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Apostila Processo de Execução

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Prévia do material em texto

1 
 
 
DIREITO 
PROCESSUAL CIVIL 
 
PROCESSO DE 
EXECUÇÃO 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
ÍNDICE 
 
CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO ....................................................... 3 
Conceito .................................................................................................................................. 3 
Princípios Específicos Do Processo De Execução ................................................................. 3 
Competência ........................................................................................................................... 5 
Legitimidade ........................................................................................................................... 6 
Requisitos Para Realizar Qualquer Execução ...................................................................... 10 
A Responsabilidade Patrimonial .......................................................................................... 16 
Limitações Da Responsabilidade Patrimonial ...................................................................... 19 
A Responsabilidade Processual Civil Das Partes Na Execução ........................................... 19 
A Nova Liquidação De Sentença (De Acordo Com A Lei 11.232/05) ................................ 20 
CAPÍTULO II – AS VÁRIAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO ......................................... 24 
Notas Introdutórias ............................................................................................................... 24 
A Execução Para A Entrega De Coisa Certa ........................................................................ 24 
A Execução Para Entrega De Coisa Incerta ......................................................................... 26 
Execução Das Obrigações De Fazer E Não Fazer ................................................................ 28 
A Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente ................................................... 30 
Do Cumprimento Da Sentença (Ou Execução Por Quantia Certa Dos Títulos Judiciais) ... 30 
Execução Por Quantia Certa Contra Devedor Solvente Fundada Em Título Extrajudicial . 38 
Da Avaliação ........................................................................................................................ 51 
Das Técnicas Expropriativas De Bens – Novidade Da Lei 11.382/06 ................................. 52 
CAPÍTULO III – AS DEFESAS DO EXECUTADO ...................................................... 54 
Embargos do Devedor .......................................................................................................... 54 
Exceção de Pré-Executividade ............................................................................................. 54 
 
 
3 
 
 
 
CAPÍTULO I – TEORIA GERAL DA EXECUÇÃO 
 
 
1) CONCEITO 
 
Execução é o “conjunto de atos estatais através dos quais, com ou sem a vontade de 
devedor (e até contra ela), invade-se seu patrimônio para, à custa dele, realizar-se o 
resultado prático desejado concretamente pelo direito objetivo material”. 
(DINAMARCO
1
) 
 
O conceito transcrito dá a nota clara da atividade executiva: em contraposição ao processo 
de conhecimento, em que se tem, de forma preponderante, atividade certificadora do 
direito, a execução anela tornar efetivo o direito que já foi previamente tido por certo. Na 
clássica lição de DINAMARCO
2
, enquanto o processo de conhecimento é orientado à 
solução das crises jurídicas de certeza, o processo executivo é destinado solucionar as 
crises de adimplemento, as quais, ressalte-se, presumem a existência de um direito já 
previamente certificado. 
 
2) PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO 
 
Explica ARAKEN DE ASSIS
3
 que os princípios devem ser entendidos como valores 
historicamente preponderantes, originados de prévio consenso e estabelecidos em dado 
sistema. São, por assim dizer, a diretriz basilar de um sistema jurídico. Nas felizes palavras 
de ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, os princípios são vetores hermenêuticos que 
orientam a interpretação do sistema jurídico. 
 
Optou-se, neste item, por expor apenas os princípios típicos ou específicos do processo 
executivo. Deve, porém, ficar claro que à execução aplicam-se também todos os princípios 
gerais do processo, hauridos originariamente do próprio texto constitucional. É certo, pois, 
que o devido processo legal, a ampla defesa e contraditório, para citar apenas os mais 
famosos, são também aplicáveis à execução, pois que impõem, na feliz expressão de 
CASSIO SCARPINELLA BUENO
4
, um modelo constitucional de processo. Seguem, pois, 
analisados, apenas aqueles que tocam especificamente ao processo de execução. 
 
Princípio da Autonomia (ao sincretismo): este princípio contava com nota marcante na 
estrutura original do CPC, dividido que fora, por Alfredo Buzaid, em três tipos diferentes e 
autônomos de processo: conhecimento, execução e cautelar. Hoje, todavia, tem-se adotado, 
cada vez mais, o modelo sincrético de processo, que contempla a possibilidade de, em 
 
1
 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Execução Civil,, Malheiros. 
2 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, Malheiros. 
3 ARAKEN DE ASSIS, Manual da Execução, 11ª ed., RT, 2007. 
4 CASSI SCARPINELLA BUENO, Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, vol.1, Saraiva, 2007. 
 
4 
 
única base procedimental, efetivarem-se atos de natureza cognitiva e executiva
5
. Todavia, 
alerta autorizada doutrina que subsiste a autonomia funcional do processo de execução, 
pois ainda quando realizados no bojo do processo cognitivo, seus atos distinguem-se 
daqueles, na medida em que orientam-se a realizar o direito previamente reconhecido na 
sentença. 
 
Princípio da realidade da execução: toda execução é real, isto é, a atividade executiva 
deve atingir, regra geral, o patrimônio no executado e não sua pessoa. As exceções 
classicamente admitidas eram: devedor de pensão alimentícia e depositário infiel. Todavia, 
de acordo com posicionamento atual do STF, a prisão do depositário infiel não mais se 
coaduna com o sistema constitucional brasileiro, notadamente por força dos tratados 
internacionais de proteção aos direitos humanos. Nesses termos, foi editada a Súmula 
Vinculante n◦ 25, que reza: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja 
a modalidade de depósito”. 
 
Princípio do menor sacrifício possível ao executado: art. 620 do CPC: “quando por 
vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo 
menos gravoso para o devedor”. Segundo DIDIER
6
 e outros, há nesse dispositivo clara 
aplicação do princípio da proporcionalidade ao processo de execução. 
 
Princípio do desfecho único (ou Princípio do Resultado): o único fim normal do 
processo de execução é a satisfação do credor. Qualquer outro resultado é considerado 
anômalo. 
 
Princípio da especificidade da execução: dizer que a execução deve ser específica 
significa que esta deve seguir a máxima de dar ao credor aquilo e exatamente aquilo que 
ele tem direito, ou seja, deve coincidir no máximo possível com o resultado que se obteria 
caso o devedor cumprisse a obrigação de forma espontânea. 
 
Princípio da disponibilidade de execução: encontra-se este princípio positivado no artigo 
569 do CPC: “o credor tem a faculdade de desistir de toda a execução ou de apenas 
algumas medidas executivas”. De fato, como visto em item anterior, o processo de 
execução desenvolve-se rumo a uma única finalidade, qual seja, satisfazer o crédito. Assim, 
eventual desistência da ação executiva não traria prejuízo ao devedor, antes, como bem 
observa MARCELO ABELHA RODRIGUES
7
, traria um benefício. A norma citada (art. 
569), entretanto, fixou limites dessa desistência, certamente visando coibir a desistência nos 
casos em que o exeqüente se visse na iminênciade ser vencido na ação de embargos do 
devedor. Por isso, deu tratamento específico aos efeitos da desistência em casos de 
execução embargada, conforme se lê do parágrafo único e alíneas do mesmo dispositivo. 
 
5 Com a inserção do §7◦ ao art. 273 do CPC, não se pode deixar de mencionar a possibilidade de se ter também a 
concessão de tutelas cautelares no seio do processo de conhecimento, o que não deixa de ser um tipo de sincretismo 
processual, que rompe com a regra clássica da autonomia do processo cautelar. 
6
 FREDIE DIDIER, LEONARDO J.C. CUNHA, PAULA SARNO BRAGA e RAFAEL OLIVEIRA, Curso 
de Direito Processual Civil V – Execução, Ed. JusPodivm, 2009. 
7 MARCELO ABELHA, Manual da Execução Civil, Ed. Forense Universitária, 
 
5 
 
 
Princípio do respeito à dignidade humana: segundo HUMBERTO THEODORO 
JUNIOR
8
, a execução não pode ser utilizada como instrumento para causar a ruína, a fome 
e o desabrigo do devedor e de sua família, gerando situações incompatíveis com a 
dignidade humana. Daí porque, para proteger esse que se pode chamar de patrimônio 
mínimo, institui o legislador o regime das impenhorabilidades. 
 
Princípio do título: toda execução fundar-se-á em título executivo. Isto é o que dispõe o 
artigo 586 do CPC: “a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de 
obrigação certa, líquida e exigível”.. Segundo ARAKEN DE ASSIS, ele é o bilhete de 
acesso à via executiva. 
 
3) COMPETÊNCIA 
 
O CPC alude a 4 espécies de competência, a saber: a) funcional (ligada à natureza, grau, 
peculiaridades da função exercida pelo órgão jurisdicional – art. 93); b) material 
(relacionada à natureza da relação jurídica deduzida na demanda – art. 91); c) por valor 
(valor atribuído à causa – art. 91); d) territorial (arts. 94 e seguintes). 
 
3.1. A Competência para a Execução por Título Judicial 
 
Competência funcional do juízo da cognição: por força do artigo 575 do CPC, a 
competência para a execução de título judicial era do juízo perante o qual tramitou a 
demanda cognitiva. Entretanto, com a lei 11.232/05 essa antiga regra foi alterada, sendo 
que a nova sistemática dada pelo par. único do art. 475-P estipula que tal cumprimento 
poderá ocorrer perante o juízo do local onde se encontram bens sujeitos a execução e o 
juízo do novo domicílio do executado. Em outras palavras, houve uma migração da antiga e 
rígida regra de competência funcional (absoluta) do juízo prolator da sentença 
condenatória, para uma nova sistemática, de competência territorial (relativa, portanto) 
concorrente. Ressalte-se que a competência dos tribunais para execução só ocorre quando 
perante eles fluiu, originariamente, o processo cognitivo. O fato de terem apreciado a 
demanda em sede recursal não desloca essa competência. 
 
