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O CAPITAL - KARL MARX - LIVRO I, SEÇÃO I - MERCADORIA E DINHEIRO, CAPÍTULO 1 - A MERCADORIA (RESUMO)

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Capítulo 1 – A mercadoria
1. os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor (substância do valor, grandeza do valor)
	A obra O Capital (1867), do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), propõe-se a analisar as relações sociais de produção que são particulares à sociedade mercantil/capitalista. Nessa forma de sociedade, a riqueza aparece como “uma enorme coleção de mercadorias” e a mercadoria individual como sua forma elementar.
	A mercadoria é 1) objeto externo que satisfaz alguma necessidade humana de qualquer tipo. Possui, portanto, utilidade ou valor de uso; 2) algo que existe para a troca (bens produzidos para o consumo de quem o produziu não são mercadorias) possui portanto valor de troca.
	O valor de uso não determina a forma mercadoria, pois existem valores de uso que não são produzidos para a troca e sua produção é comum a todas as formas de organização social, enquanto a mercadoria é produto de uma relação social específica, a saber, as relações de trocas no mercado que, embora existentes em outras épocas históricas, universaliza-se com a consolidação do capitalismo. O valor de uso é algo que está dado no próprio corpo da mercadoria, é, portanto, algo não-social.
	O valor de troca aparece como uma relação quantitativa: x de trigo é trocado por y de ferro, por exemplo. Essa relação pode ser expressa como uma equação (x de trigo = y de ferro) que implica que existe algo comum e de mesma grandeza nessas duas mercadorias. A proporção em que uma mercadoria é trocada pela outra varia no espaço e no tempo; aparenta ser algo acidental e ao mesmo tempo ser algo intrínseco a forma mercadoria. 
	O que é esse algo comum que iguala duas quantidades de mercadorias diferentes para que se estabeleça a troca? Não pode ser nenhuma das propriedades físicas, químicas, geométricas etc. que conferem utilidade à mercadoria, visto que a utilidade de um objeto está dada na sua própria materialidade e não é necessário confrontá-lo com outro objeto, de utilidade diferente, para se descobrir sua utilidade.
	O que há de comum aos múltiplos produtos é o fato de todos eles serem frutos do trabalho. Mas não de qualquer trabalho.
	Se abstraimos os diversos valores de uso das mercadorias, abstraimos também os componentes e formas corpóreas que fazem delas valores de uso. Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparecem também as diferentes formas concretas desses trabalhos, restando apenas o fato de serem despêndio genérico de músculos, cérebros e energia humana, ou trabalho humano abstrato. Assim, todos os valores de uso, no momento da troca, são igualados como recipientes de trabalho humano abstrato. Como cristais dessa substância social que lhes é comum, são valores – valores de mercadorias. O elemento comum que se apresenta na troca – ou no valor de troca – das mercadorias é, precisamente, seu valor.
	Do que foi dito até aqui, concluímos que:
 
 Mercadoria é Valor de uso: algo sensível, não-social
 Oposição interna
 Valor: algo socialmente dado, histórico 
 							Como o valor se mostra?
 								a) substância: trabalho abstrato
								b) grandeza: tempo
								c) forma: valor de troca
	2. O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias
	Vimos que a substância do valor das mercadorias é o trabalho humano abstrato. Sua grandeza, pelo que ele se mede, é o tempo de trabalho socialmente necessário, isto é, aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer sob as condições normais de produção para uma dada sociedade e com o grau médio de destreza e intensidade do trabalho. Por exemplo, Em uma sociedade industrial, com meios de produção e desenvolvimento técnico capaz de produzir 10 sapatos em 1 hora, se um produtor individual, com meios de produção inferiores ao padrão social estabelecido, produz em 1 hora 5 sapatos, o produto da hora de trabalho desse produtor individual vale a metade do valor social. Esse produtor se encontrará em desvantagem em relação aos seus concorrentes até que se adeque ao padrão vigente.
	A grandeza de valor de uma mercadoria permanece constante na medida em que permanece constante a força produtiva empregada para produzi-la.
 Acréscimo nas forças produtivas Decréscimo das forças produtivas
 
