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1 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Módulo III: Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Problema 3: Movimentos incoordenados Objetivo 1: Descrever a anatomofisiologia dos núcleos da base. Objetivo 2: Explicar a Síndrome Parkinsoniana. Objetivo 3: Explicar a Doença de Parkinson. Objetivo 4: Descrever os principais tipos de distúrbios do movimento. Estrutura e Funções do Núcleos da Base Levando-se em consideração a definição de que núcleos da base são massas de substância cinzenta situadas na base do telencéfalo, estes núcleos são: claustrum, corpo amigdaloide (ou amígdala), núcleo caudado, putâmen e globo pálido. Podem ser incluídas, também, mais duas estruturas: o núcleo basal de Meynert e o núcleo accumbens. O núcleo caudado, o putâmen e o globo pálido integram o chamado corpo estriado dorsal e os núcleos basal de Meynert e accumbens integram o corpo estriado ventral. O claustrum, situado entre o putâmen e o córtex da ínsula, tem conexões recíprocas com praticamente todas as áreas corticais, mas sua função é ainda enigmática existindo várias hipóteses sobre seu funcionamento (Uma hipótese é de que ele teria uma ação sincronizadora da atividade elétrica de várias partes do cérebro integrando-as participando assim da regulação de comportamentos voluntários). O corpo amigdaloide e o núcleo accumbens são importantes componentes do sistema límbico. Os estudos sobre os núcleos da base foram, desde o início, motivados pela necessidade de se entender algumas doenças como o Parkinsonismo e o hemibalismo, em que há grandes alterações de motricidade. Assim, acreditou-se durante muito tempo que os núcleos da base, em especial os do corpo estriado dorsal, teriam somente funções motoras e pertenceriam ao chamado sistema extrapiramidal, ao qual se oporia o sistema piramidal representado pelo trato corticoespinhal. Entretanto, esta divisão não mais se justifica, principalmente pelo fato de que o corpo estriado dorsal, que era considerado o centro do sistema extrapiramidal, age modulando a ação do trato corticoespinhal. Além disso, embora os núcleos da base, em especial o corpo estriado dorsal, continuem a ser estruturas predominantemente motoras, eles também estão envolvidos com várias funções não motoras, relacionadas a processos cognitivos, emocionais e motivacionais. Corpo Estriado Organização Geral O corpo estriado, também chamado corpo estriado dorsal, é constituído pelo núcleo caudado, putâmen e globo pálido. O putâmen e o globo pálido, em conjunto, constituem o núcleo lentiforme. Embora o putâmen seja topograficamente mais ligado ao globo pálido, do ponto de vista filogenético estrutural e funcional suas afinidades são com o núcleo caudado. Assim, pode-se dividir o corpo estriado dorsal em uma parte recente, neoestriado, ou simplesmente striatum (compreende o putâmen e o núcleo caudado); e uma parte antiga, paleoestriado ou pallidum (constituída pelo globo pálido). O globo pálido divide-se em uma parte medial (pálido medial) e outra lateral (pálido lateral) com conexões diferentes. Existem muitas fibras ligando o núcleo caudado e o putâmen ao globo pálido, e são elas que, ao convergir para o globo pálido, lhe dão cor mais pálida nas preparações 2 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Núcleos da base e tálamo em representação tridimensional (lado esquerdo e em corte (lado direito). Núcleos da base, tálamo, cápsula interna e coroa radiada em vista lateral no interior de um hemisfério cerebral. Corte frontal do cérebro ao nível da cabeça do núcleo caudado mostrando a posição do núcleo accumbens. Corte frontal do cérebro passando pela comissura posterior. Notam-se as estruturas do corpo estriado e o núcleo basal de Meynert, situado na substância inominata. não coradas. A esse esquema tradicional do corpo estriado, veio juntar-se, mais recentemente, o conceito de corpo estriado ventral que apresenta características histológicas e hodológicas bastante semelhantes a seus correspondentes dorsais. Entretanto, uma diferença é que as estruturas do corpo estriado ventral pertencem ao sistema límbico, e participam da regulação do comportamento emocional. O estriado ventral tem como principal componente o núcleo accumbens, situado na união entre o putâmen e a cabeça do núcleo caudado. Conexões e Circuitos Ao contrário dos outros componentes do sistema motor, o corpo estriado não tem conexões aferentes ou eferentes diretas com a medula suas funções são exercidas por circuitos nos quais áreas