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1 Proliferação Celular Hanna Briza Módulo II: Proliferação Celular Problema 4: “É o tratamento doutor?” Objetivo 1: Analisar o CA de próstata considerando conceito, epidemiologia, etiologia, patogenia, fatores de risco, manifestações clínicas, evolução, propedêutica, diagnóstico, diagnóstico diferencial, tratamento, prevenção e prognóstico. Objetivo 2: Descrever as ações do governo para prevenção do CA de próstata. Objetivo 3: Descrever as vias de disseminação do CA de próstata. Objetivo 4: Descrever o rastreamento do CA de próstata e suas controvérsias e divergências. CÂNCER DE PROSTATA É o tipo de câncer que ocorre na próstata: glândula localizada abaixo da bexiga e que envolve a uretra, canal que liga a bexiga ao orifício externo do pênis. Quanto mais avançado é um tumor mais mutações ocorrem, conferindo maior agressividade. Estas células se multiplicam mais velozmente que as células normais da próstata. As células neoplásicas têm a capacidade de invadir os tecidos e se disseminam por órgãos distantes, seja por via linfática (comprometendo os gânglios) ou sanguínea (principalmente os ossos). ANATOMIA DA PRÓSTATA A próstata é uma pequena glândula sexual masculina produtora do líquido prostático, rico em frutose responsável pela nutrição dos espermatozoides. Sua localização é bastante peculiar, de forma que sua face posterior está em contato com o reto (daí a importância do exame do toque retal) e sua face superior em contato direito com a bexiga. Além dos pequenos ductos prostáticos, a glândula é percorrida pela primeira porção da uretra (a uretra prostática). Esta relação anatômica torna-se importante para a fisiopatologia da anúria devido à hiperplasia desta glândula. EPIDEMIOLOGIA No Brasil, o adenocarcinoma de próstata é o tipo mais comum de câncer em homens depois dos tumores de pele não melanoma, e a sexta neoplasia mais frequente dentre todas as neoplasias. Assim como em outros cânceres, a idade é um fator de risco importante, ganhando um significado especial, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade e morbidade do tratamento aumentam após a idade de 50 anos. A incidência do câncer de próstata aumenta com a idade e compromete aproximadamente metade dos homens aos 80 anos de idade. Contudo, 2 Proliferação Celular Hanna Briza apesar da alta prevalência da doença nessa faixa etária, a maioria dos pacientes nunca virá a desenvolver manifestações clínicas, fazendo que muitos pacientes morram com câncer da próstata e não do câncer da próstata. A estimativa nacional é de pouco mais 61 mil casos novos – uma taxa de incidência de 61,8 casos/100.000 homens-ano – representando cerca de 30% de todas as neoplasias malignas no sexo masculino. Ocorrem cerca de 13 mil óbitos por essa doença por ano, o que dá uma taxa de mortalidade de aproximadamente 15 óbitos/100.000 homens- ano. Trata-se da segunda causa de morte oncológica em homens, perdendo apenas para o CA de pulmão. No resto do mundo, o adenocarcinoma de próstata é considerado o segundo o câncer mais frequente no sexo masculino, excluídos os tumores de pele não melanoma, ficando atrás do câncer de pulmão. Ocorrem cerca de 1 milhão de casos novos/ano. A maior parte desse contingente é diagnosticada em países desenvolvidos (75%), locais onde a incidência aumentou de forma significativa nas últimas décadas, provavelmente um reflexo das práticas de screening adotadas, e não um aumento real em sua ocorrência. A dosagem do PSA (antígeno prostático específico) permite a detecção precoce durante a fase assintomática, o que pode ser evidenciado pelo fato de 60-75% dos tumores atualmente diagnosticados serem impalpáveis ao toque retal e restritos à glândula, sem invasão de estruturas adjacentes ou metástases à distância. FATORES DE RISCO As causas do adenocarcinoma de próstata não são totalmente conhecidas, mas as evidências disponíveis sugerem que sua origem depende de múltiplas interações entre fatores genéticos e ambientais. Nos anos de 1990, estudos moleculares forneceram informações importantes relacionadas ao desenvolvimento e à progressão dessa doença com a identificação de genes associados à hereditariedade do câncer de próstata e alterações genéticas nas células prostáticas que poderiam relacionar o câncer a quadros prostáticos infecciosos