Ainda sobre a execução dos títulos judiciais, há algumas situações peculiares que merecem 
atenção, quais sejam: 
 
a) Sentença penal condenatória: a execução da sentença penal condenatória foge da regra 
segundo a qual o juízo prolator da sentença tem competência para sua execução, pois o 
artigo 575, IV, expressamente remete para o juízo cível competente. 
 
b) Sentenças estrangeiras homologadas pelo STJ: esse tipo de título executivo judicial, por 
força do artigo 109, X, da CF/88, tem sua execução perante a Justiça Federal de primeira 
instância. 
 
 
8 HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de Direito Processual Civil, vol. II, 41ª ed., Ed. Forense, 2007. 
 
6 
 
c) Sentença arbitral: a execução da sentença arbitral condenatória igualmente foge da regra 
segundo a qual o juízo prolator da sentença tem competência para sua execução, pois que, 
nesse caso, o juízo arbitral não detém competência para a fase executiva, a qual, 
obrigatoriamente, deve realizar-se perante o Poder Judiciário. Por isso, o artigo 575, IV, 
expressamente remete para o juízo cível competente a execução desse título judicial. 
 
 
3.2 – A Competência para a Execução de Título Extrajudicial 
 
Segue, em geral, as regras estabelecidas no CPC para o processo de conhecimento. 
Quanto à competência para a execução de título extrajudicial com origem no exterior, há 
que se observar o seguinte: será de competência da Justiça brasileira sempre que (i) no 
Brasil for domiciliado o devedor, (ii) no Brasil deva ser cumprida a obrigação, ou (iii) aqui 
se situe o imóvel sobre o qual haja de incidir a execução. As duas primeiras, de índole 
concorrente; a última, exclusiva. 
 
4) LEGITIMIDADE 
 
De acordo com LIEBMAN
9
, parte legítima é a pessoa que pode promover a execução e 
contra a qual se pode promover a execução. Esse tema encontra-se enfrentado pela 
legislação nos artigos 566 e 567, que definem a legitimidade ativa e no artigos 568, que 
trata da legitimidade passiva. No presente capítulo, adotar-se-á a classificação das 
legitimidades ativa e passiva idealizada por ARAKEN DE ASSIS, por se tratar da mais 
completa sobre o tema. 
 
4.1. Legitimidade Ativa Ordinária 
 
- A legitimidade ativa ordinária poderá ser primária ou superveniente. Primária será a 
legitimidade daqueles que figuram nominados no título executivo, enquanto a 
superveniente ocorre quando, não obstante omisso o título, determinados sujeitos assumem 
a qualidade de legitimados ativos à execução. 
 
4.1.1. Legitimidade Ativa Ordinária Primária 
 
Conforme dispõe o artigo 566, I, do CPC, em regra, terá legitimidade ativa primária o 
credor a quem a lei confere título executivo. O legitimado ativo primário, em regra, figurou 
como parte no processo que originou o título ou participou do acordo de vontades que deu 
origem ao título extrajudicial. 
 
4.1.2. Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente 
 
- Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente do Espólio, Herdeiros e Sucessores: nos 
termos do artigo 567, I, do CPC. A doutrina tem reservado a essa legitimidade ativa a 
denominação de ordinária superveniente. É ordinária porque o espólio, herdeiros e 
sucessores buscam em nome próprio, direito próprio (art. 6◦ do CPC); é, por sua vez, 
 
9 Apud ARAKEN DE ASSIS, obra citada pág. 381. 
 
7 
 
superveniente, por não figurarem no título executivo como credores, pois que não 
participaram da sua formação (ver item 4.1.). 
 
- Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente do Cessionário: nos termos do artigo 567, II, 
do CPC. Hipótese aplicável aos casos de cessão que antecedem ao processo de execução. 
Acaso já proposta a demanda, tratar-se-á de alienação de direito litigioso, devendo 
observar-se o artigo 42 do CPC. Sobre o tema, esclarece ALEXANDRE FREITAS 
CÂMARA: “É de se notar, aqui, porém, que a cessão do crédito que se dê no curso do 
processo executivo é verdadeira alienação do direito litigioso (art. 42 do CPC), o que 
significa dizer que a legitimidade das partes não é alterada. Em outros termos, nada 
impede que, a despeito da cessão do crédito exeqüendo, o cedente permaneça no processo 
executivo, agora atuando em nome próprio na defesa de interesse alheio (do cessionário), 
como substituto processual). Não é preciso, porém, que nesta hipótese aja concordância do 
executado para que possa ocorrer a sucessão processual no pólo ativo. O cessionário 
poderá ingressar no processo, em lugar do cedente, sendo para isso irrelevante o 
consentimento do executado”. 
 
- Legitimidade Ativa Ordinária Superveniente do Sub-rogado: nos termos do artigo 567, III, 
do CPC, sendo a esta hipótese aplicável tudo o que se disse quanto ao cessionário. 
 
4.2. Legitimidade Ativa Extraordinária 
 
Os casos de legitimidade ativa no processo de execução tornaram-se mais comuns com a 
ampliação da tutela coletiva de direitos Trata-se, contudo, de legitimidade extraordinária 
(pois o MP atua em nome próprio na defesa de direito alheio), sendo a mais típica delas, na 
atualidade, a legitimaçãoextraordinária para promover a execução coletiva, fenômeno 
também denominado de fluid recovery
10
. Há, ainda, a legitimidade do MP para promover a 
execução de sentença de procedência proferida em ação popular, se o demandante ou outro 
qualquer cidadão não demandar a execução no prazo de sessenta dias contados da 
publicação da decisão de segundo grau de jurisdição (art. 16 da lei 4.717/65). Ainda na 
seara da legitimação extraordinária executiva do Parquet, o Superior Tribunal de Justiça, 
no julgamento do REsp n◦ 1.119.377-SP, Relator Ministro Humberto Martins, reconheceu 
ao Ministério Público a legitimação extraordinária para promover a execução de título 
executivo extrajudicial decorrente de decisão do Tribunal de Contas estadual. 
 
FREDIE DIDIER e outros
11
, em excelente obra dedicada ao processo de execução, cogitam 
da atuação executiva do MP como legitimado ordinário. Citam como exemplo o Parquet 
litigando em face de ente político com o objetivo de receber parcela orçamentária: eventual 
sentença condenatória seria executada pelo MP na qualidade de legitimado ordinário. 
 
4.3. Legitimidade Passiva 
 
10 O tema das ações coletivas e a possibilidade de execução coletiva pelo Ministério Público, a despeito de interessante, 
extrapola os singelos limites dessa apostila. Por isso, aos interessados, indica-se a leitura da excelente obra de FREDIE 
DIDIER JR. e HERMES ZANETI JUNIOR, Curso de Processo Civil, Processo Coletivo, vol. 4, Ed. JusPodivm, 
Salvador, 2006. 
11
 FREDIE DIDIER, LEONARDO J.C. CUNHA, PAULA SARNO BRAGA e RAFAEL OLIVEIRA, Curso 
de Direito Processual Civil V – Execução, Ed. JusPodivm, 2009. 
 
8 
 
 
4.3.1. Legitimidade Passiva Ordinária Primária: nos termos do artigo 568, I, é legitimado 
passivo ordinário primário o devedor, reconhecido como tal no título executivo. Trata-se, 
aqui, de legitimidade ordinária passiva e primária, já que o executado consta como devedor 
no título executivo. 
 
4.3.2. Legitimidade Passiva Ordinária Superveniente 
 
- O Espólio, os Herdeiros ou Sucessores do Devedor, nos termos artigo 568, II, do CPC. É 
caso de legitimidade passiva ordinária, mas de natureza superveniente, pois que os 
legitimados adquiriram essa condição em momento posterior ao da formação do título 
executivo, por obra da sucessão causa mortis. Como bem pontua ALEXANDRE FREITAS 
CÂMARA, é necessário destacar que, nesse caso, os sucessores só respondem pelas dívidas 
do de cujus nos limites de sua herança, ou seja, nos limites do quinhão hereditário que lhes 
haja sido adjudicado. Há ainda, no caso em comento, peculiaridade digna de nota: a 
responsabilidade patrimonial pela sucessão causa mortis compete ao espólio até a partilha, 
razão pela qual, ao invés de ingressar com a execução, pode o credor optar por postular o 
adimplemento da dívida no juízo do inventário, pela via da habilitação de crédito, prevista 
nos arts. 1017 e seguintes do CPC. 
 
- O Novo Devedor, nos termos do artigo 568, III, do CPC: segundo ARAKEN DE ASSIS
12
, 
a situação legitimadora do artigo 568, III, abriga todas as formas de cessão de dívida. 
Pontua, entretanto, que a cessão de dívida, no direito brasileiro, só adquire eficácia perante 
o credor com o seu consentimento. Entretanto, caso exista a cessão válida da dívida, ou 
seja, presente a concordância do credor, não mais será possível o prosseguimento da 
execução contra o antigo devedor, pois que este não mais estará submetido à 
responsabilidade patrimonial. Deve haver, pois, a sucessão processual no pólo passivo.caso. 
 
4.3.3. A POLÊMICA DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO FIADOR 
 
O artigo 568, III, do CPC, traz ainda como situação legitimadora no pólo passivo, a do 
fiador judicial. Segundo prestigiosa doutrina, fiador judicial é “aquele que presta, no curso 
do processo, garantia pessoal ao cumprimento da obrigação de uma das partes”. 
Inadimplida a obrigação pela qual se obrigou o fiador judicial, poderá a execução ser 
instaurada contra ele
13
. Trata-se de legitimidade passiva ordinária superveniente, apesar de 
ARAKEN DE ASSIS
14
 afirmar, com argumentos robustos, tratar-se de legitimidade passiva 
extraordinária. 
Por outro lado, apesar da redação da lei referir-se ao fiador judicial, polêmica se formou 
quanto à legitimidade passiva do fiador convencional. Parte da doutrina, partindo de uma 
interpretação literal, simplesmente nega legitimidade passiva ao fiador convencional na 
execução. É a posição firme de SERGIO BERMUDES, citado por ARAKEN DE ASSIS
15
: 
 
12 ARAKEN DE ASSIS, obra citada, pág. 397. 
13 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada, pág. 182. 
14 ARAKEN DE ASSIS, na obra tantas vezes citada, conclui pela legitimação extraordinária do fiador judicial, trazendo à 
baila a clássica diferenciação entre dívida e responsabilidade. Sobre o tema, remete-se o leitor ao item abaixo que trata da 
RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL. 
15 ARAKEN DE ASSIS, obra citada pág. 400. 
 
