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HEMATOLOGIA ANEMIAS HEMOLÍTICAS: · Anemia hemolítica autoimune · Anemia hemolítica medicamentosa · Anemias hemolíticas aloimunes (reação transfusional hemolítica) Anemia hemolítica autoimune: Definição: Hemólise (destruição das hemácias) imune, causando destruição precoce das hemácias por ação da resposta imunológica, levando à anemia se a resposta medular não for compensatória (se a medula óssea não produzir o número suficiente de eritrócitos). Epidemiologia: · Citopenia imunológica mais frequente após púrpura trombocitopênica trombótica; · Acomete 1-3/100.000 indivíduos · Mais comum em mulheres · Mais prevalente acima dos 40 anos Fisiopatologia: Mecanismo de destruição: Fixação de imunoglobulinas ou complemento na superfície da membrana das hemácias. Classificação: · AHAI mediada por IGM: Reagem à temperatura ambiente; Anticorpos a frio. · AHAI mediada por IGG: Reagem à temperatura corpórea; Anticorpos a quente; Maioria dos casos (60-70%). 1. AHAI POR ANTICORPOS A QUENTE: Primária: 50% dos casos Secundária: 20% doença proliferativa, 20% associado a colagenoses, 10% outras causas (carcinomas, hepatite, retocolite ulcerativa, etc.) Patogênese: · Antígenos eritrocitários · Sistema complemento · Perda na efetividade na apresentação de antígenos · Anormalidades funcionais de linfócitos T e B · Destruição mediada por monócitos e macrófagos esplênicos principalmente · Hemácia sensibilizada sofre fagocitose parcial · Retorna à circulação com perda de forma: discoide -> esferócito · *Esferocitose em exame laboratorial Quadro clínico: Sinais de anemia - · Palidez · Icterícia · Esplenomegalia · *Pode ter hepatomegalia associada Diagnóstico: Exames laboratoriais - · Queda da hemoglobina · Esferocitose · Reticulocitose (mecanismo compensatório pela medula óssea) · Hiperplasia eritroblástica da medula óssea (mielograma) · Bilirrubina indireta aumentada · Desidrogenase láctica aumentada · Queda da haptoglobina · Teste de Coombs direto positivo (indica a ligação dos anticorpos com as superfícies das hemácias) Tratamento: Corticosteroides · Prednisona 1-2mg/kg/dia por 3 a 12 meses · Reduz a hemólise em 60-70% dos casos · Aumento da Hb em 1-2 semanas · Metilprednisona EV em hemólise fulminante Transfusão · Transfusão de concentrados de hemácias não é contraindicada · Reservada apenas em situações com risco de vida ou eventos cardíacos ou cerebrais causados pela anemia · Dificuldade de achar concentrado de hemácias compatível · Transfusão lenta e em pequenas quantidades (alíquotas de 100ml) · Hemácias lavadas (remoção do complemento) · 12-40% podem ter reação hemolítica aguda ou tardia Refratários ou dependentes de corticoide · Esplenectomia Refratários a corticoide e esplenectomia · Danazol (200-800mg/dia) · Rituximabe (375mg/m²/semana por 4 semanas) - pode associar a prednisona na 1ª linha · Ciclosporina, azatioprina, ciclofosfamida 2. AHAI POR ANTICORPOS A FRIO · Acometimento de extremidades e partes mais frias do organismo · Frio: mudança de conformidade estrutural dos sítios antigênicos das hemácias · Tornam-se reativos a IGM · Aglutinação das hemácias nas extremidades Quadro clínico · Aparência cianótica de nariz, orelhas e dedos · Raramente causa gangrena · Não confundir com fenômeno de Raynaud · Hemólise intravascular 1. Palidez 2. Fadiga 3. Insuficiência cardíaca 4. Esplenomegalia (é menos frequente do que na AHAI por anticorpos a quente) Diagnóstico Investigar: · Mycoplasma pneumoniae · Mononucleose infecciosa · HIV · Hepatite · Doenças linfoproliferativas · Presença de paraproteinemia monoclonal Exames laboratoriais: · Anemia · Auto aglutinação espontânea · Reticulocitose Tratamento: · Transfusão de hemocomponentes aquecidos · Aquecimento das extremidades do paciente · Plasmaférese - benefício transitório · Corticosteroides – pouca melhora · Esplenectomia ou uso de agentes alquilantes - não tem bons resultados 3. OUTROS TIPOS Doença da aglutinina a frio · Rara · > 60 anos de idade · Quadro acentuado de