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Anállise ADPF nº 54 1

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Análise jurídica – ADPF nº 54
“A possibilidade de aborto de fetos anencefálicos”
Introdução
A presente análise tem como objetivo compreender os argumentos expostos na discussão da tipificação do aborto de feto anencefálico, que foi objeto da Arguição de Preceito Fundamental n  54 no Supremo Tribunal Federal.
Adianta-se que tal Arguição já foi encerrada, sendo decida de forma majoritária pro sua procedência, de modo a impedir a interpretação do Código Penal que impedia o aborto destes fetos, sendo, entretanto, é demasiado interessante observar as razões expostas.
Para tanto, propõe-se analisar o cabimento constitucional da ADPF proposta, posto ter sido objeto de protesto daqueles que entenderam pela improcedência do pleito; ainda, também serão expostos, de forma suscinta, os principais argumentos – tanto de requisição quanto de defesa. 
Por fim, propõe-se analisá-los, de modo a emitir parecer jurídico fundamentado. Para tanto, serão desconsiderados quaisquer argumentos de cunho notoriamente religioso ou moral, por integrarem a esfera individual, não sendo cabível ou adequado o posicionamento estatal – ainda que indireto.
O cabimento constitucional
Inicialmente, deve-se compreender a ferramenta utilizada no caso utilizado, qual seja, a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), que é uma das formas de controle constitucional admitido em nosso ordenamento jurídico.
A ADPF é uma forma de controle repressivo concentrado, exercido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – considerado doutrinariamente o guardião da Constituição Federal, sendo objetivada a proteção do núcleo constitucional, quais sejam os seus enunciados significativos, também nomeados preceitos fundamentais.
Tem como objetivo a proteção do conteúdo material essencial da Constituição, quais sejam seus princípios mais sensíveis, representados essencialmente pelas cláusulas pétreas, ou, então, pela sua interpretação.
Pode ser oposta contra qualquer ato do poder público que viole os enunciados significativos da CF, podendo ser objeto leis em sua integridade ou sem sua parcialidade, lei municipal, ato ordinário, lei anterior à CF vigente ou, ainda, a interpretação realizada de determinado enunciado objetivo.
No caso sub judice, requereu-se o impedimento da tipificação interpretativa do aborto de feto anencefálico, com efeito erga omnes, ou seja, efeito vinculante à todos.
Ainda, é interessante apontar a postura esperada do STF – enquanto órgão competente, uma vez que é instituição estatal e, portanto, deve ser laica, adotando posicionamentos neutros, sem poder basear-se ou justificar em condutas ou crença religiosas, ainda que estas sejam a da maioria da população. Tal característica também impede que o Estado endosse concepções que poderão de alguma forma coagir os cidadãos.
Os argumentos requisitórios
Logicamente, a análise deve iniciar-se nos pedidos feitos, sendo, essencialmente, apontados os seus argumentos.
A principal arguição feita é de que os fetos anencefálicos não possuem condição de vida extrauterina (ou sequer uterina, em parte dos casos), portanto, deve ser permitido a antecipação terapêutica do parto, de modo a proteger a esfera de direitos da gestante.
Pois bem, o principal aspecto e pilar da requisição é a conceituação do feto encefálico e de sua viabilidade, bem como a análise da situação a qual a gestante é submetida em face da proibição interpretativa de fetos anencefálicos. 
A parte autora apoia-se na esfera de direitos fundamentais individuais das gestantes expostas à situação supra explanada, arguindo que estas são sujeitos de direito pleno, que não devem ser objetificadas ou sujeitas à situações emocional e fisicamente desgastante em virtude da manutenção do feto, que sequer possuí capacidade de vida extrauterina.
Os argumentos de defesa
Ressalta-se que, popularmente, os principais argumentos contrários possuem cunho religioso, razão pela qual não são cabíveis no caso sub judice , uma vez que o estado é laico, devendo ser neutro à posicionamentos religiosos, conforme já exposto na análise de cabimento constitucional.
Uma vez explanado este ponto, informa-se que o ponto central da defesa é o dever estatal de zelar pela vida dos cidadãos, inclusive dos fetos, razão pela qual não poderia permitir-se o aborto, mesmo na referida situação.
Pois bem, ocorre que há o consenso médico conquanto a ausência de vida dos fetos anencefálicos, uma vez que inexistente qualquer expectativa de vida extrauterina. Ainda, a doutrina médica é assertiva ao determinar que, quando correto o diagnóstico, tais fetos não sobreviverão por mais de 48 horas; também explana a alta precisão do diagnóstico via ultrassom[footnoteRef:1]. [1: CHAGAS, Angela. Anencefalia: quanto tempo é possível sobreviver sem cérebro? Terra.com. [S.l]; 201?, Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/anencefalia-quanto-tempo-e-possivel-sobreviver-sem-cerebro,a5fa00beca2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 25.06.2020.] 
Cumpre também apontar que esta vida referida, ainda é relativa, inexistindo qualquer função cerebral, sendo incapaz qualquer desenvolvimento ou ainda sensação (como dor, por exemplo). Ademais, a referência médica para fim de vida é a morte cerebral, posto que a ausentes as suas funções, o indivíduo apenas mantém as funções mecânicas, sendo que estas também são prejudicadas, razão pela qual se justifica a utilização do mesmo parâmetro (atividade cerebral) para determinar a capacidade de vida extrauterina de um feto.