9 
 
“contra o fiador não judicial, descabe execução sem prévia condenação, imposta por 
sentença proferida em relação processual de conhecimento, à qual foi devidamente 
integrado”. 
Outra parcela da doutrina, vê o fiador convencional como legitimado passivo ordinário 
primário, com base nos arts. 585, III e IV. É a posição de THEODORO JR. Outrossim, a 
doutrina de ARAKEN DE ASSIS, que entende o fiador convencional como legitimado 
passivo extraordinário, afirmando que “existirá extensão da eficácia subjetiva do título, em 
que consta o afiançado, redundando na legitimidade extraordinária do fiador”. 
Dentre as três posições, certamente a segunda é a que se apresenta mais correta. Aderindo a 
ela, explica ALEXANDRE FREITAS CÂMARA
16
: “Outros autores, porém, consideram 
ter o fiador convencional legitimidade passiva ordinária primária, estando esta 
legitimidade incluída no alcance do art. 568, I, do CPC. A razão, a nosso sentir, está com 
esta última posição. O CPC não fala do fiador convencional por ser tal referência expressa 
desnecessária. O art. 585, III, do Código coloca, no elenco dos títulos executivos 
extrajudiciais, o contrato de caução, gênero a que pertence, indubitavelmente, o contrato 
de fiança. Assim sendo, o fiador convencional é devedor (ou, para sermos mais rigorosos 
tecnicamente, responsável) reconhecido como tal no título executivo. Não faria sentido 
nenhum atribuir-se eficácia executiva ao contrato de fiança sem se conferir legitimidade 
passiva primária ao fiador convencional”. 
De fato, não se pode negar a qualidade de legitimado passivo ordinário ao fiador 
convencional, pois que ele, o fiador, é responsável pelo pagamento da dívida, encontrando-
se, portanto, em juízo, na defesa de direito próprio, característica típica da legitimidade 
ordinária. 
 
4.3.4. A LEGITIMIDADE PASSIVA DO RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO 
 
Tema de relevantes conseqüências práticas é o da legitimidade passiva do responsável 
tributário. Não se pretende, nesse trabalho, incursionar pelo campo do direito tributário, 
mas relevante se torna definir quem, à luz desse ramo do direito, é responsável tributário. 
Nessa toada, responsável é o sujeito que, não sendo contribuinte, vale dizer, vinculado ao 
fato gerador, obriga-se por força de lei
17
. Sobre o tema responsabilidade tributária indica-se 
a excelente obra do eminente professor goiano LEONARDO BUISSA FREITAS
18
. 
Para o processo civil, o tema é relevante, por exemplo, em sede de execução fiscal, quando, 
não raro, são trazidos para o campo da responsabilidade patrimonial os sócios da empresa 
executada. Aqui, entendemos que o responsável tributário está na mesma situação do fiador 
convencional: é legitimado passivo ordinário, pelas razões já expostas. 
 
4.4. A POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE DEMANDAS EXECUTIVAS 
 
Ainda no Título I (Da Execução em Geral), no Capítulo I, que cuida das partes no processode execução, inseriu o legislador o tema da cumulação de demandas executivas. Não se 
trata, por certo do local mais adequado para tanto, mas cumpre examinar também essa 
hipótese, retratada no artigo 573 do CPC: 
 
16 ALEXANDRE FEITAS CÂMARA, obra citada, pág. 183. 
17 ARAKEN DE ASSIS, obra citada, pág. 402. 
18 LEONARDO BUISSA FREITAS, Apostila de Direito Tributário do Axioma Jurídico, 2006, pág. 175. 
 
10 
 
 
Art. 573. É lícito ao credor, sendo o mesmo o devedor, cumular várias 
execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que para 
todas elas seja competente o juiz e idêntica a forma do processo. 
 
Com efeito, pode-se extrair do artigo transcrito três requisitos para a cumulação de 
demandas executivas: (i) identidade de partes, (ii) competência do juízo e (iii) identidade de 
procedimento para todos os títulos executivos. 
Sobre o tema, que tem enorme importância prática, o primeiro destaque a ser feito é que 
não se mostra possível a cumulação, em um só processo, de execução fundada em título 
judicial e extrajudicial. Conforme se verá, os procedimentos executivos para esses títulos 
são totalmente distintos, o que inviabiliza tal cumulação
19
. 
À luz desse dispositivo, é perfeitamente admissível que JOÃO, titular de duas dívidas 
contra MARCOS, representadas, uma delas, por nota promissória e outra por duplicata, 
maneje uma só demanda executiva, para receber ambas as dívidas, lastreadas, cada qual, 
em um título distinto. O que não se admite, por exemplo, é JOÃO, credor de MARCOS em 
dívida representada por nota promissória, e credor de MARCELO em dívida representada 
por duplicata, maneje uma única execução colocando MARCOS e MARCELO no polo 
passivo. Isso porque não se permite, conforme lição de TEORIA ALBINO ZAVASCKI, 
citado por DIDIER
20
 e outros, “o que não se permite é a coligação de devedores, ou seja, 
que o credor cumule a execução de diferentes obrigações, cada qual com distintos 
devedores”. 
 
 
5) REQUISITOS PARA REALIZAR QUALQUER EXECUÇÃO 
 
Basicamente, dois são os requisitos para que se possa realizar a execução: um de ordem 
formal, que é o título executivo, e outro de ordem prática, que é a constatação da 
inadimplência do devedor. O próprio Código de Processo Civil deixa clara essa realidade, 
quando elenca como requisitos necessários para realizar qualquer execução o 
inadimplemento do devedor e a presença de um título executivo. 
 
5.1 - A INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR 
 
O título executivo, que será estudado mais a frente, veicula o prazo dentro do qual o 
devedor deverá cumprir a obrigação. Não observado esse prazo, constata-se o 
inadimplemento, tornando a dívida (obrigação) exigível e fazendo surgir para o credor o 
direito (rectius, o interesse de agir) de manejar ação de execução. Necessário é, pois, que o 
devedor esteja em mora, ou seja, em estado de inadimplemento. 
É bem verdade, diga-se de passagem, que os conceitos de inadimplemento e mora não 
necessariamente são equivalentes, notadamente à luz do Código Civil Brasileiro. Em artigo 
doutrinário de nossa autoria, tivemos a oportunidade de esclarecer o tema: 
 
19
 No sentindo do texto, DIDIER e outros, em obra aqui já citada. Contra, admitindo tal cumulação, 
MARCELO ABELHA e também LEONARDO GRECO. 
20
 FREDIE DIDIER, LEONARDO J.C. CUNHA, PAULA SARNO BRAGA e RAFAEL OLIVEIRA, Curso 
de Direito Processual Civil V – Execução, Ed. JusPodivm, 2009. 
 
11 
 
 
Por inadimplemento absoluto entende-se um descumprimento tal da 
obrigação, que a torne desinteressante para o credor, ainda que o 
devedor se disponha a cumpri-la extemporaneamente. É o caso, tantas 
vezes citado em doutrina, do bufê, que contratado para servir os 
convidados do contratante no sábado às 22 horas, chega às 04 da manhã, 
quando todos já deixaram a festa. Aqui, ainda que o contratado se 
disponha a cumprir a obrigação, essa tornou-se totalmente 
desinteressante para ao credor. Eis o inadimplemento absoluto, a 
ensejar, caso queira o credor, a resolução do negócio jurídico e perdas e 
danos. Trata-se, nesse caso, de verdadeiro direito potestativo que surge 
para o credor e, como todo direito potestativo, a parte contrária não 
pode fazer outra coisa senão sujeitar-se ao exercício do mesmo. 
 
É bem verdade, diga-se de passagem, que a doutrina já vem controlando 
abusos nessa seara, notadamente nos casos em que o inadimplemento é 
mínimo. Incumbirá, em casos tais, ao juízo aferir se realmente aquele 
descumprimento deve ensejar a resolução do contrato ou, ao contrário, 
reconhecer que por ter a parte implementado parte substancial da 
avença, deve a mesma ser mantida, remetendo-se o credor a vias outras 
para a satisfação do seu direito. 
 
Noutro giro, o inadimplemento relativo ou mora dá-se quando, 
descumprida a obrigação no seu tempo, a sua extemporânea efetivação 
ainda se mostra interessante ao credor, sendo que seu cumprimento 
evitará a resolução do negócio jurídico. É o caso do locatário, que tendo 
a obrigação de adimplir os alugueres até o dia 10 de cada mês, atrasa a 
prestação, vindo a cumpri-la apenas no dia 20. Ora, o recebimento dos 
valores, a despeito de extemporâneo, ainda é útil ao credor, 
configurando-se, assim, a mora, a ensejar o acréscimo de penalidades na 
obrigação (juros, correção monetária, honorários advocatícios), mas não 
a resolução do negócio jurídico. A esse conserto da mora, em que o 
devedor cumpre a obrigação, em que pese a destempo, dá-se o nome de 
purga da mora, fazendo cessar os efeitos do atraso. 
 
De todo modo, a despeito de relevante a distinção na seara do direito material, para fins da 
satisfação do requisito do inadimplemento que autoriza a instauração do processo 
executivo, tanto o inadimplemento, quanto a mora, são suficientes. 
A inadimplência do devedor é condição da ação de execução, consistente no interesse de 
agir-necessidade, não obstante encontre-se em doutrina opinião de que o inadimplemento 
integra o objeto litigioso da execução, ou seja, seu próprio mérito (ARAKEN DE ASSIS). 
A matéria relativa ao inadimplemento do devedor é regulada pelos arts. 580, 581, 582, e 
614, III, do Código de Processo Civil, sendo digna de destaque a norma do artigo 582, que 
em redação infeliz e confusa quis fazer referência à tradicional exceptio non adimpleti 
 
12 
 
contractus, de modo que, de maneira simples, “não poderá ser exigida uma prestação pelo 
exeqüente se ele mesmo não cumpriu a sua parte”
21
. 
 
