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ATEROSCLEROSE E HIPERTENSÃO MARIA EDUARDA T. SEPÚLVEDA ÓXIDO NÍTRICO: Vasodilatador pelas células endoteliais O agente responsável foi inicialmente chamado de fator relaxante derivado do endotélio, porém é conhecido atualmente como óxido nítrico (ON). O ON é produzido a partir da arginina em uma reação catalisada pelo óxido nítrico sintase (ONS). A ONS1 e a ONS3 são ativadas por agentes que aumentam o Ca2+ intracelular, incluindo os vasodilatadores acetilcolina e bradicinina, enquanto a ONS2 é ativada por citocinas. O ON formado nas células endoteliais se difunde para as células do músculo liso do tecido vascular adjacente, onde ativa a guanililciclase solúvel, produzindo guanosina monofosfato cíclica. A GMPc medeia o relaxamento do músculo liso vascular. Os vasodilatadores que agem por intermédio do ON in vivo incluem não apenas a acetilcolina e a bradicinina, como também o polipeptídio intestinal vasoativo (PIV). O ON é um importante regulador local do fluxo sanguíneo. O seu amplo papel na regulação do sistema vascular é comprovado pelo fato de que a infusão de aminoácidos análogos à arginina, que inibem a ONS, causa um aumento na pressão sanguínea. Portanto, parece que a ONS está agindo de forma crônica para manter o sistema vascular dilatado. O ON é responsável, em grande parte, pela hiperemia reativa, pela vasodilatação e pelo fluxo sanguíneo aumentado, que ocorre em tecidos e órgãos, após a remoção de uma obstrução transitória do fornecimento sanguíneo. ATEROSCLEROSE: Condição que compromete as artérias de grande e de médio calibre; Espessamentos fibrosos localizados na parede arterial associados a placas infiltradas de lipídios, que podem finalmente sofrer calcificação. Placas antigas também estão propensas a sofrerem ulceração e ruptura, desencadeando a formação de trombos que obstruem o fluxo. Leva à insuficiência vascular nas extremidades, anormalidades na circulação renal e dilatações (aneurismas), e até ruptura, da aorta e de outras grandes artérias. - PATOLOGIA: O evento inicial da aterosclerose é a infiltração de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) na região subendotelial. O endotélio é submetido a uma força de cisalhamento, a tendência a ser distendido ou deformado pelo sangue circulante. Esse fato é mais marcante nos pontos onde as artérias se ramificam que é onde os lipídios se acumulam ao máximo. As LDL são oxidadas ou alteradas de outras maneiras e a LDL alterada é captada pelos macrófagos, formando as células espumosas. As células espumosas formam estrias de gordura. As estrias aparecem na aorta na primeira década da vida, nas artérias coronárias na segunda década e nas artérias cerebrais na terceira e quarta décadas. A LDL normal não é captada por macrófagos a uma velocidade suficientemente rápida para que se formem células espumosas, contrariamente à LDL oxidada. Os macrófagos expressam uma família de receptores varredores que são responsáveis pela sua captação. A LDL oxidada ocasiona diversos efeitos deletérios, incluindo o estímulo para a liberação de citocinas e a inibição da produção de ON. As células do músculo liso vascular, situadas na vizinhança das células espumosas, são estimuladas e se movimentam da média para a íntima, onde proliferam, deposita colágeno e outras moléculas da matriz e contribuem para o conjunto da lesão. As células do músculo liso também captam LDL oxidada e se transformam em células espumosas. Os lipídios se acumulam tanto intracelular quanto extracelularmente. Conforme as lesões ateroscleróticas envelhecem, as células T do sistema imune, bem como os macrófagos, são atraídas para elas. A “sopa” intercelular das placas contém uma variedade de substâncias prejudiciais à célula, incluindo o ozônio. Os fatores de crescimento e as citocinas envolvidas na migração e na proliferação celulares também são produzidos