somente aos pacientes 
que estavam em ambiente hospitalar. Sua introdução e liberação para uso clínico não tirou os ris-
cos que o medicamento apresentaram durante as pesquisas que foram e continuam sendo realiza-
das, e muitas dessas pesquisas foram abandonadas, devido aos altos riscos envolvidos nelas e na 
utilização do medicamento resultante, sendo que em muitas dessas pesquisas resultou em mortes 
de voluntários.
Em seu desenvolvimento laboratorial “[…] a cloroquina e a hidroxicloroquina resultaram de uma 
série de modificações em uma família de moléculas, das quais também surgiram os primeiros anti-
maláricos sintéticos, em uma trajetória bastante controvertida, que envolveu químicos, biólogos, 
psiquiatras, burocratas e militares, além de pacientes, que foram submetidos a experimentos em 
condições bastante questionáveis do ponto de vista ético. A finalidade foi substituir a quinina de 
maneira a diversificar o repertório de tratamentos contra a malária, que apesar de ser um proble-
ma sanitário milenar, ainda representa enorme desafio para a saúde global.” (Silva, 2020)
Na busca por um remédio que possa satisfazer as necessidades de todos no controle da malária, 
parece que o mundo não encontrou ainda uma boa solução. A quinina é eficiente nisso, mas em 
tempos de guerra ou em qualquer crise sanitária é um remédio que rapidamente escasseia. A ten-
tativa de sua sintetização se mostrou uma tarefa extremamente difícil, mesmo com as inúmeras 
pesquisas realizadas por diversos países. O produto que poderia resolver este problema seria a 
Cloroquina, mas também ela se mostrou problemática, devido a sua alta toxicidade e por isso seu 
uso prolongado, não é recomendado.
Mesmo com os perigos de sua alta toxicidade para o ser humano “Nas décadas seguintes, a cloro-
quina tornou-se uma das drogas mais utilizadas no mundo, ocupando a terceira posição até a dé-
cada de 1990 e passando a ser empregada no tratamento de outras doenças. Sua eficácia, junto 
com o DDT, inseticida de ação residual que mostrou-se altamente eficiente no combate aos mos-
quitos vetores e pragas agrícolas, apesar das consequências ambientais catastróficas, foi basilar 
para a campanha de erradicação da malária, lançada em 1955.” (Silva, 2020)
Mas, nem tudo eram flores. “Apesar do otimismo expressado na finalidade da campanha, esta não 
foi atingida, entre outras razões porque, pouco depois da mesma ser lançada, começaram a surgir 
relatos de resistência dos parasitas da malária à cloroquina. Tais relatos ganharam vulto nos anos 
1960, mas a cloroquina permaneceu uma opção terapêutica, passando a compor esquemas de tra-
tamento que a combinavam com outras drogas que surgiram desde então.” (Silva, 2020)
A cloroquina sozinha não se mostrou muito eficiente, mas em combinação com outros remédios, 
era a melhor opção que existia no combate ao flagelo da malária. Por isso ela continuou a ser reco-
mendada em todo mundo e utilizada no combate a doença, mas somente sendo ministrada a dro-
ga em paciente em avançados estágios. Desta forma ela ganhou o mundo e continuou sendo reco-
mendada aos pacientes infectados durante todo o fim século XX e continua no século XXI.
Paralelamente ao desenvolvimento da cloroquina e a hidroxicloroquina, a busca pela sintetização 
da quinina continua. Parece não haver ainda uma solução para este problema, mas os artigos fa-
lando sobre o assunto, continuam a serem publicados. “Em 2001, Stork publicou um artigo intitula-
do "The First Stereoselective Synthesis of Quinine",onde, a partir de um único estereocentro defi-
nido no material de partida, todos os outros estereocentros foram construídos. Neste trabalho, 
Stork comenta que "Eram tempos de guerra. Os Estados Unidos haviam sido expulsos da Indonésia
e assim perdido acesso às raízes de cinchona. Esta ansiedade pode explicar as notícias e um notá-
vel entusiasmo no lugar de uma análise sóbria e racional, a qual criou a impressão "quasiuniversal"
de que a construção do homomeroquineno, significava que a quinina havia sido sintetizada. Nota-
velmente, a confusão promovida por este e por centenas de outros artigos contemporâneos per-
sistiu até os dias de hoje". (Wikipédia, 2020)
Em pleno século XXI a polêmica da sintetização da quinina continua e “Em 2007, Seeman publicou 
uma revisão no Angewandte Chemie, analisando não apenas a controvérsia criada em torno da 
síntese da quinina mas também os homens envolvidos, sua ética e a credibilidade dos resultados 
publicados. Assim, observando a história e entrevistando alguns dos personagens envolvidos ainda
em atividade, Seeman pode deduzir que Woodward e Doering haviam sim obtido o homomeroqui-
neno bem como a quinotoxina e que apenas não enxergaram razões para repetir o trabalho de 
Rabe e Kindler. Tendo em mente que em 1939 Rabe recuperou uma amostra feita em 1918, a re-
cristalizou e caracterizou não há porque duvidar que a quinina não tenha sido parcialmente sinteti-
zada em 1918.” (Wikipédia, 2020) Defende o autor.
