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BBPM III William Raphael Whitaker T6 Farmacologia 3 Aula 4 – Farmacologia da Dislipidemia Classificação das Dislipidemias Metabolismo de Lipoproteínas Antes de iniciar a discussão sobre as classes de fármacos que envolvem o metabolismo de lipoproteínas, precisamos lembrar que as lipoproteínas possuem esse nome por possuírem tanto um componente lipídico (triacilgliceróis + fosfolipídios + colesterol livre e esterificado) quanto um componente proteico (Apolipoproteínas ou apoproteínas). As Apolipoproteína ou apoproteínas possuem funções importantes, como a estabilidade estrutural, ligação lipoproteína + receptor e cofator de processos enzimáticos que regulam o metabolismo das lipoproteínas. Os quilomícrons são formados por Apo B-48, enquanto o VLDL por Apo B-100, uma característica que pode ser muito importante na bioquímica. Nós temos, na imagem a seguir, uma representação mais simplificada do metabolismo dessas lipoproteínas. Os quilomícrons saem do intestino e o VLDL do fígado. Os quilomícrons contém os lipídeos oriundos da dieta e o VLDL são sintetizados através do fígado. A enzima LPL irá clivar os triacilgliceróis dessas lipoproteínas, havendo uma troca de apoproteínas entre essas lipoproteínas e o HDL, havendo ainda remanescentes de quilomícrons e de VLDL. Essas lipoproteínas (Quilomícrons e VLDL) irão receber uma apoproteína da HDL, a ApoE. No processo de formação do LDL há a perda das apoproteínas, remanescendo apenas a ApoB. BBPM III William Raphael Whitaker T6 Essas lipoproteínas podem ser captadas pelo fígado, principalmente pelos receptores de LDL, que possuem um papel importante na farmacologia. Hiperlipidemia X Aterosclerose Existe uma relação entre a hiperlipidemia, principalmente com os níveis de LDL-colesterol, e a aterosclerose, uma vez que existe uma relação direta entre a oxidação de LDL por meio da peroxidação lipídica e o acúmulo nas células espumosas com a formação de placas ateromatosas nos vasos. Pensando nisso, existem algumas metas que devem ser atingidas tanto por tratamento farmacológico ou não. Farmacologia da Dislipidemia – Classes de Fármacos Pensando na farmacologia, temos algumas classes de fármacos que atuam sobre esse metabolismo. As estatinas são as mais conhecidas, sendo inibidoras da enzima HMG-CoA redutase, mas temos também as resinas de ligação aos ácidos biliares, niacina (ácido nicotínico), derivados do ácido fíbrico e a ezetimiba, que é um inibidor da absorção de colesterol. Estatinas A classe das estatinas é muito bem documentada, inclusive na sua importância para a redução da dislipidemia e na redução da taxa da mortalidade por doenças cardiovasculares. As estatinas tem como mecanismo básico de ação a inibição da biossíntese de colesterol, logo, seu efeito final é a inibição da síntese hepática de colesterol. Na imagem, temos uma representação simplificada da biossíntese de colesterol, com uma etapa que é a “taxa limitante”, que envolve uma enzima chamada de HMG-CoA redutase, que participa na conversão de HMG-CoA em mevalonato. As estatinas promovem uma inibição competitiva na enzima HMG-CoA redutase, causando uma redução da biossíntese do colesterol hepático, acarretando em uma expressão aumentada de receptores de LDL. Com essa redução da síntese de colesterol, o mecanismo fisiológico acontecerá na célula, que é a ativação da proteína chamada SREBP, que é a Proteína Ligante dos Elementos de Resposta aos Esteróides, sendo importante no metabolismo intermediário em geral. Então, uma vez reduzido a produção de colesterol pelo hepatócito teremos a ativação dessa BBPM III William Raphael Whitaker T6 proteína, sendo que uma das coisas que ela fará é aumentar a expressão do receptor de LDL, presente na membrana celular, fazendo com que tenha maior entrada de LDL na célula. Portanto, o efeito final desse processo é a redução dos níveis plasmáticos de LDL colesterol. O que difere uma estatina da outra são questões farmacocinéticas e a própria potencia delas. Temos algumas relações comparativas entre elas: Temos também algo que chamamos de “Regra dos Seis”, que, em média, a cada duplicação da dose de estatinas, há uma redução de 6% nas concentrações plasmáticas de LDL colesterol. Além