corticais de funções diferentes projetam-se para áreas 3 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Via direta do circuito motor do corpo estriado. Via indireta do circuito motor do corpo estriado. PM = pálido medial PL = pálido lateral específicas do corpo estriado que, por sua vez, liga-se ao tálamo e, através deste, às áreas corticais de origem. Fecham-se, assim, os circuitos em alça corticoestriado- talamocorticais, dos quais já foram identificados cinco tipos: a) Circuito motor - começa nas áreas motora e somestésica do córtex e participa da regulação da motricidade voluntária; b) Circuito oculomotor - começa e termina no campo ocular motor e está relacionado aos movimentos oculares; c) Circuito pré-frontal dorsolateral - começa na parte dorsolateral da área pré-frontal. Projeta-se para o núcleo caudado, daí para o globo pálido, núcleo dorsomedial do tálamo e volta ao córtex pré-frontal. Suas funções são aquelas atribuídas a esta porção da área pré-frontal; d) Circuito pré-frontal orbitofrontal - começa e termina na parte orbitofrontal da área pré- -frontal e tem o mesmo trajeto do circuito pré- frontal dorsolateral. Tem as mesmas funções da área pré-frontal orbitofrontal, ou seja, manutenção da atenção e supressão de comportamentos socialmente indesejáveis; e) Circuito límbico - origina-se nas áreas neocorticais do sistema límbico, em especial a parte anterior do giro do cíngulo, projeta-se para o estriado ventral em especial o núcleo accumbens, daí para o núcleo anterior do tálamo. Este circuito está relacionado com processamento das emoções. Em síntese, desses circuitos, os dois primeiros são motores, os pré-frontais relacionados com funções psíquicas superiores, e os límbicos com as emoções. Circuito motor Origina-se nas áreas motoras do córtex e na área somestésica e projeta-se para o putâmen de maneira somatotópica, ou seja, para cada região do córtex há uma região correspondente no putâmen. A partir do putâmen, o circuito motor pode seguir por duas vias, direta e indireta. Na via direta, a conexão do putâmen se faz diretamente com o pálido medial e deste para os núcleos ventral anterior (VA) e ventral lateral (VL) do tálamo de onde se projetam para as mesmas áreas motoras de origem. Já na via indireta, a conexão é com o pálido lateral que, por sua vez, projeta-se para o núcleo subtalâmico e deste para o pálido medial. Do pálido medial, seguido do tálamo e córtex como na via direta. Ligado ao circuito motor há um circuito subsidiário, no qual o putâmen mantém conexões recíprocas com a substância negra. Este circuito é importante porque as fibras nigroestriatais são dopaminérgicas e exercem ação modulatória sobre o circuito motor. Esta ação é excitatória na via direta e inibitória na via indireta. O fato do mesmo neurotransmissor, dopamina, ter ações diferentes explica-se pelo fato de que no putâmen existem dois tipos de receptores de dopamina, D1 excitador e D2 inibidor. Vejamos como o circuito funciona. Nas duas vias o pálido medial mantém uma inibição permanente dos dois núcleos talâmicosresultando em inibição das áreas motoras do córtex. Na via direta o putâmen inibe o pálido medial, cessa a inibição deste sobre o tálamo resultando ativação do córtex e facilitação dos movimentos. Na via indireta ocorre o oposto. A projeção excitatória do núcleo subtalâmico sobre o pálido medial aumenta a inibição deste sobre os núcleos talâmicos resultando em inibição do córtex e dos movimentos. A ação excitatória das fibras dopaminérgicas nigroestriatais sobre o putâmen também inibe o pálido medial, com efeito semelhante ao de via direta, ou seja, há ativação dos núcleos talâmicos, resultando ativação do córtex motor, com facilitação dos movimentos. 4 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Considerações Funcionais e Clínicas Em relação ao corpo estriado, talvez mais do que a outras áreas do sistema nervoso, o conhecimento da função decorre em grande parte do conhecimento da disfunção. As funções do corpo estriado podem ser divididas em duas categorias, motoras e não motoras, sendo as motoras mais conhecidas e importantes. Funções do corpo estriado O papel do corpo estriado no controle motor pode ser inferido por meio do estudo de pacientes com lesões no circuito motor (o conceito clássico segundo o qual o corpo estriado seria o iniciador do movimento não se confirmou porque estudos de neuroimagem funcional mostraram que este circuito é ativado depois de iniciado o movimento). A atividade tônica inibitória das eferências do pálido medial é um freio