e inflamatórios. Dentre os principais fatores de risco para o desenvolvimento deste tumor, temos: IDADE A incidência do câncer de próstata aumenta com a idade. A incidência, de certa forma, é maior após os 50 anos, alcançando um pico entre 60 e 70 anos de idade. A afirmação é tanta que, avaliando uma amostragem de óbitos com indivíduos mais velhos que 70 anos, praticamente 100% teriam morrido com câncer de próstata e, na sua maioria, assintomáticos. O câncer de próstata é, portanto, uma doença própria do homem e da idade. A presença da doença em faixas etárias inferiores é mais grave, de forma que o comportamento biológico do tumor é bastante agressivo e, muitas vezes, o doente quase que não tem chance de cura, uma vez que o diagnóstico é geralmente feito com a doença já disseminada. HISTÓRIO FAMILIAR Indivíduos com antecedentes familiares de câncer prostático possuem maior risco de desenvolver a doença. A ocorrência de tumor em um, dois ou três parentes de primeiro grau aumenta o risco em 2, 5 e 11 vezes, respectivamente. Estudos realizados nos países escandinavos concluiu que fatores hereditários eram responsáveis por 42% dos casos de câncer prostático; os restantes eram atribuídos a fatores relacionados ao meio ambiente. RAÇA A incidência na raça negra é maior do que a branca que é, por sua vez, maior que na raça asiática. FATORES AMBIENTAIS Estudos que avaliaram a migração de certos grupos de japoneses para países americanos (de modo que estes indivíduos passaram a experimentar do mesmo estilo de vida desse continente) apresentaram a mesma incidência da doença que os nativos. 3 Proliferação Celular Hanna Briza Isso nos leva à conclusão que este tipo de câncer é influenciado por fatores ambientais. De fato, a Ásia apresenta o continente com menor incidência em câncer de próstata; ao passo em que a Escandinávia e os EUA são os países com maior incidência. FATORES HORMONAIS Existe uma relação hormonal da doença com a biodisponibilidade dos andrógenos. FATORES DIETÉTICOS Dietas ricas em ácidos graxos insaturados, associados aos fatores genéticos, predispõem ao desenvolvimento deste tipo de câncer. Alguns componentes naturais dos alimentos, como as vitaminas (A, D e E) e minerais (selênio), também parecem desempenhar um papel protetor. SÍTIOS DA DOENÇA O câncer de próstata pode desenvolver-se em sítios específicos desta glândula masculina. De um modo geral, a doença se localiza, preferencialmente, na zona periférica (isso facilita o diagnóstico das lesões através do toque retal). As áreas central e de transição, onde a incidência é pouco frequente, o diagnóstico digital é mais dificultoso, sendo obtido apenas por exames de imagem. Temos, em resumo: Tumores na zona de Transição → 20% Tumores na zona Central → 10% Tumores na zona Periférica → 70% Cerca de 90 a 95% das neoplasias prostáticas são adenocarcinomas, e os demais casos, mais raros e agressivos, são representados pelos sarcomas, carcinomas epidermoides e carcinomas de células transicionais. Os adenocarcinomas estão localizados mais frequentemente na zona periférica da glândula. O câncer da próstata é um tumor multifocal e heterogêneo, coexistindo áreas de maior e menor diferenciações tumorais. A graduação histológica desses tumores é definida pelas áreas de maior anaplasia, utilizando-se, preferencialmente, o sistema proposto por Gleason. ETIOLOGIA Modernamente, o Ca de próstata é classificadoem dois subgrupos: 1. Lesão histológica clinicamente oculta ou “latente”; 2. Doença clinicamente manifesta. Acredita-se que a prevalência de Ca de próstata “latente” seja idêntica em todas as etnias e em todas as partes do mundo, sendo proporcional à idade (algo em torno de 30% dos homens com 50 anos, e 60-70% dos homens > 80 anos). Já a prevalência da doença manifesta é amplamente variável conforme a etnia e a região geográfica, além de outros fatores. A principal conclusão que pode ser inferida a partir de tais observações é que existem dois grandes passos na etiopatogênese dessa neoplasia: 1. Iniciação (que cria a doença “latente”) 2. Progressão (que torna a doença “clinicamente manifesta”). São fatores de risco para ca de próstata todos os eventos capazes de promover iniciação e/ou progressão do processo de transformação neoplásica da célula prostática. As exatas relações etiopatogênicas ainda não