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1 Aula 1: Microbiota normal e estruturas bacterianas A microbiota se refere à população de microorganismos que vive na pele e nas mucosas humanas em condições normais e sadias. Se divide em: Microbiota residente: formada por organismos relativamente fixos, que são encontrados regularmente em determinadas áreas do corpo; quando essas populações são perturbadas, recompõem-se rapidamente; não interfere nas funções normais do corpo. Microbiota normal transitória: microorganismos não patogênicos ou potencialmente não patogênicos; permanecem na pele ou nas mucosas por horas, dias ou semanas- advindas do ambiente; não se fixam permanentemente - uma vez que colonizam a camada mais superficial da pele/mucosa e acabam, normalmente, sendo removidos pela higienização; não causam doenças em condições normais (contudo, se a microbiota for perturbada, esses microrganismos transitórios podem colonizar e se proliferar em larga escala, ocasionando uma doença); Patógenos estritos → Não sendo colonizadores normais, estão sempre associados a quadros patológicos. Patógenos oportunistas → Membros da microbiota normal que, deslocados para um sítio estéril do corpo, se proliferam e provocam infecções patológicas. A maior parte dos patógenos que acometem os humanos são oportunistas. Ex: A bactéria Staphylococcus epidermidis habita normalmente a pele humana, sendo importante para a saúde do órgão, pois ocupa o lugar de outro microrganismo possivelmente patogênico (exclusão competitiva). Contudo, quando essa bactéria é carregada para a circulação sanguínea por um acesso erroneamente realizado, ela pode provocar bacteremia (crescimento de bactérias no sangue, infecção sanguínea). A microbiota conhecida e divulgada pela literatura é somente uma pequena fração de toda o grupo de espécies que devem colonizar, normalmente, o organismo humano. Isso porque, até o momento, os estudos utilizados para descrever essas colônias de microorganismos utilizaram meios de cultura - e algumas das espécies bacterianas não podem ser cultivadas assim. Contudo, as pesquisas mais atuais da biologia molecular ultrapassam esse obstáculo ao fazer o estudo bacteriológico a partir da extração de DNA e do estudo de sequência. Com a finalidade de compor integralmente esse amplo leque de espécies microscópicas, em 2018 foi criado o Projeto Microbioma Humano. Vantagens da Microbiota: 1. Exclusão competitiva → Ocupa o nicho ecológico que determinados microorganismos patológicos poderiam vir a habitar; 2. Liberam fatores com atividade antimicrobiana (bacteriocinas) em função da competição entre espécies (os lactobacilos acidófilos do canal vaginal liberam peróxido de hidrogênio, por exemplo); 3. Auxiliam na manutenção do pH (lactobacilos presentes em predominância na vagina mantêm seu pH pela conversão de glicose em ácido láctico, por exemplo - evitando, assim, a instalação de outros microrganismos); 4. Auxilia na produção e na absorção de nutrientes (vitaminas K, B12, ácido fólico) 5. Estimula a resposta imune Assim, verifica-se que microbiota não é essencial à vida, mas desempenha muitos fatores essenciais para a qualidade desta. 2 Características Células Procariontes Células Eucariontes Localização cromossômica Material nuclear se dispõe disperso no citoplasma (nucleoide) Material nuclear encerrado no interior do núcleo, que é revestido por carioteca Organelas Ausentes (há somente ribossomos) Presentes Parede Celular Geralmente presente, composta de peptideoglicanos Presente em alguns tipos e ausente em outros, apresentando nesses casos composição variada Endósporos Formado em algumas espécies Ausente Cromossomos Circular, normalmente 1 por célula Linear, normalmente mais que 1 por célula Ribossomos 70S 80S Morfologia → Cocos, bacilos, vibriões, espirilos e espiroquetas Arranjo → Diplococos, estreptococos, estafilococos, tétrades, sarcina; bacilo isolado, diplobacilos, estreptobacilos, cocobacilos. A estrutura da célula bacteriana: 1. Parede Celular: é responsável pela manutenção da morfologia da célula bacteriana, tendo aspecto rígido em razão da sua composição por peptideoglicanos (açúcares N-acetilglicosamina e N-acetilmurâmico que se ligam por pontes peptídicas). a. Bactérias gram-positivas: PC formada por múltiplas camadas de peptideoglicanos (que compõem a maior parte de sua massa seca) e por ácidos teicóicos. Apesar de se disporem ao longo da PC, os ácidos teicóico e lipoteicóico se ligam intimamente à fração lipídica da membrana plasmática, tendo funções relacionadas à essa bicamada lipídica. Assim, os supracitados são responsáveis por: promover adesão da bactéria às células do hospedeiro, regular a entrada e a saída de cátions, moderar a ação das autolisinas para a divisão celular (essas enzimas atuam sobre os peptideoglicanos e rompem a estrutura da parede em pontos específicos, de modo a permitir a inserção de novas subunidades), constituir sítios receptores para bacteriófagos. Pela coloração de Gram, são coradas pelo cristal-violeta (púrpura); b. Bactérias gram-negativas: PC mais complexa → apresenta uma ou poucas camadas de peptideoglicanos (correspondendo somente a cerca de 10% do seu peso) e membrana externa (de dupla camada lipídica, presas a essa membrana estão cadeias de lipopolissacarídeos LPSs, cuja porção Lipídio-A é uma endotoxina capaz de promover respostas fisiológicas no organismo hospedeiro); devido à menor concentração de peptideoglicanos, as paredes das bactérias Gram-negativas são mais suscetíveis que as das bactérias Gram-positivas; não possuem ácidos teicóicos. Pela coloração de Gram, adquirem tintura de rosa pelo corante safranina (contracorante). 