permanente para movimentos indesejados. A necessidade de realizar um movimento interromperia este freio tônico, permitindo liberação do comando motor ordenado pelo córtex cerebral. Dessa forma, os núcleos da base têm um papel na preparação de programas motores e na execução automática de programas motores já aprendidos. Não se sabe exatamente como as vias direta e indireta do circuito motor interagem para o controle motor. A ideia mais aceita é a de que os sinais para um dado movimento sejam direcionados por ambas as vias para a mesma população de neurônios palidais. Assim, as aferências da via indireta poderiam frear ou suavizar o movimento, enquanto, simultaneamente, a direta o facilitaria e ambas participariam na gradação de amplitude e velocidade do movimento. O comportamento motor normal depende do equilíbrio entre a atividade das vias direta e indireta. Diversas síndromes clínicas que acometem o corpo estriado são devidas a alterações desse equilíbrio (essas síndromes eram denominadas síndromes extrapiramidais, em oposição às síndromes piramidais decorrentes de lesões do trato corticoespinhal, porém esta classificação não é mais utilizada). Disfunções do corpo estriado Os transtornos do corpo estriado são hipercinéticos, hipocinéticos ou comportamentais e emocionais esses últimos de interesse neuropsiquiátrico. Os principais transtornos do corpo estriado são descritos a seguir: a) Hemibalismo – É o mais conhecido, caracterizado por movimentos involuntários, de grande amplitude e forte intensidade, dos membros do lado da lesão, que se assemelham ao movimento de um indivíduo arremessando um objeto. Nos casos mais graves, esses movimentos não desaparecem com o sono, podendo levar o doente à exaustão. A causa mais comum são lesões do núcleo subtalâmico, geralmente resultantes de pequenos acidentes vasculares. Os sintomas do hemibalismo, como dos distúrbios hipercinéticos em geral, devem-se à diminuição da atividade excitatória das projeções do núcleo subtalâmico para o pálido medial, diminuindo o efeito inibidor deste sobre os núcleos talâmicos e sobre as áreas motoras do córtex. Com isso, essas áreas respondem exageradamente aos comandos corticais ou de outras aferências e aumentam a tendência dos neurônios corticais dispararem espontaneamente, dando origem a movimentos involuntários. b) Doença de Parkinson - Em 1817, o médico inglês James Parkinson descreveu a doença que hoje tem seu nome e que aparece, geralmente, após os 50 anos de idade. Caracteriza-se por três sintomas básicos: tremor, rigidez e bradicinesia. O tremor manifesta-se nas extremidades quando elas estão paradas, e desaparece com o movimento. A rigidez resulta de uma hipertonia de toda a musculatura esquelética. A bradicinesia manifesta-se por lentidão e redução da atividade motora espontânea, na ausência de paralisia. Há também grande dificuldade para dar-se início aos movimentos. Verificou-se que, na doença de Parkinson, a disfunção está na substância negra, resultando em diminuição de dopamina nas fibras nigroestriatais. Desse modo, cessa a atividade moduladora que essas fibras exercem sobre as vias direta e indireta, resultando em aumento da inibição dos núcleos talâmicos. A descoberta desse fato inspirou a terapêutica da doença de Parkinson, que visa aumentar o teor de dopamina nas fibras nigroestriatais. Tentativas para obter-se esse resultado através da administração de dopamina não obtiveram sucesso, pois essa amina só 5 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza atravessa a barreira hematoencefálica em concentrações muito altas e tóxicas para o restante do organismo. Verificou-se, entretanto, que o isômero levógiro da diidroxifenilalanina (L-Dopa) atravessa a barreira, é captado pelos neurônios e fibras dopaminérgicas da substância negra e transformado em dopamina, o que causa melhora dos sintomas da doença de Parkinson. Baseado no que foi estudado sobre o circuito motor, pode- se compreender o que provavelmente ocorre na fisiopatologia dessa doença. A perda da aferência dopaminérgica para o estriado leva à diminuição de atividade da via direta, onde a dopamina tem ação excitatória, e ao aumento na via indireta, onde a dopamina tem ação inibitória. A diferença das ações da dopamina nos dois circuitos deve-se ao fato de que no circuito direto o receptor é D1 ativador e no circuito indireto D2 inibitório, devido às diferentes ações da dopamina nas duas vias. Estas alterações levam ao aumento na atividade do pálido medial e consequente aumento da inibição dos neurônios