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ITU na criança

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Mila Vitória- Pediatria 2021.1 
ITU em crianças 
Caso clínico 
Carlos, 45 dias de vida, em aleitamento materno exclusivo, está há 3 dias com baixa aceitação oral. Há 2 dias iniciou 
vômitos (3 episódios/dia), palidez e febre. Ao exame: REG, FR 40 irpm, FC 178 bpm, T 38,8ºC. ACP fisiológica. ABD: 
sem visceromegalias. EXT: perfundidas. 
Diagnóstico sindrômicos: síndrome febril (febre sem sinais localizatórios). 
Febre sem sinais localizatórios difere da febre de origem indeterminada pelo tempo. A primeira dura < 7 dias, já a 
segunda é considerada quando há febre sem diagnóstico definido após 3 semanas de investigação ambulatorial, ou 1 
semana de investigação hospitalar. Na febre de origem obscura pensa-se mais em neoplasia, doença autoimune, 
infecção. 
 
Ou seja, em pacientes < 28 dias, conduz como sepse. 
Exames: hemograma-> leucocitose com neutrofilia; HMCT pendente; sumário de urina por punção supra púbica-> 
leucocitúria e bacteriúria, nitrito +; urocultura pendente; LCR normal; Rx tórax normal. 
Diagnóstico: febre sem sinais localizatórios, por uma bacteremia oculta, por uma infecção do trato urinário. 
Conduta: internação; antibiótico (ampi + genta ou ceftriaxona); US de rins e vias urinárias; encaminhar ao 
nefropediatra. 
Objetivos de aprendizagem: conhecer a epidemiologia e fatores de risco da ITU na infância; reconhecer o quadro 
clínico de acordo com a faixa etária; discutir a propedêutica diagnóstica dessa patologia; definir as indicações de 
investigação complementar e conhecer os exames necessários; aprender princípios do tto da ITU na infância; 
definir as indicações de quimioprofilaxia. 
Definição 
Bacteriúria relevante de uropatógeno em paciente sintomático 
Epidemiologia 
• Prevalência média de 7% em crianças (grande variabilidade) 
• Meninas 2-4x mais prevalente do que meninos circuncisados 
• Maior prevalência em meninos não circuncisados < 3 meses 
• Crianças brancas 2-4x maior chance do que negras 
 
Fisiopatologia 
(Essa não engloba o período neonatal) 
1. Colonização periuretral por bactérias uropatogênicas 
2. Ascensão dos germes (fora do período neonatal) 
3. Fatores de virulência das bactérias definem adesão ao uroepitélio que facilita ascensão 
4. Resposta inflamatória 
5. Cicatriz renal 
• E. coli está presente em aproximadamente 80% das ITU em crianças porque ela é a que mais vai colonizar a 
região periuretral. 
• Bactérias gram -: klebsiella, proteus enterobacter, citrobacter 
• Bactérias gram +: staphylococus saprofhyticus, enterococo, s. aureus 
• Vírus: adenovírus, enterovírus, coxsackie, echovirus 
• Fungos: cndida spp, aspergillus spp. Cryptococcus neoformans. Principalmente em imunodeprimidos ou uso 
de cateter. 
Fatores do patógeno 
 
Fatores do hospedeiro 
Idade, sexo, raça (maior chance em raça branca), circuncisão, fatores genéticos, malformação obstrutiva ou refluxo 
vesico-ureteral, condições neurológicas (ex: bexiga neurogênica-> urina parada= fonte de bactéria), disfunção vesico-
intestinal (síndrome das eliminações), atividade sexual, manipulação do trato urinário. 
Apresentação clínica 
Lactente: irritabilidade, febre, vômitos, sintomas sistêmicos exuberantes, baixo ganho ponderal 
Crianças maiores: disúria, retenção urinária, polaciúria, urgência, incontinência, dor abdominal. Pode haver sintomas 
sistêmicos (anorexia, febre e toxemia). 
• Paciente que tem elevado risco de ITU quando tem febre sem sinais localizatórios: <1 ano, febre elevada, 
meninas, menino não ciruncisado, raça não negra, sem outro foco de infecção 
Avaliação clínica 
Caracterizar bem os sinais e sintomas: febre; sintomas urinários; dor abdominal; vômitos; uso de antibióticos; 
atividade sexual; constipação crônica (intestino cheio de fezes comprime a bexiga, pode translocar bactérias, 
prejudicando o esvaziamento da bexiga); má formação renal; história familiar de má formação renal. 
Exame físico 
Avaliar: curvas de ganho ponderal, pesquisar Giordano, dor abdominal, pressão, estigma sacral, genitália. 
Quem deve ser investigado para ITU com sumário e urocultura? 
• Menor de 2 anos: <2 anos de alto risco (olhar lá em cima quais são); <2 anos com febre alta (exceto quando 
negro com outro foco para febre) 
• Maior de 2 anos: meninas e meninos não circuncisados-> se sintomas urinários ou febre elevada; meninos 
circuncisados-> se sintomas urinários sem outra causa aparente 
Avaliação laboratorial 
Método coleta de urina: 
Se criança continente: jato médio. Crianças incontinentes: saco coletor (mais utilizado), cateterismo vesical ou 
punção supra púbica (padrão-ouro). 
O que avalia no sumário de urina: proteinúria, hematúria, leucócitos, estearase, nitrito, bacteriúria 
 
