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Aula 2 Genetica Lay Feitosa Introdução - Todos os organismos que constituem uma dada espécie animal ou vegetal são semelhantes, em decorrência de receberem material genético de ancestrais comuns. Porém, em uma análise mais detalhada de dois ou mais indivíduos dessa espécie, notamos que eles nem sempre são completamente idênticos, ao contrário, notam-se diferenças fenotípicas para várias características. - Essas diferenças constituem a variação. - Caráter: as informações que identificam um indivíduo. Assim, tomando como exemplo uma planta de milho, há inúmeros caracteres, isto é, altura da planta, cor das folhas, tamanho das raízes, cor dos grãos, tamanho dos grãos, teor de proteína, produtividade de grãos, etc., que identificam cada planta. Se fosse um bovino, entre os caracteres que identificam o indivíduo estariam o sexo, a cor da pelagem, a presença ou não de chifres, a produtividade de leite e o teor de gordura no leite. - As diferentes expressões de um dado caráter constituem o que denominamos de fenótipo. Para o caráter altura da planta de milho o fenótipo pode ser alto ou baixo, para a cor dos grãos o fenótipo pode ser amarelo ou branco. Já para a produção de leite de uma vaca, o fenótipo pode assumir qualquer valor em termos de kg de leite por lactação, enquanto para a cor da pelagem o fenótipo pode ser preto e branco ou vermelho e branco. - A variação fenotípica.: pode ocorrer em virtude de diferenças ambientais (variação ambiental) a que os indivíduos estão submetidos ou ocorrer por causa de diferenças em suas constituições genéticas (variação genética). - A variação ambiental se deve a qualquer diferença, excetuando- se aquelas de natureza genética, que se originam em função de flutuações na fertilidade do solo, nutrição, temperatura, incidência de doenças ou pragas, umidade, etc. Assim, se tomarmos dois pedaços do caule (manivas) retiradas de uma mesma planta de mandioca, portanto geneticamente idênticas, e plantarmos em condições diferentes de fertilidade, uma das plantas produzirá muito mais raízes do que a outra. A variação fenotípica, nesse caso, é toda ambiental. - É oportuno salientar que a variação ambiental quase sempre está presente, o que muda é a intensidade com que ela pode se manifestar. Um outro aspecto da variação ambiental é que ela nunca pode ser transmitida à descendência. Por exemplo, se uma vaca apresenta uma alta produção de leite, em razão do excelente manejo dado pelo pecuarista, a produtividade de sua descendência será inferior, se os animais forem submetidos a piores condições de manejo. Assim, como a variação ambiental não é transmitida à descendência, ela não é utilizada na seleção e, portanto, não promove o melhoramento genético. - A variação genética aparece em decorrência das diferenças nas constituições genéticas que, por sua vez, surgem pela mutação. Ao contrário da variação ambiental, a variação genética pode, pelo menos em parte, ser transmitida à descendência e, portanto, é hereditária, sendo, por esta razão, essencial para o melhoramento genético das espécies domesticadas e para a evolução de todas as espécies. - A existência de variabilidade genética é importante para a continuidade das espécies e, também, para que, por meio do melhoramento genético, sejam obtidas novas combinações de maior interesse para o homem. Conservação da variabilidade genética → A preservação da variabilidade, ou a conservação dos recursos genéticos é considerada uma das questões mais importantes para a sobrevivência da humanidade e tem recebido a atenção dos governantes. A diversidade representa a base biológica para que se possa produzir os alimentos hoje, bem como dispor de meios para enfrentar os desafios futuros em termos de crescimento populacional, mudanças climáticas e presença de pragas e doenças, que estão em constante evolução. - A conservação das espécies pode ser feita in situ ou ex situ. No primeiro caso, a conservação da variabilidade genética é feita no ambiente onde a espécie se evoluiu e, no segundo caso, a conservação é realizada em bancos de germoplasma, entendendo- se como germoplasma um conjunto de indivíduos representativos de uma espécie. ⁕ CONSERVAÇÃO IN SITU - A conservação in situ tem sido preferida para as espécies selvagens e parentes das culturas que ocorrem na natureza. Os alelos