pelas células do músculo liso e pelas células endoteliais, e há evidências da presença de elementos responsivos à força de cisalhamento no DNA flanqueador de genes relevantes nas células endoteliais. As placas amadurecem, com a formação de uma capa fibrosa sobre elas. As placas com capas defeituosas ou quebradas estão mais propensas à ruptura. As lesões, por si só, podem alterar os vasos a ponto de ser ocluídos, porém costuma ser a ruptura ou a ulceração das placas que desencadeia a trombose, bloqueando o fluxo sanguíneo. Uma característica da aterosclerose, que vem recebendo considerável atenção, é a sua associação com a liberação deficiente de ON e com a vasodilatação imperfeita. Conforme mencionado, a LDL oxidada inibe a produção de ON. Se a acetilcolina for infundida via cateter em artérias coronárias normais, os vasos se dilatam; entretanto, se for infundida quando a aterosclerose estiver presente, os vasos se contraem. - RELAÇAÕ COM O COLESTEROL E OUTROS LIPÍDIOS DA DIETA: Transformação de um monócito em um macrófago capaz de captar lipídio envolve o aparecimento de um tipo único de receptor da LDL oxidada na sua superfície, o receptor varredor (do tipo scavenger), e os monócitos são estimulados a produzir esses receptores pela ação do fator estimulador de colônia de macrófagos, secretado pelas células endoteliais e pelas células do músculo liso vascular. Quando os complexos receptor-LDL oxidada se formam, são internalizados e os receptores reciclam para a membrana, enquanto o lipídio é armazenado. Obviamente, o acúmulo de lipídio nas células espumosas é um evento importante para a progressão de lesões ateroscleróticas e sabe-se que a redução do colesterol plasmático retarda o progresso da aterosclerose. Como os lipídios são relativamente insolúveis, são transportados como partículas de lipoproteína especiais, o que aumenta a sua solubilidade. O colesterol e os triglicerídios vindos da alimentação são armazenados nos quilomícrons envoltos por proteínas nas células do epitélio intestinal. Sob a ação da lipase da lipoproteína, essas partículas liberam triglicerídios para os depósitos de gordura e para os músculos, e os quilomícrons remanescentes são capturados pelo fígado. O fígado também sintetiza colesterol e o armazena com proteínas específicas para formar as lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL). Essas partículas de lipoproteína entram na circulação e sob a ação da lipase doam triglicerídios para os tecidos. Dessa forma, elas se transformam nas lipoproteínas de densidade intermediária (ILD) rica em colesterol e nas lipoproteínas de baixa densidade (LDL). A LDL fornece colesterol para os tecidos e para todas as células, para a produção de membranas celulares e outros fins, além precursor de todos os hormônios esteróides. Conforme mencionado, a LDL oxidada é captada pelos macrófagos e pelas células do músculo liso nas lesões ateroscleróticas. Por outro lado, as lipoproteínas de alta densidade (HDL) capturam o colesterol das células periféricas e o transportam para o fígado onde é metabolizado, mantendo baixos os níveis de colesterol no plasma e nos tecidos. Por essa razão, ela é conhecida como “colesterol bom”, ao contrário do colesterol da LDL, que é o “colesterol ruim”. Atualmente estão sendo feitos esforços no sentido de aumentar a HDL, por meio de fármacos, no tratamento da aterosclerose. Como reduzir o colesterol plasmático? - MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: As placas ateroscleróticas calcificadas são ocasionalmente detectadas no filme de raios X e é possível a visualização angiográfica de paredes arteriais deformadas. A aterosclerose é geralmente assintomática até que uma de suas complicações se desenvolva. Nas artérias coronárias, o estreitamento aterosclerótico que reduz em mais de 75% o seu lúmen causa angina de peito, a dor torácica que resulta do acúmulo de