da redução de LDL colesterol, as estatinas também são capazes de reduzir o nível de triacilgliceróis. Uma das explicações para isso é que essa redução da síntese hepática de colesterol também acarreta em uma síntese hepática de VLDL, que contém colesterol em sua estrutura. Algumas estatinas são recomendadas sua ingestão à noite, uma vez que a síntese máxima de colesterol se dá entre meia-noite e 2 horas da manhã. Dentre os efeitos colaterais da estatina, talvez a mais importante é a miopatia, que envolve mialgia e, em uma situação mais crítica, pode envolver Rabdomiólise, uma destruição de células musculares esqueléticas (aumento de CK). Pode haver ainda Hepatotoxicidade. Fatores que afetem o metabolismo das estatinas de forma que se aumente o nível plasmático faz com que a chance de aparecimento dessas miopatias aumentem. Isso pode ocorrer pela inibição do catabolismo das estatinas, sendo que idade avançada, doenças multissistêmicas, disfunção hepática/renal e Hipotireoidismo não tratado são alguns causadores dessa inibição. Sequestradores de Ácidos Biliares Temos como exemplo a Colestiramina, que são moléculas grandes e não são absorvidas quando são administradas. São carregadas positivamente, realizando uma ligação com ácidos biliares de carga negativa. Esse complexo todo irá ser excretado nas fezes. Portanto, ocorre uma depleção de ácidos biliares, fazendo com que o fígado, de forma compensatória, produza mais ácidos biliares. Esses ácidos biliares são produzidos por meio do colesterol, por meio da enzima 7α-hidroxilase. Sendo assim, haverá maior expressão dessa enzima e uma recaptação maior de colesterol no colesterol plasmático, diminuindo seus níveis. Também se sabe que eles aumentam os níveis de triacilgliceróis, sendo importante esse conhecimento no tratamento de pacientes que já tenham níveis elevados de triacilgliceróis. Um dos mecanismos para esse aumento pode ser pela expressão aumentada de da HMG-CoA redutase. Eles geralmente são bem tolerados, porém, distensão abdominal, constipação e dispepsia compõem seus principais efeitos colaterais. Ácido Nicotínico (niacina) BBPM III William Raphael Whitaker T6 Uma outra classe é a da niacina. A niacina possui um interessante mecanismo de ação. Na figura abaixo temos uma representação de adipócitos e do fígado. Os triacilgliceróis dentro do adipócito serão clivados por uma enzima HSL, gerando ácidos graxos livres. Esse AGL sai do adipócito e se dirige ao fígado, sendo utilizados para a síntese de triacilgliceróis e, consequentemente, VLDL. No adipócito há um receptor em que a niacina se ligará, gerando uma cascata de sinalização e o resultado final será uma inibição da HSL, fazendo com que haja uma menor síntese de VLDL. Além disso, sabe-se que a niacina também reduz o catabolismo de uma apoproteína chamada Apo-A1, que é uma apoproteína da estrutura do HDL. O principal efeito colateral da niacina está relacionado a rubor e prurido, provavelmente devido à produção aumentada de prostaglandina. Temos outros mais graves, mas menos comum, como hepatotoxicidade, hiperglicemia, aumento de ácido úrico e dispepsia. Um outro detalhe importante é em relação a associação com as estatinas. Foi observada que a associação de estatinas com as niacinas aumenta o risco de miopatias. Fibratos Os fibratos possuem um mecanismo de ação curioso. O fibrato é um ligante do PPARα, ativando-o. O PPARα ativado possui uma série de efeitos importantes, como aumentar a oxidação de ácidos graxos nos fígados, diminuir a síntese de Apo-CIII nos hepatócitos, possuindo esses dois como efeito finaluma queda de triacilglicerídeos plasmáticos. Esse PPARα também aumenta a síntese de Apo-AI e Apo-AII nos hepatócitos, aumentando a taxa de HDL plasmático. BBPM III William Raphael Whitaker T6 Ezetimiba É um fármaco mais recente, sendo um inibidor da absorção intestinal do colesterol. O colesterol, dentro das micelas, chega ao enterócito e, por meio de um transportador NPC1L1, adentram os enterócitos. A ezetimiba inibe esse transportador, reduzindo a absorção intestinal de colesterol, a taxa do colesterol dos quilomícrons, da formação de LDL por VLDL e acarretando uma suprarregulação do receptor de LDL.
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