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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO CAMPUS SÃO BERNARDO DO CAMPO BRUNA EMBACHER SANZ DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE SÃO BERNARDO DO CAMPO - SP 2019 BRUNA EMBACHER SANZ DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE Portfólio apresentado para a conclusão da unidade curricular “Projeto Integrador I”, graduação em Medicina, Universidade Nove de Julho, Campus São Bernardo do Campo. Orientadoras: Prof. ª Nadhia Helena Costa Souza e Prof.ª Heloisa Rosa. SÃO BERNARDO DO CAMPO - SP 2019 INTRODUÇÃO A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é a mais comum e a mais grave entre as distrofias, numa incidência de cerca de um caso para cada três mil e quinhentos nativivos (SOUZA et al., 2015). É uma doença hereditária, que possui herança de caráter recessivo, ligada ao cromossomo X. O gene localiza-se no braço curto deste cromossomo, mais precisamente no lócus Xp21.2. (SANTOS et al., 2006) A deleção ou o defeito nesta região do gene resulta na ausência ou deficiência da proteína distrofina, que constitui um complexo (CPAD – complexo de proteínas associado à distrofina) importante para a manutenção da integridade da membrana da célula muscular. Sendo assim, a distrofina desempenha uma função estrutural no músculo, promovendo uma via de sinalização entre a matriz e o citoesqueleto interno da actina (proteína contrátil). A expressão incorreta da distrofina afeta o complexo CPAD, causando uma desestabilização nessa “ponte molecular”. Consequentemente, ocorre uma modificação estrutural do sarcolema durante a contração muscular, que permite uma maior entrada de íons cálcio no interior da célula, resultando em um elevado aumento de enzimas como a creatinoquinase (CK). Em decorrência da maior concentração desses íons no meio intracelular as células começam a realizar uma despolarização contínua, que favorece a uma degeneração rápida das fibras musculares (MARCOS, 2015). Dessa forma, as células acabam sofrendo necrose (morte celular), e os locais necrosados passam a ser preenchidos com tecido conjuntivo e tecido adiposo, resultando em uma perda progressiva e generalizada da atividade da fibra muscular, levando o individuo com esse distúrbio genético ao desenvolvimento de fraqueza nos músculos e perda da capacidade motora (MARCOS, 2015). A DMD como é uma herança recessiva ligada ao sexo (cromossomo X), acaba tendo uma ocorrência quase que exclusiva em indivíduos do sexo masculino (SOUZA et al., 2015). Isso porque, as mulheres apresentam duplo X (XX) em sua constituição genética, na qual recebem um cromossomo X da mãe e outro X do pai. Já os homens possuem apenas um cromossomo X que recebe da mãe, o seu outro cromossomo sexual é o Y herdado pelo pai. Dessa forma, a mãe que é portadora do gene defeituoso em um dos cromossomos X, tem 50% de chance de passar este gene para os filhos homens e estes desenvolverão a doença, pois apresentam um único X, e 50% de chance de passar para as filhas e estas serão portadoras assintomáticas, já que possuem dois cromossomos X, o cromossomo normal tende a compensar o cromossomo que apresenta o gene afetado (FONSECA, 2011). Os meninos afetados são considerados saudáveis até os primeiros três anos de vida, as manifestações clínicas só começam a aparecer geralmente do terceiro ao quinto ano de idade quando a criança começa a andar (SOUZA et al., 2015). Nesta fase começa a haver quedas frequentes e os doentes executam uma ação peculiar denominada de manobra de Gowers, que se caracteriza pela utilização das mãos apoiadas no joelho, usando os membros inferiores como alavancas, e gradualmente, estendem o tronco, dando a impressão de escalar o próprio corpo para conseguir se levantar (FONSECA; MACHADO; FERRAZ, 2007). Os portadores desse distúrbio apresentam deformidades osteoarticulares, como a acentuação da lordose lombar. Além disso, caminham cambaleando para os lados devido à insuficiência do quadríceps, o que gera uma sobrecarga dos músculos da panturrilha (gastrocnêmico e sóleo) para compensar a tendência de flexão dos joelhos na fase de apoio, resultando em uma pseudo-hipertrofia das panturrilhas, que é observada ainda nos estágios iniciais da doença (SOUZA et al., 2015). Com a progressão dessa patologia, a distrofia começa a afetar o músculo diafragma, que acarreta uma intensa diminuição da capacidade respiratória da criança promovendo uma hipoventilação (SOUZA et al., 2015). Há também comprometimento cardíaco (cardiomiopatia), que