3 c. Micobactérias: apresentam um componente lipídico bastante significativo (60% do peso seco da PC), além de Ácido Micólico; exemplo: Mycobacterium tuberculosis 2. Membrana citoplasmática: barreira de permeabilidade seletiva para a entrada e para a saída de várias moléculas. 3. Cápsula / Camada Limosa / Glicocálice: substâncias limosas/viscosas na superfície celular, cuja função é impedir o reconhecimento da bactéria pelo sistema imune . Aula 2: Fatores de Virulência Os microrganismos, quando instalados em um tecido, podem colonizá-lo (habitação sem invasão) ou iniciar um processo infeccioso (no qual o micróbio não só adere às células do tecido alvo, como se multiplica e o invade). Nesse segundo cenário, dependendo da patogenicidade do agente, a infecção pode, ou não, causar doença - que se caracteriza pelo comprometimento da funcionalidade normal da célula/do tecido infectado. Esse potencial do patógeno de causar doença está intimamente relacionado à sua virulência e, subsequentemente, aos fatores de virulência que o microrganismo apresenta. Entrada (1) → Adesão às células do tecido-alvo (2) (produção dos FV) → Multiplicação (3) → Invasão (4) (produção FEV) 1. Portas de entrada: membranas mucosas, pele, via parenteral (intramuscular, intravenosa, subcutânea ou hipodérmica, intradérmica, intra-arterial, intracardiaca, intraperitoneal e intratecal); 2. Se dá pela interação entre adesinas bacterianas (pili, flagelo, fímbrias, cápsula e a camada limosa) e os receptores celulares correspondentes; 3. Depende de condições adequadas de temperatura, de pH, de concentração de gases; da disponibilidade de nutrientes a. SIDERÓFOROS → Molécula produzida por algumas bactérias, capaz de captar Ferro. 4. O processo de invasão tecidual pode ser de foco único ou de infecção sistêmica, dependendo da capacidade que o patógeno tem de crescer em determinados tecidos e de inibir as atividades do hospedeiro; se relaciona à eficiência do sistema imune para defesa da região invadida, à carga bacteriana no tecido e, por fim, ao grau de virulência do agente (menos células, maior morte). 4 Os fatores de virulência podem ser componentes estruturais (como as já descritas adesinas) ou produtos bacterianos (como as enzimas e as toxinas, que são fatores exclusivos de virulência, uma vez que só servem ao propósito de invasão do tecido). Enzimas: ● Coagulases:coagulam o fibrinogênio do sangue, transformando-o em fibrina. Assim, formando coágulos na região de infecção, essas enzimas dificultam a chegada de fatores fagocíticos do sistema imune para controlar o processo infeccioso. ○ Nas infecções por Staphylococcus aureus, por exemplo, o exame clínico diferencial se dá pela averiguação da presença dessas coagulases, uma vez que as outras bactérias do mesmo gênero não as produzem; ● Quinases: Degradam a fibrina e, dissolvendo os coágulos, promovem a disseminação da infecção; ● Colagenases e Hialuronidases: hidrolisam o colágeno do tecido conjuntivo e o ácido hialurônico, respectivamente, de modo a promover a disseminação infecciosa; Toxinas: ● Endotoxinas: presentes na membrana externa das bactérias gram-negativas, as porções Lipídio-A dos LPSs são liberadas no momento em que a célula sofre lise (ruptura); provocam o mesmo grupo de sintomas, independentemente da espécie de bactéria - sendo a febre a apresentação clínica decorrente mais importante e universal. Logicamente, por apresentarem composição lipídica, não são solúveis nos fluidos do corpo. ○ O mecanismo da febre enquanto sintoma → As endotoxinas Lip-A estimulam a liberação de citocinas pelos leucócitos e, dessa maneira, induzem a produção de prostaglandinas pelo hipotálamo - levando ao aumento da temperatura corporal. Ademais, provocam o aumento da permeabilidade vascular e, consequentemente, a hipotensão sanguínea - o que pode resultar em choque. Todavia, observou-se de uma maneira geral que a toxicidade das endotoxinas é significativamente menor que a das exotoxinas. ● Exotoxinas: a maior parte dessas proteínas é produzida e secretada por bactérias gram-positivas; são solúveis, podendo se deslocar para outros sítios do organismo por meio dos fluidos corporais (causando reações em locais distantes do foco da infecção, por exemplo). Citolíticas: Lisam as células. Exemplo delas são as hemolisinas, capazes de lisar hemácias, leucócitos e células epiteliais. Alfa-toxina: forma um poro na membrana citoplasmática das células do hospedeiro que permite o extravasamento de todo o conteúdo intracelular - levando, por fim, à lise. 5 Tipo AB: recebem esse nome por possuírem duas subunidades, A e B. Geralmente, a subunidade B se liga a um receptor da célula do hospedeiro e, assim, permite a introdução da subunidade A - parte ativa da toxina. Exemplos: toxinas diftérica (inibe a síntese de proteínas de diversas células do organismo, levando à morte celular em vários sistemas), botulínica (neurotoxina, é causadora do botulismo; inibe a liberação de acetilcolina e, assim, a musculatura se mantém relaxada; utilizada em procedimentos estéticos), tetânica (essa neurotoxina bloqueia a liberação do NT inibitório da ACh, a Glicina, levando à liberação descontrolada de ACh e a consequente contração descoordenada dos músculos) e colérica (o aumento da produção de AMPc decorrente promove a secreção de íons para o lúmen intestinal, determinando perda de água para a luz dos órgãos). Superantígenos: ao induzir uma resposta inflamatória exacerbada por parte do organismo hospedeiro, essas toxinas provocam febre e danos teciduais. ● Genes associados à patogenicidade são encontrados, comumente, em plasmídeos e em bacteriófagos (vírus que infectam as bactérias). ● A exportação das toxinas produzidas pelas bactérias é feita, através da estrutura da parede celular, por sistemas de secreção bacterianos. Estes são formados por proteínas que, atuando como canais, permitem que os substratos sejam secretados para o meio externo. 6 Aula 3: Classificação das Bactérias ● Tempo de geração: A bactéria Escherichia coli tem um tempo de geração (período necessário para que se dê todo o processo de replicação celular) médio de 20 min. ● Fatores para o crescimento bacteriano: químicos (nutrientes) e físicos (temperatura, pH, disponibilidade de gases e condições específicas de pressão osmótica, por exemplo) ● Meios de cultivo: Em geral, os meios de cultivo dispõem de reservas de água, fontes de Carbono e de Nitrogênio, sais minerais (fósforo, ferro e enxofre) e fatores de crescimento. ○ Enriquecidos: possuem uma grande variedade de nutrientes, como carbono, nitrogênio, sais inorgânicos e vitaminas; facilitando o crescimento do maior número de microrganismos possível. Exemplo: ágar sangue ○ Seletivos: incorpora-se à composição destes meios agentes que ou favorecem, ou inibem o crescimento de determinados microrganismos. Exemplo disso é o meio MacConkey, que inibe o crescimento de bactérias gram-positivas e indica o pH a partir da coloração rosácea de colônios acidófilas (para as bactérias que metabolizam a lactose em seu crescimento). 1. Aspectos macroscópicos: cor, tamanho, cheiro, forma, elevação e margem; pode-se perceber, ainda, se há o processo de hemólise, que é a lise das hemácias do meio de cultura. Na imagem à esquerda, a presença de halos mais claros em torno das colônias indica a ocorrência do processo hemolítico; enquanto que, na imagem à direita, isso não acontece. 7 Propriedades metabólicas: utilização da lactose; formação de coágulo (para as bactérias que produzem coagulase) 2. Características microscópicas (esfregaço → coloração de Gram ou ácido-álcool residente): forma celular, arranjo 3. Antigenicidade: Algumas bactérias possuem antígenos específicos que podem, pois, ser identificados a partir da utilização de anticorpos correspondentes (sorotipagem). 4. Diferenciação genética (à nível genômico): efetuada a partir do uso de ferramentas da biologia molecular (ex: hibridização de DNA, amplificação de fragmentos gênicos por PCR, sequenciamento de DNA). É importante saber que, para esses procedimentos, não é preciso fazer o crescimento das bactérias em meios de cultura. i. Assim, a partir da coleta do material biológico, é possível a rápida detecção e identificação dos organismos (principalmente aqueles que tem um tempo de geração muito longo, como as micobactérias). ii. Ademais, é utilizada para as questões de epidemiologia molecular, que busca rastrear: a transmissão de bactérias entre dois indivíduos; a taxa mutacional dos microrganismos; a iminência de surtos de infecção por um determinado agente, etc. 5. Diferenciação Proteômica: necessita de bactérias em crescimento; o espectro de proteínas ribossomais das bactérias presentes na amostra é gerado em poucos minutos. Aula 4: Mecanismos de Transferência Gênica ● Nas bactérias, o genoma está contido nos cromossomos (molécula de DNA única, circular e de dupla-fita que ocupa a região do nucleóide) e nos plasmídeos (não fundamentais à sobrevivência da bactéria, oferecem vantagens - pois codificam genes de resistência a determinados antibacterianos, sequências associadas à produção de enzimas e de fatores de virulência, etc.; grande parte de sua composição codifica o gene necessário para a transferência de DNA); ● O processo de replicação celular bacteriana se dá por bipartição semiconservativa, gerando duas células-filhas clones a partir de uma célula-mãe; os dois pontos nos quais a replicação ocorre são chamados de forquilhas de replicação; ● Código genético degenerado → 64 códons e 20 AA; 8 ● Os processos de transcrição e de tradução são mais rápidos nas células bacterianas, haja em vista a facilitação do transporte de informação em