Outro argumento utilizado à título de defesa é a possibilidade de doação dos órgãos do feto a outros, possibilitando, assim, a manutenção da vida destes que provavelmente não sobreviveriam de outra maneira. Tal linha argumentativa sequer deve ser considerada, uma vez que objetifica completamente a gestante e o feto, ignorando sua qualidade humana, em completo desacordo com o ordenamento jurídico brasileiro.
Conclusões
Considerando as informações anteriormente expostas, nota-se, inicialmente que o objetivo da ADPF analisada era impedir a interpretação que proibia o aborto de fetos anencefálicos, determinando ainda a desnecessidade de requerimento judicial para sua terminação no caso de diagnóstico conclusivo, de modo a possibilitar a escolha da gestante a cerca da continuidade da gestação.
Percebeu-se que o termo aborto está sendo utilizado de forma equivocada, uma vez que pressupõe o término de uma gestação cujo feto era viável, sendo, portanto, vivo e sujeito das proteções estatais ofertadas. No caso apresentado, o feto não possuí atividade cerebral, não possuindo sentimentos ou sensações, conforme entendimento médico majoritário, não sendo adequado a utilização do termo “vida”, razão pela qual entende-se ser mais adequado a utilização do termo interrupção terapêutica da gravidez, termo que passa a ser utilizado.
Em imparcial análise, uma vez excluídos os argumentos morais e religiosos – em razão da objetividade e cientificidade da análise – percebe-se que o lado contrário à permissão resta muito enfraquecido, fato que se acredita demonstrar ainda mais a incompatibilidade de seus argumentos.
Conforme anteriormente exposto, o estado brasileiro é laico, devendo, portanto, ser neutro às crenças individuais, permanecendo na organização do público, baseado nos direitos reconhecidos. Importante salientar a necessidade da laicidade estatal, uma vez que este deve promover a igualdade dos indivíduos e ao adotar (ainda que indiretamente) determinada crença, mesmo que esta seja majoritária, estará compelindo a parte restante da sociedade à também seguir tais crenças, em completa desconsideração ao seu direito subjetivo à liberdade de crença.
Retomando a discussão, uma vez desconsiderada a “vida”[footnoteRef:2] do feto, deve-se prestar verdadeira atenção ao sujeito constantemente ignorado da discussão, a gestante. [2: Utiliza-se entre aspas em razão da referência ao sentido popular do termo, sem relação necessário ao se termo científico, conforme anteriormente explicado] 
Neste caso, a gestante tem sua saúde físicae mental agredida. 
Existem inúmeros estudos científicos, dotados de credibilidade internacional, que apontam o aumento de problemas médicos em gestantes cujo feto é anencefálico[footnoteRef:3][footnoteRef:4], sendo, portanto, a continuidade da gestação um risco à vida da gestante, que, logicamente, não pode ser obrigada pelo estado à manutenção da situação. [3: AUTOR desconhecido. Mulheres correm riscos durante a gestação de bebês anencéfalos. Jorna de Hoje. [S.l]. 201-?. Disponível em: https://www20.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2012/04/28/noticiasjornalcienciaesaude,2828695/mulheres-correm-riscos-durante-a-gestacao-de-bebes-anencefalos.shtml. Acesso em 25.06.2020 ] [4: BRASIL. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Posição da FEBRASGO sobre gravidez com fetos anencéfalos. [S.l.] 2011] 
Ainda, não se pode olvidar a violência emocional que a imposição de uma gestação cujo feto não possuí capacidade de vida extrauterina, sendo inclusive interessante observar os depoimentos feitos na ADPF, em que mulheres chegaram a depor que não suportavam olhar-se no espelho, por saber que estavam gestando um feto que jamais seria seu filho[footnoteRef:5]. [5: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Preceito Fundamental n  54. Marco Aurélio Mello. Brasília. 12/04/2012. Diário de Justiça Eletrônico. Disponível em http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/adpf54.pdf. Acesso em 25.06.2020.] 
Uma vez que analisada a possibilidade de influência negativa da manutenção da gestação na vida da gestante percebe-se a assertividade de decisão proferida, uma vez que não cabe ao estado interferir tão significativamente na esfera individual dos cidadãos, devendo, apenas, fornecer os meios para que estes tomem decisões conscientes.
REFERÊNCIAS
AUTOR desconhecido. Mulheres correm riscos durante a gestação de bebês anencéfalos. Jorna de Hoje. [S.l]. 201-?. Disponível em: https://www20.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2012/04/28/noticiasjornalcienciaesaude,2828695/mulheres-correm-riscos-durante-a-gestacao-de-bebes-anencefalos.shtml. Acesso em 25.06.2020
Brasil. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Posição da FEBRASGO sobre gravidez com fetos anencéfalos. [S.l.] 2011
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Preceito Fundamental n  54. Marco Aurélio Mello. Brasília. 12/04/2012. Diário de Justiça Eletrônico. Disponível em http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/adpf54.pdf. Acesso em 25.06.2020
CHAGAS, Angela. Anencefalia: quanto tempo é possível sobreviver sem cérebro? Terra.com. [S.l]; 201?, Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/anencefalia-quanto-tempo-e-possivel-sobreviver-sem-cerebro,a5fa00beca2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. Acesso em 25.06.2020.

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