Nem toda leucocitúria é ITU! Pode estar presente em: bacteriúria assintomática, febre sem sinais localizatórios, 
apendicite, vulvovaginite, uretrite, litíase renal, disfunção vesical, desidratação. 
Bacteriúria significativa: 
• Jato médio: >100.000 UFC/ml 
• Cateterismo: >50.000 UFC/ml (quando >10.000 UFC/ml -> repetir) 
• Punção supra-púbica: > 1.000 UFC/ml 
Solicitar: hemograma, PCR, função renal e eletrólitos, hemocultura (+ em apenas 4-9% das ITU) 
Tratamento 
• Eliminação da infecção e prevenção de urosepse 
• Alívio dos sintomas agudos 
• Prevenção da recorrência e de complicações 
Indicação de hospitalização 
Idade < 2 meses; urosepse clínica; imunocomprometidos; vômitos com impossibilidade de via oral; falha na resposta 
do atb oral. 
Não espera resultado da cultura para iniciar tto! 
 
Na pediatria, mesmo quando é cistite, não faz menos que 7 dias de atb. E na pielo faz 10-14d. Bacteriúria 
assintomática não trata, mas deve-se procurar a causa dela. 
Drogas de escolha 
 
Rastreio de malformações 
Quanto mais jovem for a criança, maior a chance de a ITU estar sendo causada por malformações. Há 2 grupos 
principais: obstrutivas ou refluxo vesico-ureteral. 
 
Rastreio de malformações- US 
Detecta volume renal, ecogenicidade do parênquima, dilatações do TU, resíduo pós-miccional. Indicada: 
• < 2 anos na primeira ITU febril 
• ITU febril recorrente 
• ITU com história familiar de malformações, baixo peso ou HAS 
• Falha ao atb oral 
Rastreio de malformações- uretrocistografia miccional (UCM) 
Exame de escolha para diagnóstico de refluxo vesico-ureteral, 25-30% das crianças com a primeira ITU tem RVU. 
Coloca uma sonda na uretra, injeta o contraste e avalia a anatomia. Padrão-ouro para confirmar RVU. Indicada: 
• ITU febril recorrente (2 ou mais) 
• Na primeira ITU febril em crianças que tenham: US alterado; temperatura > 39ºC e bactéria atípica; falha no 
crescimento, baixo peso ou HAS (indícios de cicatriz renal) 
Rastreio de malformações- cintilografia renal (DMSA) 
Pega uma veia, infunde um radiofármaco, que vai ser filtrado pelo rim e a cintilografia vai dizer sobre presença de 
cicactriz. 
Investigação da função renal relativa e cicatrizes renais. Visualiza o parênquima funcionante. Exame confirmatório 
para pielonefrite. Realizar após no mínimo 3-4 meses do último episódio de ITU. Indicações: 
• Menores de 3 anos (com infecção atípica ou recorrente) 
• Maiores de 3 anos (com infecção recorrente) 
 
Seguimento 
Duplicidade pielo-calicial Rins multicísticos 
ureterocele 
Válvula de uretra posterior 
Estenose de JUP 
• Orientação familiar: explicar recorrência, abordar fatores de risco 
• Hábitos urinários/intestinal: disfunções vesicais, tratamento da constipação 
• Leucorreia: 50% dos casos- sintomas urinários, 30-40%- oxiuríase 
Quimioprofilaxia 
Doses baixas de atb por tempo prolongado. Indicações: 
• Após tto de ITU febril até realização da UCM 
• RVU a partir do grau III 
• ITUs recorrentes 
• Uropatias obstrutivas cirúrgicas 
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