dessas espécies podem ser transferidos para a espécie cultivada, contribuindo para aumentar a tolerância a condições de estresse ambiental, bem como a resistência a pragas e doenças; além disso, têm sido encontrados muitos alelos que conferem melhor sabor, qualidades culinárias e valor nutricional. - Uma das vantagens preconizadas para a conservação in situ é a possibilidade das espécies continuarem seus processos evolutivos, o que lhes permitiria coevoluírem com os seus patógenos e pragas. Por outro lado, esse tipo de conservação não é adequado para cultivares. ⁕ CONSERVAÇÃO EX SITU - A principal ênfase para a conservação da variabilidade genética ex situ tem sido dada para as cultivares primitivas das espécies mais importantes. - O banco de germoplasma é o local onde se armazena o material genético das espécies de interesse. Em outras palavras, banco de Aula 2 Genetica Lay Feitosa germoplasma é um banco de alelos, que são as formas alternativas dos genes e que caracterizam a existência de diversidade genética. - Os bancos de germoplasma não possuem apenas a função de armazenar o germoplasma, sendo também responsáveis pelas atividades de prospecção, coleta, introdução, intercâmbio, quarentena, caracterização, conservação, inspeção, multiplicação e regeneração do germoplasma. a) Prospecção e coleta - A prospecção é uma atividade que antecede a coleta do germoplasma e objetiva efetuar um estudo preliminar para assegurar o sucesso de uma expedição de coleta. A coleta deve ser realizada de preferência em regiões onde a espécie possui maior variabilidade. Um aspecto importante a ser observado na coleta é o tamanho da amostra, que varia, principalmente em função do modo de reprodução da espécie. b) Introdução, intercâmbio e quarentena - Uma outra forma de obtenção de acessos para um banco de germoplasma é por meio da introdução e intercâmbio. O intercâmbio se constitui no recebimento e envio de germoplasma para outros centros de conservação, podendo ser considerado uma das formas mais efetivas de aumento de variabilidade a ser preservada. - Normalmente, o intercâmbio e o serviço de quarentena são atividades de um mesmo setor dentro dos grandes bancos de germoplasma, que tema responsabilidade de reduzir os riscos de introdução inadvertida de enfermidades e pragas no país, ou região que recebe o material genético. - O setor de intercâmbio e quarentena, normalmente, possui laboratórios de bacteriologia, micologia, virologia, nematologia e entomologia, visando a evitar a disseminação desses patógenos e pragas. c) Caracterização - Após a coleta ou introdução, o acesso deve ser, se possível, caracterizado, permitindo aos melhoristas tomar conhecimento das qualidades disponíveis no germoplasma das espécies que serão preservadas. d) Conservação – Existem diversos métodos de conservação ex situ, tais como bancos de sementes, preservação in vivo, cultura de tecidos e criopreservação para pólen, meristemas, embriões, sêmen e microrganismos. As sementes são a forma mais apropriada para armazenamento de germoplasma vegetal, pois, geralmente, são de tamanho reduzido e ocupam pequeno espaço. Para fins de armazenamento, elas são classificadas em dois grandes grupos: 1) Sementes ortodoxas - aquelas que podem ser dessecadas a baixos teores de umidade (4 a 6%) e armazenadas por longos períodos em câmaras frias, em embalagens herméticas. Como exemplos, temos o milho, feijão, trigo, arroz, soja, algodão, cebola, cenoura, tomate, eucalipto, etc. 2) Sementes recalcitrantes - aquelas que morrem rapidamente quando dessecadas abaixo de determinadosníveis críticos, podendo, por isso, ser armazenadas apenas por poucas semanas ou meses. Como exemplos, citam-se o café e cacau. e) Multiplicação e regeneração - A multiplicação é a reprodução de um acesso para atender à demanda dos melhoristas ou para fins de intercâmbio. Cuidados devem ser tomados no processo de amostragem (tamanho da amostra), evitando alterações nas frequências alélicas. Normalmente, a multiplicação se dá em condições de campo, ou de casa de vegetação, principalmente, quando se trata de espécie propagada por sementes. - A regeneração é a reprodução de um acesso visando à manutenção da sua integridade genética e a sua conservação por mais um período de tempo no banco. Recomenda-se que essa regeneração deva ser feita, toda vez que as sementes armazenadas apresentem