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A Crise Global de 2008: uma análise marxista dos perigos da financeirização da economia

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A CRISE GLOBAL DE 2008: UMA ANÁLISE MARXISTA DOS PERIGOS 
DA FINANCEIRIZAÇÃO DA ECONOMIA1 
 
Lucas Barroso2 
 
Resumo 
Partindo da literatura marxista clássica e contemporânea, o texto visa analisar a 
reconfiguração monopolista-financeira do capital, tendo como objeto a análise do 
capitalismo a partir da ótica financeira, expondo os seus mecanismos parasitários, 
como a implementação de uma especulação financeira em determinados setores 
econômicos. Nesse sentido, o grande mote impulsionador desse trabalho foi a crise 
global de 2008 como parte de um contexto geral e dialético de descontrole inevitável. 
Dessa forma, a partir dessas reflexões é possível compreender o caráter estacionário 
das economias capitalistas modernas que adotam a financeirização como norte 
econômico. 
 
Palavras-chave 
Capital Financeiro; Crise Econômica; Crise Financeira; Economia, Karl Marx; 
Marxismo. 
 
Abstract 
Starting from classical and contemporary marxist literature, the text aims to analyze 
the monopolistic-financial reconfiguration of capital, having as its object the analysis of 
capitalism from the financial perspective, exposing its parasitic mechanisms, such as 
the implementation of financial speculation in certain economic sectors. In this sense, 
the main motive behind this work was the global crisis of 2008 as part of a general and 
dialectical context of unavoidable lack of control. Thus, from these reflections it is 
possible to understand the stationary character of modern capitalist economies that 
adopt financialization as an economic north. 
 
Keywords 
Financial Capital; Economic Crisis; Financial Crisis; Economy; Karl Marx; Marxism 
 
1 Texto original publicado no blog crítico da Lavra Palavra. Disponível em: 
<https://lavrapalavra.com/2021/05/03/a-crise-global-de-2008-uma-analise-marxista-dos-
perigos-da-financeirizacao-da-economia/>. Acesso em: 19 mai. 2021. 
 
2 Bacharelando em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e licenciando 
em História pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Possui experiência com ênfase no 
ensino e pesquisa de História do Brasil e de contemporaneidades. 
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8481113958603388. Contato: lucas.barroso@ufrj.br 
https://lavrapalavra.com/2021/05/03/a-crise-global-de-2008-uma-analise-marxista-dos-perigos-da-financeirizacao-da-economia/
https://lavrapalavra.com/2021/05/03/a-crise-global-de-2008-uma-analise-marxista-dos-perigos-da-financeirizacao-da-economia/
http://lattes.cnpq.br/8481113958603388
 