foram plenamente esclarecidas, porém, diversas mutações genéticas e alterações epigenéticas já foram bem caracterizadas e estão presentes na maioria dos pacientes. ALTERAÇÃO GENÉTICAS Das modificações na sequência do DNA que são importantes para o câncer de próstata, merece destaque a fusão dos genes TMPRSS2 e ERG (ambos no cromossomo 22), encontrada em até 50% dos casos. O gene TMPRSS2 é “próstata- -específico” e tem sua expressão regulada por hormônios androgênios, enquanto o gene ERG (que não responde aos androgênios) pertence a uma família de fatores de transcrição para oncogenes, isto é, sua expressão aumenta a ativação dos oncogenes. A fusão TM-PRSS2-ERG, em última análise, resulta na ativação de múltiplos oncogenes em resposta aos androgênios, ratificando o conceito de que os hormônios sexuais masculinos são importantes tanto para a iniciação quanto para a progressão do Ca de próstata. 4 Proliferação Celular Hanna Briza Outras aberrações genéticas fundamentais são os polimorfismos no gene do receptor de androgênio (AR). Diversas mutações no AR foram consistentemente associadas à progressão do Ca de próstata, por exemplo, a ativação intrínseca do receptor (mesmo na ausência de androgênios circulantes o receptor se mantém no estado ativado). Esta última mutação parece estar implicada nas fases tardias do Ca de próstata metastático, quando a doença se torna “resistente à castração” (hormônio-independente). De acordo com alguns experimentos, a ablação específica do gene do AR promove regressão tumoral mesmo na fase hormônio- independente. ALTERAÇÕES EPIGENÉTICAS Este termo se refere a mudanças no padrão de expressão gênica que não dependem de modificações na sequência do DNA. Os genes podem ser estimulados ou “silenciados” em resposta a fenômenos bioquímicos como a hipo ou a hipermetilação do DNA, a acetilação das histonas (proteínas que “envelopam” o DNA) e a interferência no funcionamento do RNA, entre outros. O exemplo mais contundente, que na verdade representa a alteração genética mais comum do Ca de próstata (100% dos casos), é a hipermetilação do gene GSTP1. Este gene codifica uma enzima que protege a célula do estresse oxidativo (glutation-S-transferase), e sua hipermetilação diminui os níveis de GSTP1 no citoplasma, o que aumenta a exposição do núcleo à ação de radicais livres e acelera o surgimento de mutações genéticas cumulativas. A hipermetilação do GSTP1 parece imprescindível para a iniciação do Ca de próstata FISIOPATOLOGIA O tipo histológico mais frequente de Ca de próstata é o adenocarcinoma acinar (95% dos casos), uma lesão que em 70% das vezes aparece na zona periférica (posterior) da glândula, sendo potencialmente alcançável pelo toque retal. Em 80% dos casos a doença é multifocal. O diagnóstico microscópico de Ca de próstata é um dos maiores desafios dentro da patologia clínica! O motivo é que as alterações que denunciam sua presença, ao contrário do que acontece com outros tumores, costumam ser sutis, isto é, morfologicamente as células malignas não são muito diferentes das células prostáticas normais e podem passar despercebidas. As células tumorais também se organizam num padrão “glandular”. Contudo, olhando ao microscópio com atenção, percebe-se que as glândulas neoplásicas são menores do que as glândulas normais, agrupando-se com maior proximidade entre si e apresentando pouca ou nenhuma ramificação. A camada externa de células basais está tipicamente ausente nas glândulas malignas. Analisando as células individualmente, nota-se a presença de um citoplasma anfofílico (tonalidade diferente em resposta ao mesmo corante), assim como nucléolos proeminentes. Todavia, de um modo geral, não existe um pleomorfismo celular acentuado. O grande achado patognomônico de Ca de próstata na biópsia é a presença de invasão perineural. ESCORE DE GLEASON O sistema utilizado para avaliar o grau de diferenciação do adenocarcinoma prostático é o escore de Gleason. Ele classifica a citoarquitetura tecidual em 5 graus distintos, sendo: O grau 1 o mais bem diferenciado (isto é, o mais “parecido” com o tecido normal, com formação de glândulas contidas dentro de nódulos), Grau 5 o menos diferenciado (sem formações glandulares, apenas células “soltas” infiltrando o estroma ou formando cordões e ninhos). Os demais graus são intermediários entre esses