substâncias causadoras da dor no miocárdio. Tipicamente, a dor se instala durante o exercício e desaparececom o repouso. Quando as lesões ateroscleróticas causam coagulação e oclusão de uma artéria coronária, o miocárdio servido pela artéria morre (infarto do miocárdio). Na circulação cerebral, o bloqueio arterial no local das placas ateroscleróticas ocasiona acidente vascular encefálico trombótico (AVE). Na aorta abdominal, a aterosclerose extensa pode levar a um aneurisma e à ruptura do vaso. Nos vasos renais, a constrição localizada de uma ou de ambas as artérias renais causa hipertensão renovascular. Na circulação das pernas, a insuficiência vascular leva à claudicação intermitente (fadiga e dor frequente durante a caminhada, que é aliviada pelo repouso). Se a circulação de um membro estiver fortemente com�prometida, a pele poderá sofrer ulceração, produzindo lesões difíceis de serem curadas. A gangrena também poderá ocorrer. - FATORES DE RISCO: O estrogênio aumenta a remoção de colesterol pelo fígado e a progressão da aterosclerose é mais lenta em mulheres na pré�menopausa do que em homens. Além disso, a terapia de reposição com estrogênio protege o sistema cardiovascular em mulheres na pós-menopausa. Por outro lado, altas doses de estrogênio aumentam a incidência de coágulos sanguíneos e, mesmo baixas doses, produzem um leve aumento na coagulação. O efeito dos níveis plasmáticos aumentados de homocisteína e de moléculas relacionadas, como a homocistina e a tiolactona de homocisteína (hiper-homocistinemia são associados à aterosclerose acelerada e a magnitude da elevação no plasma é positivamente correlacionada com a gravidade da aterosclerose (a homocisteína representa uma fonte significativa de H2O2 e de outras formas reativas de oxigênio e isso pode acelerar a oxidação da LDL). A homocisteína é um intermediário na síntese da metionina. Ela é metabolizada por enzimas que são dependentes da vitamina B6, da vitamina B12 e do ácido fólico. A suplementação alimentar com essas vitaminas reduz a homocisteína plasmática. As evidências de que a diminuição dos níveis plasmáticos de colesterol e de triglicerídios, e a elevação dos níveis plasmáticos de HDL, reduzem e, em alguns casos, reverte o processo aterosclerótico são atualmente indiscutíveis. A desejada redução nos níveis de lipídios pode algumas vezes ser alcançada apenas com a restrição alimentar de colesterol e de gorduras saturadas, muito embora o controle da dieta desencadeie um aumento compensatório na síntese de colesterol pelo corpo. Quando o tratamento alimentar não é adequado, utilizado fármacos que inibem a redutase hepática 3-metilglutaril coenzima A (HMG-CoA). Nos casos de hipercolesterolemia grave instalada, devida à presença de receptores de LDL congenitamente deficientes. O tratamento antioxidante com agentes como o α-tocoferol, a vitamina E e o betacaroteno tem sido utilizado para inibir a oxidação da LDL. Homens que fumam um maço de cigarros por dia apresentam um aumento de 70% na sua taxa de mortalidade por doença cardíaca isquêmica. O ato de parar de fumar reduz o risco de morte e de infarto do miocárdio. Os efeitos deletérios do fumo incluem o comprometimento endotelial causado pela hipoxia induzida pelo monóxido de carbono. Em virtude da força de cisalhamento aumentada imposta ao endotélio por uma pressão sanguínea elevada, a hipertensão representa outro importante fator de risco alterável para a aterosclerose. A diminuição da pressão sanguínea tem o seu maior efeito sobre a redução da incidência de acidente vascular encefálico (AVE), porém também ocorrem efeitos benéficos na doença cardíaca isquêmica. No diabetes, ocorrem complicações microvasculares e macrovasculares. A incidência de infarto do miocárdio é duplicada, quando comparada aos não-diabéticos; a deficiência circulatória grave nas pernas com gangrena é relativamente comum; ocorre um número maior