Desde a metade do século XIX, Karl Marx (1818-1883) já previa a centralidade 
dos Estados Unidos no mercado mundial. Em seu artigo “Deslocamentos do Centro 
de Gravidade Mundial”, o sociólogo alemão tece suas análises sobre a conjuntura 
econômica estadunidense a partir de uma recente descoberta de minas de ouro nas 
minas californianas. Sobre isso, Marx afirma que “o centro de gravidade do mercado 
mundial era a Itália, na Idade Média, a Inglaterra na era moderna, e é hoje a parte 
meridional da península norte-americana” (2003 [1850], online). Assim, segundo o 
autor, a economia estadunidense começaria a desempenhar um papel vital na 
perpetuação mundial do Capital a partir desse período histórico. 
Ao longo da história da humanidade, tal previsão marxiana se confirmou como 
acertada. O desenvolvimento do capitalismo nos Estados Unidos consolidou-se a 
partir de uma teia produtiva que até hoje interliga as economias do mundo, tanto em 
suas qualidades quanto em seus defeitos. A partir do século XX, na reconfiguração 
monopolista-financeira do Capital, o desenvolvimento capitalista atingiu níveis 
estratosféricos no país e, por conta disso, crises no sistema começaram a ser mais 
corriqueiras, posto que as inerentes contradições econômicas intrínsecas ao sistema 
impedem o pleno desenvolvimento da sociedade. 
Em consonância com a teoria marxiana, uma literatura especializada nos 
processos de financeirização da economia passou a ser desenvolvida nos meios 
acadêmicos. Abordando essa temática, John Bellamy Foster, professor de Sociologia 
na Universidade de Oregon (Estados Unidos), em “A financeirização do capital e a 
crise” (2009) e em “Implosão financeira e estagnação” (2009), este último escrito 
conjuntamente com Fred Magdoff, professor emérito da Universidade de Vermont 
(Estados Unidos), procura analisar o capitalismo a partir da ótica financeira, expondo 
os seus mecanismos parasitários, como a implementação de uma especulação 
financeira em determinados setores econômicos, por exemplo. 
Publicado originalmente na revista Monthly Review (v. 59, n. 11, 2008), o artigo 
“A financeirização do capital e a crise” (2009) inicia apresentando uma definição do 
processo de financeirização, tão recorrente na contemporaneidade. Segundo Foster, 
esse mecanismo é um “processo de progressivo deslocamento da centralidade da 
produção em direção às finanças” (2009, p. 10). Desde a década de 1970, em 
consonância com o aumento dos gastos militares, essa estratégia burguesa tem sido 
vista como a principal força propulsora do crescimento econômico das sociedades 
capitalistas modernas (FOSTER, 2009, p. 13). Sobre isso, a inevitabilidade de crises 
torna-se cada vez mais comum, visto que especulações financeiras têm sido cada vez 
mais corriqueiras no sistema capitalista. 
Exemplificando tais afirmações, o autor usa como norte a crise global de 2008. 
Fazendo parte de um contexto geral de descontrole inevitável, John Bellamy Foster 
afirma que esse acontecimento histórico em específico não se trata apenas de mais 
um episódio da contração de créditos tão comum no capitalismo, mas sim “assinala 
uma nova fase no desenvolvimento das contradições do sistema” (2009, p. 13). Assim, 
em meio à aderência global à financeirização econômica, analisar esse período de 
crise é importante para entender os problemas sociais que são decorrentes desse 
processo de inflexão no sistema capitalista, uma vez que, com o desenvolvimento 
dialético intrínseco ao Capital, os períodos cíclicos de estagnação econômica tornam 
rotina na realidade mundial (FOSTER, 2009, p. 25). 
Em seu outro artigo “Implosão financeira e estagnação” (2009), escrito 
juntamente com Fred Magdoff, em consonância com as ideias desse seu trabalho, o 
autor procura analisar as causalidades e as consequências da crise global de 2008. 
Para tentar reverter a forte queda no mercado acionário no início da década de 2000, 
uma bolha no setor imobiliário foi criada pelas instituições financeiras. Isso se deu pelo 
fato de que as baixas taxas de juros, aliada a disponibilidade maior de fundos pelos 
bancos, gerou a formação de uma hiperespeculação no mercado residencial, movida 
pelas idas massivas de capital para o setor, que, visando compensar o estouro da 
bolha no mercado de ações, fizeram os preços das residências dispararem. 
Consequentemente, como historicamente acontece, a mania especulativa gerou 
tensão e pânico, que culminaram na crise de 2008 (FOSTER, 2009, p. 15; FOSTER; 
MAGDOFF, 2009). 
Em seu artigo, John Bellamy Foster e Fred Magdoff (2009) destacam que, 
mesmo com a tentativa do Estado norte-americano de reabastecer a economia 
financeira com empréstimos e compra de ações, a armadilha da liquidez transformava 
auxílios bem intencionados em arapucas da financeirização (p. 9). Além disso, o 
habitual instrumento monetário de baixar as taxas de juros também perdeu a sua 
eficácia nessa situação, uma vez que é impossível negativar tais dados. Por 
conseguinte, os setores da sociedade começaram a sentir os efeitos da recessão, 
como os principais fabricantes de automóveis dos EUA, além de se dar início a uma 
escalada galopante do desemprego, da submoradia e de congelamentos de salários 
no país (FOSTER; MAGDOFF, 2009, pp. 10-11). No sistema capitalista monopolista-
financeiro, se os lucros dos burgueses não são compartilhados entre as classes, os 
prejuízos assim o são.Dessa forma, a partir das reflexões suscitadas nos artigos “A financeirização 
do capital e a crise” (2009) e “Implosão financeira e estagnação” (2009), é possível 
compreender o caráter estacionário das economias capitalistas modernas. 
Recorrendo à financeirização da cadeia produtiva, as estratégias burguesas de 
perpetuação de seus lucros têm se mostrado instáveis e especulativas, como 
aconteceu na crise global de 2008, por exemplo. Nesse caso, recorrer ao Estado como 
um solucionador e “emprestador de última instância” (FOSTER; MAGDOFF, 2009, p. 
12) não trouxe o sucesso esperado, como aconteceu na Grande Depressão de 1929. 
Nesse sentido, as consequências dessa estagnação da produção e do investimento 
estão sendo sentidas até hoje em diversos países. Mesmo havendo diversas 
justificativas economicistas para as crises capitalistas, a verdade continuará sendo 
apenas uma: “a causa é o modelo” (FERNANDES, 1998, p. 11). Por isso, por ser uma 
tendência e não uma exceção do capitalismo, a alternativa mais humanista possível 
ainda consiste na união dos proletários em prol do fim do modelo capitalista 
monopolista-financeiro (FERNANDES, 1998, p. 12), como fora previsto por Marx ainda 
no século XIX. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências 
 
FERNANDES, Anníbal. “Apresentação à Edição Brasileira”. In: MARX, Karl; 
ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Tradução de Edmilson Costa. 
3ª Edição. São Paulo: EDIPRO, 2015, pp. 7-12. 
 
FOSTER, John Bellamy. A financeirização do capital e a crise. Revista Outubro, v. 
18, pp. 09-41, 2009. Tradução de Emilio Chernavsky. Disponível em: 
<http://outubrorevista.com.br/ a-financeirizacao-do-capital-e-a-crise/>. Acesso em: 25 
fev. 2021. 
 
FOSTER, John Bellamy; MAGDOFF, Fred. Implosão financeira e estagnação: de 
volta à economia real. Tradução de Margarida Ferreira. Revista da Sociedade 
Brasileira de Economia Política, n. 24, pp. 7-40, jun. 2009. 
 
MARX, Karl. Deslocamentos do Centro de Gravidade Mundial. Marxist Internet 
Archive, 2003 [1850]. Tradução de Jason Tadeu Borba. Disponível em: 
<https://www.marxists.org/ portugues/marx/1850/02/deslocamento.htm>. Acesso em: 
03 jul. 2020. 
 
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. “Burgueses e proletários”; “Proletários e 
comunistas”. In: ___________. Manifesto do Partido Comunista. 1ª Edição. São 
Paulo: Expressão Popular, 2008. caps. 1 e 2. pp. 8-45. 
http://outubrorevista.com.br/a-financeirizacao-do-capital-e-a-
https://www.marxists.org/portugues/marx/1850/02/

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