Em novas pesquisas “Em janeiro de 2008, Smith e Williams repetiram o trabalho de Rabe e Kindler,
apresentando uma última surpresa: na última etapa executada por Rabe em 1918, está descrita a 
redução com alumínio em pó. Em 2008, 90 anos depois, esta reação não forneceu o resultado es-
perado. Smith e Williams então pensaram que tipo de alumínio um químico do início do século XX 
teria usado? Certamente não seria um alumínio (sic) extra puro adquirido de uma companhia es-
pecializada. Fizeram então a mesma reação com alumínio "aerado" e o resultado obtido foi a sínte-
se da quinina como descrito por Rabe e Kindler em 1918.” (Wikipédia, 2020)
“Assim, em 2008, 470 anos depois de iniciada, chegou ao fim a história registrada desta molécula, 
que foi importante para o ciclo de colonização europeu e esteve envolvida em disputas religiosas; 
sua descoberta ocasionou o contrabando de sementes, plantações equivocadas e exploração pre-
datória; a tentativa de obter sua síntese deu origem, mesmo que por desconhecimento, ao desen-
volvimento da indústria química moderna e foi a base da indústria de corantes; sua síntese em 
1944 foi feita (ainda que parcialmente) sem equipamentos de FT-RMN, coluna flash, CLAE ou 
T.L.C.” (Wikipédia, 2020)
Ironicamente a cloroquina que foi deixada de lado logo após sua descoberta, continuou seu desen-
volvimento e foi recomendada para o tratamento da malária a outras doenças, apesar de sua alta 
toxicidade. Se não tivéssemos tido problemas no século XXI a droga poderia ter continuado seu ca-
minho passivamente, sendo recomendada por um país, recusada por outro e assim sucessivamen-
te. Porém esta aparente morosidade sumiu de imediato quando o mundo foi tomado de assalto 
pelo vírus COVID- 19. Na procura por uma droga que pudesse combater este terrível vírus a cloro-
quina entrou novamente com força em cena.
Em 2020 no início da pandemia de COVID – 19 mais conhecido pelo popular nome de Coronavírus, 
o mundo foi em busca de uma cura para combater esse vírus que continua matando milhares de 
pessoas em todo o mundo. A cloroquina foi altamente recomendada principalmente pelos presi-
dentes dos Estados Unidos da América e Brasil. Ambos acreditavam que o remédio era milagrosoe 
poderia lutar contra o vírus da COVID – 19. Esta crença também foi endossada pela Organização 
Mundial da Saúde (OMS) que começou a desenvolver pesquisas sobre os benefícios e eficacia do 
remédio.