de AVE trombótico, e a insuficiência renal é um problema sério. A síndrome nefrótica e o hipotireoidismo também aceleram a progressão da aterosclerose e são condições tratáveis. Qual é o suposto mecanismo de formação da placa esclerótica? Cite alguns caminhos pelos quais as placas ateroscleróticas podem causar doença cardiovascular. Enumere cinco fatores de risco tratáveis que aceleram a progressão da aterosclerose. HIPERTENSÃO: A hipertensão é uma síndrome de múltiplas causas. Na maioria dos casos, a causa permanece desconhecida e os casos são agrupados sob a denominação de hipertensão essencial. Entretanto, estão sendo continuamente descobertos mecanismos que relacionam a hipertensão em novos grupos da categoria. A hipertensão essencial é geralmente chamada de hipertensão primária e a hipertensão da qual se conhece a causa, de hipertensão secundária. - PATOGÊNESE: A hipertensão é geralmente definida como uma pressão superior a 140/90 mmHg. a pressão sistólica normalmente se eleva ao longo da vida e a pressão diastólica aumenta até a idade de 50 a 60 anos, porém cai em seguida, de modo que a pressão de pulso continua a aumentar. A causa mais comum de hipertensão é a resistência vascular periférica aumentada. Entretanto, como a pressão sanguínea é igual ao produto da resistência periférica total pelo débito cardíaco, elevações prolongadas no débito cardíaco também podem causar hipertensão. Além disso, o volume sanguíneo aumentado causa hipertensão, e a viscosidade sanguínea aumentada, se for marcante, pode elevar a pressão arterial. - APRESENTAÇÃO CLÍNICA: A hipertensão, por si só, não causa sintomas. Dores de cabeça, fadiga e tontura são normalmente atribuídas à hipertensão, porém sintomas não-específicos. Achados clínicos também estão ausentes na hipertensão precoce e as alterações visíveis costumam ser encontradas apenas nos casos graves avançados. Que podem incluir a retinopatia hipertensiva (i. e., arteríolas estreitadas observadas em exame fundoscópico) e, em casos mais graves, hemorragias e exsudatos na retina acompanhados de inchaço da cabeça do nervo ótico. O bombeamento prolongado contra uma resistência periférica elevada causa hipertrofia ventricular esquerda, sendo detectada por ecocardiografia e dilatação cardíaca, observada em exame físico. É importante auscultar com o estetoscópio sobre os rins, porque, na hipertensão renal, o estreitamento das artérias renais pode causar ruídos. Esses ruídos costumam ser contínuos durante o ciclo cardíaco. Tem sido recomendada a avaliação da pressão sanguínea em resposta ao ato de se levantar. Geralmente ocorre um aumento da pressão sanguínea ao se levantar, em caso de hipertensão essencial, provavelmente devido a uma resposta simpática hiperativa à postura ereta. A maior parte dos indivíduos com hipertensão essencial (60%) apresenta atividade normal da renina plasmática e esta se encontra elevada em 10%. Entre�tanto, 30% apresentam baixa atividade da renina plasmática. A secreção da renina pode ser reduzida pelo volume sanguíneo expandido em alguns desses pacientes. A aterosclerose é acelerada e esta, por sua vez, leva à insuficiência cardíaca isquêmica, com angina de peito e infartos do miocárdio, AVE trombóticos e hemorragias cerebrais e insuficiência renal. Outra complicação da hipertensão grave é a encefalopatia hipertensiva, na qual se observa confusão mental, consciência desordenada e convulsões. Essa condição, que requer tratamento vigoroso, é provavelmente devida ao espasmo arteriolar e ao edema cerebral. Na hipertensão maligna, observa-se necrose fibrinóide disseminada da média com fibrose, na íntima das arteríolas, estreitando-as e levando à retinopatia grave progressiva, à insuficiência cardíaca congestiva e à insuficiência renal. Quando não-tratada, a hipertensão maligna costuma ser fatal no prazo de um ano.
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