talamocorticais, ocasionando os sintomas hipocinéticos característicos da doença. Na doença de Parkinson, em relação à via indireta, ocorre excessiva atividade do núcleo subtalâmico, o que parece ser um fator importante na produção dos sintomas. Por isso, a lesão desse núcleo, reduzindo a excitação excessiva do pálido medial, melhora os sinais de parkinsonismo. Resultados similares podem ser obtidos lesando-se, por cirurgia estereotáxica, o pálido medial. c) Coreia de Sydenham - Caracteriza-se pela presença de movimentos involuntários rápidos que lembram uma dança (movimentos coreicos) hipotonia e distúrbios neuropsiquiátricos como labilidade afetiva e sintomas obsessivo-compulsivo, hiperatividade. Os sintomas motores são devidos ao comprometimento do circuito motor, os demais sintomas são comprometimento de circuitos pré-frontais. A Coreia de Sydenham ocorre principalmente em crianças, é uma doença autoimune, com anticorpos que lesam os núcleos da base. d) Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) - É uma doença psiquiátrica que tem como característica principal obsessões, como a mania de limpeza que pode resultar em excessivas lavagens das mãos ao ponto de ferir a pele. Há evidências de que o TOC se deve ao comprometimento dos dois circuitos pré-frontais. Síndrome Parkinsoniana Epidemiologia: O parkinsonismo é uma síndrome clínica bastante comum, encontrando-se em 14,9% dos indivíduos com idades compreendidas entre os 65 e 74 anos, percentagem que sobe para 52,4% nos idosos com 85 ou mais anos de idade. Conceito: Designa-se por parkinsonismo uma síndrome clínica constituída predominantemente por alterações do movimento, nomeadamente por: Tremor Rigidez Bradicinesia (lentidão do movimento) Hipocinesia (redução da amplitude do movimento) Acinesia (ausência de movimento), alterações posturais e fenómenos de freezing. Fisiopatologia: Relaciona-se o seu aparecimento com uma disfunção dos gânglios da base, devida nomeadamente, entre outras situações, a diminuição da dopamina ao nível do estriado por degenerescência do sistema dopaminérgico nigroestriatal, a bloqueio dos receptores dopaminérgicos estriatais, a depleção dopaminérgica, ou a desinibição do núcleo subtalâmico ou do globo pálido medial. Sinais e sintomas: BRADICICINESIA: Lentificação geral dos movimentos voluntários. Movimentos finos ou rapidamente alternantes estão comprometidos. Pode-se avaliar a presença de bradicinesia pedindo que o paciente abra e feche a mão, execute movimentos de pinça ou bata o calcanhar no chão de maneira rápida, ampla e repetitiva. INSTABILIDADE POSTURAL Dificuldade em manter posição ortostática, podendo ocorrer quedas. A marcha é caracterizada por passos curtos, arrastados e sem o balançar dos braços, podendo ocorrer desequilíbrio ao girar. TREMOR Habitualmente de repouso, porém pode ser postural ou cinético. Geralmente iniciado nas mãos ou pés (extensão-flexão rítmica dos dedos) ou no antebraço (pronação-supinação rítmica). 6 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza Em muitos casos, envolve a área da face (região da boca). Embora possa ser generalizado, o tremor costuma iniciar por um ou dois membros unilateralmente. RIGIDEZ (AUMENTO DO TÔNUS) Identificado por aumento da resistência ao movimento passivo. A resistência é uniforme durante a amplitude do movimento articular, afetando músculos agonistas e antagonistas (ao contrário da espasticidade em que o aumento do tônus é maior no começo do movimento passivo – fenômeno de canivete). A rigidez do parkinsonismo é descrita como rigidez em roda denteada (interrupção em catraca, que pode ser causada pela presença de tremor). A rigidez é responsável pela postura fletida. Os principais diagnósticos diferenciais das síndromes parkinsonianas são: Doença de Parkinson Parkinsonismo atípico, induzido por medicamentos Evento cerebrovascular e sequela de encefalites. O parkinsonismo induzido por fármacos é a causa mais comum de parkinsonismo secundário. Os sintomas melhoram cerca de uma a quatro semanas após suspender a medicação, porém podem levar até seis meses para remissão completa. Principais fármacos associados: antipsicóticos (haloperidol, clorpromazina, levomepromazina, sulpirida), lítio, bloqueadores de canal de cálcio, antieméticos (metoclopramida, bromoprida) e antivertiginosos (flunarizina, cinarizina). Doença de Parkinson É uma doença neurodegenerativa e lentamente progressiva, especificamente dos neurônios dopaminérgicos da substancia negra compacta, com consequente redução na produção de dopamina (um neurotransmissor