Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Febre Sem Sinais Localizatórios • Ocorrência de febre com menos de 7 dias de duração em uma criança, em que após história clínica e exame físico detalhados, não rem a sua causa estabelecida. • Obs: Febre de temperatura maior que 38ªC Febre é definida como elevação da temperatura corpórea em resposta a uma variedade de estímulos, mediada e controlada pelo sistema nervoso central (SNC). A medida da temperatura corpórea mais confiável é aquela tomada por via oral ou retal. As mensurações de temperatura axilar, timpânica ou por palpação são consideradas menos confiáveis. Embora não seja tão precisa quanto a temperatura retal, a medida da temperatura axilar é adequada para triagem clínica. Não há consenso absoluto, entre os vários autores, sobre o valor específico para definição de febre em crianças, em decorrência das inúmeras variáveis que afetam a temperatura. Entretanto, os valores geralmente utilizados são: temperatura retal > 38,3°C; temperatura oral > 38°C e temperatura axilar > 37,8°C. Importante ressaltar que FSSL não é sinônimo de criança com febre e exame físico normal, pois a elucidação da causa da febre pode estar na história, por exemplo, em uma criança com disenteria e febre. NÃO CONFUNDIR → Febre Prolongada de Origem Obscura • Caracterizada por febre de existência indiscutível, com duração mínima de 3 semanas, com um quadro clínico inconcluso e que permanece sem diagnóstico mesmo após a realização do conjunto de exames e procedimentos indicados inicialmente para aquele caso particular - No caso da febre prolongada de origem obscura vai ter mais de 3 semanas e já vai ter o resultado dos exames, sendo todos negativos, e mesmo assim não consigo estabelecer o motivo. EPIDEMIOLOGIA • 25% de todas as consultas na emergência de pediatria • Cerda de 20% dos casos a identificação do foco não é possível • Doença infecciosa benigna • Pode desenvolver uma infecção bacteriana grave (IBG) → Infecção do trato urinário; bacteremia oculta; pneumonia; meningite; artrite séptica; osteomielite; celulite. A maioria dessas crianças apresenta uma doença infecciosa aguda autolimitada ou está no pródromo de uma doença infecciosa benigna; poucas têm uma infecção bacteriana grave ou potencialmente grave. - Criança com queixa de febre, não deve esperar 7 dias para a consulta, porque pode evoluir rapidamente. Infecção bacteriana grave (IBG) é toda infecção bacteriana que acarreta risco de morbidade ou mortalidade, caso ocorra atraso em seu diagnóstico. O conceito de doença bacteriana grave inclui: infecção urinária, pneumonia, bacteremia oculta, meningite bacteriana, artrite séptica, osteomielite, celulite e sepse. O risco de IBG é maior nos menores de 3 meses de idade, principalmente nos recém-nascidos (RN), e decresce progressivamente com a idade. CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO → Protocolo Baraff et al (1993) • Por grupo etário e, ainda, dentro de cada faixa etária, em baixo e alto risco para doença bacteriana grave. • RN (<30 dias); lactentes jovens (de 30 a 90 dias de vida) e crianças de 3 a 36 meses de idade → Critério de Rochester procura separar os lactentes • Menores de 3 meses de vida em dois grupos: alto risco para presença de doença bacteriana grave • Lactente jovem deve preencher todos os critérios para ser considerado de baixo risco. - Aplicado em crianças de 30 a 90 dias. Uma criança de 30 a 90 dias com febre precisa fazer pelo menos um hemograma e um sumário de urina para definir a conduta. - Para dizer que é baixo risco, ele tem que ter todos os critérios que indicam baixo risco. O critério de Rochester procura separar os lactentes menores de 3 meses de idade em 2 grupos: alto risco e baixo risco para presença de doença bacteriana grave na