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AULA 6 IMPACTOS LEGAIS DA GLOBALIZAÇÃO NA GESTÃO DE PESSOAS Prof. João Alfredo Lopes Nyegray 02 CONVERSA INICIAL Talvez uma das frases ou dos pensamentos mais comuns na área de Recursos Humanos seja aquele que diz que “empresas são feitas de pessoas”. Por mais óbvia que seja tal afirmação, sua simplicidade pode esconder uma lição fundamental. Em primeiro lugar, de que, se empresas são feitas de pessoas, então será muito difícil contratar apenas pessoas extraordinárias para que a empresa seja extraordinária também. Em segundo lugar, mas não menos importante, a constatação que se pode fazer é de que, uma vez que contratar apenas seres humanos com habilidades incríveis é tão difícil, precisamos construir um local adequado no qual pessoas comuns possam realizar feitos inovadores e diferenciados. Internacionalmente, a mesma regra se aplica. Até aqui você já pode absorver uma quantidade razoável de informações que lhe permitem entender e vislumbrar com clareza o cenário internacional. Você aprendeu a respeito da composição do ambiente de negócios, da internacionalização das empresas, de seus riscos e desafios. Agora, basta encaixarmos nessa lógica o papel estratégico dos recursos humanos para que os negócios internacionais saiam do papel e tornem-se não apenas um plano estratégico, mas uma realidade vivenciada. CONTEXTUALIZANDO Vamos pensar no seguinte caso: um brasileiro propõe negócio a um argentino, via internet. O argentino aceita e ambos começam a fazer negócio. Caso algum problema surja nesse contrato, qual lei é aplicável ao caso? A lei brasileira ou a lei argentina? Essa discussão refere-se à aplicabilidade do direito no tempo e no espaço. Quando falamos em espaço, aqui, nos referimos não ao espaço sideral onde estão estrelas, asteroides e planetas, mas ao espaço enquanto território de determinada nação. Se um negócio foi realizado via internet, a lei de qual país deve ser aplicada? Quem nos ajuda a entender essa questão é a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, o Decreto-Lei n. 4.657 de 1942. Em seu artigo 9º, essa lei diz que, para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. Outro ponto importante sobre isso está no artigo 12º: é competente 03 a autoridade judiciária brasileira quando o réu for domiciliado no Brasil ou quando aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Mais um ponto que julgamos relevante está ligado a algo que todos já vimos. Você certamente já viu aqueles filmes policiais em que há algum tipo de confronto de jurisdições. Um investigador diz ao outro que isto ou aquilo “não está na sua jurisdição”, ou que “isso é de minha jurisdição”. Mas o que quer dizer isso? Bem, jurisdição significa pura e simplesmente “dizer o direito”. Não no sentido de dizer quais leis são ou não aplicáveis, mas no sentido de qual entidade proclama quais normas. Infelizmente, é frequente vermos em campanhas para vereadores, deputados estaduais e deputados federais candidatos fazendo promessas fora de sua área de jurisdição. Por exemplo: vereadores prometem mudar o tempo de contribuição para a aposentadoria e deputados federais prometem diminuir o ICMS sobre algo ou alguma coisa. Isso é possível? Não! O INSS é um órgão federal, então só pode ser regulamentado por leis federais. Por outro lado, o ICMS – imposto sobre circulação de mercadorias e serviços – é de competência estadual, e só pode ser alterado por leis estaduais criadas pelos deputados estaduais e aprovadas pelas assembleias legislativas. E internacionalmente, como isso funciona? É o que veremos a seguir! TEMA 1 – O SISTEMA LEGAL BRASILEIRO E OS DEMAIS Uma das características do Direito é sua divisão em vários ramos. Ainda que o Direito em si seja uma coisa só, estudiosos da área efetuaram a divisão em matérias e temas diferentes para facilitar a prática profissional e o estudo. Por exemplo: existe o Direito Administrativo, encarregado da Administração Pública, suas possibilidades, premissas, princípios e limitações. Existe o Direito Tributário, que cuida do estudo, interpretação e análise das normas relativas à tributação e às finanças. E existe, é claro, o Direito Aduaneiro, que se encarrega de entender, normatizar e interpretar as situações relativas à entrada e saída de mercadorias em um país por meio do comércio exterior. Eis aqui um problema: o Direito varia de país para país. As leis mudam. O sistema legal diverge. Poucas coisas são estáticas nesta