5.2 – O TÍTULO EXECUTIVO 
 
5.2.1. Conceito: Para CÂNDIDO DINAMARCO
22
, “Título Executivo é o ato ou fato 
jurídico legalmente dotado da eficácia de tornar adequada a tutela executiva para a 
possível satisfação de determinada pretensão. Ele torna adequada as medidas de execução 
forçada para a atuação da vontade da lei”. Para ARAKEN DE ASSIS
23
, “Faz o título 
prova legal ou integral do crédito”. 
 
5.2.2. Natureza Jurídica: Principais Teorias: 
 
- Teoria Documental (Carnelutti): o título enquanto representação ou prova da existência do 
crédito exeqüendo. 
 
- Teoria do Ato Jurídico (Liebman):título enquanto ato jurídico a que a lei atribui eficácia 
executiva – teoria que predomina no Direito pátrio. 
 
- Teoria do Acertamento do Direito (Mandrioli): o título representaria um prévio 
acertamento do direito, outrora controvertido. 
 
- Teoria Mista: o título é ato e representação documental do crédito. (Greco Filho) 
 
5.2.3. Indispensabilidade do Título Executivo para a Ação de Execução: 
 
- Justificativa Política: Proteção à esfera jurídica do indivíduo, pois só o título executivo 
mostra a probabilidade da existência de um preceito material descumprido e justifica o 
sacrifício a seus direitos individuais (patrimônio). Princípios Consectários: a) nulla executio 
sine titulo; b) nullus titulus sine lege. 
 
- Justificativa Legal: quantoao Título Executivo Judicial, a oportunidade prévia de 
procedimento em contraditório, fiscalizado pelo órgão jurisdicional. Quanto ao Título 
Executivo Extrajudicial, embora não tenha ocorrido tal prévia oportunidade, o legislador 
elegeu abstratamente atos que, na experiência comum, normalmente indicam a existência 
efetiva de um crédito, atribuindo-lhes, pois, a condição de título executivo. Poder-se-ia 
cogitar, também, que o título extrajudicial seria uma oportunidade de acertamento, inter 
parts, do direito eventualmente controvertido, o que acabaria por aproximar essa idéia da 
teoria do título enquanto ato de acertamento
24
 – ver 6.2.2 supra. 
 
5.2.4. Função do Título Executivo 
 
 
21 Idem, página 147. 
22 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, obra citada, pág. 474 e seguintes. 
23 ARAKEN DE ASSIS, obra citada, pág. 143 e seguintes. 
24 Ressalte-se que a opinião lançada no texto é do Autor em particular, não representando o entendimento doutrinário 
corrente. 
 
13 
 
A função do título executivo é clara: tornar possível e adequada a tutela executiva. Liga-se, 
portanto, ao interesse de agir in executivis. 
Afasta-se, com essa afirmação, a idéia de que o título executivo é a própria causa de pedir 
da execução. Absolutamente. Ele é o elemento sem o qual o Estado se recusa a ofertar a via 
executiva. Na execução, a causa de pedir é, da mesma forma que no processo de cognição, 
a situação de fato que originou o direito alegado pelo exeqüente, associada ao fundamento 
jurídico da pretensão deduzida e à atitude do executado, ou seja, o inadimplemento. 
Afasta-se, também, a idéia de que o título é fator de legitimação, uma vez que pode ser 
parte legítima para a execução também aquele que não conste do título (sucessores e sub-
rogado, por exemplo, que são legitimados ordinários, passivos ou ativos, supervenientes). 
Não parece, outrossim, adequado considerar o título executivo um pressuposto processual. 
Ainda que ausente o título, o processo – ou a relação processual – é existente e válida, vez 
que pode ser instaurada mediante provocação da parte (demanda), perante órgão 
jurisdicional, com regular e válida citação do executado, por intermédio de advogado (a 
chamada capacidade postulatória) – todos esses pressupostos processuais de existência; e 
ainda através de petição inicial apta, manejada perante órgão jurisdicional competente – 
esses dois pressupostos processuais de validade. O título executivo, nesse contexto, não se 
acomoda a qualquer dessas categorias citadas, o que desautoriza considerá-lo pressuposto 
processual. 
É, pois, sem dúvida, componente do interesse de agir, por tornar adequada a tutela 
jurisdicional executiva. 
 
5.2.5. Requisitos Formais e Substanciais do Título Executivo: 
 
A adoção de qualquer uma das teorias que buscam explicar a natureza do título executivo 
haverá de influir, inegavelmente, na exata compreensão de seus elementos constitutivos, 
elencados pela lei, no art. 586, com a agora correta redação que lhe emprestou a lei 
11.382/06, como elementos de uma obrigação dotada de certeza, liquidez e exigibilidade. 
Abstraídas, de todo modo, concepções puramente teóricas, que muitas vezes servem apenas 
para afastar o profissional do direito da indispensável dimensão prática dos institutos 
analisados, parece ter razão ARAKEN DE ASSIS
25
 ao afirmar que o título tem, em 
verdade, duas dimensões distintas: “no plano material (...) se sobreleva a declaração de 
certeza (relativa!), tanto obtida através do órgão jurisdicional (...), quando alcançada 
mediante consenso dos particulares. Na perspectiva processual, porque imprescindível a 
vista da natureza dos atos do juiz no curso do processo e da posição de vantagem 
usufruída pelo credor, interessa o documento, dotado de certos requisitos formais ad hoc”. 
Quanto a esses requisitos, encontra-se em doutrina (DINAMARCO, Execução Civil) 
interessante classificação, dividindo-os em requisitos formais e requisitos substanciais. 
Nesse passo, requisitos formais seriam aqueles referentes ao ato em si mesmo, regulados 
pelo direito material e indispensáveis à perfeição do título. Substanciais, por sua vez, 
seriam os requisitos referentes ao próprio conteúdo do ato, assim entendida a perfeita 
individualização do direito a que esse ato se refere. São requisitos substanciais: a certeza, a 
liquidez e a exigibilidade. 
 
25 Araken de Assis, Manual da Execução, RT, p. 137. 
 
14 
 
Todos esses requisitos, destaque-se, relacionam-se com o interesse de agir in executivis, 
razão pela qual a ausência de um deles acarretará o fenômeno conhecido como carência de 
ação. 
 
5.2.6. Título Executivo Judicial 
 
No direito romano, só tinha acesso ao processo executivo o portador de sentença judicial. 
Contudo, na Idade Média, com o florescimento das relações de crédito, surgiu a 
necessidade de se outorgar a determinadas categorias de crédito uma tutela mais segura, 
rápida e eficaz, razão pela qual houve a equiparação dos títulos criados pelos particulares 
ao título originado de sentença judicial. Ambos passaram, desde então, a render executio 
parata. 
 
Os títulos executivos judiciais encontram-se elencados, agora, no art. 475-N, que revogou o 
art. 584 do CPC. 
 
- Art. 475-N, I: a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de 
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia. 
 
Havendo provimento com eficácia condenatória em uma sentença, esta habilitará o acesso 
ao processo de execução. 
O termo sentença merece interpretação ampliada. Também acórdãos, que substituem a 
sentença nos limites da matéria impugnada, rendem ensejo à execução. Também decisões 
interlocutórias, em determinados casos, possibilitam execução. 
Outrossim, não se pode deixar de afirmar que a redação atual do art. 475-N, I, não 
corresponde à antiga redação do artigo 584, revogado por este. Lá, no antigo dispositivo, 
falava-se em sentença condenatória; neste, o novo artigo, fala-se em sentença que 
reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia. 
Tal modificação tem sido utilizada por parte da doutrina para se defender que, após a 
mudança legal, as sentenças meramente declaratórias, propostas quando já possível o 
manejo da demanda condenatória, assumiriam eficácia executiva. O tema, com certeza, é 
controvertido, e abordá-lo em suas minúcias desbordaria os limites desse trabalho. De todo 
modo, apenas para citar o tamanho da divergência: de um lado, defendendo a eficácia 
executiva de determinadas sentenças declaratórias, FREDIE DIDIER JR
26
 e HUMBERTO 
THEODORO JUNIOR
27
; de outro lado, defendendo que apesar da mudança tudo prossegue 
como antes, ALEXANDRE FREITAS CÂMARA
28
 e ARAKEN DE ASSIS
29
. 
 
- Art. 475-N, II: Sentença Penal Condenatória Transitada em Julgado 
 
Um mesmo fato contrário ao direito pode gerar efeitos diversos nas esferas penal e civil. É 
o fenômeno denominado múltipla incidência. 
A sentença penal condenatória traz como efeito anexo a outorga de título executivo em 
favor da vítima ou seus herdeiros. 
 
26 FREDIE DIDIER JUNIOR, Curso de Direito Processual Civil, 6ª. Ed, JusPodivm, pág. 19 e seguintes. 
27 HUMBERTO THEODORO JUNIOR, Curso de Direito Processual Civil, 41ª ed., pág. 74 e seguintes. 
28 ALEXANDRE FREITAS CAMARA, Lições de Direito Processual Civil, 14ª ed., pág. 192. 
29 ARAKEN DE ASSIS, Manual da Execução, 11ª ed. RT, pág. 156 e seguintes. 
 
15 
 
Em sendo efeito anexo que decorre de expressa disposição legal, é absolutamente 
irrelevante o fato de o juiz indicá-la ou não em seu provimento. 
Esta sentença penal submete-se a fase de liquidação, sendo que a revisibilidade pro reo da 
sentença criminal não inibe a execução. 
 
- Art. 475-N, III: Sentença Homologatória de Conciliaçãoe Transação, ainda que inclua 
matéria não posta em juízo 
 
Por terem eficácia de coisa julgada, as sentenças homologatórias de transação e conciliação 
podem lastrear execução forçada sempre que uma das partes tiver a obrigação de prestar um 
bem à outra. Podem envolver até matérias não postas em juízo. 
 