vigência de FSSL. O lactente jovem deve preencher todos os critérios para ser considerado de baixo risco. O protocolo de Baraff estratifica as crianças com FSSL por grupo etário e, ainda, dentro de cada faixa etária, em baixo e alto risco para doença bacteriana grave. CRITÉRIOS DE ROCHESTER BACTEREMIA OCULTA • Hemocultura positiva em uma criança que está com FSSL, clinicamente bem e sem infecção localizada • Diretamente relacionado a vacinação – Hib e pneumococo (menos de 1% - mais comuns E. coli e S. aureus) - Bacteremia oculta é quando a criança vem com febre, eu não consigo definir a localização, mas a hemocultura vem positiva. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 - Se a criança tiver 2 doses da vacina contra Hib e pneumococo, já tem uma proteção considerável, apesar de que só considera devidamente imunizado com 3 doses. (Vacinação completa para haemophilus influenzae tipo b (Hib), pneumococo e meningococo é considerada quando a criança recebeu pelo menos 2 doses de cada uma dessas vacinas) Bacteremia oculta refere-se à presença de bactéria em hemocultura, em uma criança febril, sem infecção localizada e com pouco ou nenhum achado clínico. Embora a maioria dos episódios de bacteremia oculta tenha resolução espontânea, às vezes podem ocorrer complicações sérias, como pneumonia, meningite, artrite séptica, osteomielite, sepse e morte. Bacteremia oculta pode ser causada por vários microrganismos. Os agentes mais comuns são Streptococcus pneumoniae (70%), Haemophilus influenzae tipo b (20%), Neisseria meningitidis (5%) e Salmonella sp (5%). Menos freqüentemente surgem Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes. Nos lactentes até 60 dias também são encontrados Streptococcus agalactie e Escherichia coli. De forma global, nas crianças até 3 anos de idade com BO não tratada, o risco de bacteremia persistente é de 30%, de infecção bacteriana localizada é de 10% e de meningite é de 5 a 10%. Muitos autores examinaram a relação entre a magnitude da febre e o risco de infecção. Embora alguns não tenham encontrado correlação, de maneira geral, o risco de BO aumenta proporcionalmente com a temperatura. Assim, com temperatura retal abaixo de 38,9ºC a taxa de bacteremia é de 1%; com temperatura de 38,9 a 39,4ºC é de 4%; com temperatura entre 39,4 a 40,5ºC é de 8%; e atinge 10,5% com temperatura retal maior ou igual a 40,5ºC. Fazem exceção a essa regra as crianças abaixo de 3 meses de idade, nas quais não há correlação nítida entre magnitude de febre e infecção. Sabe-se também que no período neonatal hipotermia pode ter maior significado do que febre. O diagnóstico de bacteremia oculta baseia-se na hemocultura. Quando indicada, deve ser obtida apenas uma amostra com técnica de coleta adequada. Mais de uma amostra não é necessário. Hemocultura falso- negativa pode ser encontrada em crianças que estejam recebendo antibioticoterapia prévia. INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO • Principal causa de FSSL • 3 a 4% dos meninos < 12 meses de idade • 8 a 9% das meninas < 24 meses de idade • Circuncisão é fator de proteção - O uso de fraldas é um fator de risco para desenvolvimento de infecção urinária nessa faixa etária. - Crianças nessa fase não apresentam sinais claros de ITU, por não conseguir explicar os sintomas. - Circuncisão é um fator de proteção, mas não é indicado realizar por esse motivo. No exame de urina, a presença de cinco ou mais leucócitos por campo de grande aumento em urina centrifugada tem sensibilidade e especificidade de 80 a 85% e valor preditivo negativo de 91 a 99%. Outra possibilidade é a utilização de métodos de triagem, utilizando-se fitas reativas para pesquisa de esterase leucocitária e nitritos, que apresentam grande grau de concordância com o sedimento