dois extremos, e sua descrição pormenorizada não será feita aqui. 5 Proliferação Celular Hanna Briza O importante é compreender que o Gleason se relaciona ao comportamento biológico do tumor e, por conseguinte, ao seu prognóstico. Como a doença tende a ser multifocal, em geral são encontrados pelo menos 2 graus distintos na mesma biópsia, e a pontuação final é dada pelo seu somatório. Por exemplo: quando o padrão dominante possui grau 3 e o padrão secundário possui grau 4, o Gleason final é 7. Quando apenas um padrão é encontrado, deve- se duplicar seu grau para chegar ao Gleason (ex.: 5 + 5 = 10). Desse modo, o Gleason varia de 2 a 10. Obs.: Quando três ou mais padrões distintos estão presentes numa mesma amostra, são usados para o cálculo do Gleason o padrão dominante e o padrão mais indiferenciado, mesmo que este último não seja o segundo mais frequente. Obs.: Recentemente, foi introduzido o conceito de Grupos de Grau, cujo intuito é “refinar” ainda mais a capacidade prognóstica do Gleason. FORMAS DE DISSEMINAÇÃO A disseminação local compromete estruturas periprostáticas como as vesículas seminais e a base da bexiga (onde pode causar obstrução urinária). A disseminação LINFÁTICA ocorre primeiro para os linfonodos obturadores e, depois, os para-aórticos. A disseminação HEMATOGÊNICA acomete preferencialmente o esqueleto axial, mas o envolvimento de ossos longos e outros órgãos e tecidos também é comum. É importante ressaltar que as metástases ósseas em geral são osteoblásticas (isto é, têm aspecto “branco” ou radiopaco no RX simples), e o achado de lesões ósseas desse tipo é muito sugestivo de Ca de próstata em homens com > 50 anos de idade. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Devido ao screening, a maioria dos pacientes (> 60%) recebe o diagnóstico numa fase completamente assintomática, com um tumor de pequeno volume restrito à zona periférica da glândula Sintomas de obstrução urinária (hesitação, jato intermitente e/ou fraco) acompanham a doença localmente avançada que invade a uretra ou o colo vesical, fazendo diagnóstico diferencial com HPB. Nesse contexto, apontam para um diagnóstico de Ca de próstata a coexistência de hematúria e, principalmente, hematoespermia, achados não esperados na HPB isolada. São indícios de disseminação linfática locorregional (com obstrução de linfonodos pélvicos) o surgimento de edema de membros inferiores e uma vaga sensação de “desconforto” pélvico ou perineal constante. As metástases esqueléticas costumam ser indoloresno início, mas com o tempo queixas como dor óssea crônica (lombar, pelve, quadril) e/ou aguda (fratura patológica) vão se tornando mais frequentes. O envolvimento da coluna pode ocasionar uma síndrome de com pressão epidural da medula espinhal (paraplegia, nível sensitivo, distúrbio esfincteriano). Raramente, o diagnóstico será feito por conta de sintomas relacionados às metástases viscerais (ex.: linfangite carcinomatosa pulmonar, derrame pleural ou ascite neoplásica, falência hepática, deficit neurológico focal). Estas últimas manifestações, por outro lado, não são raras nas fases terminais da doença, em particular quando já existe refratariedade à terapia de deprivação androgênica. Obs.: Os principais sintomas são → hematúria, hematoespermia, edema de MMII e desconforto pélvico ou perineal. Além disso, sinais como obstrução urinária, diminuição de peso, hematúria (ocasionalmente) e, raramente, sinais de compressão medular caracterizam o câncer de próstata. RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO Segundo o Ministério da Saúde, o rastreio do câncer de próstata deve ser feito da seguinte forma: Iniciar aos 50 anos ou aos 45 + fatores de risco (negros, histórico familiar etc.). Uma vez iniciado o rastreio, ele deve ser anual. 