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TALASSEMIA ● A palavra talassemia deriva da combinação das palavras gregas thalassa (mar) e emas (sangue), por ser uma hemopatia com origem em países banhados pelo mar Mediterrâneo ● Abrange um grupo heterogêneo de afecções genéticas da síntese de hemoglobina, caracterizado por redução na produção de uma ou mais cadeias de globina, quase sempre resultando em anemia microcítica e hipocrômica ○ A redução na síntese da cadeia pode ser parcial ou total, causando desequilíbrio entre os tipos ○ Esse desequilíbrio altera a eritropoese, causando hemoglobinização deficiente dos eritroblastos, que se expressam em nível periférico com morfologias específicas e de intensidade variável ● São classificadas de acordo com a cadeia afetada. ○ Os tipos alfa e beta são os mais conhecidos, mas também há os tipos delta-delta, delta e gama-delta-beta. ○ Os tipos alfa e beta se manifestam pelas formas heterozigota, homozigota e interativa ○ Existe também uma forma compensada de delta-beta-talassemia, na qual há persistência de HbF na vida adulta (PHHF) TALASSEMIA ● Epidemiologia ○ Estima-se em 270 milhões de portadores, dos quais 80 milhões possuem mutações para beta-talassemia ○ No Brasil, tanto a alfa quanto a beta-talassemia têm alta incidência, devido à miscigenação ocorrida no final do século XIX até o século XX ○ Mais de 200 mutações que afetam o gene da globina beta foram descritas, sendo encontradas em populações provenientes da região mediterrânea e sudeste asiático ○ Na população brasileira, a prevalência do portador silencioso é de, aproximadamente, 10% a 20% e a do traço alfa-talassêmico, de 1% a 3%. ○ Em indivíduos afrodescendentes, essa frequência pode alcançar 20% a 25%. ● Etiologia ○ Os mecanismos podem ser divididos em dois tipos ■ os que se relacionam às mutações nas porções codificadoras ■ os relacionados às alterações em regiões não codificadoras, mas de importância gênica ○ As mutações que condicionam o fenótipo talassêmico são muitas e interferem na produção de globina à nível de transcrição, processamento de RNAm, tradução e até mesmo após a tradução TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Herança autossômica recessiva ○ Etiopatogenia ■ Ocorre quando há redução das cadeias beta da globina que estão estruturalmente normais ■ É causada por mutações heterogêneas que afetam o locus da cadeia da beta-globina ■ Esses defeitos genéticos levam a reduções variáveis da beta-globina, variando de déficit mínimo até a ausência completa ■ As mutações pontuais são as principais causas de redução ou ausência na síntese da cadeia ■ Quando a expressão gênica é parcial, temos beta-talassemias+ e beta-talassemiasº quando a expressão é ausente ■ As variações na síntese de cadeia beta e, consequentemente, na síntese de HbA e cadeias alfa livres, são responsáveis por parte da variabilidade clínica ■ Na beta-talassemia, a síntese da cadeia alfa é normal, pois os genes da alfa-globina não são afetados. O excesso de cadeias alfa pode se combinar com cadeias delta e gama, aumentando as hemoglobinas A2 (alta em 95% das betatalassemias) e F ■ Ocorre então um acúmulo de precursores eritróides, com origem no excesso de alfa-globina não pareada TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Etiopatogenia ■ Essa alfa-globina não consegue formar tetrâmeros viáveis, produzindo corpúsculos de inclusão que danificam a membrana, destruindo prematuramente os eritrócitos. ■ Para tentar equilibrar a perda, é estimulada a eritropoese, mas é ineficaz e eles são destruídos ainda na medula ■ Nos processos hemolíticos, a liberação do grupo heme e de Fe produz metemoglobina e espécies reativas de oxigênio que alteram o potencial de oxirredução do eritrócito, causando elevação de danos oxidativos ■ As mitocôndrias ficam carregadas de Fe e existe a possibilidade de intervenção na atividade do ATP, que promove destruição intramedular ■ A hemoglobina oxidada associada a proteínas de membrana compromete a estabilidade da célula pelo estresse oxidativo, desempenhando papel importante na hemólise ■ O desequilíbrio na síntese de cadeias ocasiona o aumento a superfície em relação ao volume da célula, além do aumento da rigidez da membrana ■ O excesso de cadeias alfa livres não se acumula totalmente no citoplasma