urinário. Entretanto, o padrão-ouro para o diagnóstico é a urocultura. Vale ressaltar que o método e a técnica de coleta são muito importantes. Uroculturas obtidas por saco coletor, especialmente em crianças abaixo de 1 ano de idade, têm altas taxas de falso-positivo,mas apresentam valor preditivo negativo elevado, ou seja, quando são negativas, praticamente excluem infecção urinária. PNEUMONIA • 3% das crianças com febre em ausência de taquipneia e/ou sinal e sintoma respiratório • Também relacionada com taxa de vacinação - Seria a “pneumonia oculta”, onde a queixa vai ser apenas da febre, sem queixas respiratórias e sem alteração da FR no exame físico. - Os agentes para bacteremia oculta e pneumonia são os mesmos, de forma que a vacinação reduziu a incidência também. MENINGITE 1. Meningococo é bem mais rara do que por pneumococo 2. 25 a 50% dos pacientes com doença meningocócica haviam sido liberados após avaliação inicial - É mais frequente por pneumococo do que por meningococo, apesar de acontecer pelos dois. - No calendário de vacinação já tem a meningocócica C, que dá as primeiras doses com 3 e 5 meses. - Foi liberada a vacinação contra 4 sorotipos, a ACWY, que pode ser aplicada de 11 a 13 anos pelo SUS. O tipo Y é o mais frequente na faixa de idade da adolescência. MANEJO Inicialmente, as crianças com FSSL menores de 3 anos de idade são avaliadas em relação à presença ou não de comprometimento do estado geral (toxemia). Essa avaliação deve ser feita com a criança afebril, pois a própria febre pode deixar o paciente com variados graus de prostração. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 Toda criança com comprometimento do estado geral, independentemente da idade, deve ser hospitalizada, investigada para sepse e tratada com antibióticos. A investigação para sepse compreende coleta de hemograma completo, hemocultura, sedimento urinário, urocultura e, quando indicado, líquido cefalorraquidiano (LCR) (análise bioquímica, coloração de Gram e cultura), radiografia torácica e coprocultura. A abordagem da criança com FSSL sem comprometimento do estado geral, varia de acordo com a idade da criança, uma vez que cada faixa etária apresenta diferenças substanciais em relação à etiologia, gravidade e prevalência de infecção bacteriana. Habitualmente, as crianças são classificadas em três grupos etários distintos para efeitos de avaliação de FSSL: RN (< 30 dias), lactentes jovens (de 30 a 90 dias de vida) e crianças de 3 a 36 meses de idade. 1. RN: todo RN com FSSL deve ser hospitalizado, submetido à investigação para sepse e receber antibioticoterapia até o resultado das culturas. Como terapêutica empírica inicial, pode-se utilizar cefalosporina de 3ª geração (cefotaxima ou ceftriaxona). 2. Lactente jovem: as crianças dessa faixa etária são avaliadas em relação ao risco de IBG, pelos critérios de Rochester: se baixo risco, faz-se seguimento clínico diário; se alto risco, indica-se hospitalização, coleta de exames (hemocultura, urocultura, LCR, radiografia de tórax) e introdução de antibioticoterapia empírica (cefalosporina de 3ª geração). 3. Entre 3 e 36 meses: as crianças são subdivididas em dois grupos de acordo com a temperatura axilar: • → Temperatura ≤ 39°C: deve-se considerar a coleta de sedimento urinário e urocultura (por cateterização vesical nas crianças sem controle esfinctérico ou jato médio nas crianças com controle esfinctérico), uma vez que a infecção urinária é a infecção bacteriana mais prevalente. Essa coleta está especialmente indicada nos meninos menores de 12 meses de idade e nas meninas menores de 24 meses de idade. Com resultado do exame normal, a conduta é observação clínica, com reavaliação diária e utilização de antitérmicos usuais, até a resolução da febre ou identificação do foco