6 Proliferação Celular Hanna Briza Idade máxima de rastreio: 76 anos. A suspeita de câncer da próstata é feita pela observação isolada de níveis elevados do PSA ou de alterações texturais ao exame digital da próstata (toque retal ou TR). Uma vez avaliados esses dois parâmetros, caso persista a hipótese de tumor, deverá ser solicitado estudo ultrassonográfico por via transretal e biópsia por agulha fina (sendo necessário a colheita de 12 fragmentos). Portanto, o aumento do PSA, o TR anormal complementados por US transretal para biopsia sextante definem o diagnóstico do câncer prostático. Contudo, PSA aumentado não é diagnóstico definitivo de câncer de próstata, mas apenas um indicativo importante. Apenas o toque retal é fundamental para o diagnóstico. Nódulos ou alterações texturais ao toque prostático devem ser investigados por meio de estudo histológico, especialmente se os níveis de PSA estiverem elevados. O valor preditivo positivo para o diagnóstico do tumor quando apenas o exame prostático for alterado é bastante baixo, ao redor de 25% a 28%. Contudo, exame digital suspeito na presença de níveis de PSA entre 4 a 10 ng/ml se associa à presença de tumor em aproximadamente metade dos casos. Níveis elevados de PSA associado a um toque sugestivo, a biópsia dirigia por US transretal é essencial. Toque retal: O toque retal é um exame de extrema importância para o diagnóstico do câncer de próstata, e depende muito da experiência do médico. É um exame de grande utilidade, com 80% de sensibilidade e 90% de especificidade. O paciente é deitado na maca em uma posição em que o ânus seja acessível e relaxado (deitado de lado, apoiado na mesa de exame, de ventre para cima, etc.). O médico vestindo luvas, lubrifica seu dedo indicador em uma solução (com ou sem anestésico). Solicitando que o paciente efetue um leve esforço defecatório, para facilitar a protrusão da mucosa, o médico insere o indicador no reto passando através do ânus e palpa seu interior. Qualquer alteração quanto a consistência ou regularidade da glândula deve ser relatada pelo examinador. Como 70% dos tumores são de localização periférica, é bastante eficaz o diagnóstico por meio deste método. Antígeno prostático específico ou PSA O antígeno prostático específico ou PSA é uma enzima (glicoproteína) com algumas características de marcador tumoral ideal, sendo um grande auxiliar para o diagnóstico, monitorização e controle da evolução do carcinoma da próstata (ou câncer de próstata). Na hiperplasia benigna da próstata também pode ocorrer um aumento de 20% dos níveis de PSA. Deve-se ter em conta que o PSA não é o principal critério para diagnóstico, mas serve como um bom indicativo. Não há um valor específico para se dizer que um nível de PSA é normal ou anormal. Os valores de referência variam com a idade. Contudo, quanto maior o nível de PSA, maior é a probabilidade de o câncer estar presente. Vários fatores podem causar a flutuação de níveis de PSA. Quando os níveis de PSA sobem com o tempo, outros testes poderão ser necessários. Os resultados do teste de PSA referem o nível de PSA detectado no sangue. Os resultados são referidos em nanograma por mililitro (ng/ml) no sangue. De um modo geral, temos as seguintes indicações de biópsia a partir do PSA: Obs: Estudos recentes mostraram que o screening (PSA + toque) não altera a mortalidade e, por isso, vem deixando de ser indicado como medida de estudo 7 Proliferação Celular Hanna Briza populacional. Por causa disso, a OMS (assim como o INCA e o Ministério da Saúde, que é o órgão que coordena o estudo de câncer no Brasil) orientou que o câncer de próstata não deve ser rastreado (segundo o INCA, o único câncer que deve ser rastreado é o câncer colorretal, que é acima de 50 anos). Entretanto, nos livros- texto e nas principais referências, ainda se tem este protocolo citado anteriormente. Quando o PSA excede os 10 ng/ml ou passa dos 20 ng/ml, é necessária a realização de cintilografia óssea para avaliar a eventual presença de metástase óssea (mesmo que o paciente esteja assintomático, uma vez que a dor só ocorre se a metástase romper o periósteo). Considerado órgão-específico, o PSA não é câncer específico. Elevações nos níveis séricos do antígeno podem ser observadas em casos de hiperplasia e prostatites. Apesar de serem observados valores de PSA superiores a 10 ng/ml em pacientes portadores de hiperplasia prostática, isso só ocorre com apenas 2% dos pacientes. Como o câncer pode estar presente em cerca de 55% dos pacientes que se apresentam com esses níveis de antígeno, mesmo quando o exame digital for normal e descartar-se a presença de prostatite aguda, a glândula deve ser biopsiada. Por outro lado, a incidência de tumor é desprezível quando os níveis séricos do PSA encontram-se abaixo de 2,5 ng/ml e praticamente ausentes quando inferiores a 1 ng/ml. Quando níveis do PSA estão situados entre 