 Menos tempo Mais tempo
 
 
 Menor dificuldade Maior dificuldade
 
 
 Menor valor Maior valor
	Assim, quanto mais difícil for produzir um determinado valor de uso, maior será seu valor. Nas palavras de Marx:
“Uma quantidade maior de trabalho constitui, por si mesma, uma maior riqueza material, 2 casacos [digamos] em vez de 1. Com dois casacos pode-se vestir duas pessoas; com um casaco apenas uma etc. No entanto, ao aumento da massa de riqueza material pode corresponder uma queda simultânea de sua grandeza de valor. Esse movimento antitético resulta do duplo caráter do trabalho. Naturalmente, a força produtiva é sempre a força produtiva de trabalho útil, concreto, e determina, na verdade, apeas o grau de eficácia de uma atividade produtiva adequada a um fim, num dado período de tempo. O trabalho útil se trna, desse modo, uma fonte mais rica ou mais pobre de produtos em proporção direta ao aumento ou a queda de sua força produtiva. Ao contrário, por si mesma, uma mudança da força produtiva não afeta em nada o trabalho representado no valor. Como a força produtiva diz respeito à forma concreta e útil do trabalho, é evidente que, tão logo se abstraia dessa forma concreta e útil do trabalho, ela não pode mais afetar o trabalho, Assim, o mesmo trabalho produz, nos mesmos períodos de tempo, sempre a mesma grandeza de valor”.1 MARX, K, O Capital: crítica da economia política: livro I: o processo de produção do capital. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: ed. Boitempo, 2017, p. 123 A partir daqui será denominado apenas como C. I. 
	Em síntese: a produtividade só diz respeito ao trabalho concreto, produtor de valores de uso. O aumento da produtividade aumento a quantidade de valores de uso produzidos, isto é, aumenta a riqueza material. Entretanto, a força produtiva em nada altera a grandeza de valor – 1 hora de trabalho continua a valer 1 hora de trabalho. Assim, se em 1 hora de trabalho se produzia x de sapatos que, pos sua vez, eram trocados por y de trigo (produzidos em 1 hora de trabalho) e se com o acréscimo das forças produtivas da sociedade passa-se a produzir 2x de sapatos em 1 hora enquanto o valor do trigo permanece constante, o valor do sapato caiu pela metade, pois agora x de sapatos = y/2 de trigo. Concluímos que o valor das mercadorias cai com o aumento generalizados das forças produtivas da sociedade.
3. A forma do valor ou o valor de troca
	Agora que vimos qual é a substância do valor (trabalho abstrato) e a sua grandeza (tempo de trabalho socialmente necessário), vejamos qual a sua forma de manifestação.
	Relembrando: a mercadoria possui uma contradição interna. É ao mesmo tempo valor de uso e valor. O primeiro é uma propriedade corpórea, o segundo é uma propriedade social, criada pelos produtores em suas relações de produção. Podemos dizer, portanto, que a mercadoria é sensível-suprassensível.
	O valor é suprassensível pois não aparece no corpo da mercadoria. Existe objetivamente em seu interior, é algo imanente e próprio da forma mercadoria, entretanto, não está dado em suas propriedades físicas e aparentes. Como então podemos observar a existência do valor? De que forma ele se manifesta? Através da troca, ou no valor de troca.
	O desenvolvimento das trocas conduzirá inevitavelmente ao aparecimento da forma-dinheiro, com a qual estamos todos familiarizados. Mas antes de analisá-la, devemos fazer o percurso contrário, a fim de compreender sua origem. Começemos pela mais simples expressão de valor.
A) A forma de valor simples, individual ou ocasional
	Uma mercadoria é trocada por outra
 	x mercadoria A = y mercadoria B
	A e B desempenham papéis distintos. A expressa seu valor em B, pois B serve de suporte material para essa expressão de valor;