infeccioso; • → Temperatura > 39°C: inicia-se investigação laboratorial com coleta de sedimento urinário e urocultura (por cateterização vesical nas crianças sem controle esfinctérico ou jato médio nas crianças com controle esfinctérico) para afastar infecção urinária, e, quando afastada, deve-se realizar a coleta de exames de sangue e radiografia de tórax. A suspeita de bacteriemia oculta é feita na presença de número de leucócitos > 20.000/mm3 ou total de neutrófilos > 10.000/mm3 e radiografia de tórax normal. Nessa situação, recomenda-se introdução de antibioticoterapia empírica com cefalosporina de 3ª geração (ceftriaxona na dose de 50 mg/kg, IM) e retorno diário para reavaliação clínica e verificação do andamento da hemocultura nas crianças sem vacinação completa para Haemophilus influenzae tipo b, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis. Nas crianças vacinadas (2 ou mais doses) para hemófilos, pneumococo e meningococo, a opção é reavaliação diária sem introdução de antibioticoterapia, pois a taxa de bacteriemia oculta nessa população é inferior a 1%. - Procurar sinais de toxemia, que são aumento da FC, FR, etc - Avaliar estado geral, perguntar para o responsável qual foi a temperatura mais alta e a idade e com isso definir conduta. A relação entre toxemia e presença de doença bacteriana grave está bem estabelecida. Dessa forma, qualquer criança com febre que se apresente com evidências de alteração de perfusão de orgãos com má-perfusão periférica, alteração do estado de consciência, taquipnéia, taquicardia, hipotensão, oligúria ou evidência de coagulopatia deve receber o diagnóstico presuntivo de sepse e ser tratada como tal. Esse tratamento inclui, além das medidas de suporte, coleta de hemocultura, urocultura, líquor e introdução de antibioticoterapia empírica inicial. Entretanto, a maioria das crianças com FSSL não está toxemiada e, para auxiliar o pediatra e tornar a avaliação mais objetiva, foram criadas várias escalas de observação clínica, que procuram identificar as crianças com doença bacteriana grave. A mais conhecida é a Escala de Observação de Yale, composta por 6 itens: qualidade do choro, reação ao estímulo dos pais, cor, estado de hidratação, resposta social e estado de consciência. Para cada item é atribuído 1 ponto se normal, 3 pontos se moderadamente alterado e 5 pontos se gravemente alterado. Escore maior ou igual a 16 indica doença grave, e menor ou igual a 10, baixa probabilidade Luíza Barreto – Medicina 2021.1 de doença grave. Essa escala mostrou sensibilidade de 77%, especificidade de 88% e valor preditivo positivo de apenas 56%. Além disso, não identifica adequadamente as crianças de maior risco que são aquelas abaixo de 8 semanas de vida. Uma outra escala foi desenvolvida especialmente para as crianças dessa faixa etária e leva em conta esforço respiratório, perfusão periférica e comportamento. Apresenta sensibilidade de 76%, especificidade de 75% e valor preditivo negativo de 96%. OBS: Na prática clínica diária, as escalas não têm muita utilidade, e a grande questão é saber se o pediatra consegue identificar, através de sua avaliação clínica, as crianças com bacteremia. CONTAGEM DE LEUCÓCITOS • < 10.000/mm3 taxa de bacteremia de 0,3% • > 20.000/mm3 taxa de bacteremia de 8,2% • Formas jovens < 3 meses de idade, total de leucócitos < 5.000/mm3 é considerado fator de risco A contagem total de leucócitos é o exame mais utilizado, tanto para orientações sobre necessidade de novos exames quanto para decisões terapêuticas. De fato, há uma forte correlação entre elevação do número total de leucócitos e prevalência de bacteremia. De maneira geral, quando o número total de leucócitos é menor que 10.000/ mm3, a taxa de bacteremia é de 1,2%, enquanto nas leucocitoses acima de 20.000/mm3, essa