que atua no envio de mensagens para partes do cérebro que controlam os movimentos e a coordenação). EPIDEMIOLOGIA: A idade mais avançada, o género masculino, comorbilidades (fatores de risco vascular, cancro, síndrome metabólica, baixo índice de massa corporal), o atingimento motor axial, a deterioração cognitiva e disfunção autonómica precoces têm sido apontados como fatores preditores independentes de pior prognóstico. Recentemente, níveis baixos de vitamina B12 foram associados a pior prognóstico. ETIOLOGIA: Idiopática. Atualmente considera-se como fatores etiopatogênicos mais importantes a chamada causa multifatorial, ou seja, a combinação de predisposição genética com a presença de fatores tóxicos ambientais. Com relação à contribuição do envelhecimento cerebral, este estaria relacionado com a prevalência da idade, associada à perda neuronal progressiva. A evidência sugere que o traumatismo craniano, a exposição a pesticidas agrícolas e a outras toxinas como o manganésio, aumentam o risco futuro de DP esporádica. Mais recentemente, a inflamação intestinal tem sido apontada como eventual fator desencadeante da doença. Os fatores ambientais estão interligados aos pacientes de DP que vivem em zona rural, fazem uso de água de poço e que estão mais expostos a pesticidas e herbicidas. As questões químicas procedem de exposições a produtos químicos industriais, como manganês, mercúrio e solventes. O estresse oxidativo ocorre quando existe um desequilíbrio entre os fatores que promovem a formação de radicais livres e os mecanismos de defesa antioxidativos. As questões genéticas estão ligadas a existência de genes que favorecem o desenvolvimento da enfermidade, porém agindo de forma indireta. E as disfunções mitocondriais podem ser decorrentes de fatores tóxicos, bem como genéticos, que tendem a ocasionar uma cascata de eventos originando morte celular programada. FISIOPATOLOGIA: A doença de Parkinson fisiopatologicamente deve ser considerada como uma afecção neurodegenerativa, progressiva, caracterizada pela presença de disfunções monoaminérgicas múltiplas, incluindo déficits dos sistemas dopaminérgicos, colinérgicos, serotoninérgicos e noradrenérgicos. O sistema dopaminérgico junto com os neurônios de melanina sofre despigmentação. Desta forma, subentende-se que quanto mais clara a substância negra, maior é a perda de dopamina. Associado a essa despigmentação tem se a depleção do neurotransmissor dopamina que resulta da degeneração de neurônios dopaminérgicos da substância negra que se projetam para o estriado, onde são críticos para o controle do processamento da informação pelos gânglios da base, reduzindo a atividade das áreas motoras do córtex cerebral, desencadeando a diminuição dos movimentos voluntários. À medida que a doença progride e os neurônios se degeneram, eles desenvolvem corpos citoplasmáticos inclusos, que são os chamados corpos de Lewys, sendo 7 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza estes corpos de inclusão citoplasmática dos eosinófilos, existentes na substância negra do mesencéfalo, os quais se aglomeram em grande quantidade. Ocorre ainda a perda das células do núcleo pedúnculopontino, combinada com a inibição aumentada do próprio núcleo pedúnculo-pontino, desinibe as vias retículoespinhal e vestíbulo-espinhal, produzindo uma contração excessiva dos músculos posturais, estando estes relacionados aos déficits colinérgicos. De uma maneira geral define-se com clareza a existência de uma perda neuronal progressiva no grupo de células ventro-laterais, da parte compacta da substância negra do mesencéfalo. Com o envelhecimento, todos os indivíduos saudáveis apresentam morte progressiva das células nervosas que produzem dopamina. Algumas pessoas, entretanto, perdem essas células (e consequentemente diminuem muito mais seus níveis de dopamina) num ritmo muito acelerado e, assim, acabam por manifestar os sintomas da doença. QUADRO CLÍNICO: Os primeiros sintomas do Parkinson costumam ser sutis e surgem gradualmente, podendo passar despercebidos por muito tempo e até serem considerados traços característicos do envelhecimento, o que acaba por dificultar o diagnóstico assertivo da doença. 1. Tremor: em geral inicia em uma das mãos e braço, mas depois progride para a perna e para o outro lado. Pode atingir até lábios e a cabeça. Costumam aparecer quando a pessoa está em repouso, ou seja, com a mão parada, mas o estresse e nervosismo podem piorar o tremor significativamente. Em muitos casos é possível notar um movimento típico provocado pelo tremor do Parkinson, quando o paciente passa a ponta do indicador sob a ponta do polegar, como se estivesse contando notas. É importante ressaltar que, embora o tremor ainda seja o sinal mais conhecido e evidente da doença de Parkinson, ele não afeta todos os parkinsonianos e não é o mais incapacitante dos sintomas. 