- Art. 475-N, IV : Sentença Arbitral 
 
Regulada pela lei 9307/96, o laudo arbitral foi equiparado, em termos de eficácia, à 
sentença judicial, submetendo-se, assim, à execução nos moldes de um título judicial. 
 
- Art. 475-N, V: O acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente 
 
Trata-se, aqui, de novidade inserida pela lei 11.232/05. O acordo extrajudicial já é, à luz do 
art. 585, título executivo extrajudicial, desde que obedecidas as formalidades ali elencadas. 
O interesse de submetê-lo à homologação judicial decorre, por um lado, da maior 
estabilidade que os títulos judiciais sabidamente têm, e em segundo lugar, para limitar as 
possíveis defesas a serem postas à disposição do executado em eventual Impugnação ao 
cumprimento da sentença (defesa do executado na execução dos títulos judiciais). 
 
 - Art. 475-N, VI: Sentença Estrangeira Homologada 
 
Como ressalta ARAKEN DE ASSIS, a jurisdição se liga essencialmente à soberania, razão 
pela qual, em princípio, atos judiciais emanados de autoridades judiciais estrangeiras nada 
valem em outro território. 
Entretanto, por força do sistema de colaboração existente entre os Estados, é possível 
atribuir validade a esses atos. No Brasil, adota-se o juízo de delibação, sendo concedida 
eficácia à sentença estrangeira após exame extrínseco de sua harmonia com o direito pátrio. 
Atualmente, por força de alteração trazida pela EC n◦ 45/04, a competência para homologar 
sentença estrangeira pertence ao Superior Tribunal de Justiça. 
 
- Art. 475-N, VII: Formal ou Certidão de Partilha 
 
A partilha de bens, em inventário ou arrolamento, se homologa por sentença. É 
representada pelo formal ou certidão. 
Acaso algum herdeiro, a fim de igualar quinhões, deva repassar quantia certa a outro, 
cabível será ação de execução fundada nesse título. 
Cumpre destacar que o formal ou a certidão de partilha não autorizam execução para 
entrega de coisa, ou seja, para haver os bens móveis ou imóveis partilhados. Encontrando-
se esse bens na posse de herdeiros ou legatários, o desapossamento deverá ser feito nos 
 
16 
 
próprios autos do inventário; estando em posse de terceiros, cabível será ação 
reivindicatória. 
 
5.2.7. Títulos Executivos Extrajudiciais 
 
Disciplinados no art. 585 do CPC e em diversas leis extravagantes. 
 
6) A RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL 
 
Instituto extremamente importante para o processo de execução, pode-se conceituar a 
responsabilidade patrimonial como a “situação meramente potencial, caracterizada pela 
sujeitabilidade do patrimônio de alguém às medidas executivas destinadas à atuação da 
vontade concreta do direito material”. (DINAMARCO
30
). 
Encontra-se prevista no artigo 591 do CPC: “O devedor responde, para o cumprimento de 
suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições 
estabelecidas em lei”. 
Trata-se de instituto diretamente ligado ao princípio da realidade da execução, antes 
estudado, pois que faz incidir a responsabilidade do devedor sobre o seu patrimônio e não 
sobre sua pessoa, como já ocorreu em remoto passado. 
Importante notar que, a teor da norma antes transcrita, a responsabilidade incide sobre os 
bens existentes quando da instauração da demanda executiva e, também, sobre aqueles que 
vierem a ser adquiridos em seu curso. Os bens passados, todavia, salvo exceções (as 
fraudes que serão estudadas a seguir), ficam fora da incidência da execução. 
Outrossim, mostra-se muito importante proceder-se à divisão conceitual entre DÍVIDA e 
RESPONSABILIDADE: dívida é dever jurídico de realizar uma prestação; trata-se de 
noção decorrente do direito material. Responsabilidade, por sua vez, é a sujeição do 
patrimônio para assegurar a satisfação do credor. É noção processual. Por essa distinção, 
admite-se existir dívida sem responsabilidade (jogo), e responsabilidade sem dívida 
(fiador). 
Essa distinção torna possível o entendimento do artigo 592, que trata de casos em que, 
apesar de existir responsabilidade patrimonial, inexiste dívida propriamente dita. 
É daí que decorre a diferenciação, feita pelo próprio código, de responsabilidade 
patrimonial primária e secundária. Aquela consiste na exposição dos bens do devedor à 
execução, sendo que este é, a um só tempo, devedor e responsável. Aquela - 
responsabilidade patrimonial secundária - é a sujeição de patrimônio de um responsável, 
não originariamente devedor. 
Não se pode, porém, como pretendem alguns doutrinadores, negar ao responsável 
secundário a qualidade de parte na execução. Basta ver os casos antes já mencionados do 
fiador convencional e do responsável tributário: trata-se de responsabilidade patrimonial 
secundária; entretanto, sua legitimidade passiva na execução é ordinária
31
. 
 
6.1. Os casos de responsabilidade patrimonial secundária 
 
30 CANDIDO RANGEL DINAMARCO, Execução Civil, Malheiros. 
31
 O tema, entretanto, não é pacífico. FREDIE DIDIER, LEONARDO J.C. CUNHA, PAULA SARNO 
BRAGA e RAFAEL OLIVEIRA, em Curso de Direito Processual Civil V – Execução, Ed. JusPodivm, 2009, 
entendem que a responsabilidade do fiador é primária; portanto, seria ele, o fiador, devedor e responsável a 
um só tempo; a dívida, entretanto, seria acessória. 
 
17 
 
 
Os casos designados como sendo de responsabilidade patrimonial secundária encontram-se 
expostos no CPC, art. 592: ficam sujeitos à execução os bens: I – do sucessor a título 
singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; II 
– do sócio, nos termos da lei; III – do devedor, quando em poder de terceiros; IV – do 
cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem 
pela dívida; V – alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução. 
 
6.2. A Alienação Fraudulenta de Bens 
 
O direito brasileiro conhece três tipos distintos de alienação fraudulenta de bens, cada qual 
variando de acordo com seu grau de intensidade e sanção prevista em lei, sendo: fraude 
pauliana ou fraude contra credores; fraude à execução; e alienação de bem penhorado. Para 
fins didáticos pode-se afirmar que, no direito pátrio, o termo alienação fraudulenta de bens 
é gênero, que comporta a três espécies antes mencionadas. 
 
6.2.1. Fraude contra Credores 
 
Também chamada de fraude pauliana, consiste na diminuição patrimonial do devedor até o 
ponto de reduzi-lo à insolvência. A doutrina aponta como requisitos para a sua 
configuração: a) eventus damni – redução do devedor à insolvência; b) concilium fraudis – 
elemento subjetivo, consistente na prova da intenção do devedor em praticar a alienação a 
fim de provocar a redução patrimonial ao estado de insolvência. 
Sobre esse requisito subjetivo – concilium fraudis – calha transcrever pertinente lição de 
notável processualista carioca
32
: “Quanto a este requisito subjetivo, porém, é preciso 
estabelecer algumas distinções. Assim é que, sendo o ato fraudulento praticado a título 
gratuito (por exemplo, uma doação), não se deve cogitar da verificação do intuito 
fraudulento, que se presume de forma absoluta. Já nos atos onerosos, é preciso que o 
devedor tenha, ao menos, o potencial conhecimento de que seu ato o tornará insolvente 
(pouco importando, aqui, que o devedor aja com animus nocendi, ou seja, com a intenção 
deliberada de fraudar) e – além disso – exige-se do terceiro adquirente que este tenha 
conhecimento (efetivo ou presumido) da condição de insolvência a que se reduzirá o 
devedor com aquela alienção”. 
Requer ação própria para ver seus efeitos revertidos– denominada de ação pauliana ou 
revocatória, que não passa, na realidade, de uma ação de conhecimento, de procedimento 
comum, rito ordinário -, cujo objetivo é ver reconhecido, por sentença, a ineficácia
33
 da 
alienação com relação ao credor do alienante. 
A sentença proferida na ação pauliana assume eficácia declaratória e desconstitutiva, 
tornando o negócio jurídico ineficaz com relação ao credor
34
. 
 
 
32 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada, pág. 224. 
33 Apesar de a lei referir-se, a todo momento, a invalidade, o Autor do presente trabalho filia-se à corrente processualista 
majoritária (ver DINAMARCO, FREITAS CÂMARA, THEODORO JUNIOR entre outros) que entende tratar-se, em 
realidade, de ineficácia do ato de alienação. Discorrer sobre o tema, de enorme importância prática, redundaria em 
extravasamento dos limites desse trabalho, razão pela qual indica-se a leitura do livro Execução Civil, cap. VI, de Cândido 
Rangel Dinamarco, que com maestria trata do tema. 
34 No mesmo sentido do texto, ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada, pág. 229/230. 
 