taxa sobe para 11,5% (Segundo artigo “Febre aguda sem sinais de localização em crianças menores de 36 meses de idade” do Jornal de Pediatria) O número total de leucócitos de 15.000/mm3 é considerado útil para separar crianças com FSSL em dois grupos: alto risco e baixo risco. Dessa forma, nas crianças com temperatura retal maior ou igual a 38,8ºC, o risco de bacteremia é 4 vezes maior naquelas com contagem total deleucócitos maior ou igual a 15.000/ mm3; e, nas crianças com temperatura de 40ºC ou mais, as taxas de bacteremia são 3 vezes maiores se o número total de leucócitos for maior que 15.000/mm3. A contagem total de leucócitos fornece informações mais precisas do que a análise da temperatura. O número total de leucócitos menor que 5.000/mm3 também é considerado fator de risco para doença bacteriana grave, principalmente no recém- nascido e lactente jovem. A contagem total de leucócitos não tem grande sensibilidade nem especificidade; entretanto, apresenta valor preditivo negativo de 97% para bacteremia. Em outras palavras, numa criança com FSSL e contagem total de leucócitos entre 5.000 e 15.000/mm3, a probabilidade de realmente não haver bacteremia é de 97%. PROVAS DE FASE AGUDA → Proteína C reativa não se eleva antes de 12 horas • Identificação: PCR > ou igual a 80mg/L • Exclusão: < 20mg/L → Procalcitonina eleva-se mais rápido, mas é pouco disponível • Identificação: > ou igual a 2mg/mL • Exclusão: < 0,5 mg/mL - Não precisa esperar os 3 dias, pois tem outros marcadores que se elevam mais cedo, permitindo tratar mais cedo. - A procalcitonina se eleva mais rápido, mas ainda não está disponível para realização nem na rede pública nem na privada. Diversos estudos têm sido feitos avaliando o uso de marcadores inflamatórios, como proteína C-reativa (PCR) e procalcitonina (PCT), para estimar o risco de IBG nas crianças com FSSL. A presença de PCR e PCT elevadas estão associadas com IBG. A PCR aumenta mais lentamente que a PCT, portanto, esta última é mais sensível para identificação de IBG em crianças com febre com menos de 12 horas. Quando comparada com os marcadores mais tradicionais (PCR, contagem de leucócitos e contagem total de neutrófilos), a PTC tem demonstrado desempenho superior no diagnóstico, com maior sensibilidade e especificidade para diferenciação de doença bacteriana e viral em crianças. No entanto, os custos elevados da determinação da PCT restringem seu uso rotineiramente. As escolhas dos valores de PCR e PCT dependem se estes marcadores serão utilizados para excluir ou incluir os casos de IBG. Tendo por objetivo a identificação de IBG nas crianças com FSSL, os níveis de corte de 80 mg/L para a PCR ou 2 ng/ mL para PCT apresentam especificidade de 90% e sensibilidade de 40 a 50%. Para descartar IBG, os níveis de corte de 20 mg/L para PCR ou 0,5 ng/mL para PCT apresentam sensibilidade de 80% e especificidade de 70%. A velocidade de hemossedimentação (VHS) mede indiretamente o fibrinogênio, que é um reagente de fase aguda do soro. Valores de VHS acima de 25 mm/h ou 30 mm/h foram correlacionados com a presença de bacteremia oculta. Entretanto, o VHS não é mais útil do que a contagem total de leucócitos. EXAME DE URINA - A presença de nitrito tem uma baixa sensibilidade, de forma que o fato dele estar negativo não significa que não tem infecção, mas o nitrito positivo confirma a infecção urinária, devido à alta especificidade. - Utiliza o sumário de urina para sugerir ou não a presença de ITU, mas só fecha o diagnóstico com a urocultura. RX DE TÓRAX • Aumento de FR ou SatO2 < 95% • Leucocitose acima de 20.000/mm3 - Só vai fazer raio x se preencher aos critérios. Só se o hemograma tiver uma leucocitose acima de 20.000 ou quando tiver uma taquipneia fora do período de febre ou queda de saturação. De maneira