2,5 a 10 ng/ml, o risco da presença de neoplasia prostática é de 25%. Nesta situação, a realização rotineira de biópsia prostática é discutível, já que 75% dos pacientes não apresentarão tumor nos espécimes. Obs: A maior parte da produção do PSA se dá na própria glândula. Contudo, podemos observar este marcador nos seguintes locais: leite materno, citoplasma de células da mama, de câncer de mama, periuretrais no homem. Obs: A medição do PSA após uma prostatectomia serve como prognóstico importante no câncer de próstata. Pacientes que foram submetidos à retirada de próstata que apresentam PSA, significa a permanência da atividade da doença, isto é, a margem cirúrgica estava comprometida (o que significa que restou tumor nas áreas circunjacentes à ressecção). Admite-se que, pacientes submetidos à prostatectomia radical com PSA acima de 0,2 ou 0,4 ng/ml, apresentam doença recidivada que, neste caso, pode ser denominada como recidiva bioquímica da doença (de forma que nem o toque e nem o exame por imagem sejam capazes de detectar a doença). É necessário, neste caso, realizar radioterapia local ou fazer uso de hormonioterapia. Obs : Embora não seja o principal método de diagnóstico do câncer de próstata, o PSA é o melhor teste para um eventual diagnóstico precoce da lesão. O PSA diagnostica cerca de 10 a 20 vezes mais do que autopsias de câncer incidental. O exame de PSA apresenta baixa especificidade se o toque retal for normal, isto é, pode ser que o PSA esteja elevado mas a próstata, ao toque, encontra-se normal (como ocorre em outras patologias: infecção, prostatite, retenção urinária aguda, etc.). A medição do PSA promoveainda um número exagerado e equivocado (na maioria das vezes) de biópsias de próstata (39% têm resultados falso-negativos). Por esta razão, o toque retal é imprescindível para o diagnóstico. Em casos de PSA elevado com resultado de biópsia negativo, é necessário que o médico passe uma certa tranquilidade para o paciente, medicá-lo (desconfiando que se trata de um processo inflamatório), repetir o PSA depois de 45 a 60 dias e, se o PSA persistir em altas dosagens, a biópsia será indicada. São fatores que elevam o PSA: Manipulação da próstata (toque retal e atividade sexual 72h antes do exame); Prostatite bacteriana; Biópsia (4 semanas antes); Retenção urinária aguda; Hiperplasia benigna da próstata (20% de aumento significativo). Além do diagnóstico precoce, o PSA é utilizado, principalmente, para o follow-up de pacientes previamente submetidos à prostatectomia radical: níveis de PSA menor que 0.2ng/ml 93% dos sem recorrência; níveis de PSA maior que 0.4ng/ml 100% recidiva bioquímica. Nos casos de recidiva, o médico deve vasculhar a procura do local do restabelecimento do tumor, que geralmente, está no esqueleto. Hoje existe um consenso na literatura que, pacientes com mais de 0,4 ng/ml depois de 60 dias do pós-operatório, devem ser submetidos à radioterapia local. 8 Proliferação Celular Hanna Briza Obs: A complementação por radioterapia também deve acontecer quando o tumor adota as seguintes características fisiopatológicas: invasão capsular, margem cirúrgica comprometida, presença de vesícula seminal comprometida. São contraindicados à cirurgia pacientes cujo câncer de próstata alcançou a invasão capsular, de vesículas seminais ou linfonodos próximos. Métodos auxiliares para o diagnóstico do câncer de próstata 1. Ultrassonografia transretal 2. Tomografia computadorizada 3. RMN com bobina endorretal 4. RMN com espectroscopia de prótons 5. Cintilografia óssea: tem indicação apenas para PSA > 10 ng/ml. ESTADIAMENTO O estadiamento da doença é dado pelo sistema TNM, auxiliando o médico na escolha da conduta correta para abordar o doente. M1a – metástases para linfonodos não-regionais M1b – metástases para ossos M1c – metástases para outros sítios (fígado, pulmão, cérebro, etc.). De uma forma geral, lesões com estadiamento acima de T4 (de forma que o tumor já invadiu outras estruturas circunjacentes), a abordagem terapêutica deve se basear no tratamento hormonal ou radioterapia paliativa, no intuito apenas de melhorar a qualidade de vida do paciente. Já tumores confinados à próstata (até estadiamento T2), são tratados com finalidade curativa, de forma que a abordagem possa ser cirúrgica ou radioterápica (por radiação externa, implante