Com a pressa em encontrar uma cura para o coronavírus algumas etapas de pesquisas foram auto-
rizadas a serem puladas, pois quase sempre as pesquisas científicas demoram anos para conseguir 
resultados satisfatórios, mas com tantas vidas em jogo o tempo é nosso maior inimigo. Mas, mes-
mo pulando algumas etapas nada justifica massacrar seres humanos para salvar outros, mas al-
guns tentam passar por cima deste protocolo também, como também foi feito no passado. Expres-
são disso foi a recente sugestão do chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Cochin, de 
Paris, o francês Jean Paul Mira, durante conversa transmitida ao vivo pelo canal francês LCI. No dia 
primeiro de abril, Mira, em debate com Camille Locht, diretor do Instituto de Saúde e Pesquisas 
Médicas da França (INSERM), Mira sugeriu testes de vacina contra a COVID-19 no continente afri-
cano. (Silva, 2020)
Parece difícil de acreditar que todos no mundo estão precisando da vacina, mas se forem realizar 
testes, recomenda-se fazer no território africano. E o resto do mundo não pode também ser um la-
boratório de testes? É claro que fica evidente a tentativa de utilizar os africanos como cobaias para 
salvar o resto do mundo. Sem dúvidas “A proposta é reflexo da permanência do legado colonial no 
imaginário europeu e, mais especificamente, reminiscências de períodos históricos em que África e
em outras regiões foram zonas livres de experimentações médicas em indivíduos, tidos pelo racis-
mo e racialismo vigentes, como “sub-humanos” degenerados. Em função dessa leitura racialista, os
povos africanos poderiam ser alvos de testes, sem levar em conta os riscos e danos aos quais esta-
vam expostos. Os testes estariam justificados pela suposta condição “sub-humana” das populações
e pelo bem do progresso (sic) médico-científico. Esta é mais uma faceta sombria do colonialismo 
europeu – a participação da medicina nas atrocidades perpetradas nas regiões coloniais –, a qual 
tem sido objeto de estudo de historiadores interessados em compreender o lugar das ciências nas 
engrenagens do imperialismo e como este consórcio impactou a atividade médica e científica nas 
metrópoles.” (Silva, 2020)
Felizmente este tipo de pensamento arcaico não é mais aceito no mundo de hoje com bons olhos e
“Em seis de abril, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus,
condenou “o legado de uma mentalidade colonial” na fala do médico francês, advertindo que o 
continente africano não seria campo de testes para nenhuma vacina.” (Silva, 2020)
Encabeçados pela OMS por algum tempo as pesquisas com a cloroquina continuaram no resto 
mundo, mas logo ficou evidente que tal medicamento não correspondia com as crenças que ti-
nham sido desenvolvidas sobre ele e muitos pacientes que testaram a droga, acabaram morrendo. 
Em pouco tempo a OMS parou com as pesquisas e não recomendou seu uso no combate a COVID 
– 19, sendo seguida pelo presidente e ministério da saúde americano. Não há evidências compro-
vadas de sua eficácia contra o tal vírus e os médicos de todo o mundo não recomendam seu uso, 
pois há suspeitas de que o medicamento aumente a potência de letalidade do vírus.
No Brasil também foram realizadas diversas pesquisas sobre a cloroquina e todos os cientistas e 
médicos chegaram à mesma conclusão: A cloroquina não serve para combater eficazmente o coro-
na vírus e pode aumentar a letalidade dele. Os testes que estavam sendo realizados com pacientes 
em São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus foram suspensos, não puderam comprovar a eficácia da 
cloroquina e alguns pacientes já tinham falecido, mesmo utilizando tal medicamento.
Mas precisávamos de mais uma polêmica envolvendo este medicamento, pois desde sua origem 
nas matas andinas, até a procura pela sintetização da quinina e a descoberta acidental de seus de-
rivados, tudo foi envolto em mistérios e muitas fantasias, sem falar que surgiram algumas mentiras
e meias verdades sobre seu desenvolvimento e sintetização. Agora na contramão do resto do mun-
do, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, recomenda a utilização da cloroquina no combate atual 
pandemia de CONVID -19, o coronavírus.
Não somente recomendou, como quase impôs sua prescrição no combate a doença respiratória e 
mesmo não havendo comprovação científica, ele continua a recomendar o medicamento. O presi-
dente foi alertado por dois ministros da saúde brasileira sobre os perigos de tal medicamento e a 
ausência de eficácia no combate ao coronavírus, mas não deu ouvidos a nem um deles. Um foi de-
mitido do cargo e outro pediu demissão, pois segundo o ministro, não sujaria seu nome e reputa-
ção, recomendando a cloroquina no combate ao vírus do COVID – 19. Ambos os ministros eram 
médicos e sabiam do que estavam falando.
O presidente brasileiro não se dando por vencido continuou a recomendar o uso da cloroquina e 
pediu para facilitar seu acesso ao público em geral. Como não conseguiu a recomendação por par-
te dos dois primeiros-ministros da saúde de seu governo, colocou outro ministro (interino) que as-
sinou o protocolo brasileiro de uso da cloroquina em larga escala no Brasil. O interessante que o 
ministro interino Eduardo Pazuello, assumiu o ministério da saúde, mas não é médico, e assinou o 
protocolo de liberação do uso da cloroquina em larga escala no Brasil, mesmo sem comprovação 
científica da eficácia do remédio.