geral, considera-se que não é necessária a realização de raio X de tórax na avaliação de todas as Luíza Barreto – Medicina 2021.1 crianças com FSSL, porque muitos estudos encontraram baixa incidência de pneumonia em crianças com febre e sem sinais e/ou sintomas de doença respiratória. Por outro lado, alguns estudos recentes relatam taxas relativamente elevadas de pneumonia oculta em crianças sem sinais e sintomas respiratórios quando a contagem total de leucócitos é maior que 20.000/mm3 (53). Na presença de taquipnéia e outros sinais ou sintomas respiratórios, ou na criança toxemiada, o raio X de tórax é obrigatório. Freqüência respiratória maior que 50 por minuto em menores de 6 meses de idade ou maior que 42 por minuto em crianças de 6 meses a 2 anos é considerada uma boa indicação. CONDUTA POR FAIXA ETÁRIA Até 30 dias de vida → Internação → Solicitar: hemograma, VHS, PCR, Urina I, Urocultura, Hemocultura, líquor, radiografia de tórax. A associação ampicilina e cefotaxima deve ser indicada para contemplar estreptococo do grupo B e germes gram-negativos. Lactentes de 2 a 3 meses → Solicitar: hemograma, VHS, PCR, hemocultura, Urina I, Urocultura, Líquor, Raio-X de tórax. Se exames alterados iniciar antibiótico endovenoso com ceftriaxone, pensando nos agentes mais frequentes: pneumococo, meningococo e hemófilo. Crianças de 3 a 36 meses → Solicitar os mesmos exames acima. Se exames normais reavaliação em 24 horas. Se alterados iniciar ceftriaxone endovenoso. Crianças maiores → Se toxemia: iniciar penicilina cristalina ou ampicilina endovenosa. - 0 a 3 anos é a faixa etária que mais vai evoluir negativamente na presença de febre. - Nenhuma pessoa com sinais de toxemia deve ficar em casa esperando os 3 dias, pois pode indicar uma infecção grave. Se tiver toxemia, deve internar e fazer exames de hemograma, hemocultura, urocultura, coleta de LCR, Rx de tórax e atb empírico. - O primeiro passo é avaliar se tem toxemia ou não. Se não tiver, ainda vai dividir em 3 grupos pela idade (0-29d, 1-3m e 3-36m). - Se tiver toxemia, tem que ser internado, coletar hemograma, hemocultura, sumário de urina, líquor e entrar com antibiótico empírico (por conta do risco de sepse → inserir o atb na primeira hora de atendimento, de preferência colhendo os exames antes de iniciar, mas caso não dê tempo, NÃO atrasar o início do antibiótico). - Se não tem sinais de toxemia, mas tem de 0 a 29 dias, também interna → bebê sem defesa e que evolui muito rapidamente. RN fez febre = internamento. Colher hemograma, hemocultura, sumário de urina, urocultura, líquor, raio x de tórax e inicia atb empírico. - Criança entre 1 e 3 meses deve aplicar os critérios de Rochester. Solicitar hemograma e sumário de urina para definir a conduta depois de classificar ele como baixo ou alto risco. (PS: Lembrar que para ser baixo risco, tem que ter TODOS os critérios de Rochester). - Se pelo critério de Rochester for baixo risco, pede para o paciente retornar no outro dia e prescreve só o antitérmico. A reavaliação deve ser diária. - Se pelos critérios de Rochester tiver qualquer critério de alto risco, deve internar, solicitar hemograma, hemocultura, sumário de urina, urocultura, líquor, rx de tórax e iniciar antibiótico empírico. - É fundamental salientar que todas as crianças devem ser reavaliadas diariamente até a resolução do quadro, resultados das culturas, quando coletadas, e/ou identificação do foco da febre. - Se a criança tiver entre 3 e 36 meses, vai olhar a temperatura mais alta que ela atingiu, se foi abaixo de 39ºC ou acima de 39ºC. - Se for abaixo de 39ºC, pode considerar um sumário de urina com urocultura (porque é a doença mais frequente) ou pode solicitar que ele retorne no dia seguinte, prescrevendo só antitérmico e observando. - Se for acima de 