e na membrana da célula, sendo removida de alguma forma TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Apresentação clínica ■ O traço beta-talassêmico, também conhecido como talassemia menor, é caracterizada pela heterozigose das formas betaº ou beta+. ● Os indivíduos geralmente são assintomáticos, podendo apresentar anemia hipocrômica e microcítica na infância, durante a gravidez ou em episódios de estresse. ● Apresenta níveis elevados de HbA2 e HbF ● diminuição do VCM e HCM ● as manifestações clínicas variam, podendo ser astenia, cansaço, baço palpável, artrite ● folato e B12 estão nos limites normais ■ Na talassemia intermediária, o paciente herda dois alelos de beta-talassemia mas não apresenta um quadro de talassemia maior ● Os pacientes geralmente apresentam níveis de Hb acima de 6,7g/dL, e mesmo sintomáticos, não necessitam de transfusão ● A anemia é crônica, microcítica e hipocrômica, mas menos grave que na tal. maior TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Apresentação clínica ● as complicações mais comuns são hiperesplenismo, colelitíase, úlcera de pernas, eritropoiese extramedular, osteoporose, fraturas patológicas e icterícia ■ A talassemia maior resulta da homozigose betaº/betaº ou dupla heterozigose betaº/beta+. O paciente apresenta anemia grave, dependendo de transfusões sanguíneas regulares ● apresentam anemia hipocrômica e microcítica com eritrócitos morfologicamente anormais (anisocitose, poiquilocitose, hemácias em alvo, esquizócitos e pontilhado basofílico) ● As manifestações clínicas dependem direta ou indiretamente da síntese desequilibrada de alfa-globina, defeito na hemoglobinização, alteração da membrana celular e distúrbios proliferativos/metabólicos dos eritroblastos ● Níveis de hemoglobina inferiores a 7g/dL são comuns e quando não recebe transfusão adequada, os sinais se agravam com alterações ósseas ○ Hipertrofia, expansão da medula eritróide, adelgaçamento cortical, etc ○ abaulamento do crânio e protrusão do maxilar produzem a face típica talassêmica TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Apresentação clínica ● Ao nascer, pacientes com beta-talassemia maior são clinicamente normais, pois a cadeia beta da globina não é essencial durante a vida fetal e perinatal ● Os sintomas começam a aparecer após os 6 meses de vida, durante a diminuição da HbF, com anemia crônica, hemólise e eritropoiese ineficaz ● Em pacientes não tratados pode-se observar anormalidades ósseas, palidez, icterícia hepatoesplenomegalia, irritabilidade, e alterações do crescimento ■ A principal causa de óbito e complicações sérias nesses pacientes é de origem cardíaca, com IC ou arritmias provocadas pelo acúmulo de Fe ■ Alguns pacientes apresentam alterações pulmonares, como hipertensão pulmonar ■ Pacientes com talassemia intermédia, apesar de precisar de transfusões com menos frequência, apresentam aumento da absorção de Fe e também podem ter complicações devido à hemossiderose ○ Achados nos exames laboratoriais ■ Microcitose e formas bizarras de hemácias são achados característicos TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Achados nos exames laboratoriais ■ Hb pode ser extremamente baixo, muitas crianças são diagnosticadas com 4mg/dL de Hb ■ Além da microcitose, há poiquilocitose, hipocromia, células em alvo e corpúsculos de inclusão com precipitados de alfa-globina (Corpúsculos de Heins) ■ Há leucocitose e os reticulócitos estão baixos devido à eritropoiese ineficaz ■ Eritroblastos podem ser encontrados no sangue periférico ■ Os níveis de ferro e saturação de transferrina são altos ■ As plaquetas geralmente estão normais, exceto em caso de esplenomegaliaonde há plaquetopenia e leucopenia leves ■ Aumento de DHL e bilirrubina indireta sinalizam hemólise ■ Baixo nível de haptoglobina, embora os níveis de B9 e B12 estejam adequados. Com a progressão do quadro, há deficiência de folato e os níveis de Zn, vitamina C e E estão baixos ■ Na medula, encontramos hiperplasia eritróide e inclusões de alfa-globina. Também podemos encontrar eritropoiese extramedular ■ Além das alterações ósseas, hepato e esplenomegalia características, a colecistopatia também é frequente devido à hemólise TALASSEMIA ● Beta-talassemia ou talassemia clássica ○ Achados nos exames laboratoriais ■ Alterações endócrinas