permanente ou temporário), à critério do paciente. Atualmente, o doente com doença confinada à próstata pode optar por qual conduta adotar. Antigamente, como apenas a cirurgia era o tratamento padrão da doença, o paciente não dispunha desse leque de opções. Ambas as abordagens podem trazer a impotência como efeito adverso, de modo que a radioterapia traz sequelas em 30 a 40% dos pacientes, enquanto a cirurgia promove a impotência em um percentual bem maior, que pode ser revertida ou amenizada com o transplante do nervo sural do membro inferior com o auxílio de um microcirurgião. TRATAMENTO Os fatores mais importantes para a definição da conduta terapêutica no Ca de próstata são: a extensão da doença e as condições clínicas do paciente. A doença restrita à próstata é potencialmente curável com o tratamento agressivo, e os pacientes mais jovens e com menos comorbidades (maior expectativa de vida) são aqueles que efetivamente podem se beneficiar da cura, considerando o longo curso evolutivo da maioria dos Ca de próstata. 9 Proliferação Celular Hanna Briza O tratamento da lesão confinada à próstata pode ser cirúrgico (prostatectomia radical) ou radioterápico. Ambas podem trazer efeitos indesejados, como a impotência, sendo a cirurgia bem mais arriscada que o a radioterapia. Contudo, é direito do doente optar por uma das duas modalidades de tratamento, sendo o papel do médico essencial no esclarecimento dos riscos e benefícios de cada procedimento. Prostatectomia Com o melhor entendimento da anatomia pélvica, reduziram-se consideravelmente as taxas de complicações da cirurgia, colocando-a como terapêutica de eleição para o câncer localizado da próstata (isto é, até o estadio T2). A retirada cirúrgica radical da próstata tem o intuito curativo da doença, sob o risco de causar impotência (devido à lesão do feixe vasculonervoso responsável pelo processo de ereção) entre 22 a 77% dos pacientes (tem íntima relação com a idade e técnica preservadora de nervos) e incontinência urinária em 1 a 42% dos pacientes. A cirurgia radical consiste na remoção em bloco da próstata e vesículas seminais, acompanhada de linfadenectomia das cadeias ilíacas. É necessário, portanto, a avaliação da possibilidade de cura do câncer de próstata e dos eventuais efeitos indesejados para guiar o paciente neste tipo de tratamento. Na década de 80, na descoberta da função do feixe vasculonervoso no processo da ereção, buscou-se preservar este conjunto de estruturas ao máximo. Contudo, com o passar dos anos, observou-se uma grande incidência de recidiva da doença por presença de margem cirúrgica positiva (isto é, permanência da lesão nas margens do tecido circunjacente à próstata retirada, de modo que o PSA presente, mesmo no pós-operatório). A presença da margem cirúrgica positiva (ou comprometida) é causada, principalmente, por doença extracapsular não diagnosticada previamente, acometimento de vesícula seminal, tumores indiferenciados de próstata e linfonodos positivos. O comprometimento da margem cirúrgica do câncer de próstata acontece em 35% dos tumores no ápice, 40% dos tumores posterolaterais, 15% dos tumores anteriores e 10% dos tumores do colo vesical. Em caso de margem cirúrgica positiva, o doente deve ser submetido à radioterapia ou hormonioterapia. Obs.: A prostatectomia radical, que pode ser realizada por via retropúbica, perineal ou laparoscópica, possivelmente constitui a melhor alternativa terapêutica para o tratamento de pacientes com tumores estádio T2 ou inferior. A perda da capacidade erétil do pênis é dependente da extensão e localização do tumor, da qualidade das ereções no préoperatório e da idade do paciente. Radioterapia Preferível para os pacientes de alto risco cirúrgico, pode ser feita por meio de duas modalidades distintas, de forma isolada ou combinada: 1. Radioterapia com feixes externos; 2. Braquiterapia (implante de sementes radioativas no interstício prostático pela via transperineal) Os principais efeitos adversos da radioterapia são a proctopatia e a cistopatia induzida por radiação, ambos mais frequentes com a radioterapia externa. A radioterapia também pode ser feita como estratégia de “resgate” nos casos de margens cirúrgicas positivas ou recidiva bioquímica após a prostatectomia radical. A hormonioterapia neoadjuvante (antes da radioterapia) é controversa. Hormonioterapia Nos pacientes com doença localmente avançada e metastática, pode-se considerar a terapia hormonal, que foi associada à radioterapia e à prostectomia radical em pacientes com doença localmente avançada. 