ocorre em aproximadamente 50% a 85 % dos casos da DMD (FONSECA; MACHADO; FERRAZ, 2007). Aos 12 anos a maioria das crianças perde a capacidade de andar ficando confinadas à cadeira de roda ou dependendo parcialmente dela. A DMD ocasionalmente afeta também o cérebro, o que pode levar alguns indivíduos a desenvolverem retardos mentais e redução de até 20 pontos do QI (SOUZA et al., 2015). Assim, a progressão da doença ocasiona a morte dos indivíduos, e essa está relacionada às complicações cardiomiopáticas ou respiratórias. Estima-se que 55% a 90% dos pacientes morrem por insuficiência respiratória entre os 16 e 19 anos, e raramente sobrevivem após os 25 anos de idade. (FONSECA; MACHADO; FERRAZ, 2007). No entanto até hoje, ainda não existe um tratamento verdadeiramente eficaz que cure a distrofia muscular de Duchenne, porém, todo tratamento utilizado faz com que a doença progrida mais lentamente, tentando melhorar as condições de vida do paciente. Como exemplo, a fisioterapia é fundamental para diminuir a velocidade da progressão através de exercícios de solo, exercícios respiratórios, hidroterapia entre outros e o uso de corticosteroides tem se mostrado útil para diminuir o processo inflamatório do músculo e sua utilização precoce ajuda a prolongar a capacidade de deambulação do paciente (FONSECA, 2011). Figura 1 – A distrofina inserida no complexo proteico associado a ela, ligando o citoesqueleto interno à matriz extracelular. Fonte: Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Medicina (MARCOS, 2015). DESENVOLVIMENTO O diagnóstico precoce para a distrofia muscular de duchenne é fundamental para evitar novos casos da doença (MOREIRA; ARAÚJO, 2009). Por isso, como visto na unidade curricular de introdução à prática médica é de extrema importância coletar uma anamnese perceptiva e detalhada, bem como realizar um exame acurado e minucioso (BATES, 2015). No quarto caso clinico apresentado em sala de aula na unidade curricular projeto integrador I, é essencial verificar os antecedentes familiares desses indivíduos, visto que a distrofia é uma causa normalmente genética, sendo assim as famílias devem ser encaminhadas para aconselhamento genético (MOREIRA; ARAÚJO, 2009). Em bases celulares e moleculares foi estudado que essa patologia é uma herança recessiva ligada ao sexo (cromossomo X) e que os indivíduos do sexo masculino são mais afetados. Diante desse caso, é de suma importância o conhecimento prévio sobre a doença e a realização de um tratamento multidisciplicar antecipado, visando o bem-estar e a qualidade de vida do paciente. Porém, a paciente por vir de uma região pobre e com pouca cobertura em saúde, muitas vezes não possui conhecimento abrangente para a conduta com o seu filho mais velho, e também não saberá o que esperar do bebê que está por vir sem ajuda e acolhimento. Dessa forma, em saúde coletiva e atenção primaria a saúde, foi apresentado o programa de agentes comunitários (acs) criado em 1991, que são pessoas da própria comunidade que conecta o serviço de saúde a comunidade, descobrindo com mais facilidade quem são as pessoas em situações de risco e que precisam de um auxilio. No caso de Roberta, seria importante o relato para esses agentes de saúde, para levar o seu caso ao SUS, diante dos princípios doutrinários como universalidade, integralidade e equidade, promovendo não só um tratamento para doença, mas também a promoção e prevenção à saúde. Já referente à unidade de bases morfofuncionais, podemos correlacionar o caso com o aprendizado obtidonas aulas de histologia, biofísica e anatomia. Aprendeu-se que o tecido muscular esquelético é constituído por feixes de células cilíndricas multinucleadas (núcleos periféricos) e muito longas, com estrias transversais. Essas fibras musculares são compostas pelo sarcômero, unidade contrátil da célula, resultando na contração muscular através do deslizamento das cabeças das miosinas sobre os filamentos de actina. Além disso, as fibras musculares acabam sofrendo lesões devido a proteína distrofina estar ausente ou defeituosa, não ocorrendo o ligamento dos filamentos de actina a proteínas do sarcolema da célula, o que levará o indivíduo a ter uma fraqueza muscular progressiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse portfólio teve como objetivo integrar informações sobre o que é a distrofia muscular, bem como suas causas, suas manifestações clínicas e os possíveis tratamentos. Para a elaboração foram relacionados artigos científicos com os conhecimentos alcançados nas aulas de todas as unidades