 Mercadoria A: valor relativo
MercadoriaB: valor equivalente
	“Forma de valor relativa e forma de valor equivalente são momentos inseparáveis, inter-relacionados e que se determinam reciprocamente, mas, ao mesmo tempo, constituem extremos mutuamente excludentes, isto é, pólos da mesma expressão de valor”. (C. I, p. 126) 
	Forma de valor relativa: o valor de uma mercadoria nunca aparece nela mesma, apenas de forma relativa, no corpo de uma segunda mercadoria quando confrontadas, A mercadoria cujo valor é expresso em outra, assume a forma de valor relativa;
	Determinações da forma de valor relativa:
	Aspecto qualitativo: duas mercadorias só podem ser equiparadas através da substância que é comum a ambas: o trabalho humano abstrato. A mercadoria A, assim, expressa seu valor relativo no corpo da mercadoria B;
	Aspecto quantitativo: A e B possuem a mesma grandeza de valor;
	Forma de valor equivalente: O valor de uso de uma mercadoria torna-se forma de manifestação do valor de outra;
	 Principia-se a se manifestar o fetichismo da mercadoria 
Ocorrem as inversões:
	Valor de uso manifesta valor
	 Trabalho concreto manifesta trabalho abstrato
	Trabalho privado manifesta trabalho social
	Forma simples do valor em seu conjunto: A forma simples de valor de uma mercadoria está contida em sua relação de valor com outra mercadoria de tipo diferente ou na relação de troca com a mesma. O valor da mercadoria A é expresso qualitativamente por meio da permutabilidade direta de A com B. É expresso quantitativamente pela permutabilidade direta de um quantum de A com um quantum de B;
	“Conforme ela [a mercadoria] entre numa relação de valor com essa ou aquela outra espécie de mercadoria, surgem diferentes expressões simples de valor de uma mesma mercadoria. O número de suas possíveis expressões de valor é apenas limitado pelo número possível de mercadorias diferentes dela. Sua expressão individualizada de valor converte-se, portanto, em uma série constantemente ampliável de suas diferentes expressões simples de valor.” (C. I, p. 138)
B) Forma de valor total ou desdobrada
	x de mercadoria A = y mercadoria B = v mercadoria C = w mercadoria D = z mercadoria E etc.
	A forma de valor relativa e desdobrada:
	Uma determinada mercadoria terá seu valor expresso em inúmeras outras mercadorias;
	Cada uma das mercadorias (corpos-mercadorias) se torna espelho do valor de uma mercadoria;
	“Pela primeira vez, esse mesmo valor aparece verdadeiramente como massa amorfa de trabalho humano indiferenciado. Pois o trabalho que o cria é, agora, como trabalho que equivale a qualquer outro trabalho humano” (C. I, p. 139)
	A grandeza de valor de A permanece a mesma independentemente da mercadoria a qual é igualada. Assim, desaparece o caráter acidental da relação de troca;
	Não é a troca que regula a grandeza de valor da mercadoria, mas, inversamente, a grandeza de valor da mercadoria que regula a troca;
	A forma de equivalente particular: cada um dos corpos mercadoria nos quais uma mercadoria expressa sua grandeza de valor assume a forma de equivalente particular;
	Insufiência da forma de valor total ou desdobrada
	Produz uma série infinita de representações;
	É apenas uma soma de expressões simples e relativas de valor;
	De fato, se alguém troca A por muitas outras mercadorias (B, C, D, E, etc.) os muitos outros possuidores de mercadoria também têm a necessidade de trocar suas mercadorias por A e, desse modo, expressar os valores de suas diferentes mercadorias na mesma terceira mercadoria: A. Se, portanto, invertemos a série: x de A = y de B = v de C etc., isto é, se expressarmos a relação inversa já contida na própria série, obtemos (C. I, p. 140 – 141) a forma de valor universal.
C) Forma de valor universal
 