razão da ausência de carioteca; essas duas etapas são, portanto, acopladas; ● O processo de evolução biológica resulta de alterações do material genético. As variações genéticas bacterianas ocorrem em decorrência de dois processos: recombinação e mutação; e são fatores fundamentais para que esses organismos se tornem resistentes às medicações antibióticas. ○ Mutação: alterações na sequência de nucleotídeos de um gene; em geral, ocorrem espontaneamente; podem modificar o produto funcional final (dependendo do tipo de mutação: nonsense, silenciosa ou de sentido trocado conservativa/não conservativa) ○ Recombinação: processos de troca física de fragmentos de DNA pelos quais as células bacterianas adquirem novascombinações gênicas; provoca alterações mais significativas que as mutações; é um mecanismo de transmissão gênica horizontal pelo qual se formam células recombinantes. ■ Transformação → Absorção de fragmentos de DNA livre advindos de uma célula lisada (devendo as células receptoras desse material estar em estado de competência, ou seja, um momento de modificação da parece celular, um estado fisiológico transitório que permite a passagem de DNA pela membrana); esse processo é explorado para a produção de insulina; ■ Conjugação → Envolve o contato entre bactérias, que tanto podem ser gram-negativas (intercâmbio de plasmídeos replicados por meio do pili sexual/de conjugação), quanto células gram-positivas (a transferência se dá através de um contato muito próximo entre as duas células); a capacidade conjugativa envolve, portanto, uma célula doadora e uma receptora ■ Transdução → A transferência de fragmentos de DNA entre as células bacterianas é feita por um bacteriófago: ● Durante o ciclo lítico, fragmentos de DNA bacteriano são empacotados em capsídeos do fago; assim, em uma infecção subsequente, o DNA bacteriano se insere dentro do novo cromossomo hospedeiro por meio de recombinação (no ciclo lisogênico). Aula 5: Introdução aos Antimicrobianos - Classificação e mecanismos de ação ● Toxicidade seletiva na quimioterapia: dano ou eliminação do patógeno sem que se afete o organismo hospedeiro; ocorre ou pela ligação do fármaco a um receptor específico do patógeno, ou pela inibição de eventos bioquímicos essenciais para a vida desse MO, mas não para o hospedeiro. ● O que são antimicrobianos? São compostos químicos capazes de matar ou de inibir o crescimento de microrganismos. Dividem-se em antibacterianos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários (helmintos e protozoários). ○ Antibióticos: compostos químicos produzidos por microrganismos (produção natural) que matam ou inibem o crescimento de outros microrganismos; o termo ‘antibiótico’ deriva do mecanismo biológico de antibiose que Fleming observou no estudo de culturas de Staphylococcus e do fungo Penicillium notatum. 9 ○ Antibacterianos: compostos químicos produzidos sinteticamente ou por microrganismos que matam ou inibem o crescimento bacteriano; ● Classificação dos fármacos antimicrobianos ○ Espectro de ação: ■ Espectro restrito: a ação do fármaco se restringe a um único, ou então a poucos tipos de microrganismos; a penicilina, por exemplo, age sumariamente sobre as bactérias gram-positivas. ■ Espectro amplo: o medicamento em questão age sobre um grupo amplo de microrganismos; a tetraciclina, por exemplo, serve de antimicrobiano para uma parte das bactérias gram-negativas, para as gram-positivas e para as bactérias parasitas obrigatórias (clamídias e riquétsias). No tratamento de doenças cujo patógeno ainda é desconhecido, por vezes a conduta terapêutica adequada é a administração, justamente, de um antimicrobiano de espectro amplo. Isso porque a probabilidade do fármaco de agir sobre o agente patogênico é maior (há de se ter em mente, contudo, que esse tratamento pode incorrer na disbiose de uma considerável porção da microbiota normal). ○ Efeito na célula-alvo ■ Bactericida, fungicida e viricida: agentes de efeito ‘cida’ matam os microrganismos a partir da modificação de suas estruturas celulares. ■ Bacteriostáticos, fungistáticos e viriostáticos: agentes estáticos impedem o crescimento/a multiplicação dos microrganismos no hospedeiro. ○ Mecanismo de ação e estrutura molecular ■ Síntese de parede celular: Relembrando: de um modo geral, tem-se que a parede celular bacteriana (estrutura rígida responsável por conferir forma à unidade celular) é formada por 10 peptideoglicanos. Contudo, enquanto as células gram-positivas possuem múltiplas camadas destes açúcares N-acetilglicosamina e N-acetilmurâmico cruzados por pontes tetrapeptídicas de ligação enzimática; as bactérias gram-negativas são formadas por uma única (ou poucas) camadas de peptideoglicanos e por uma membrana secundária externa à essa parede celular que lhe confere uma maior complexidade (dupla camada fosfolipídica e cadeia externa de lipopolissacarídeos). ● Betalactâmicos Estes fármacos possuem em sua estrutura o anel β-lactama que, dependendo do tipo do medicamento, estará ligado a um segundo anel (tipo penicilina, cefalosporinas, carbapenêmicos e monobactâmicos). Agem pela inibição