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Catharina Gusmão 19.2 – UFBa Traumatologia Forense – Parte 2 (Medicina Legal – MED142) ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA - Relacionadas a ações decorrentes de meios físicos (temperatura, eletricidade, luz, som, radioatividade e pressão atmosférica), que podem causar lesões corporais e morte. 1. TEMPERATURA CALOR A natureza ou causa jurídica da morte causada pelo calor pode ser por acidente, homicídio ou suicídio. A mesma não é determinada pelo perito, mas sim pelo delegado responsável pelo caso. QUEIMADURAS – Calor Direto Agentes físicos: possuem elevada temperatura ® Fogo – chama ® Calor irradiante ® Gases superaquecidos ® Líquidos escaldantes ® Sólidos quentes ® Raios solares (raro) Homicídio Qualificado CP – Art. 121. § 2° Se o homicídio é cometido III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; Classificação das queimaduras: - Medicina Legal: ® Profundidade das lesões ® Classificação de Hoffmann (1º, 2º, 3º e 4º grau) - Critério clínico: ® Superfície corporal atingida 1º GRAU – ERITEMA: - Apenas a epiderme e afetada - Vermelho vivo – congestão da pele devido aos vasos sanguíneos íntegros (hiperemia) Catharina Gusmão 19.2 – UFBa - Eritema após morte: demonstra coagulação fixa 2º GRAU – FLICTENAS - Formação de vesículas (bolhas) devido a elevação da epiderme - Líquido amarelo (claro/transparente) - Flictena após morte: placas apergaminhadas (com pequenas dobras) 3º GRAU – ESCARAS - Atinge derme e hipoderme (caracterizado pela ausência de dor e como grande porta de entrada para infecção) - Manchas de cor castanha amarelada - Indivíduo pode morrer de sepse devido a grande chance de infecção - Formação de cicatrizes características 4º GRAU – CARBONIZAÇÃO - Atinge os planos ósseos - Pode ser total ou parcial - Ocorre a redução do volume do cadáver – muitas vezes reduzidos a cinzas - Vítima pode ser encontrada em posição do lutador ou boxer – mecanismo de defesa contra o fogo - A identificação médico legal é feita através da Antropologia Forense através das ossadas, arcada dentária, etc. OBS: Definir a causa da morte - O fogo pode ser utilizado para ocultação do cadáver com intuito de dificultar a identificação do mesmo - Pesquisa de monóxido de carbono no sangue (se as lesões forem feitas ainda em vida, é possível que o indivíduo tenha aspirado a substância, fazendo com que a mesma seja encontrada na sua corrente sanguínea) Sinal de Montalti - Fuligem nas vias respiratórias - Reação vital Sinal de Janessie-Jeliac - Ausência de leucócitos nas flictenas - Demonstram que as lesões foram produzidas após a morte, visto que o corpo não manifestou sinais de atuação do sistema imunológico Catharina Gusmão 19.2 – UFBa TERMONOSES – Calor difuso Intermação – Exaustão Térmica - Acidental na maioria dos casos ® Excesso de calor ambiental ® Alterações de termorregulação ® Lugares mal arejados (confinamento) ® Fatores que contribuem: roupas inadequadas, alcoolismo e falta de ambientação climática EX: Crianças esquecidas em veículos - Sinais: ® Inespecíficos na maioria dos casos (necessidade de averiguação do local) ® Mal-estar, nervosismo, náuseas, taquicardia, midríase (dilatação das pupilas), convulsão, etc. IRRADIAÇÃO SOLAR/INSOLAÇÃO – Calor difuso Insolação: - Ação direta dos raios solares e calor intenso - Geralmente decorrem da ação da temperatura do calor ambiental em locais abertos (raros em espaços confinados) FRIO - A natureza jurídica é na maioria das vezes acidental ou homicida (abandono de incapazes), estando poucas vezes relacionadas com o suicídio HIPOTERMIA – Ação difusa Características gerais: - Temperatura corporal < 35 ºC - Sinais inespecíficos: sonolência, convulsão, delírio, anestesia, choque circulatório (IMPORTANTE: perícia do local) Morte: - Rigidez cadavérica precoce, intensa e extremamente demorada - Espuma sanguinolenta nas vias respiratórias - Flictenas - Hipóstase vermelho clara - Congestão polivisceral - Infiltrados hemorrágicos na mucosa gástrica (sinal de úlceras de Wischnewski) Catharina Gusmão 19.2 – UFBa GELADURA – Ação direta Lesões muito semelhantes a queimaduras, geralmente causadas por aparelhos de refrigeração, gelo seco e neve 1º GRAU: - Palidez Rubefação - Pele anserina (aspecto arrepiado) 2º GRAU: - Eritema e formação de flictenas 3º GRAU: - Necrose com crostas enegrecidas 4º GRAU: - Gangrena ou desarticulação (pés de trincheira) 2. ELETRICIDADE Lesões por eletricidade podem ser causadas por meios naturais/cósmicos ou artificiais/industriais Possuem alguns fatores que interferem na gravidade: - Vítima: ® Local de entrada (resistência do corpo) ® Trajeto da corrente ® Duração do contato ® Local onde a vítima se encontra - Ação elétrica: ® Tipo de corrente (contínua/alternada) ® Tensão elétrica (voltagem) ® Intensidade da corrente ELETRICIDADE NATURAL Pode ocasionar fulminação (letal) ou fulguração (lesão corporal) Sinal de Lintchemberg - Marcas queraunográficas: lesões de aspectos arboriforme de tonalidade arroxeada procedentes de fenômenos vasomotores - Surgem 1h após o incidente, e tendem a desaparecer 24h depois. Catharina Gusmão 19.2 – UFBa ELETRICIDADE ARTIFICIAL Os efeitos deletérios da corrente elétrica se devem a intensidade da corrente (amperagem) - Eletroplessão: ® Geralmente acidental ® Muito frequente em acidentes de trabalho ® Podem ou não ser de efeito letal OBS: Eletrocussão - Ação proposital - Execução: cadeira elétrica Sinal de Jellineck - Possui forma circular, elítica ou estrelada, de consistência endurecida, bordas altas, leito deprimido, tonalidade branco-amarelada, fixa, indolor, asséptica e de fácil cicatrização Efeito Joule - Transformação da energia elétrica em energia térmica - Pode causar queimaduras de 1º - 4º grau Morte por eletricidade: ® Morte cardíaca (fibrilação produzida pela correte) – tensão < 120V ® Morte pulmonar ou asfixia (tetanização dos músculos) – tensão entre 120 e 1200V (ação dos raios) ® Morte cerebral – hemorragia das meninges e demais estruturas cerebrais – tensão > 1200V 3. SOM - Intensidade do som considerada segura: 85dB - Exposição contínua e permanente ao ruído - Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ® Perda auditiva geralmente bilateral, irreversível e progressiva ® Muito ligada ao Direito do Trabalho – lides cíveis (perito nomeado) 4. LUZ Lesões produzidas pela luz: - Lesões oculares: luz intensa e raios laser Catharina Gusmão 19.2 – UFBa - Ação psicológica (uso de holofotes para ofuscar a visão – interrogatórios) - Epilepsia Fotossensível: variação intermitente da luz 5. RADIOATIVIDADE - Decorre das radiações ionizantes - Radioatividade natural/artificial - Acidentes radioativos (Chernobyl) - Contaminação ambiental ® Necessidade de perícia local e dos indivíduos que sobreviveram ou não - Lesões agudas (radiotermites): ® Úlceras (pele, gastrointestinal) ® Pode levar a morte - Lesões crônicas: ® Alterações genéticas ® Neoplasia ® Alterações na espermatogênese e ovulogênese ® Alterações de células sanguíneas 6. PRESSÃO ATMOSFÉRICA - Baropatias: doenças causadas pela alteração da pressão atmosférica - Barotraumas: lesões causadas pela alteração da pressão atmosférica 6.1. Diminuição da PA: - Rarefação do nível de oxigênio - Causa jurídica: ® Acidental: mal das montanhas ® Acidente de trabalho: mal dos aviadores - Efeitos: ® Taquicardia ® Dor de cabeça ® Náuseas ® Epistaxe (sangramentonasal) ® Otorragia (sangramento nos ouvidos) ® Desmaio ® Morte - Forma aguda: ® Clássica: dor de cabeça ® Forma pulmonar: edema pulmonar agudo ® Forma cerebral: edema cerebral (raro) Catharina Gusmão 19.2 – UFBa 6.2. Aumento da PA: - Fisiologia da descompressão brusca (acidentes de mergulho) - Mal dos mergulhadores: rápida subida a superfície - Mal dos caixões: indivíduos que trabalhavam dentro de caixas pressurizadas (não mais utilizado) - Lesões: ® Ruptura do tímpano ® Vertigens ® Dispnéia ® Hemorragia interna ® Edema pulmonar ® Morte por embolia gasosa – bolhas de nitrogênio - Patologia da descompressão: intoxicação por oxigênio, nitrogênio ou gás carbônico ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO – QUÍMICA ASFIXIOLOGIA FORENSE - Asfixia: supressão da respiração (mecanismo respiratório, vascular e nervoso) - Classificação das asfixias: ® Por constrição do pescoço (enforcamento, estrangulamento e esganadura) ® Por sufocação (direta ou ativa – oclusão dos orifícios das vias aéreas, soterramento, confinamento/ indireta ou passiva – compressão do tórax) ® Por colocação da vítima em: meio líquido ou ambiente de gases irrespiráveis - Causa jurídica da morte: homicídio, acidente ou suicídio Homicídio Qualificado CP – Art. 121. § 2° Se o homicídio é cometido III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; - Sinais externos: ® Cianose (indivíduo arroxeado) ® Equimose das conjuntivas (ruptura de pequenos vasos) ® Hipóstases escuras (devido aos altos níveis séricos de CO2) ® Cogumelo de espuma - Sinais internos: ® Sangue com coloração escura ® Congestão polivisceral ® Equimoses escuras Catharina Gusmão 19.2 – UFBa POR CONSTRIÇÃO DO PESCOÇO a) Enforcamento: - É o tipo de asfixia mecânica em que ocorre a compressão extrínseca cervical com bloqueio das vias aéreas por um LAÇO FIXO, ativado pelo peso da própria vítima ® Típico ou completo: corpo totalmente suspenso ® Atípico ou incompleto: corpo parcialmente apoiado em alguma superfície - Sinais externos: ® Sulco equimótico – escoriativo ® Protrusão da língua ® Relaxamento dos esfíncteres ® Ejaculação ® Pequenas lesões em membros OBS: Sulco equimótico – Escoriativo - Oblíquo ascendente (em formato de V invertido) - Geralmente único - Descontínuo - Acima da cartilagem tireóidea - Profundidade irregular - Sinais internos: ® Lesão da carótida (sinal de Amessat e Friedberg) ® Lesão de nervos (sinal de Otto) ® Luxação da 2ª vértebra cervical/ Fratura da 2ª vertebra (sinal do homem enforcado) ® Lesões no osso hioide ® Lesões de laringe - Causa jurídica da morte: a mais frequente é o suicídio, seguida de homicídios e acidentes b) Estrangulamento: - Constrição do pescoço utilizando-se de um laço tracionado por qualquer força, que não seja o peso do corpo da vítima - Sinais externos: ® Sulco equimótico – escoriativo: contínuo, horizontal ou transversal, profundidade uniforme, com frequência múltipla (sulcos secundários) ® Hiperemia e tumefação da face ® Sufusão conjuntival (hemorragias na conjuntiva ocular) Catharina Gusmão 19.2 – UFBa ® Sinais de luta - Sinais internos: ® Lesões do plexo vascular e nervoso cervical – Sinal de Amessat, Friedberg, Otto ® Fratura, luxação da laringe e fratura do hioide (RAROS) - Causa jurídica da morte: a mais frequente é o homicídio, seguida por acidentes e suicídio c) Esganadura: - Constrição da região ântero-lateral do pescoço produzida por AÇÃO DIRETA DAS MÃOS DO AGRESSOR, impedindo a passagem de ar pelas vias respiratórias (ausência de sulco) - Causa jurídica: sempre será considerada homicídio - Sinais externos: ® Escoriações cervicais ® Cianose e equimose punctiformes na face ® Hiperemia da conjuntiva ® Narinas com espuma sanguinolenta ® Protrusão da língua ® Otorragia por ruptura do tímpano - Sinais internos: ® Infiltrações hemorrágicas faciais ® Lesões do plexo vascular e nervoso cervical – Sinal de Amessat, Friedberg, Otto ® Fratura do osso hioide (frequente) ® Fratura e luxações de laringe (raros) OBS: A maioria dos autores considera a utilização do braço, perna e etc. como estrangulamento POR SUFOCAÇÃO DIRETA - Compressão ou obstrução das cavidades oral e nasal (mão, mordaça, travesseiro) - Corpos estranhos obstruindo as vias aéreas – aspiração: alimentos, objetos, próteses dentárias - Sinais gerais são clássicos de asfixia mecânica, além de lesões na boca e no nariz e a presença de corpos estranhos nas vias aéreas Catharina Gusmão 19.2 – UFBa a) Soterramento: - Tamponamento das vias aéreas por elemento solido (substância pulvurulenta) ou semilíquido (gel) - Na maioria dos casos, a natureza jurídica é acidental - Sinais gerais de asfixia - Lesões traumáticas associadas b) Confinamento: - Asfixia do indivíduo enclausurado ® Espaço limitado ou fechado ® Ausência da renovação do ar atmosférico ® Falta de oxigênio ® Aumento gradual de gás carbônico POR SUFOCAÇÃO INDIRETA - Impedimento da expansão da caixa torácica - Máscara equimótica da face (Máscara de Morestin) AFOGAMENTO - Decorre da colocação da vítima em meio líquido - Penetração de elementos líquidos nas vias respiratórias, impedindo assim a passagem de ar até os pulmões e/ou inundando os alvéolos impedindo as trocas gasosas - Não há necessidade de imersão total do corpo - Etapas: ® Defesa: apneia voluntária ® Resistência: perda da consciência e respirações profundas ® Exaustão: hipóxia cerebral (gera crise convulsiva) e parada circulatória - Sinais externos: ® Pele anserina (arrepiada) ® Maceração epidérmica (palma das mãos e planta dos pés rugosos) ® Cogumelo de espuma (boca e narinas) ® Resíduos minerais e/ou vegetais na pele, roupa e corpos estranhos sob as unhas (dependendo do local do afogamento) ® Lesões após a morte: por peixes e crustáceos (analisar se foram vitais ou pós morte) ® Lesões por arrasto (ao afundar) - Sinais internos: Catharina Gusmão 19.2 – UFBa ® Líquido e corpos estranhos nas vias aéreas ® Lesões pulmonares – enfisema aquoso subpleural / equimoses subpleurais ® Diluição do sangue ® Líquido no aparelho digestivo e ouvido médio OBS: Afogados brancos de Parrot - Morte na água sem sinal de afogamento - Ausência de sinal de asfixia - Predisposição individual - Variação térmica brusca - Diagnóstico de exclusão - Morte muito rápida OBS 2: Tipos de afogamento/afogados A: Afogado Azul - Úmido: líquido nas V.A. e sinais de asfixia B: Afogado Branco - Seco: alvéolos vazios e sem sinais de asfixia - Corpo encontrado na água ® Não precisa estar completamente submerso para ser considerado afogamento ® Confirmar se foi, de fato, afogamento ou se existem outras causas para morte - Maioria dos casos, a natureza jurídica é acidental POR COLOCAÇÃO DO INDIVÍDUO EM AMBIENTE DE GASES IRRESPIRÁVEIS: - Ambientes de gases irritantes e cáusticos (amoníaco, monóxido de carbono, metano, óxido nítrico, etc.) a) Monóxido de carbono: - Formação de carboxihemoglobina - Pele rosada - Sangue fluído e rosado - Rigidez cadavérica precoce - Manchas de hipóstase claras - Putrefação tardia - Edema cerebral b) Inalação de desodorante spray: - Composição: álcool, alumínio, gases (isobutano, butano e propano) - Ação aguda: morte por asfixia - Uso crônico: dependência, irritabilidade, ansiedade, lesões cerebrais, parada cardíaca e morte
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