2. Rosto sem expressão:o olhar fica parado, a expressão facial mais séria e os movimentos da face são menos notados, independentemente da vontade da pessoa. Até os olhos costumam piscar com menor frequência, e a pessoa deglute a saliva manos vezes. As vezes isso dificulta a a interpretação da emoções e de seus movimentos e para quem convive com o parkinsoniano parece que tem uma máscara sobre o rosto. É comum que, mesmo de bom humor, o paciente de Parkinson seja visto como uma pessoa séria, brava e até deprimida. É preciso muito esforço para transparecer outra impressão. 3. Micrografia: trata-se da dificuldade em movimentar as mãos e dedos, provocando rigidez muscular. A consequência desse sintoma atinge a escrita do paciente, fazendo com que as letras e os espaços entre elas se tornem menores. Tarefas simples do dia a dia como elaborar uma lista de supermercado ou assinar o próprio nome tomam mais tempo e demandam mais atenção. Para enfrentar esse sintoma, os paciente costumam escrever mais lentamente, em papel pautado e com caneta mais larga para manter a legibilidade. As vezes a assinatura se modifica sem que o paciente perceba podendo até causar problemas de reconhecimento da assinatura. 4. Má Postura: é possível notar, ainda no início da doença, uma inclinação do tronco e da cabeça para frente, comprometendo o equilíbrio e agilidade ao se movimentar. Caminhar e até olhar para frente se tornam um grande desafio. A atividade física é uma medida primordial para parkinsonianos, sendo a recomendação número um para combater os problemas de mobilidade. O uso de sapatos que garantam a firmeza dos pés também é fundamental no combate desse sintoma. 5. Voz Baixa: a doença de Parkinson também afeta o movimento de diferentes partes do corpo, como os músculos da face, garganta e boca, todos importantes para a fala. Com isso, a consequência é a redução do tom e timbre de voz, atingindo a clareza das palavras e causando uma sensação de fala mole, arrastada, sem interessa, fazendo com que muitos pacientes se isolem para evitar a exposição e constrangimento. O paciente tem a impressão de estar falando cada vez mais alto para ser compreendido, o que provoca um enorme cansaço. Para isso, evitar conversas em grandes grupos ou em lugares cheios e barulhentos pode ajudar na adaptação da nova dinâmica de comunicação. 6. Hipotensão Postural: trata-se da queda súbita de pressão arterial quando a pessoa muda de posição ou se levanta rapidamente. A sensação é de tontura e que vai desmaiar, comprometendo equilíbrio e aumentando os riscos de queda. As vezes podem ocorrer desmaios, ou piora repentina dos sintomas e até suor frio. Cerca de 20% dos pacientes de Parkinson apresentam esse sintoma devido à redução dos neurotransmissores. Porém, existem outras causas que ajudam na evolução desse sintoma, como: desidratação, uso de antidepressivos, diuréticos e sedentarismo. 7. Perda Olfativa: é um dos sintomas iniciais mais comuns e atinge a maioria dos pacientes da doença. Estima-se que cerca de 90% dos parkinsonianos não sentem cheiros de forma plena, inclusive apresentando alterações no paladar (uma vez que os dois sentidos se interligam). A perda olfativa pode surgir muitos anos antes da doença de Parkinson ser diagnosticada. Existem relatos de pacientes que notaram a redução no olfato até duas décadas antes dos sintomas motores se instalarem. 8 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza 8. Sono Inquieto: é comum uma certa agitação durante o sono. É como se o paciente atuasse durante o sonho e faz parte da doença. Especialistas relatam que os movimentos são tão repentinos e intensos que chegam a incomodar quem dorme ao lado. Em geral, tais alterações do sono são descritas pelo companheiro, pois o paciente não percebe na maior parte das vezes. Estima-se que cerca de 60% dos parkinsonianos tem insônia. Eles adormecem facilmente, mas perdem a capacidade de seguir dormindo, acordando após algumas horas e comprometendo a restauração necessária de uma noite bem dormida. 