18 
 
6.2.2.Fraude à Execução 
 
A fraude de execução é uma espécie de alienação fraudulenta de bens que a lei considera 
mais grave que a fraude contra credores. Por isso, a lei dispensa a demonstração do 
requisito subjetivo – concilium fraudis – necessário à configuração da fraude pauliana. 
Encontra-se prevista no art. 593, II, do CPC: considera-se fraude de execução quando, ao 
tempo da alienação ou oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à 
insolvência. 
São requisitos objetivos para a sua configuração: a) litispendência; b) redução à 
insolvência. 
Ressalte-se que não apenas a pendência de execução, mas também demanda cognitiva 
condenatória configura a fraude de execução, pois que também a demanda cognitiva é 
capaz de reduzir o devedor ao estado de insolvência. 
Trata-se de ineficácia originária do negócio jurídico – ao contrário da fraude pauliana, em 
que a ineficácia é sucessiva, ou seja, necessita de sentença judicial que a reconheça -, razão 
pela qual não se mostra necessário ajuizar demanda destinada a seu reconhecimento. Trata-
se de alienação que não retira o bem do âmbito da responsabilidade patrimonial. 
O tema em comento, por sua enorme importância, é sempre levado ao conhecimento dos 
tribunais, que claudicam no que toca à forma de reconhecer a existência da fraude de 
execução. Por exemplo, a 3ª Turma do STJ, no ano de 2008, no julgamento do REsp 
618625-SC, relatado pela eminente Ministra NANCY ANDRIGHI, trilhou senda 
interpretativa interessante, na qual afirma que ao comprador (ou seja, terceiro adquirente) 
incumbe o ônus de provar que não sabia e não tinha como saber da existência de demandas 
ajuizadas contra o alienante e que o pudessem conduzir à insolvência (ver Informativo 
STJ n◦ 345, de 18 a 22 de fevereiro de 2008). 
Tal posicionamento, se por um lado contribui para favorecer a repressão da prática de 
alienações que fraudem a execução, por outro lado cria clima inseguro para as transações, 
principalmente imobiliárias, na medida em que obriga o adquirente a realizar uma 
pormenorizada pesquisa, eventualmente nos foros de todo o Brasil, sobre a vida judicial do 
alienante. Talvez por isso, o próprio Superior Tribunal de Justiça, ao que tudo indica 
refluindo do entendimento que, por sua 3ª Turma, chegou a adotar, uniformizou a 
jurisprudência do tribunal, por intermédio da Corte Especial e editou a Súmula n◦ 
375 que assevera: 
 
Súmula 375. O reconhecimento da fraude à execução depende do 
registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro 
adquirente. 
 
Com o entendimento agora sumulado, o terceiro adquirente fica mais protegido nas 
negociações, pois que só será considerada fraude de execução quando provada a sua má-fé, 
a qual decorre, a nosso ver, ou do registro da penhora, ou da averbação da existência da 
execução junto ao registro de matrícula do imóvel (ou do registro do veículo, por exemplo), 
nos termos do art. 615-A do CPC. 
Alias, esse artigo 615-A do CPC configura verdadeira novidade inserida no código pela lei 
11.382/06. Como antes visto, um dos requisitos essenciais à configuração da fraude de 
execução é o estado de litispendência, entendido este, para o réu, como aquele que ocorre 
após a sua citação válida, isso a teor do clássico artigo 219 do CPC. 
 
19 
 
Todavia, o novo artigo 615-A altera esse termo a quo (litispendência para o réu, com a sua 
citação) para fins de configuração da fraude de execução, antecipando-o, conforme se nota 
da leitura do novo dispositivo, in verbis: Art. 615-A. O exeqüente poderá, no ato da 
distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação 
das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de 
veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto. (...) §3◦. Presume-se em 
fraude à execução a alienação ou oneração de bens efetuada após a averbação”. 
Em função dessa mudança, não resta dúvida em afirmar que, uma vez realizada a averbação 
constritiva – que tem sido denominada em doutrina de averbação premonitória – qualquer 
ato de alienação ou oneração que lhe seja posterior será considerado fraude de execução, 
ainda que o executado/devedor não tenha sido citado para a demanda capaz de lhe 
reduzir à insolvência. 
 
6.2.3. Alienação de Bem Penhorado 
 
Estando o bem penhorado (constrito judicialmente), não poderá este ser alienado. Em o 
sendo, o negócio será ineficaz em relação ao juízo da execução, ou seja, a alienação não 
afasta o bem do campo da responsabilidade patrimonial. 
Difere da fraude de execução, pois não exige a redução do devedor à insolvência. Como 
ensina ALEXANDRE FREITAS CÂMARA
35
: “Verifica-se, assim, a existência de uma 
escalada de situações, quanto ao nível de gravidade, entre as diversas modalidades de 
fraude. Da menos grave (fraude pauliana, onde se exige a redução do devedor à 
insolvência e o elemento subjetivo fraude), passando pela fraude de execução (onde apenas 
o elemento objetivo, insolvência do devedor, é exigido), até chegar-se à modalidade mais 
grave (alienação de bem penhorado) onde nem mesmo a insolvência do devedor é requisito 
da fraude”. 
 
7) LIMITAÇÕES DA RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL 
 
Como visto no item anterior, o devedor responde, pela dívida, com seus bens presentes e 
futuros. Essa a regra. Todavia, por força de imperativos de tutela de um patrimônio mínimo 
para o executado e sua família, entendeu por bem o legislador excluir determinados bens da 
esfera de responsabilidade patrimonial do devedor. A esta sistemática dá-se o nome de 
regime de impenhorabilidade,explicado no artigo 648 – não estão sujeitos à execução os 
bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis – e regulamentado nos artigos 649 
e 650 do CPC. 
 
8) A RESPONSABILIDADE PROCESSUAL CIVIL DAS PARTES NA EXECUÇÃO 
 
8.1. A Responsabilidade Processual Civil do Exeqüente 
 
- artigo 574 do CPC 
- Responsabilidade Objetiva 
- Requisitos: (i) sentença, (ii) transitada em julgado, (iii) que declarar inexistente, no todo 
ou em parte, a obrigação que deu lugar à execução. 
 
35 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, obra citada pág. 234. 
 
20 
 
- Efeito Anexo e liquidação nos próprios autos da execução 
 
8.2. A Responsabilidade Processual do Executado 
 
- Lealdade processual: arts. 599 e 600 do CPC 
- A indenização do artigo 601 do CPC 
- A relação do artigo 600 com o contempt of court – pena de 20% sobre o valor atualizado 
do débito em execução. 
 
9) A LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA (de acordo com a Lei 11.232/05) 
 
9.1. Notas Introdutórias 
 
A lei 11.232/05, como se sabe, foi a responsável por profundas modificações levadas a 
efeito no processo de execução. Adotando um novo paradigma, a lei novavem romper com 
a estéril e pouco efetiva “pureza” das tutelas processuais até então existente, criando o que 
se convencionou chamar de um processo “sincrético”, divido em meras fases destinadas à 
efetivação do direito e não mais processos estanques e burocratizados como até então se 
conhecia. 
 
No que tange ao antigo sistema de liquidação das sentenças, a mudança foi expressiva, 
sendo a primeira delas, topológica: o que era o capítulo intitulado “Liquidação de 
Sentença” e que fazia parte do Livro II, destinado o processo de execução, migrou para o 
Livro I, em claro sinal dado pelo legislador que o que se tem – e isso a doutrina sempre 
pontuou – na liquidação é autêntica atividade cognitiva. Agora, contudo, e na esteira da 
atual reforma, não mais se pode falar em processo de liquidação de sentença, mas em mera 
fase de liquidação, que em alguns casos antecederá a fase próxima, à qual a lei batizou de 
cumprimento de sentença. 
 
9.2. A Finalidade da Liquidação de Sentença 
 
Segundo CASSIO SACARPINELLA BUENO
36
, “a liquidação de sentença tem como 
finalidade a descoberta do valor da condenação, a quantificação do valor da obrigação a 
ser adimplida pelo devedor, tal qual reconhecida pela sentença”. Esse, a propósito, o 
sentido e alcance definidos na própria lei, que traz no caput do novo artigo 475-A a 
seguinte definição: “quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua 
liquidação”. 
 
9.3. Análise dos Dispositivos: Artigos 475-A a 475-H 
 
O § 1◦ do artigo 475-A traz importantíssima inovação. Atestando a opção do legislador por 
tornar a liquidação uma mera fase do processo destinado a reconhecer o direito e torná-lo 
efetivo, tem-se agora a intimação do devedor para a fase de liquidação e não mais a sua 
citação, como no antigo regime. 
 
36 Cássio Scarpinella Bueno, A Nova etapa da Reforma do Código de Processo Civil, Saraiva, 2006. 
 
21 
 
Por óbvio que a inovação em tela agrega celeridade ao procedimento, porquanto dispensa, 
para dizer o mínimo, as incansáveis diligências para proceder a citação do réu, muitas vezes 
frustradas pela própria atitude desleal deste, que busca por todas as formas ocultar-se e com 
isso impedir a citação. O §1º, aliás, diz que a parte será intimada na pessoa de seu 
advogado, o que facilita ainda mais o procedimento, mormente nas capitais, onde 
intimações tais são feitas mediante publicação no Diário de Justiça. 
Essa simplicidade, ressalte-se, demonstra o intento do legislador de desburocratizar o 
processo civil, unificando, em uma única base procedimental, todas as fases necessárias ao 
alcance da real e prática efetivação do direito. 
NELSON NERY JR. também parece reconhecer essa nova postura adotada pela reforma, 
conquanto insista em fixar a liquidação de sentença como verdadeira ação, como se nota do 
trecho seguinte: “a liquidação é ação de conhecimento, de natureza constitutivo-
integrativa, que visa complementar o título executivo (...). Mesmo sendo ação, a atual 
sistemática empreendida pela lei 11232/05 simplifica e agiliza a liquidação, de modo a 
dar-lhe rito procedimental mais expedito, sem a autonomia e independência que havia no 
regime revogado”.
37
 
O § 2◦ do art. 475-A, por sua vez, indica que “a liquidação poderá ser requerida na 
pendência de recurso, processando-se em autos apartados, no juízo de origem, cumprindo 
ao liquidante instruir o pedido com cópia das peças processuais pertinentes”. O 
dispositivo em questão tem recebido aplausos de toda doutrina
38
, sendo batizado pelo 
Professor CASSIO SCARPINELLA de liquidação provisória. 
É de se destacar que o interessado poderá requerer a liquidação da sentença, tenha ou não o 
recurso de apelação sido recebido no efeito suspensivo. Isso quer dizer que, em qualquer 
caso é possível adiantar o trabalho, liquidando em primeiro grau a sentença, enquanto essa 
se encontra pendente de julgamento no juízo ad quem. 
Como é natural, o recebimento do recurso de apelação produz o efeito de levar os autos 
(fisicamente, inclusive) do processo ao tribunal, razão pela qual deverá a parte extrair cópia 
das peças pertinentes, para que se possa iniciar a fase de liquidação no juízo a quo. 
Encerrando o artigo 475-A, é de se destacar o conteúdo de seu §3◦, cuja redação é a 
seguinte: nos processos sob procedimento comum sumário, referidos no art. 275, inciso II, 
alíneas d e e desta Lei, é defesa a sentença ilíquida, cumprindo ao juiz, se for o caso, fixar 
de plano, a seu prudente critério, o valor devido”. 
Tratam, as alíneas d e e do incisso II do art. 275, da ação de ressarcimento por danos 
causados em acidente de veículo de via terrestre e ação de cobrança de seguro, 
relativamente aos danos causados em acidente de veículo. Em casos tais, a lei passou a 
vedar a prolação de sentença ilíquida. Assim sendo, ou há elementos nos autos que 
conduzam a uma definição do quantum e o juiz condenará em sentença já líquida ou, em 
não havendo tais elementos, deverá o magistrado estipular o quantum de acordo com seu 
prudente critério. 
ALEXANDRE FREITAS CÂMARA
39
 tece severa crítica ao dispositivo em questão, 
afirmando que, “no caso de cobrança devida por seguradora, parece-nos razoável a 
vedação da sentença ilíquida, uma vez que o sinistro já terá ocorrido e o contrato de 
seguro tem de prever as coberturas, o que dá ao juiz parâmetros seguros para fixar o valor 
 
37 Nelson Nery, Código de Processo Civil Comentado, RT, 2006. 
38 Ver, por todos, Alexandre Câmara, em Lições de Direito Processual Civil, vol.II. 
39 Obra citada, p. 463. 
 