10 Proliferação Celular Hanna Briza A hormoniterapia é responsável reduzir o volume prostático (sendo utilizado antes da realização da braquiterapia em próstatas aumentadas, no intuito de ajustá-las a volume menores que 50g), reduzir os níveis de PSA e aumentar a apoptose celular. Contudo, não melhora o resultado cirúrgico, não reduz o estádio patológico mas melhora o resultado da radioterapia e, portanto, sempre que possível, deve ser associadaa ela. O mecanismo de ação da hormonioterapia é o seguinte: as terapias hormonais bloqueiam o estímulo androgênico que sustenta a maioria dos cânceres de próstata. Há várias fontes de androgênio circulante, a maior parte do qual é a testosterona, produzida pelos testículos. A testosterona produzida pelos testículos está sob controle do hormônio luteinizante (LHRH) produzido pelo hopotálamo. O LHRH tem uma meia-vida curta e é liberado na forma pulsátil. Esta liberação pulsátil é importante, pois os receptores do LHRH serão dessensibilizados se forem permanentemente ocupados. A hormonioterapia consiste, portanto, na indução da diminuição ou retirada de andrógenos. Este processo pode acontecer por meio de dois mecanismos: hormonioterapia cirúrgica ou hormonioterapia química (castração química). A castração química pode ser alcançada com o uso de estrógenos, como Dietilestrilbestrol (DES, 1 – 3mg/dia; droga de efeitos tromboembólicos cujo uso deve ser avaliado para pacientes cardiopatas). Obs.: A hormonioterapia apresenta alguns efeitos adversos como ginecomastia, osteoporose, perda de massa muscular, diminuição da libido, impotência, fogachos. A castração química apresenta os mesmos efeitos colaterais da castração cirúrgica, somando a estes os fenômenos tromboembólicos Quimioterapia A resposta à terapia de deprivação androgênica é previsível: num primeiro momento, a maioria dos pacientes evolui de forma satisfatória, atingindo uma fase de estabilidade (ausência de progressão clínica ou laboratorial da doença). No entanto, após períodos variáveis, todo paciente que sobrevive tempo o suficiente (não morrendo por outras causas) acaba vendo seu câncer de próstata progredir para a fase “castração-resistente”, isto é, progressão clínica e/ ou laboratorial a despeito da terapia de deprivação androgênica. Se, ao longo de 6 meses de hormonioterapia, os níveis de PSA não reduziram pela metade, deve-se parar com o tratamento, visto que o paciente é hormônio- resistente. É necessário associar, então, um hormônio de ação central e outro de ação periférica ou adotar a quimioterapia. Os quimioterápicos antineoplásicos de próstata são os Taxanes (Docetaxcel®); Mitoxantrona em associação à Prednisona; Estramustina em associação à Vinblastina; Estramustina em associação aos Taxanes. PROGNÓSTICO De modo geral, quanto mais avançada a doença, menor a chance de cura. Um fato curioso a respeito do Ca de próstata é que não há meios confiáveis de se predizer sua história natural e, portanto, existe variabilidade individual no prognóstico de pacientes dentro de um mesmo estágio. Isso quer dizer que alguns tumores estágio III serão curáveis com tratamentos dirigidos apenas à próstata, enquanto tumores estágio I já podem estar predestinados a evoluir com recorrência sistêmica, a despeito da terapia inicialmente indicada. Nos últimos anos, diversos modelos prognósticos foram desenvolvidos com o intuito de tentar melhorar o planejamento terapêutico tomando por base uma análise conjunta do estadiamento inicial, escore de Gleason e PSA basal, entre outras variáveis (ex.: nomogramas de Kattan, CAPRA). Até o momento, no entanto, nenhum desses nomogramas foi eleito como “de escolha” pela maioria dos autores. PREVENÇÃO Dada a magnitude de seu impacto na saúde pública (câncer visceral mais comum e segunda causa de morte oncológica no homem), o Ca de próstata representa um alvo prioritário para estratégias de prevenção primária. Sendo assim, ter uma alimentação saudável, não fumar e praticar atividade física colaboram para prevenção de diversas comorbidades como o CA de Próstata.
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