9. Dificuldade para caminhar: frequentemente se relaciona à quantidade de dopamina funcionante no cérebro. Quando há uma queda dessa substância, as alterações ao caminhar costumam ser bem significativas. Os braços também costumam ficar mais rígidos e com menos movimento, e tendem a ficar rente ao corpo o que compromete o equilíbrio e agilidade da marcha. Um dos sintomas iniciais do Parkinson passa pelo congelamento e incapacidade súbita e passageira de iniciar um movimento. Embora não atinja todos os pacientes, estima-se que cerca de 40% dos pacientes sofram com essa instabilidade e quedas. 10. Constipação: muitos pacientes sofrem com o sistema nervoso autônomo (responsável pelo controle das funções do organismo como respiração, circulação, manutenção da pressão arterial, digestão e movimentos). Com isso, o trato intestinal costuma se tornar mais lento preguiçoso resultando em desconforto no abdome e redução na frequência de evacuações. Algumas medicações podem ainda agravar essa situação. É importante frisar que o funcionamento do intestino de um parkinsoniano não precisa ser diário, mas é importante que siga uma dieta equilibrada, com bastante líquido para que, assim, consiga garantir conforto e bem-estar. Para melhor compreensão sobre as áreas cerebrais acometidas na DP, dividiu-se em seis estágios. No estágio 1 ocorre o comprometimento do núcleo motor dorsal dos nervos glossofaríngeo e vago, além da zona reticular intermediária e do núcleo olfatório anterior, constituindo assim um processo neurodegenerativo quase que totalmente localizado nas fibras dopaminérgicas que inervam o putâmen dorso- lateral. No estágio 2, existe o comprometimento adicional dos núcleos da rafe, núcleo reticular gigantocelular e do complexo do lócus cerúleos. No estágio 3, observa-se o acometimento da parte compacta da substância negra do mesencéfalo. Já nos estágios 4 e 5 há comprometimentos das regiões prosencefálicas, do mesocórtex temporal e de áreas de associação do neocórtex e neocórtex pré- frontal, respectivamente. No estágio 6, ocorre o comprometimento de áreas de associação do neocórtex, áreas pré-motoras e área motora primária. Esses referidos comprometimentos manifestam-se inicialmente de forma motora, onde são chamados de sinais cardinais da doença de parkinson. Sendo eles: rigidez, tremor, bradicinesia e instabilidade postural. DIAGNÓSTICO: consiste na avaliação neurológica que leva em consideração 3 de 4 sinais: presença de tremores, rigidez nas pernas, braços e tronco, lentidão e diminuição dos movimentos e instabilidade de postura. A ULTRASSONOGRAFIA TRANSCRANIANA pode auxiliar, evidenciando a mudança de dor da substancia negra do mesencéfalo. TRATAMENTO: A. Farmacológico: → Levodopa - é o principal fármaco utilizado para o tratamento da Doença de Parkinson. Pode ser utilizada em monoterapia ou em associação com outras medicações. É recomendável iniciar com a menor dose possível, e poupar doses mais altas com o objetivo de retardar o aparecimento das complicações (discinesias e flutuações nos sintomas). → Agonista dopaminérgicos - pode ser utilizado para iniciar o tratamento, poupando a levodopa para uso mais tardio. O principal representante desta classe é o dicloridrato de pramipexol. → Anticolinérgicos - são efetivos no controle do tremor e rigidez. Segundo o livro ‘’Doença de Parkinson recomendações’’, os anticolinérgicos não são drogas de primeira escolha devido aos seus efeitos colaterais e por sua ação ser limitada ao tremor. → Amantadina - droga utilizada para redução da rigidez, do tremor e da bradicinesia, em outras palavras para diminuição dos sintomas motores. Segundo o livro ‘’Doença de Parkinson recomendações”, a amantadina também não é considerada droga de primeira escolha devido à sua ação limitada e a sua curta duração. → Inibidores da MAO (Monoamina-oxidase B) Representantes: Seleginina,Rasagilina Podem ser utilizados em combinação com o tratamento dopaminérgico, com o objetivo de aumentar a duração de cada dose. 9 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza B. Não farmacológico: Consiste no tratamento multidisciplinar envolvendo uma equipe formada por fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, geriatra, neurologista, psicólogo. Nesta etapa do tratamento é fundamental a educação e o apoio familiar, a orientação sobre a doença e sua evolução, e principalmente do papel da família de suporte emocional e de estimular o paciente a ter sua própria independência de acordo com sua limitação. A prática de atividades físicas tem de ser estimulada, pelo seu papel neuroprotetor. A dieta deve ser adequada e balanceada, principalmente naqueles pacientes que sofrem de constipação intestinal. C. Cirúrgico: as opções disponíveis são: 1) Estimulação cerebral profunda (considerada a primeira opção de tratamento cirúrgico). 