22 
 
da condenação. Já no caso da reparação de dano por acidente de veículo de via terrestre, 
a nova regra nos parece desarrazoada. É comum que acidentes de trânsito gerem a 
necessidade de se submeter a vítima a longos tratamentos, os quais muitas vezes superam 
em duração o próprio tempo do processo. Por isso, a lei processual permite que se formule 
pedido genérico quando, no momento da propositura da demanda, ainda não é possível 
determinar a extensão da obrigação. Ora, nesses casos pode perfeitamente ocorrer de não 
ser ainda possível determinar-se o quantum debeatur no momento da prolação da 
sentença.Ocorre que com a nova disposição legal, o juiz teria de arbitrar um valor de 
indenização, o que pode gerar injustiças (...). Pensamos, assim, que a solução será, nesse 
caso, admitir-se a conversão do procedimento sumário em ordinário, no qual inexiste a 
proibição de sentença condenatória genérica. Mais razoável seria, porém, que não 
houvesse essa vedação (...)”. 
Por sua vez, o artigo 475-B traz disposição que não é nova, porquanto já existente na 
sistemática anterior. Trata-se dos casos em que a determinação do quantum da condenação 
depender apenas de cálculos aritméticos, que o credor possa fazer sozinho, sem auxílio de 
técnico. Em casos tais, deverá ser seguido procedimento do cumprimento de sentença 
contido no artigo 475-J, sendo que incumbe ao credor, fazer acompanhar ao requerimento 
que inaugurará a fase executiva do processo, uma planilha de cálculos demonstrando como 
chegou ao valor que pretende executar. 
Estando em poder o devedor dados essenciais para se chegar ao cálculo do quantum da 
condenação, determina o § 1◦ do artigo 475-B que o juiz determinará sejam esses 
apresentados dentro de, no máximo, 30 (trinta) dias, sob pena de não sendo apresentados no 
prazo e não havendo justificativa, nos termos do § 2◦ do mesmo artigo, reputarem-se 
corretos os cálculos que forem apresentados pelo credor. Segundo ensina NELSON NERY, 
“como a norma reputa como corretos os cálculos apresentados pelo credor na hipótese de 
recusa injustificada do devedor em fornecer os dados necessários à elaboração da 
memória de cálculo, isso quer significar que o devedor fica impedido de opor impugnação 
por excesso de execução (art.475-L V). Trata-se de presunção iures et de iure, que não 
admite prova em contrário”. 
O §3◦, a seu turno, aduz que o juiz, de ofício, poderá valer-se de contador do juízo, quando 
a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da decisão exeqüenda 
e, ainda, nos casos de assistência judiciária. Essa providência, por óbvio, só tem lugar 
quando os cálculos apresentados pelo credor em muito sobejarem, aparentemente, o que se 
poderia ter como correto para a execução. Isso ocorrendo, o juiz lançará mão dos cálculos 
feitos pelo expert do juízo, que poderá encontrar valor diferente daquele apresentado pelo 
credor. Nesse caso, segundo entendimento esposado por NELSON NERY, deve-se abrir 
um contraditório para que possa o credor debater o novo valor encontrado, mormente se 
este for a menor. Somente após se ter por decidido este incidente é que se pode aplicar a 
regra do § 4◦ do mesmo artigo, que diz que a execução far-se-á pelo valor encontrado pelo 
devedor, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador. 
Noutra banda, os arts. 475-C, 475-D, 475-F e 475-G tratam do procedimento das 
liquidações por arbitramento e por artigos. Nesse particular, a lei 11232/05 não trouxe 
inovações, mantendo-se o esquema já conhecido da sistemática revogada. 
A liquidação por arbitramento, como destaca o artigo 475-C terá lugar quando assim for 
determinado na sentença ou convencionado pelas partes, ou ainda quando o exigir a 
natureza do objeto da liquidação. Essa liquidação por arbitramento é realizada por perito 
nomeado pelo juízo. 
 
23 
 
A liquidação por artigos, a seu turno, terá lugar quando se fizer necessário alegar e provar 
fato novo para se chegar ao quantum da obrigação. É a modalidade mais comum de 
liquidação, sendo importante destacar, conquanto pareça óbvio, que os fatos a serem 
alegados e provados referem-se, apenas, ao quantum da condenação. A obrigação em si é 
indiscutível nessa fase, principalmente porque o foi, de forma exauriente, até o momento da 
prolação da sentença. Por esse motivo é que o artigo 475-G é peremptório: é defeso, na 
liquidação, discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou. 
Entretanto, caso a sentença transitada em julgado tenha determinado que a liquidação se 
faça de uma forma e entender o juiz da fase de liquidação que essa deve se dar por maneira 
distinta, não haverá óbice à alteração, conforme assevera a Súmula n◦ 344, de 28/11/2007, 
do STJ: “A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa 
julgada”. 
Finalmente, o artigo 475-H, que traz uma das maiores novidades na liquidação de sentença: 
da decisão de liquidação caberá agravo de instrumento. Aqui se nota a clara intenção do 
legislador de abandonar o sistema burocratizado de processos autônomos, transformando 
tudo em meras etapas ou fases de um mesmo processo. Por isso é que, coerente com o novo 
paradigma que a lei 11323/05 vem impor, a decisão é que resolve a fase de liquidação de 
sentença qualifica-se como interlocutória e, assim sendo, desafiará recurso de agravo de 
instrumento e não mais apelação, como antes se tinha. 
 
 
24 
 
 
CAPÍTULO II – AS VÁRIAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO 
 
 
1. Notas Introdutórias 
 
O procedimento a ser observado na execução dependerá, a teor do Livro II do CPC, do tipo 
de obrigação que se pretende executar. Assim, para cada uma das obrigações – fazer e não 
fazer, entregar coisa e dar – corresponderá procedimento específico. 
Não se pode deixar de notar, outrossim, que com as recentes reformas do Código de 
Processo Civil, o procedimento também pode variar de acordo com o título executivo que 
embasa a execução. Assim, tem-se que a execução das obrigações de fazer/não fazer e 
entregar coisa, quando fundada em título judicial, dar-se-á nos termos do artigo 461 e 461-
A do CPC (Lei 10.444/02), enquanto que a execução das obrigações de dar (leia-se, pagar), 
quando fundadas em título judicial, dar-se-á na forma do recém inserido sistema de 
“cumprimento de sentença”, trazido pela novel lei 11.323/05. Por outro lado, as obrigações 
de pagar quantia consubstanciadas em título executivo extrajudicial prosseguem com 
execução autônoma, segundo o modelo clássico do CPC de 1973, revitalizado, agora, pela 
reforma profunda levada a cabo pela lei 11.382/06. 
Com efeito, o presente capítulo apresentará uma necessária combinação desses dois 
critérios. Primeiramente, será observada a divisão das diversas espécies de execução de 
acordo com a obrigação exeqüenda e, dentro do tópico dedicado a cada uma dessas 
execuções, far-se-á a distinção procedimental quando forem estas embasadas em título 
judicial e extrajudicial. 
 
2. A Execução para a Entrega de Coisa Certa 
 
A execução para a entrega de coisa certa tem procedimento diferenciado das demais 
espécies de execução, daí porque merece análise em tópico específico. Outrossim, nos 
termos do que foi explicitado no item anterior, seu procedimento comportará variações em 
função do título que embasa essa execução. 
 
2.1 – A Execução para Entrega de Coisa Certa Fundada em Título Executivo Judicial 
 
 
Para execuções tais, deve-se observar o procedimento previsto no artigo 461-A do CPC, 
complementado, no que for cabível, pelas disposições contidas no artigo 461 do mesmo 
diploma legal. 
Tais disposições, como reiteradamente explica a doutrina mais abalizada, referem-se ao que 
se convencionou chamar de tutela específica, entendida essa como aquela destinada a obter 
objeto diferente de dinheiro – a tutela que pretende obter dinheiro, por sua vez, reservou-se 
a denominação de tutela genérica. 
Destarte, a tutela específica das obrigações de entregar coisa certa fundada em título 
judicial seguem o art. 461-A, que reza que “na ação que tenha por objeto a entrega de 
coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da 
obrigação”. 
 