das enzimas transpeptidases PBP (a quem se ligam), que catalisam a ligação cruzada entre os tetrapeptídeos (no sítio específico de D-Alanina). Assim, mimetizando o local de ligação entre os tetrapeptídeos, inibem a formação das cadeias. A ausência de toxicidade dessa classe de medicamentos às células humanas se deve ao fato de que as células eucarióticas não possuem parede celular. Contudo, é necessário observar que a efetividade do medicamento será diferente para bactérias gram-positivas e gram-negativas, em função da dessemelhança estrutural das paredes celulares. Obs: A partir da descoberta de que as bactérias do gênero Staphylococcus eram capazes de clivar o anel β-lactama por ação da enzima penicilinase/β-lactamase (codificada por um gene plasmidial), adotou-se a utilização de penicilinas semissintéticas. Com isso, buscava-se a resistência do fármaco à ação da enzima; exemplos: oxacilina, ampicilina, amoxicilina, meticilina. Nesse contexto, é importante saber que as bactérias Staphylococcus aureus desenvolveram resistência à meticilina e, de um modo geral, à toda a classe dos β-lactâmicos (MRSA → Methicillin-resistant Staphylococcus aureus). Isso se deu a partir da expressão do gene mecA que, produzindo a proteína de ação enzimática PBP2a (insensível aos medicamentos descritos), encontrou um mecanismo secundário de ligação dos tetrapeptídeos e de manutenção, portanto, da estrutura da parede celular. ● Glicopeptídeos → Vancomicina A vancomicina, assim como os betalactâmicos, inibe a síntese de parede celular. Contudo, isso não se dá pela ligação com a enzima PBP, mas sim pela junção do glicopeptídeo à porção terminal dos tetrapeptídeos - o resíduo de D-Ala-D-Ala. Assim, o fármaco inibe a ligação cruzada entre os peptideoglicanos. 11 Esse medicamento não tem atividade antimicrobiana para bactérias Gram-negativas, uma vez que a sua molécula é bastante grande e que, dessa maneira, não é capaz de permear a membrana externa das células bacterianas em questão. É utilizada intensamente para o tratamento de MRSA (Methyl-resistant Staphylococcus aureus) e, desse grupo, desenvolveram resistência também à vancomicina os enterococos (VRAs). ● Antimicobacterianos: fármacos atuantes no ácido micólico, componente expressivo da PC de micobactérias. ■ Estrutura e função da membrana citoplasmática ● Polimixina: peptídeo cíclico de função detergente, destrói a bicamada lipídica; atua seletivamente no componente fosfatidiletanolamina, que é expresso em grande quantidade nas membranas bacterianas - havendo, contudo, registros amplos de nefrotoxicidade, neurotoxicidade e distribuição deficiente nos tecidos, principalmente quando utilizado de forma sistêmica. Ex: Polimixina E, utilizada para tratamento de bactérias multirresistentes. ● Daptomicina: de composição lipopeptídica, se liga à membrana plasmática e, a partir do extravasamento do conteúdo intracelular de potássio, leva ao rompimento da membrana. Utilizada para o tratamento de bactérias Gram-positivas, especialmente para as que demonstram resistências aos betalactâmicos e à vancomicina. ■ Síntese de ácidos nucleicos ● Rifamicinas: Inibe a transcrição do DNA a partir da ação da inibição da enzima RNA-polimerase. ● Quinolonas e fluoroquinolonas: são utilizadas especialmente para o tratamento de infecções do trato urinário; inviabilizam o processo de replicação do DNA como consequência da inibição da topoisomerase (DNA girase), enzima responsável pelo desenovelamento do DNA. ■ Síntese protéica (inibidores de 30S): a majoritária parte desse grupo de fármacos age por ligação com as porções ribossomais 50S e 30S, que inibea formação das ligações peptídicas; ● Cloranfenicol → com uma estrutura molecular pequena (ao se difundir para áreas que são tipicamente inacessíveis para a grande 12 maioria dos medicamentos) provoca inúmeros efeitos adversos, como a supressão da atividade da medula óssea. ● Aminoglicosídeos → de uso controlado, pois apresenta ototoxicidade e nefrotoxicidade; utilizados amplamente no tratamento por infecção de enterococos; ● Tetraciclinas → fármacos bacteriostáticos de amplo espectro; essas moléculas são capazes de quelar cálcio, sendo contraindicado o seu uso para crianças e mulheres grávidas (dado que a substância pode se acumular em dentes e ossos em formação); ● Macrolídeos ● Estreptograminas → utilizados para tratamento de infecções causadas por bactérias gram-positivas resistentes à vancomicina; ● Oxazolidinonas Metabolismo Ácido Fólico (fármacos antimetabolitos): Nas bactérias, o PABA (ácido p-aminobenzóico) é substrato para a produção do Ácido Fólico que, por sua vez, é substrato precursor de proteínas, de DNA e de RNA. O ácido diidrofólico é intermediário da reação de conversão do PABA em Ácido Fólico. Nesse contexto, faz-se o uso de dois medicamentos de farmacodinâmicas sinérgicas, o Sulfametoxazol e o Trimetoprim. A ação de ambos se dá pelo fato de que, estrutural e quimicamente, suas moléculas se assemelham muito ao PABA (no caso do sulfametoxazol) e ao ácido diidrofólico (no caso do trimetoprim). Por esse mecanismo, inibe-se o funcionamento da enzima