curriculares durante o primeiro semestre do curso de medicina da Universidade Nove de Julho. Foi um trabalho cansativo, pois exige comprometimento, leitura e muita pesquisa, porém a realização desse projeto foi altamente produtiva, relevante e vista como um desafio acadêmico para mim, pois nunca tinha feito um trabalho de acordo com as normas da ABNT e que abrangesse tantos conteúdos em um único caso. A escolha do meu tema, distrofia muscular de Duchenne, ocorreu devido ao jogo que desenvolvi em sala de aula e por achar que é uma doença que a população precise de conhecimento prévio para que o diagnóstico possa ser precoce e os tratamentos eficientes, promovendo longitudinalidade e integralidade do paciente na comunidade, visando o seu bem estar e a qualidade de vida. Acredito que essa forma de avaliação e aprendizado é muita valida e de extrema importância para o estabelecimento de senso critico e a partir dela pude adquirir as seguintes competências da ANASEM: ● Buscar, organizar, relacionar e aplicar dados e informações, baseado em evidências científicas, para subsidiar o raciocínio clínico, com vistas à solução de problemas, tomada de decisões, de forma a executar procedimentos apropriados aos diferentes contextos, garantindo a segurança dos envolvidos no processo de atenção à saúde; ● Mobilizar e associar informações obtidas a partir de diferentes fontes para construir, sustentar e compartilhar argumentação consistente e propostas de intervenção, individualmente e em equipe, em diferentes contextos, na defesa da saúde, da cidadania e da dignidade humana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATES, propedêutica médica / Lynn S. Bickley; Peter G. Szilagyi; tradução Maria de Fátima Azevedo. - 11. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. COMPETÊNCIAS ANASEM. Disponível em: <http://portal.ftc.br/anasem/p-referencia.php>. Acesso em: 07 de abril de 2019. FONSECA, Jakeline Godinho; MACHADO, Marcella Jardim da Franca; FERRAZ, Cristina Leal de Moraes e Silva. Distrofia muscular de Duchenne: complicações respiratórias e seu tratamento. Rev. Ciên. Med. Campinas, Campinas - São Paulo, p.110-120, mar. 2007. Disponível em: <http://seer.sis.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/cienciasmedicas/article/viewFile/ 1067/1043>. Acesso em: 04 de abril de 2019. FONSECA, Viviana Alves. Distrofia Muscular de Duchenne: a importância do envolvimento familiar para a melhoria da qualidade de vida do portador. 2011. 42f. Monografia para obtenção do título de especialização em Genética - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011. Histologia básica: texto e atlas/ L.C Junqueira, José Carneiro; autor-coordenador Paulo Abrahamsohn – 13. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. MARCOS, David Manuel Torres. Distrofia Muscular de Duchenne: Perspectivas de tratamento. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Medicina. 2015. MOREIRA, Andreia de Santana Silva; ARAÚJO, Alexandra Prufer de Q. C.. Não reconhecimento dos sintomas iniciais na atenção primária e a demora no diagnóstico da Distrofia Muscular de Duchenne. Revista Brasileira de Neurologia, Rio de Janeiro, v. 45, n. 3, p.39-43, jul. 2009. Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/0101-8469/2009/v45n3/a39-43.pdf>. Acesso em: 05 de abril de 2019. http://seer.sis.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/cienciasmedicas/article/viewFile/1067/1043 http://seer.sis.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/cienciasmedicas/article/viewFile/1067/1043 SANTOS, Nubia Mendes et al. Perfil clínico e funcional dos pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne assistidos na Associação Brasileira de Distrofia Muscular (ABDIM). Revista Neurociências, São Paulo, v. 14, n. 1, p.15-22, 7 abr. 2006. Disponível em: <http://www.revistaneurociencias.com.br/ edicoes/2006/RN%2014%2001/Pages%20from%20RN%2014%2001-3.pdf>. Acesso em: 05 de abril de 2019. SOUZA, Igor Emanuel Ribeiro de et al. Distrofia Muscular de Duchenne: Complicações e tratamentos. Revista Fafibe On-line, Bebedouro - Sp, p.178-187, 3 ago. 2015. Centro Universitário UNIFAFIBE. Disponível em: <http://unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/revistafafibeonline/sumario/36/30102 015184820.pdf>. Acesso em: 05 de abril de 2019. https://www.google.com/search?q=distrofia+muscular+de+duchenne&safe=strict&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjS0YHfq5bhAhUoGbkGHUP6CfkQ_AUIDigB&biw=1366&bih=606
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