porcentagem de germinação mínima para cada espécie. CONSERVAÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA NO BRASIL → No Brasil, a conservação da variabilidade genética tem sido coordenada pela EMBRAPA, Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN) fundada em 1974. - O CENARGEN iniciou as atividades de coleta, em 1975, e conta hoje com mais de 350.000 acessos de feijão, arroz, cevada, soja, trigo, sorgo, milho, caupi, algodão, triticale, amendoim, aveia e outras espécies. Algumas espécies de propagação vegetativa como mandioca, batata-doce, cará, batata, banana, morango e aspargo são conservadas in vitro. - A conservação ex situ também é feita em diversos bancos de germoplasma distribuídos nas várias unidades da Embrapa (Tabela 2.1). - A conservação in situ, no CENARGEN, iniciou-se em 1984, com a criação de 5 reservas genéticas onde são preservadas espécies como o pinheiro-do-Paraná, imbuía, erva mate, jequitibá, cedro, angico, mogno, etc. - O CENARGEN também se preocupa com a conservação de germoplasma animal iniciada em 1981. A conservação é feita in vivo nos núcleos de criação e inclui bovinos (Mocho Nacional, Crioulo Lageano, Pantaneiro, Curraleiro), bubalinos (Baio e Carabao), ovinos (Crioulo Lanado, Santa Inês eMorada Nova); equinos (Lavradeiro e Pantaneiro), asininos (Jumento Nordestino e Jegue), caprinos (Moxotó, Marota, Canindé e Repartida), suínos (Moura, Caruncho, Pirapetinga, Piau, Canastra, Macao e Nilo) e aves. A maioria dessas raças está no Brasil desde o período colonial e desenvolveram rusticidade e adaptabilidade que são importantes para os programas de melhoramento. Realiza-se, ainda, a criopreservação de sêmen e embriões de bovinos e sêmen de caprinos. Aula 2 Genetica Lay Feitosa CONSERVAÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA NO MUNDO → As coleções de sementes de todo o mundo estão vulneráveis a uma ampla gama de ameaças – combates civis, guerras, catástrofes naturais, e, mais frequentemente, mas não menos desastroso, é o manuseio incorreto, falta de recursos adequados e falhas de equipamentos. Variedades únicas das nossas culturas mais valiosas são perdidas toda vez que alguns desses desastres acontecem, de modo que amostras duplicadas das coleções em vários locais em todo o mundo atuam como uma apólice de seguros para o suprimento de alimentos no mundo. Ao redor de todo o mundo, diversos centros são responsáveis pela preservação da diversidade genética. - Na Tabela 2.2, é apresentada uma relação das Instituições onde se concentramos principais bancos de germoplasma. Em 2008, foi inaugurado o maior banco de germoplasma do mundo localizado em Svalbard (Noruega). - O Svalbard Global Seed Vault (Silo Global de Sementes de Svalbard) foi criado para servir como um seguro para a diversidade das espécies cultivadas (Figura 2.1). A ideia surgiu no ano de 1980, mas somente com o apoio da “International Treaty on Plant Genetic Resources” (Comitê Internacional de Recursos Genéticos de Plantas) e de um acordo internacional para a conservação e acesso à diversidade das culturas que a construção se tornou possível. - O silo de sementes de Svalbard é o maior silo para sementes do mundo, e foi construído próximo à pequena vila de Longyearbyen, no remoto arquipélago Ártico de Svalbard, a apenas cerca de 1120 km ao sul do pólo norte. O silo de Svalbard tem como objetivo salvaguardar a biodiversidade das espécies de plantas cultivadas que servem como alimento para as populações do mundo e seus países e preservará cerca 90% das sementes conhecidas existentes no mundo, doadas pelos países produtores. PROBLEMAS PROPOSTOS 1. Por que é importante para a genética a existência de variação? 2. Explique por que a variação genética é herdável e a variação ambiental não é herdável. 3. Uma vaca, durante a sua vida, produziu 5 bezerras e 3 bezerros, e o peso dos animais no momento do nascimento foi diferente. Qual a natureza dessa variação? Qual seria sua resposta, se fosse considerada a variação no peso ao nascer dos 8 leitões de uma leitegada de uma porca? 4. Qual a principal atividade do Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN)? O que faz o profissional que trabalha nesse centro? 5. Explique qual é a importância de conservar o germoplasma das espécies cultivadas e de seus parentes próximos.
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