de conversão PABA→Ácido Fólico Antibiograma: Disco difusão / Método de Kirby e Bauer (avaliação qualitativa com base em parâmetros do BrCAST); método de diluição, E-test Aula 6: Resistência bacteriana Reflete o princípio evolutivo de que os organismos se adaptam a modificações no ambiente ● Grupo ESKAPE - espécies comumente resistentes aos antimicrobianos, são responsáveis por cerca de 10 milhões de mortes por ano → Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter spp. ● Resistência intrínseca: capacidade da bactéria de resistir à ação de um agente antibacteriano como resultado de características estruturais ou funcionais inerentes. Exemplo: a vancomicina (glicopeptídeo que inibe a síntese de parede celular a partir de ligação à porção D-Ala-D-Ala dos tetrapeptídeos) não é eficaz para o tratamento de infecções causadas por bactérias gram-negativas, pois, sendo a molécula do fármaco muito grande, essa não é capaz de atravessar a membrana externa dos MO em questão. ● Resistência adquirida: a bactéria sofre uma mutação ou recombinação (transdução, conjugação ou transformação - mecanismos de transferência horizontal de genes), havendo a subsequente seleção de cepa pelos antibacterianos. 13 ● Microorganismos resistentes a um determinado fármaco podem, também, exibir resistência a outros que compartilham o mecanismo de ação ou que são estreitamente relacionados do ponto de vista químico (quando o núcleo químico dos fármacos é muito semelhante). Mecanismos de Resistência ao Antibacteriano 1. Prevenção de acesso ao alvo bacteriano a. Redução na permeabilidade - Porinas: para manter a normalidade de metabolismo, as células bacterianas permitem a entrada de nutrientes (e também de moléculas do agente antibacteriano) por através de proteínas purinas, que compõem a estrutura da membrana externa. Desse modo, o mecanismo de resistência se dá pela redução na expressão dessas proteínas. b. Aumento de bombas de efluxo: esses sistemas de bombeamento transportam ativamente muitos antibacterianos para fora da célula. Assim, a bactéria pode desenvolver superexpressão dessas proteínas (inclusive das que expulsam múltiplos fármacos - MDR). 2. Modificação do alvo bacteriano: são alterações na estrutura do alvo que impedem a ligação do antibacteriano, mas que ainda permitem a esse alvo a execução da sua função normal. Exemplo disso é a resistência das bactérias Staphylococcus aureus aos medicamentos Betalactâmicos (destaque para a meticilina), uma vez que expressam uma proteína acessória PBP2a (gene mecA) capaz de fazer a ligação entre tetrapeptídeos (transpeptidação) e de, assim, compor a parede celular normalmente (mesmo com a inibição de função das proteínas enzimáticas PBP pelos medicamentos). Classificam-se, pois, como MRSA (Methyl-resistant Staphylococcus aureus). Nesses casos, o principal antibacteriano utilizado para o tratamento da S. aureus é a vancomicina (glicopeptídeo de inibição da síntese de PC). Contudo, há também bactérias resistentes (ou de resistência intermediária para as bactérias que apresentam espessamento da parede celular) a esse outro medicamento por modificação de alvo - uma vez que trocam a terminação D-Ala-D-Ala por D-Ala-D-Lac. 3. Modificação do antibacteriano a. Degradação por enzimas bacterianas: As bactérias do gênero Staphylococcus são capazes de clivar o anel β-lactama por ação da enzima penicilinase/β-lactamase (codificada por genes cromossomais ou transferíveis, localizados em plasmídeos). 14 b. Inativação por alterações químicas: adição de grupos químicos a sítios vulneráveis da molécula do medicamento evitam que o antibacteriano se ligue à proteína-alvo. Aula 7: Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário ● De maneira geral, o sistema urinário é composto por 2 rins, 2 ureteres, 1 bexiga e a uretra, sendo responsável pela produção de resíduos (isto é, da urina) a partir do que é removido do sangue. ● Nas mulheres, a uretra conduz somente urina ao exterior do corpo; ao passo que, nos homens, este canal é utilizado tanto para a excreção de urina, quanto para a de fluidos seminais. ● Válvulas fisiológicas na união dos ureteres com a bexiga impedem o fluxo reverso da urina para os rins - ajudando a defendê-los de infecções que potencialmente acometam o trato urinário inferior. ● A urina tem propriedades antimicrobianas (em função da presença de ureia) e, assim, o fluxo urinário tende a remover microrganismos potencialmente infecciosos durante a excreção. ● A urina produzida pelos rins é estéril . Todavia, em relação às mulheres , quando se faz a coleta e o exame desse subproduto líquido do corpo, deve-se esperar encontrar o que chamamos de microbiota normal urinária feminina. ○ Os lactobacilos são os MO residentes predominantes da vagina. Estes são responsáveis pelo pH ácido do canal (3.8-4.5; uma vez que convertem glicose - advinda do glicogênio - em ácido lático) e pela inibição do crescimento de outros microrganismos potencialmente infecciosos (a partir da produção de peróxido de hidrogênio, que estabelece uma relação de exclusão competitiva) A sua presença no órgão está diretamente