25 
 
Em casos tais, julgado procedente o pedido, o juiz fixará prazo para o cumprimento da 
obrigação, ou seja, para a entrega da coisa certa, sob pena de, conforme o caso, determinar 
a busca e apreensão da coisa, quando móvel, ou a imissão na posse, quando imóvel. Poderá, 
ainda, o julgador, dado o caráter mandamental da decisão em tela
40
 arbitrar a multa por 
descumprimento prevista no artigo 461 (a famosa astreinte), em verdadeira combinação de 
mecanismos sancionatórios de sujeitação (busca e apreensão e imissão na posse) e 
mecanismos sancionatórios de indução (multa por tempo de atraso)
41
. 
Não é demais destacar que a execução (ou como prefere o CPC, efetivação) dessa 
obrigação ocorre nos próprios autos da demanda cognitiva, dispensando a formação de 
processo de execução autônomo, o que revela a adoção, pelo legislador, daquilo que se 
convencionou chamar de processo sincrético, dispensando a tradicional e pouco eficiente 
executio ex intervallo. Tal opção legislativa, diga-se de passagem, que se iniciou com a 
efetivação das tutelas específicas, mostrou-se de tal modo eficiente, que acabou por ser 
estendida ao cumprimento da tutela genérica (obrigação de pagar), por força da recente lei 
11.232.05. 
 
2.2 – A Execução para Entrega de Coisa Certa Fundada em Título Executivo Extrajudicial 
 
O procedimento desse tipo de execução, quando fundado em título executivo extrajudicial, 
dar-se-á em processo autônomo, que se inicial mediante demanda oferecida pelo credor e 
que se submete ao regramento dos artigos 621 a 628 do Código de Processo Civil. 
Assim, nos termos do artigo 621 do CPC, “o devedor de obrigação de entrega de coisa 
certa, constante de título executivo judicial, será citado para, dentro de 10 (dez) dias, 
satisfazer a obrigação ou, seguro o juízo (art. 737, II), apresentar embargos”. 
A redação do artigo mencionado, reconheça-se, não é das melhores, pois que dá a 
impressão que o executado será citado para, no prazo de dez dias contados da juntada domandado citatório aos autos, satisfazer a obrigação, mediante entrega da coisa, ou oferecer 
embargos, mediante depósito da mesma. Todavia, não é bem assim. O executado, uma vez 
citado, terá o prazo de dez dias para entregar a coisa, satisfazendo a obrigação – o que, por 
óbvio, terá o condão de encerrar o processo -, ou o mesmo prazo de dez dias para depositar 
a coisa em juízo, caso pretenda oferecer embargos à execução. Seguro, então, o juízo, pelo 
depósito, abrir-se-ia novo prazo para o oferecimento dos embargos. 
Ocorre que a lei 11.382/06 promoveu profunda alteração na sistemática dos embargos do 
devedor – inclusive revogando o art. 737 do CPC, a que o artigo 621 faz expressa menção -, 
sendo duas dessas alterações dignas de menção pois que importam ao estudo do artigo 621 
do CPC: (i) a primeira é a desnecessidade atual de prévia garantia do juízo para o 
oferecimento de embargos; (ii) a segunda, o prazo que agora é de 15 dias, contados da 
juntada aos autos do processo do mandado citatório devidamente cumprido. 
Assim, surgem os seguintes questionamentos: haveria ainda a necessidade, para o 
oferecimento de embargos è execução para entrega de coisa certa, de prévia garantia do 
juízo, ou seja, do depósito da coisa? Outrossim, qual seria o prazo para tal oferecimento? 
 
40 Ressalta-se, por oportuno, que não se pretende, nesse momento, ingressar na polêmica da classificação das eficácias 
preponderantes da sentença, se trinaria ou quinária. De todo modo, não se pode negar que, mesmo admitindo-se que as 
sentenças mandamentais nada mais são do que espécies de sentença de eficácia condenatória, a sua subclassificação em 
mandamental e executiva lato sensu tem, no mínimo, forte apelo didático, razão pela optou-se por adotar essa 
denominação no texto. 
41 Sobre o tema, consultar a magnífica obra de Eduardo Talamini, Tutela Relativa aos Deveres de Fazer e Não Fazer. 
 
26 
 
ALEXANDRE FREITAS CÂMARA
42
 assim se posiciona sobre tais questões: “Agora, é 
de se considerar que o executado é citado para, em dez dias, entregar a coisa ao 
exeqüente. Feita a entrega, extinguir-se-á a execução. Poderá, ainda, o executado oferecer 
a coisa em depósito, no mesmo prazo de dez dias e, com isso, evitar a incidência de multa. 
O depósito, porém, deixou de ser exigido para oferecimento dos embargos do executado, 
cabíveis em quinze dias a contar da juntada aos autos do mandado de citação devidamente 
cumprido”. 
A essa interpretação aderimos, bem como parcela da doutrina, como se extrai das lições de 
PAULO HENRIQUE LUCON
43
. De fato, citado, as seguintes atitudes podem ser adotadas 
pelo executado: (i) entrega a coisa no prazo de 10 dias, encerrando-se a execução pois que 
satisfeita a obrigação; (ii) não deposita a coisa e oferece embargos no prazo de 15 dias, 
contados da juntada aos autos do mandado citatório cumprido; (iii) deposita e coisa e 
oferece embargos, nesse mesmo prazo; (iv) queda-se inerte. 
O parágrafo único do mesmo dispositivo assevera, a seu turno, que o juiz pode determinar a 
aplicação de multa diária pelo descumprimento da obrigação. Caso queira o devedor forrar-
se a esse risco deve ou cumprir a obrigação no prazo de 10 dias ou, então, depositar a coisa 
nesse mesmo prazo e discutir a obrigação em sede de embargos. 
Pode ainda ocorrer que o devedor, devidamente citado deixa transcorrer in albis o prazo de 
10 dias, momento em que o juiz determinará ou a busca e apreensão da coisa, ou a imissão 
na posse, conforme se trate de coisa móvel ou imóvel – artigo 625 do CPC. 
Nos termos do artigo 626, estando a coisa em poder de terceiro, contra este será lavado 
mandado para apreensão da coisa, sendo que se abre a esse terceiro a possibilidade de 
defender a sua posse pelo procedimento especial dos embargos de terceiro. 
Outrossim, pode ocorrer de ter a coisa certa perecido, fato que acarretará a transformação 
da execução em quantia certa, mediante prévia liquidação (pelo mecanismo dos já 
estudados artigos 475-A usque 475-H), ou diretamente, quando o título extrajudicial já 
trouxer o valor da coisa. 
Finalmente, havendo benfeitorias feitas pelo executado, deverá ser observado o artigo 628 
do CPC, uma vez que, nesse caso, o executado, autor das benfeitorias, tem direito de ser 
indenizado. 
Em casos tais, segundo a sempre lúcida lição de ALEXANDRE FREITAS CÂMARA
44
, 
“tendo o executado realizado benfeitorias indenizáveis na coisa, não poderá o exeqüente 
recebê-la antes da liquidação de seu valor. Havendo saldo em favor do autor das 
benfeitorias, este deverá ser depositado pelo demandante quando requerer o levantamento 
do bem; havendo saldo em favor do demandante ( o que pode ocorrer quando o 
demandante também for credor de alguma quantia em dinheiro, operando-se a 
compensação dos créditos com saldo em seu favor), este poderá executá-lo nos mesmos 
autos (art. 628)”. 
 
3. A EXECUÇÃO PARA ENTREGA DE COISA INCERTA 
 
O procedimento para a entrega de coisa incerta respeita, assim como aquele tratado no item 
anterior (entrega de coisa certa), variação procedimental quando for aparelhado por título 
 
42
 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, Lições de Direito Processual Civil, Lúmen Júris, 2006. 
43
 PAULO HENRIQUE LUCON e outros, Código de Processo Civil Interpretado, Ed. Atlas, 3ª Ed. 2008. 
44 ALEXANDRE FREITAS CÂMARA, Lições de Direito Processual Civil, Lúmen Júris, 2006. 
 
27 
 
judicial ou extrajudicial. Quando a execução for embasada neste último, ter-se-á processo 
autônomo, seguindo o rito previsto nos arts. 629 a 631 do CPC; quando for embasado no 
primeiro, será executiva lato sensu, em sistema sincrético de cognição e execução 
(separado por fases e não “processos”), nos termos dos artigos 461 e 461-A do CPC. 
Remete-se, pois, o leitor, às considerações sobre esse tema que foram expendidas no item 
02 supra. 
 
3.1. Coisa Incerta x Coisa Fungível 
 
A questão que inicialmente se coloca quando se comenta o procedimento em tela é definir-
se o que se pode entender por coisa incerta. Nesse particular, alguma divergência 
doutrinária se constata, mormente no que tange a se saber se coisa incerta e coisa fungível 
seriam a mesma coisa. 
A disputa noticiada decorre do próprio texto legal, que define como coisa incerta “aquelas 
determinadas pelo gênero e quantidade”, conceito que é adequado, por vezes, tanto para 
coisas efetivamente incertas, quanto para coisas fungíveis, o que conduziu parcela da 
doutrina a não fazer diferença entre ambos. 
No entanto, como bem ressalta LUIZ RODRIGUES WAMBIER
45
, “coisa fungível e coisa 
incerta não coincidem necessariamente. Há exemplo elucidativo, comumente formulado: a 
obrigação de ‘entregar um quadro de Picasso’ recai sobre coisa incerta (há de se definir 
um dentre tantos quadros do pintor), mas nem por isso se trata de bem fungível, na medida 
em que cada quadro do artista é único e insubstituível. Mas também não é certo afirmar 
que jamais será necessária a individualização de bens fungíveis. Recorra-se a outro 
exemplo mais uma vez apresentado pela doutrina: a obrigação de entregar mil sacas de 
soja tem por objeto bens fungíveis, e, no entanto, poderá ser necessário o procedimento de 
escolha, a fim de definir qual o tipo desse cereal deve ser entregue. Em suma, caberá a 
execução para a entrega de coisa incerta toda vez que o título confira ao credor ou ao 
devedor a incumbência de individualizar o bem, a partir de seu gênero e quantidade, 
pouco importando sua relativa fungibilidade intrínseca”. 
ALEXANDRE CÂMARA, por sua vez, acolhendo lição do emérito professor BARBOSA 
MOREIRA, entende de maneira diferente, aduzindo que, sempre que for fungível a coisa, 
deverá se submeter à execução para a entrega de coisa certa, porquanto “a coisa fungível, 
por definição, pode ser substituída por outra do mesmo gênero, qualidade quantidade.

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