39ºC, deve fazer sumário de urina e urocultura. ❖ Se o exame vier com alguma alteração (leucocitúria >100.000UI/mL, nitrito positivo, etc), fecha como infecção urinária. ❖ Se o exame vier normal ou inconclusivo, deve solicitar hemograma e hemocultura. Se vier normal ou com baixo risco para bacteremia oculta (leucócitos < 20.000 ou segmentados < 10.000), reavalia o paciente no dia seguinte. Se o exame vier com leucócitos acima de 20.000 ou segmentados > 10.000, deve solicitar um raio x de tórax e hemocultura (se já não tiver coletado). ❖ Se o raio x tiveralterado sugestivo de pneumonia, fecha o diagnóstico de pneumonia. Se vier normal, tem um risco para fazer bacteremia oculta → deve olhar o cartão vacinal da criança. ❖ Se tiver vacinação efetiva para Hib e pneumococo, vai manter sem antibiótico e reavaliar no dia seguinte. ❖ Se não tiver pelo menos 2 doses contra Hib e pneumococo, vai iniciar antibiótico de amplo espectro intramuscular (como ceftriaxone 50mg/kg IM 1x ao dia), reavaliando diariamente até sair o resultado da hemocultura. Na reavaliação, procurar qualquer mudança de quadro clínico ou sinal de toxemia que vá levar ou a uma localização do foco ou que sugira alguma gravidade que precise interferir mais cedo. Luíza Barreto – Medicina 2021.1 OBS: A hemocultura só sai de 3 a 5 dias, se sair e der negativa, suspende o antibiótico (a não ser que seja das crianças que foram tratadas muito precocemente com antibiótico, e a hemocultura pode vir negativa por conta do tratamento) O QUE PODE MUDAR O FLUXOGRAMA: - 90% das infecções em crianças vão ser de origem viral. Isso facilitaria se pudesse diagnosticar uma infecção viral cedo. • Cultura viral: Padrão ouro; não utilizada na prática clínica em FSSL • Testes rápidos de detecção de antígenos: Tem boa especificidade e baixa sensibilidade • Custo elevado imunofluorescência indireta: Método rápido e com boa especificidade; necessita de pessoal treinado e tem baixa sensibilidade • Reação em cadeia de polimerase: Excelente sensibilidade e especificidade; pode pesquisar vários agentes; é complexo e caro. - A cultura viral não é muito utilizada pois demora 1 mês para sair a cultura viral, de modo que é usado só para estudos. - Testes rápidos e imunofluorescência indireta são específicos, mas tem baixa sensibilidade, de modo que dá muito falso negativo. - O PCR tem alta especificidade e sensibilidade, só não é muito disponível por ser complexo e caro PAINEL VIRAL: • Adenovírus, influenza, parainfluenza, rhinovírus, VSR, HHV-6, coxsackie, COVID-19 - Definir se a doença é viral e não bacteriana, facilita a conduta. A disponibilidade de recursos laboratoriais para se diagnosticar infecção viral melhorou nos últimos anos, e os testes rápidos para pesquisa de vírus (teste por imunofluorescência, imunocromatografia, anticorpo fluorescente, reação de cadeia de polimerase) são considerados uma opção a ser realizada nos serviços de emergência. Estudos recentes revelam menor taxa de IBG nas crianças com FSSL e infecção viral documentada, o que acarreta diminuição na solicitação de exames laboratoriais e na utilização de antibioticoterapia empírica. ATUALIZAÇÃO DO FLUXOGRAMA - Nos pacientes com indicação de internamento, vai continuar com a indicação de internamento. O painel viral seria apenas um “a mais” para facilitar o diagnóstico. - Nas crianças de 1 a 3 meses, o painel viral entraria juntamente com o sumário de urina e hemograma para a aplicação dos critérios de Rochester. - De 3 a 36 meses, pode ser inserido na avaliação do calendário vacinal. Se a vacinação estiver incompleta, faz o painel viral. Se o painel viral vier negativo, aí sim vai olhar a temperatura se é maior ou menor que 39ºC e segue o fluxograma. (Teria uma maior chance de excluir uma infecção bacteriana)
Compartilhar