1 casaco
10 libras de chá
40 libras de café
 1 quarter de trigo 20 braças de linho
2 onças de ouro
½ tonelada de ferro
x mercadoria A
 etc. mercadoria
	Expressa os valores do mundo das mercadorias em uma única mercadoria;
	A forma relativa se desenvolve e a forma equivalente é a expressão deste desenvolvimento;
	Transição da forma universal para a forma-dinheiro: Uma mercadoria específica, cuja forma natural se identifica socialmente como forma equivalente, torna-se mercadoria dinheiro, funciona como dinheiro;
D) A Forma-dinheiro:
	Desempenhar a função de equivalente universal torna-se a função social de uma mercadoria específica, seu monopólio no mundo das mercadorias. Os metais preciosos se consagraram historicamente como a forma-dinheiro por excelência.
	4. O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo
	Segundo Isaak Rubin2 RUBIN, I, Teoria Marxista do valor. Trad. José Bonifácio de S. Amaral Filho. São Paulo, ed. Pólis, 1987. a teoria do fetichismo da mercadoria é a base de todo sistema econômico de Marx. Ela diz, em linhas gerais, que as relações sociais que se apresentam de forma mistificadas como relações entre coisas são na realidade relações entre pessoas. Essa mistificação seria responsável por fazer com que o sistema econômico capitalista assuma a forma de uma relação natural.
	O fetichismo da mercadoria, surge, portanto, de um engano que permeia as relações capitalistas. Isso não significa, contudo, que o fetichismo da mercadoria seja um fenômeno puramente psicológico. Na economia mercantil, as relações sociais de produção assumem, inevitavelmente a forma de uma relação entre coisas (RUBIN, p. 20). Existem bases materiais objetivas para que o fetichismo da mercadoria ocorra, de modo que ele ocorre espontaneamente onde quer que o modo de produção capitalista tenha se estabelecido: é consequência necessária dessa forma de organização social.
	Para compreender esse fenômeno é preciso levar em conta como os produtores individuais de mercadoria se relacionam entre si no conjunto das suas relações econômicas. Em primeiro lugar, vejamos o que ocorre com os produtores individuais isoladamente. Cada empresa privada possui liberdade e autonomia; independência do ponto de vista jurídico em relação aos outros produtores privados de mercadoria em relação a seu próprio processo produtivo. Além disso, a produção é administrada diretamente pelos produtores individuais e não pela sociedade (RUBIN, p. 21). Por outro lado, como na sociedade capitalista os bens são produzidos para a troca e não para o uso pessoal de seus produtores, a produção individual aparece agora como algo que independe da vontade de seus produtores. Isso significa que, ao levar suas mercadorias para serem trocadas no mercado, o produtor individual se depara com um contexto que foge totalmente de seu poder de decisão. O sucesso ou o fracasso da efetivação do valor de troca da sua mercadoria depende diretamente da comunidade, que regula a circulação dos bens de mercado, a variação dos preços e que determina, portanto, a distribuição das forças produtivas na sociedade (RUBIN, p. 22).
	Assim, o que determinár a ação dos produtores de mercadorias serão as próprias mercadorias que eles produzem: a relação entre pessoas (produtores), aparece como uma relação entre coisas (mercadorias) e os trabalhadores isolados funcionam apenas como elos do trabalho coletivo da sociedade, através das relações que a troca estabelece entre os produtos do trabalho e, através destes, entre os produtores. (C. I, p. 148).
	Portanto, será no mercado, no momento das trocas, que os produtores privados se darão conta de que não são tão livres como no interior de suas empresas. Será no confronto entre as diversas mercadorias que eles calcularão as perdas e os ganhos, os próximos passos a seguir. Eis, portanto, a grande mistificação: os indivíduos passam a agir orientados pelas coisas que produziram! O rabo passa a abanar o cachorro. Esse é o caráter material objetivo do fetichismo da mercadoria e, no modo de produção capitalista, não poderia ser de outro jeito.

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