relacionada com a liberação de estrogênio, pois o aumento dos níveis do hormônio estimula a produção de glicogênio pelas células do epitélio vaginal e, dessa maneira, essas bactérias têm mais alimento para metabolizar (glicogênio → glicose → ácido lático). Por essa razão, em situações de desequilíbrio hormonal, como a gravidez e a menopausa, há um aumento de infecções pela baixa do estrogênio e pela consequente perturbação da microbiota vaginal normal. Além dos lactobacilos, podem estar presentes na vagina Streptococcus, bactérias anaeróbias,bactérias gram-negativas e, por vezes, Candida albicans (10%-25% as portam de maneira assintomática). A uretra masculina, em contraste, é normalmente estéril - exceto por contaminações próximas à abertura externa. ● Diferenças anatômicas entre a uretra feminina e a masculina determinam chances de infecção diferentes. Enquanto o canal uretral feminino é curto e reto, facilitando a entrada de patógenos e a invasão da bexiga por estes MO (a doença apresenta maior incidência entre mulheres sexualmente ativas); a uretra masculina é longa e curva. Ademais, os homens contam com um mecanismo de defesa adicional: a produção de secreções prostáticas com propriedades antibacterianas. Infecções do trato urinário (ITU) 15 ● Endógenas: são provocadas pela invasão dos tecidos do trato por microrganismosque compõem a microbiota normal do organismo; estes se originam no trato gastrointestinal e colonizam a região periuretral, antes de subir para a bexiga. ● Incluem infecções de próstata e do epidídimo; ● Correspondem a 40% das infecções adquiridas em ambiente hospitalar; quando presentes, 50% das ITUs contribuem para o aumento da mortalidade e do tempo de hospitalização; ● Sintomas comuns: febre, disúria (desconforto ao urinar), dor abdominal e cicatrizes permanentes nos rins ● Se dividem em CA-UTIs (infecção do trato urinário adquirida em comunidade) e N-UTIs (infecção do trato urinário adquirida em ambiente hospitalar; classificadas quando o paciente apresenta sintomas em até 48h após internação hospitalar); ● As infecções, de maneira geral, dependem do estado de saúde do hospedeiro. Quando hígido, o paciente apresenta níveis adequados de hidratação, fluxo urinário normal e integridade anatômica e funcional das vias urinárias (fatores essenciais devido às propriedades antibacterianas da urina e da mucosa do TU e ao efeito mecânico de limpeza que advém da micção), mecanismo vesical antibacteriano e, por fim, plenitude de atuação dos fagócitos e do sistema imunológico do corpo. Em contrário a estes, há os fatores predisponentes à infecção: debilitação do sistema imunológico, vida sexualmente ativa feminina, fatores de virulência do agente infeccioso e dinâmica urinária alterada, por exemplo. ● Escherichia coli: é o agente infeccioso mais frequente para o desenvolvimento de ITU tanto no Brasil, quanto no mundo. CASO CLÍNICO 1: Mulher, 30 anos. Relata aumento na frequência da micção (polaciúria), disúria (dor e ardência no ato) e dores abdominais. Sem febre. Urina apresenta odor forte. Vida sexual ativa, utiliza anticoncepcional. Sensibilidade suprapúbica. A análise dos exames solicitados permitiu observar que a paciente apresentava: 16 Piúria (presença de leucócitos degenerados ou de pus na urina) → >50 leucócitos/campo (referência de normalidade = <10 leucócitos/campo); Bacteriúria → 3+ Nitrito + → Há metabolização de nitrato em nitrito Contagens de >10⁵ Unidades Formadoras de Colônia (UFC) são altamente específicas para indicar que a paciente possui uma ITU Colônias rosa em meio cromogênico sugerem infecção por E. coli Teste para Leucócito-esterase* (LE) positivo indica infecção ativa | *enzima produzida por neutrófilos DIAGNÓSTICO: Cistite → Infecção da bexiga; mais comum em mulheres (uretra reta, de menor comprimento e mais próxima do ânus e das bactérias intestinais concomitantes); taxa de infecção em mulheres é 8x maior que em homens; sintomas: disúria, polaciúria (aumento da frequência urinária), piúria (leucócitos aumentados ou presença de pus na urina) e dor suprapúbica. CASO CLÍNICO 2: Mulher, 19 anos. Interna com histórico de ITU há 4 meses (tratada com ampicilina, sem complicações). Há 5 dias, sentiu náuseas, mas não vomitou; um dia depois, apresentou dor no flanco direito, febre, calafrios e polaciúria. Urina sem odor. T=38.8°C e sensibilidade no ângulo costovertebral direito. Urinálise (EQU): >50 leucócitos/campo; >10 eritrócitos/campo; bactérias 3+ Urocultura: positiva, >10⁵ unidades formadoras de colônia (referência de normalidade = <10³ UFCs) Piúria (presença de leucócitos degenerados ou pus na urina) → >50 leucócitos/campo (referência de normalidade = <10 leucócitos/campo) Bacteriúria → 3+ Hematúria → 10 eritrócitos/campo (referência de normalidade = 0 eritrócitos/campo) Teste para Leucócito-esterase* (LE) positivo indica infecção ativa | *enzima produzida por neutrófilos DIAGNÓSTICO: Pielonefrite → infecção de um ou de ambos os rins; cistites não adequadamente tratadas podem evoluir, em 25% dos casos, para pielonefrites; sua forma crônica pode formar cicatrizes nos rins, prejudicando