como hipotireoidismo, diabetes, hipogonadismo e alterações do crescimento são comuns devido à hemossiderose ○ Tratamento ■ Em pacientes com talassemia maior, são realizados esquemas de hipertransfusão com objetivo de manter os níveis de Hb acima de 10mg/dL, associada à quelação de ferro ● Quelantes usados: desferroxamina de uso parenteral, deferiprona VO, deferasirox VO ■ O transplante de medula óssea pode ser utilizado em pacientes selecionados, geralmente até os 17 anos a depender de alguns fatores de risco (aderência à quelação, fibrose hepática e hepatomegalia) ● Baixo risco: nenhum fator de risco ● Risco moderado: um fator de risco ● Alto risco: no mínimo 2 fatores de risco ■ O esquema de condicionamento é busulfan ou sultran 14mg/kg e ciclofosfamida 120, 160 ou 200mg/kg TALASSEMIA ● Alfa-talassemia ○ Definida como baixa produção das cadeias alfa da globina, levando a um aumento das cadeias gama no feto e no recém-nascido e das cadeias beta em crianças e adultos ○ As hemoglobinas dessa patologia possuem alta afinidade pelo oxigênio, carecem de interação heme-heme e são incapazes de liberar eficientemente o oxigênio nos tecidos, provocando hipóxia ○ A hipóxia tecidual ocasionada pela anemia induz a síntese de eritropoetina, a fim de estimular a produção medular. Porém, os novos eritrócitos também nascem defeituosos e o ciclo se repete ○ Existem 4 síndromes na alfa-talassemia ■ Alfa-talassemia mínima ● perda de 1 dos 4 genes da alfa-globina ● completamente assintomática, podendo apresentar leve hipocromia e microcitose ● O VCM geralmente é normal, porém mostra uma tendência menor que pessoas normais ● A importância de identificar esses indivíduos está no fato de poderem gerar filhos com doença da hemoglobina H quando o parceiro é portador de alfa-talassemia menor TALASSEMIA ● Alfa-talassemia ■ Alfa-talassemia menor ● perda de 2 dos 4 genes da alfa-globina ● lembram pacientes portadores de beta-talassemia menor com hipocromia e microcitose, VCM < 80fL ● podem ser observados leves elevações de HbF ● a eletroforese de Hb é normal ■ Doença da hemoglobina H ● disfunção de 3 dos 4 genes da alfa-globina ● anemia hemolítica crônica, com corpúsculos de inclusão nos eritrócitos circulantes ● o hemograma mostra hipocromia e microcitose ● pode ser detectada por técnicas de eletroforese e cromatografia, mas a genotipagem é fundamental para um diagnóstico preciso e pré-natal, assim como para o aconselhamento genético ● apresenta hepatoesplenomegalia, aumento de DHL, hiperbilirrubinemia indireta e haptoglobina baixa TALASSEMIA ● Alfa-talassemia ■ Doença da hemoglobina H ● alterações esqueléticas, metabólicas e do desenvolvimento são menos marcantes que na beta-talassemia maior ou na intermédia ● a maioria dos pacientes não precisa de transfusão na primeira década de vida ■ Hidropsia fetal e hemoglobina de Barts ● é fatal ainda intra-útero, são raros os casos de pessoas que sobreviveram com transfusões intra-útero, exsanguíneo e posteriormente, esquemas de hipertransfusão, quelação ou TMO ○ Tratamento ■ Pacientes portadores de HbH geralmente tem a vida normal, sem necessidade terapêutica, exceto a suplementação de ácido fólico ■ Há necessidade de transfusão quando é feito o uso de medicações oxidantes ou em quadros infecciosos, que podem desencadear quadros hemolíticos agudos ■ A esplenectomia é indicada em casos de hiperesplenismo grave ■ As complicações secundárias raras relacionadas à sobrecarga de Fe são tratadas com agentes quelantes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ● Hematologia : métodos e interpretação / Alexsandro Macedo Silva, Luciane Maria Ribeiro Neto (org.). São Paulo : Roca, 2017 ● Hematologia laboratorial : teoria e procedimentos [recurso eletrônico] / Paulo Henrique da Silva ... [et al.]. - Porto Alegre : Artmed, 2016. ● Laboratório de hematologia: teorias, técnicas e atlas / Márcio Antonio Wanderley de Melo / Cristina Magalhães da Silveira – 1. ed. – Rio de janeiro: Rubio, 2015. ● Fisiopatologia da doença : uma introdução à medicina clínica [recurso eletrônico] / Gary D. Hammer, Stephen J. McPhee ; [tradução: Geraldo de Alencar Serra, Patricia Lydie Voeux ; revisão técnica: Renato Seligman, Beatriz GraeffSantos Seligman. - 7. ed. - Porto Alegre: AMGH, 2016.
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