2) Cirurgia ablativa - é válido salientar que mesmo após a cirurgia, a doença de Parkinson não tem cura e persiste sua progressão. Por isso a opção cirúrgica fica restrita a pacientes que não conseguiram êxito no tratamento farmacológico para controle principalmente dos sintomas motores. Distúrbios do Movimento Conceito: Distúrbios do movimento são conceituados como disfunções neurológicas caracterizadas por pobreza ou lentidão dos movimentos voluntários na ausência de paresia ou paralisia, ou por atividade motora involuntária representada pelos diversos tipos de hipercinesias. MIOCLONIAS Resulta de alterações nos mecanismos inibitórios do SNC. É constituída por movimentos involuntários, rápidos, abruptos e semelhante a um choque. Pode ser denominado: MIOCLONIA ATIVA: quando ocorrem contrações musculares ativas MIOCLONIA PASSIVA: quando ocorre interrupção brusca da atividade muscular, causando pausa postural súbita. As mioclonias positivas envolvem a musculatura extensora e flexora. A ativação anormal resulta em deslocamento das articulações para cima e para baixo. Nas mioclonias passiva, os músculos que normalmente são recrutados perdem a tonicidade (perda do efeito antigravitacional) e as articulações se deslocam para baixo. Essas manifestações podem ser provocadas por alterações no cérebro, na medula espinhal e no SNP. TIQUES São movimentos rápidos, repetitivos e arrítmicos que afetam os músculos da cabeça, do pescoço e dos membros. Podem ser: Motores Vocais Ambos; Podem ser também: Simples Complexos MOTORES COMPLEXOS: são caracterizados por movimentos sequenciais coordenados em várias partes do corpo, como tocar, cheirar ou ter ações agressivas em alguma parte do corpo ou em outras pessoas. MOTORES SIMPLES: incluem piscamento, sacudir a cabeça, levantar os ombros e fungar. VOCAIS SIMPLES: pigarros, tosses, gritos, grunhidos, estalinhos e sons de animais. 10 Distúrbios Sensoriais, Motores e Consciência Hanna Briza VOCAIS COMPLEXOS: complexos consistem em palavras ou frases repetidas em som alto ou em atitudes inapropriadas. Podem ser exacerbados por estresse, ansiedade ou fadiga, ou reduzidos durante atividades que usem a concentração, como lerem ou se entreter de alguma forma. TREMOR Oscilação rítmica de uma determinada parte do corpo, decorrente de contrações musculares antagonistas. Podem ser sincronizadas ou alternadas, patológico ou fisiológico. Pode acometer qualquer parte do corpo, porém a cabeça e os membros superiores são os mais acometidos. Pode ser classificado quanto: localização, frequência, tipo de fenômeno, etiologia. DISTONIA Contrações musculares sustentadas e direcionais, involuntárias, que provocam torção e movimentos repetidos dos segmentos corpóreos e posturas anormais. Possuem duração mais longa quando comparado a outros distúrbios do movimento, como coreia e mioclonia. Envolvem a contração dos músculos antagonistas e agonistas e tendem a ser repetitivos ou padronizados, envolvendo os mesmos grupos musculares. Em geral, esta contração involuntária em desarmônica dos músculos provoca postura anormais do segmento do corpo envolvido (cabeça, mão, tronco ou pé) e está frequentemente associado a dor. Pode ser agravada por movimentos voluntários. Distonia de ação: Evidenciada por movimentos voluntários. Distonia tarefa-específica: é evidenciada somente em algumas ações. COREIA Movimentos involuntários rápidos, irregulares e arrítmicos, que podem acometer qualquer parte do corpo. O paciente não consegue ficar parado. Distúrbio anormal de movimento involuntário. Pode acometer apenas uma metade do corpo, sendo denominada Hemicoreia. Quando acomete todo o corpo, é chamada de coreia generalizada. ATETOSE Movimentos involuntários mais lentos, sinuosos e frequentemente contínuos. Lembram uma torção que envolve predominantemente as extremidades distais. São mais frequentes em crianças que em adultos. Pode ser um movimento distônico ou coreico. BALISMO Consiste em movimentos involuntários dos músculos proximais dos membros. Caracteriza-se sempre por movimentos de grande amplitude, abruptos, contínuos e ritmados, estereotipados e violentos. A lesão está quase sempre no núcleo subtalâmico contralateral. O balismo geralmente se descreve em um hemicorpo (hemibalismo). A intensidade destes movimentos costuma fadigar precocemente o sistema muscular. As principais causas encontradas são nos AVC's hemorrágicos, tumores cerebrais necroses sifilíticas.
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