acrocianose · Associado a doença linfoproliferativa · Tratamento: proteção ao frio, uso de agentes alquilantes, controle da doença proliferativa AHAI por anticorpos a frio após infecção · Rara · Adultos e crianças · Mycoplasma pneumoniae ou mononucleose infecciosa · Condição transitória e benigna · Tratamento: tto suporte, se persistente – corticosteroides e plasmaférese Hemoglobinúria paroxística aguda a frio · Crianças menores de 5 anos · Após infecção de vias aéreas superiores · Hemólise intravascular explosiva · Palidez, icterícia, febre, dor abdominal, hemoglobinúria · Diagnóstico: Teste de Donath Landsteiner, igG específica para antígeno P · Tratamento: suporte - doença autolimitada, aquecimento do paciente, transfusão aquecida se necessário 4. ANEMIA HEMOLÍTICA INDUZIDA POR MEDICAMENTOS Mecanismos: Adsorção da droga · Penicilina · Droga funciona como hapteno ligando-se a proteínas da membrana eritrocitária · Formação de anticorpos contra a droga ligada a hemácia · Hemólise extravascular Adsorção de imunocomplexos · Quinidina, fenacetina, cefalosporinas de 3ª geração · Anticorpos reagem com a droga e formam imunocomplexos · Adsorvidos por receptor nas hemácias · Podem ativar sistema complemento · Hemólise intravascular Indução de autoimunidade · a-metildopa ou procainamida · Induzem formação de autoanticorpos · Interferem na função de linfócitos T supressores · Tende a melhorar com a retirada da droga Adsorção não imunológica de proteínas · Cefalotina · Ligação à superfície das hemácias em pH neutro ou alcalino · Atração de proteínas (IgM, IgG e frações do complemento) · Evolução para hemólise é rara 5. ANEMIA FALCIFORME · Anemia hemolítica crônica hereditária por defeito na hemoglobina (qualitativo) · Mutação no gene da globina b · Hemoglobina S · Polimerização das moléculas de hemoglobina anormal quando desoxigenadas FISIOPATOLOGIA: HbS - deformação: · Desoxigenação · PH baixo (estresse) · Temperatura baixa · Agrega-se em polímeros longos e insolúvel · Deformação da hemácia · Hemoglobina polimerizada · Alteração da forma do eritrócito (foice) · Redução da sua capacidade de deformidade · Essencial para sua adequada circulação · Proteção: · Hemoglobina fetal inibe polimerização · Maior nível de HbF -> menos sintomas · Hemoglobina A participa pouco da polimerização · Heterozigotos possuem menos anormalidades clínicas · Cinética da falcização: · Processo reversível com a reoxigenação · Repetição promove lesão da membrana · Persistência da forma de foice · Redução da meia-vida da hemácia · Inflamação · Obstrução vascular · Vaso-oclusão: · Geralmente na microcirculação · Pode afetar grandes artérias · Principalmente pulmões e cérebro · Interação de hemácias, leucócitos ativados, plaquetas, células endoteliais e proteínas plasmáticas · Hemácias fragilizadas rompem: · Liberação de hemoglobina intravascular · Dano e ativação das células endoteliais vasculares · Resposta inflamatória vascular · Adesão de células brancas e vermelhas na parede · Redução do fluxo sanguíneo -> Vaso-oclusão · Vasoconstrição · Processos associados a vaso-oclusão: · Ação do endotélio · Isquemia tecidual · Inflamação -> DOR · Adesão celular · Queda do óxido nítrico · Ativação de plaquetas e da coagulação · Aumento do estresse oxidativo PADRÕES DE HERANÇA: Hemoglobina S · Em heterozigose confere vantagem seletiva contra o Plasmodium falciparum (Malária) · Aumento do gene da HbS em regiões onde a malária foi endêmica · Prevalência nos afrodescendentes · Homozigose para hemoglobina SS = Anemia falciforme · Forma mais grave das síndromes · Ausência de HbA · Aumento de HbF · Heterozigose para hemoglobina S (traço talassêmico): · Sem anormalidades hematológicas significativas · Podem ser raramente observadas hemácias falciformes · Não necessitam de tratamento, apenas de aconselhamento genético · Brasil – 2 milhões de heterozigotos AS · Complicações renais (hematúria, redução da capacidade de concentrar urina, infecções urinárias mais frequentes em gestantes) · Complicações raras (falcização em procedimentos cirúrgicos,glaucoma agudo após sangramento intraocular, infartos esplênicos em situações de hipóxia, maior risco de trombose venosa profunda, maior incidência de carcinoma medular renal) Hemoglobinopatia SC · Hemoglobina C: variante estrutural da cadeia beta da globina · Evolução mais benigna do que Hb SS · Pode apresentar todas as complicações da anemia falciforme S/Beta - talassemia · Ausência de HbA · Mais grave, semelhante a SS · Microcitose, hipocromia e aumento de HbA2 · Estudo familiar é fundamental · Não é frequente em afrodescentes DIAGNÓSTICO · Eletroforese de hemoglobina: presença da HbS · Traço: 40 HbS / 60 HbA · Doença: 100 HbS / 0 HbA · Triagem neonatal -> Teste do pezinho LABORATORIAL · Anemia Falciforme: · Hemoglobina 6-10g/dL na fase estável · Anemia normocítica e normocrômica · Reticulócitos elevados · Bilirrubina indireta aumentada · Haptoglobina sérica diminuída · VCM aumentada · DHL aumentada · Urobilinogênio urinário aumentado · Leucocitose · Às vezes com desvio à esquerda · Não necessariamente associada a infecção · Plaquetose · Pode atingir 1.000.000/uL · Esfregaço do sangue periférico: hemácias em forma de foice, Corpos de Howell-Jolly · Mielograma: hiperplasia eritróide da medula óssea · Provas de coagulação normais // Crises vaso-oclusivas podem indicar hipercoagulabilidade · Ferritina elevada nos pacientes politransfundidos · Hemocromatose secundária · Uso de quelantes de ferro QUADRO CLÍNICO 1.FASE ESTÁVEL · Sem manifestações clínicas (apenas anemia e icterícia leves) 2.CRISES DE FALCIZAÇÃO: · VASO-OCLUSIVAS · Crise mais comum · 3ª-4ª década de vida · Mortalidade maior em adultos · Episódios dolorosos variáveis · Ossos longos, articulações, região lombar, tórax, pelve, couro cabeludo, face · Desencadeadas por: · Infecção · Desidratação · Tensão emocional · Frios · Síndrome mão-pé/Dactilite · Mais comum entre os 6 meses e 2 anos · Dor e inchaço agudo de mãos e pés · Autolimitadas · Tratamento sintomático · Diagnóstico diferencial com osteomielite · CASOS GRAVES: · Tratamento hospitalar com analgésico parenteral por mais de 4 horas · 3 ou mais episódios graves em 1 ano definem evolução clínica grave da anemia falciforme (indicado rever o tratamento atual do paciente) · APLÁSTICAS · Queda acentuada da hemoglobina · Reticulócitos reduzidos · Insuficiência transitória da eritropoiese -> MO · Infecção parvovírus B19 -> 68% dos casos em crianças · Adultos -> Streptococcus pneumoniae, Salmonelas, vírus Epstein-Barr · Necrose medular extensa · Febre · Reação leucoeritroblástica · Diagnósticos diferenciais: oxigênio com tensão supramáxima por 2 dias (iatrogenia) e deficiência de ácido fólico (especialmente em grávidas) · HEMOLÍTICAS · Aumento importante da hemólise, secundário à: · Infecção por Mycoplasma · Deficiência de G6PD · Associação com esferocitose hereditária · Agravamento da anemia · A menos comum · Piora da icterícia · Diagnóstico diferencial: · Obstrução por cálculo vesicular · Falcização com colestase intra-hepática · Hepatite · DE SEQUESTRO ESPLÊNICO · Acúmulo rápido de sangue no baço · A mais grave · Queda de pelo menos 2g/dL da hemoglobina · Hiperplasia compensatória da medula óssea · Rápido aumento do baço · Acomete entre 6 meses e 2 anos de idade · Responsável por 10-15% dos óbitos nos 10 primeiros anos de vida do paciente falciforme · INFECÇÕES · Principal causa de mortalidade e morbidade na anemia falciforme · SÍNDROME TORÁCICA AGUDA - IMPORTANTE · Dor torácica, febre, dispneia · Opacidade nova no Rx de tórax · Queda da Hb, pode evoluir com hipóxia grave · Importante causa de óbito e hospitalização · Causas: · Infarto de costela ou esterno · Pneumonia · Embolia pulmonar após necrose da medula óssea · Infarto pulmonar por falcização · COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS · Acidente vascular encefálico · Hemorragia cerebral · Associados com moya moya (neovascularização frágil e dilatada) · Ataques isquêmicos transitórios · Diagnóstico: doppler ultrassonográfico transcraniano · Detecta precocemente lesões · Crianças · Tratamento: transfusão de concentrado de hemácias · Impede progressão · Pode reverter quadro clínico · Objetivo: HbS <30% · COMPLICAÇÕES GENITOURINÁRIAS · Hematúria (transitória) · Proteinúria · Glomeruloesclerose periférica focal e segmentar · Priapismo (ereção involuntária dolorosa) · Hidratação · Repouso · Transfusão de troca visando HbS < 30% · Hidroxiureia pode auxiliar · Cirurgia (falha terapêutica) · Complicação: disfunção erétil · OUTRAS COMPLICAÇÕES: · Oftalmológicas, osteoarticulares (necrose asséptica da cabeça do fêmur), cutâneas (úlcera de perna), hepatobiliares, gestacionais. TRATAMENTO · Acompanhamento em centros especializados · Abordagem multidisciplinar · Reposição de ácido fólico 5mg/dia · Hiperplasia eritropoética · Profilaxia contra infecções · Uso de hidroxiureia em pacientes selecionados · Aumenta a síntese de Hb fetal · Indicação: · SS, S/B-tal · Crises dolorosas frequentes (3 ou + internações em 12 meses) · História de síndrome torácica aguda · Anemia grave · Outra complicação vaso-oclusiva grave · Tratamento das crises e complicações · Vaso-oclusivas: · Tratar o fator desencadeante (ex: infecção -> antibiótico) · Hidratação vigorosa oral e/ou endovenosa · Adultos: 3l/dia · Se internamento calcular balanço hídrico · Analgesia adequada para alívio da dor · Analgésicos comuns e opioides se necessário · Infecção: · Vacinação de acordo com o calendário + pneumococo · Penicilina profilática oral ou benzatina a cada 21 dias dos 2-3 meses até os 5 anos de vida · Tratar todo episódio febril como potencialmente fatal · Síndrome torácica aguda · Antibioticoterapia agressiva e de amplo espectro · Manter s02 > 92% · Transfusão simples ou de troca de acordo com a clínica · Analgésico + suporte + broncodilatador · Terapia transfusional · Objetivo: HbS < 30% · Simples: · Hb < 5g/dL e clínica de anemia significativa · Angina ou insuficiência cardíaca · Hemorragia aguda · Sequestro esplênico ou hepático · Crise aplástica · Pré-operatório · Transfusão de troca: · Acidente vascular encefálico · Síndrome torácica aguda · Insuficiência de múltiplos órgãos · Priapismo agudo · Cirurgia do SNC · Prevenção de AVE recorrente em crianças com AVE agudo · Avaliar custo-benefício: · Úlceras de pernas · Gravidez · Episódio doloroso que não responde ao tratamento · Adultos com história de AVE · Antes de uso de contraste hipertônico · Transplantes de células-tronco hematopoéticas experimentais · TRATAMENTO CURATIVO PARA DOENÇA FALCIFORME · Reservado para crianças com casos graves! CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA DAS ANEMIAS Baseia-se nos índices hematimétricos -> determinações da concentração de hemoglobina, do nº de hemácias e do hematócrito, são fornecidos também o volume corpuscular médio (VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM), a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e o red cell distribution width (RDW) OBS: nas anemias adquiridas o RDW se altera antes do VCM HT: indica a % de células vermelhas. Também pode refletir a quantidade de hemoglobina presente nas hemácias. · Alto: ↑da quantidade de hemácias ou ↓da quantidade de água no sangue (pouco líquido no sangue, desidratação, doenças cardíacas, pulmonares, policitemia) · Baixo: diminuição da quantidade de hemácias (anemia, sangramento, desnutrição, leucemia) VCM: média do tamanho das hemácias · Microcíticas (VCM < 80 fl) · Macrocíticas (VCM > 100 fl) · Normociticas (VCM 80 a 100 fl) HCM: hemoglobina corpuscular média. Mede o peso da hb dentro da hemácia. · Hipercrômica (> 33) · Normocrômica (26-34) · Hipocrômica (< 26) CHCM: valores da concentração da HCM. Quantidade de hb presente nas hemácias. Quanto mais baixo, mais esbranquiçado. Quanto mais alto, mais escura a hemácia. Valor de referência varia entre 30-33. Aqui tb é hiper, hipo ou normo RDW: anisocitose – variação de tamanho dos eritrócitos. · Alto: muitas hemácias de tamanhos diferentes (↓ferro)
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