seu funcionamento; mais frequente no sexo feminino; sintomas = febre, calafrios, dor nos flancos ou nas costas, náuseas e vômitos polaciúria. CASO CLÍNICO 3: Mulher, 65 anos, diabética e com histórico de sucessivas ITUs. Reclama: dores lombares, febre e retenção urinária. Inicialmente, recebeu o diagnóstico de cólica renal (cálculo). Exames demonstram piúria (leucócitos e pus na urina), bacteriúria e hematúria. Urocultura revela a presença de duas bactérias: S. aureus e Pseudomonas aeruginosa. O tratamento com cefalosporinas não funcionou, levando à piora do quadro da paciente - que precisou ser internada. Observando-se piora no estado de saúde após 24h de internação, um novo exame qualitativo de urina (EQU) sugeriu comprometimento renal. Adaptou-se o tratamento para o uso de carbapenêmicos e vancomicina. A paciente foi transferida para a UTI, precisando de hemodiálise e de ventilação mecânica. Após 3 dias internada, foi a óbito. 17 Exame físico: sensibilidade lombar, T>38°C, retenção urinária Urinálise: >50 leucócitos/campo (piúria); bactérias (3+) (bacteriúria); >10 eritrócitos/campo (hematúria); cilindros céreos1 Urocultura: positiva para S. aureus e P. aeruginosa; ambos com >10⁵ unidades formadoras de colônia UFC/mL Hemocultura: S. aureus e P. aeruginosa multirresistentes PCT: >10ng/mL Os exames reforçam o parecer clínico de ITU e de bacteremia, possivelmente pelo fato de que, sendo as bactérias multirresistentes, o tratamento não foi eficaz. A perda de função renal provocou a necessidade de hemodiálise. A perda de função do aparelho respiratório levou a ventilação mecânica. A PCT+ (procalcitonina, proteína CRP de fase aguda) indica sepse. DIAGNÓSTICO: Falência múltiplas dos órgãos por Urosepse → disfunção causada por uma resposta imune descompensada do hospedeiro à uma ITU; alta morbidade e mortalidade. CASO CLÍNICO 4: Homem, 70 anos. Apresenta: febre, calafrios, disúria, polaciúria e dor na área perineal. Exame físico: inchaço e sensibilidade na próstata; T=38.5°C Urinálise: <5 leucócitos/campo; <5 eritrócitos/campo; bactérias (3+) Urocultura: positiva, Klebsiella pneumoniae com >10⁵ unidades formadoras de colônia UFC/mL Os sinais e sintomas do paciente (febre, calafrios, dor na região perineal, disúria e polaciúria) indicam ITU, mesmo que não haja piúria. DIAGNÓSTICO: Prostatite → ITU baixo. Aula Prática - Uroculturas: Procedimento e análise O exame de urocultura é frequentemente solicitado no setor de bacteriologia de um hospital, uma vez que auxilia o diagnóstico de ITU e, a partir da identificação do patógeno, direciona a conduta terapêutica. 1. Pré analítica: a. Coleta: deve ser realizada em assepsia, após higienização local com água e sabão; geralmente, solicita-se ao paciente que colete a 1ª urina do dia ou que somente o faça após 4h de retenção; armazena-se a urina em frasco estéril com tampa de rosca e boca larga. i. Quando o paciente não pode fazer sua própria coleta, são opções viáveis: punção suprapúbica, coleta a partir de sonda vesical ou de saco coletor. 1 Os cilindros formam-se nos túbulos renais a partir de mucoproteínas secretadas pelas células epiteliais tubulares. Estas proteínas se condensam formando os cilindros hialinos, que podem adquirir debris celulares e se tornar cilindros granulares. Quando estes cilindros envelhecem e/ou se deterioram e se solidificam nos túbulos, ocorre a formação dos cilindros céreos. Uma urina normal pode conter poucos cilindro hialinos e granulosos, mas uma quantidade maior destas estruturas reflete uma patologia renal, mais precisamente uma doença tubular aguda. 18 b. Transporte e armazenamento: após a coleta, o material deve ser levado imediatamente ao setor de bacteriologia do hospital, onde será analisado em menos de duas horas (se em temperatura ambiente, 20-25ºC) ou em até 24h (caso esse seja refrigerado, 2-8°C). Após processadas, as amostras são armazenadas em refrigerador. c. Recebimento e direcionamento do material ao setor de bacteriologia: deve-se conferir a identificação do paciente com o material clínico; verificar as condições do frasco coletor (temperatura, armazenamento, transporte e volume adequados); apontar possíveis não-conformidades (NC), solicitando aceitação ou recusa do biomédicopara a análise do material. 2. Analítica: a. Recebimento e separação do material para possíveis outras análises: esse processo deve ser realizado em ambientes estéreis. b. Semeadura: os meios de cultura mais utilizados são ágar MacConkey (indicados para identificar bactérias gram-negativas, como E. coli, Enterobacter, Klebsiella, Pseudomonas e Acinetobacter), ágar sangue de carneiro (não seletivo), CLED e agar cromogênico (diferencial e indicador, identifica E. coli e Enterococcus sem testes confirmatórios); → Incubação em estufa bacteriológica c. Interpretação; 3. Pós-analítica: liberação de resultados, identificação de resultados críticos (SICH) e gerenciamento de amostras. 19 Cada bactéria apresenta um perfil típico diante de um determinado substrato - sendo esse perfil a base de identificação do MO.
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