Desta forma os médicos brasileiros hoje tem autorização de ministrar a cloroquina em pacientes 
com leves sintomas de contaminação do vírus até pacientes que estão inconscientes na unidade de
terapia intensiva (UTI). O caso preocupa a OMS, mas o governo brasileiro continua a queimar di-
nheiro adquirindo a cloroquina para o tratamento dos infectados com a COVID-19 no Brasil. Inclu-
sive adquiriu cloroquina dos Estados Unidos, que a princípio a FDA havia liberado seu uso, mas 
logo recuou e proibiu sua utilização em todo território americano e com isso sobrou medicamento 
para enviar para o Brasil.
Em território brasileiro o novo protocolo para o uso da cloroquina dividiu opinião dos especialistas 
e agências como o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) 
não concordam com o protocolo. Ambas deixaram claro que tal protocolo é de inteira responsabili-
dade do Ministério da Saúde brasileiro. “Já o Conselho dos Secretários Estaduais de Saúde (Conass)
disse em nota que o documento não teve "participação técnica e pactuação tripartite" e que "ao 
contrário do que foi divulgado em entrevista coletiva no dia de hoje, deixa claro que tais orienta-
ções são de única responsabilidade do Ministério da Saúde". O Conselho reafirmou sua posição de 
se pautar "pelos respeitos às melhores evidências científicas". (Valente, 2020)
Ainda segundo o Conselho Federal de Medicina "O CONASS insiste na importância de se prosseguir
com a discussão junto ao gestor federal do SUS sobre temas que se relacionam diretamente à es-
tratégia de enfrentamento à pandemia de modo tripartite. Por que estamos debatendo a Cloroqui-
na e não a logística de distanciamento social? Por que estamos debatendo a Cloroquina ao invés 
de pensar um plano integrado de ampliação da capacidade de resposta do Ministério da Saúde 
para ajudar os estados em emergência?", questionou a entidade.” (Valente, 2020)
A história da cloroquina continuará a ter discussões aparentemente por muitas décadas e o Brasil 
utilizado perigosamente o medicamento, pode gerar milhares de mortes que poderiam ser evita-
das, não fosse, a teimosia do presidente brasileiro. Em toda história desde a casca de Cinchona, a 
quinina, a procura da sintetização e a descoberta de seus derivados, tudo foi envolvido em polêmi-
cas e muito mistério. Também houve casos de utilizar cobaias humanas para seu desenvolvimento, 
sendo o mais gritante nosanos da Segunda Guerra Mundial, mas não foram os únicos casos.
Em sua história sempre houve alguém que ganhou (mesmo mentindo) e alguém que perdeu (mes-
mo sem saber) e a história desse medicamento e seus derivados continua em nossos dias e somen-
te a história futura nos contará seu desfecho, para o bem ou para o mal. Quanto aos historiadores 
não tem como adivinhar o que pode acontecer, pois com alguma sorte conseguimos compreender 
o passado, mas o futuro fica reservado para as próximas gerações, que poderão se orgulhar de 
nossa geração ou se envergonhar de nossas crenças e atitudes. De qualquer forma as pesquisas 
prosseguem e a história desse medicamento controverso também segue seu curso.
Escrito em: Maio de 2020 
Para saber mais:
 
BERTOLLOTO, Rodrigo. História da cloroquina reúne polêmicas com homeopatia e Império Roma-
no. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/04/10/historia-dacloro-
quina-reune-polemicas-com-homeopatia-e-imperio-romano.htm?cmpid=copiaecola Acesso em: 
17/05/2020.
OLIVEIRA e SZCZERBOWSKI. Quinina: 470 anos de história, controvérsias e desenvolvimento. Dis-
ponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010040422009000700048 
Acesso em: 17/05/2020
RAMOS, Maria. Segredos da floresta. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/
sys/start.htm?infoid=828&sid=7 Acessoe em: 17/05/2020
RAMOS, Maria. A cinchona chega na Europa. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgi-
lua.exe/sys/start.htm?infoid=829&sid=7 Acesso em: 17/05/2020
SILVA, André Cândido da. A origem da cloroquina: uma história acidentada. In: Café História – his-
tória feita com cliques. Publicado em 25 mai. 2020. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.-
br/a-origem-da-cloroquina/. ISSN: 2674-59. 
VALENTE, Jonas. Novo protocolo para cloroquina gera divergências entre entidades. Agência Bra-
sil. Brasília. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-05/novo-
protocolo-para-cloroquina-gera-divergencia-entre-entidades Acesso em: 21/06/2020
____Wikipédia. Cloroquina. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cloroquina Acesso em: 
17/05/2020
____ O que é cloroquina. Disponível em: https://www.indice.eu/pt/medicamentos/DCI/cloroqui-
na/informacao-geral Acesso em: 20/05/2020

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