área e neste ramo. Conforme varia uma cultura, varia a conduta tida como aceitável ou não. É justamente aqui que entra aquilo que você aprendeu lá na primeira aula: a importância da cultura. Para algumas culturas, certas coisas são criminosas. Para 04 outras, não. Da mesma forma, para nós, agir de determinada maneira pode ser mal-educado. Para o cidadão de alguma outra nação, não. Por conta dessas diferenças, existem no mundo sistemas legais distintos. Um sistema legal é a maneira pela qual as normas jurídicas são criadas, estabelecidas e aplicadas. O sistema legal ao qual o Brasil pertence chama-se sistema da “Civil Law”, ou da “Lei Civil”. Possui origens antigas, lá no Direito Romano. Esse sistema legal é amplamente utilizado pela Europa, que influenciou largamente o Direito Brasileiro. Itália, Alemanha, França e, é claro, Portugal: Sua origem remonta ao direito romano e ao código napoleônico. Baseado em um sistema abrangente de leis que foram 'codificadas' – claramente escritas e acessíveis, divide o sistema legal em três códigos distintos: comercial, civil e criminal. O código civil é considerado completo em decorrência de cláusulas genéricas encontradas na maioria dos sistemas codificados. As regras e os princípios formam o ponto de partida da argumentação jurídica e da aplicação da justiça. Os códigos escritos, ou codificados, surgem como leis e códigos de conduta específicos produzidos por um corpo legislativo ou alguma outra autoridade suprema. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 128). É justamente por isso que o Brasil possui o Código Civil, o Código de Processo Civil, o Código Penal, o Código de Processo Penal, o Estatuto do Idoso, da Criança e do Adolescente, do Torcedor, e tantas outras leis. Todas essas leis são criadas e codificadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pelo presidente da república. Nossas leis só possuem validade se respeitarem nossa norma máxima, que é nossa Constituição Federal. São essas leis que serão aplicadas e interpretadas pelos juízes do país. Essas leis e códigos têm validade em todo o território brasileiro. Justamente por isso que você não verá um código civil paranaense e outro distinto em Minas Gerais, por exemplo. No entanto, nos Estados Unidos, é diferente. Alguns estados impõem pena de morte, outros não. Alguns estados permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, outros não. Isso se deve ao fato de que a Inglaterra e todos os países por ela colonizados (como Estados Unidos, Índia, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia) utilizam o sistema legal da “Common Law”, ou Direito Comum: O direito comum (também conhecido como casos de direito) constitui um sistema legal que se originou na Inglaterra e se disseminou para Austrália, Canadá, Estados Unidos e os antigos membros da British Commonwealth. A base do direito comum consiste em tradição, práticas passadas e precedentes legais estabelecidos pelos tribunais de uma nação por meio da interpretação de estatutos, legislação e decisões judiciais. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 128). Nesses sistemas legais, os juízes não julgam com base nas leis escritas, e sim com base no costume, nas práticas. Por exemplo: se um ladrão furta um 05 automóvel hoje, a condenação dele será baseada não apenasno que diz a lei, mas em outras condenações anteriores ocorridas em casos semelhantes. Por isso, cada estado dos Estados Unidos possui penas distintas. Alguns com pena de morte e outros com prisão perpétua. “Dessa forma, os juízes em um sistema de direito comum concentram substancial poder para interpretar as leis com base nas circunstâncias únicas de cada caso, incluindo disputas comerciais e outras situações pertinentes aos negócios” (Knight; Cavusgil; Riesenberger; 2010, p. 128). Outro sistema legal é o sistema religioso: O direito religioso é um sistema legal fortemente influenciado por crenças religiosas, códigos éticos e valores morais tidos corn10 determinados por um ser supremo. Os mais importantes desses sistemas baseiam-se nas leis hindus, judaicas e islâmicas. Dentre elas, a mais disseminada é a islâmica, encontrada, sobretudo, no Oriente Médio, no norte da África e na Indonésia. Ela deriva das interpretações do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, e dos ensinamentos do profeta Maomé. Também conhecido como sharia, a lei islâmica é não secular - ou seja, de modo geral, os adeptos não distinguem entre vida religiosa e secular. Ela dita normas de comportamento referentes a política, economia, transações financeiras, contratos, casamento e muitas outras questões sociais. Rege os relacionamentos interpessoais, entre as pessoas e o Estado e entre as pessoas e o ser supremo. Dessa forma, pode-se considerar que abrange todas as relações humanas possíveis. Por ser tida como divinamente ordenada, a lei islâmica é relativamente estática e absoluta. Em contraposição aos demais sistemas legais, evolui muito pouco no decorrer do tempo. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 129). Por misturar assuntos de estado e religião, o sistema legal religioso é o mais arriscado de todos para as empresas, pois sua atuação deve pautar-se não pela lei escrita, mas pela religião. Para os estrangeiros, esses sistemas são os de mais difícil entendimento. Em cada um desses sistemas legais, o cuidado do profissional de Recursos Humanos é distinto: não basta entender os desafios de internacionalizar para um país da Common law ou do sistema religioso, mas entender os hábitos culturais dos potenciais funcionários de cada um desses locais. TEMA 2 – OS RISCOS JURÍDICOS DOS DISTINTOS SISTEMAS LEGAIS Como você deve imaginar, um risco é a probabilidade de que algo dê errado. Quanto menor o risco, maiores as chances de sucesso. Em negócios internacionais, existem muitos fatores de risco, muito mais do que no ambiente doméstico. Uma das explicações para isso é a existência de uma dificuldade muito maior em se conhecer realmente a cultura, os costumes e os hábitos de compra de um povo de outra nação. 06 Como relacionar tais riscos aos aspectos legais? Bem, em primeiro lugar, as leis de um país tendem a favorecer seus nacionais em detrimento dos estrangeiros. Em segundo lugar, como naturais de um dado local, os seus habitantes e as empresas domésticas tendem a possuir maior domínio sobre as regulamentações de seu país. É o caso, por exemplo, das empresas brasileiras já devidamente acostumadas com o caos tributário que é o Brasil, com a forma pela qual se deve elaborar contratos ou quais são os direitos básicos dos trabalhadores. Toda empresa estrangeira que vem ao Brasil precisa, obrigatoriamente, respeitar a nossa legislação integralmente para aqui operar. Imagine uma empresa chinesa que, em seu país de origem, obriga seus funcionários a trabalhar 12 horas por dia. Essa empresa pode fazer isso no Brasil? Não, obviamente, pois essa jornada de trabalho vai contra a nossa legislação. Esse é apenas um dentre vários possíveis casos da influência do sistema legal como um risco. Via de regra, os sistemas jurídicos teocráticos são os mais arriscados, uma vez que trazem para a seara judiciária questões religiosas, nem sempre de fácil interpretação. O sistema da Common law, por sua vez, apresenta uma peculiaridade: para que haja certeza de que eu e minha empresa estamos agindo em acordo com a lei, precisamos conhecer os costumes locais, o que também nem sempre é fácil. E é só isso? Não! Existem dezenas de outros fatores de impacto. Um deles, por exemplo, é a questão do boicote: Às vezes, consumidores e grupos de interesse especiais visam empresas que consideram danosas aos interesses locais e podem recusar-se a ser clientes daquelas que se comportem de maneira indevida. Um boicote constitui uma recusa voluntária de fazer negócio com uma nação ou empresa. Os boicotes e os protestos públicos resultam em perda de vendas e aumento dos custos de relações públicas para a melhoria da imagem empresarial. A Disneylândia Paris e o McDonald's têm sido alvo de boicotes de fazendeiros franceses e de sua ira contra políticas agrícolas norte-americanas e a globalização. Muitos cidadãos norte-americanos boicotaram produtos franceses após a decisão da França de não dar apoio à invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos no início da década de 2000. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 132). Perceba: a questão do boicote extrapola a área de atuação da empresa, e ocorre geralmente por razões políticas. Outro ponto ao qual o profissional de RH deve estar atento refere-se às leis de investimento estrangeiro. Ao buscar outra nação para efetuar negócios internacionais, é importante ter certeza de que o cenário encontrado no exterior seja favorável: 07 Essas leis afetam os tipos de estratégia de entrada disponíveis às empresas, bem como suas operações e desempenho. Muitas nações impõem restrições à entrada de investimento direto estrangeiro (IDE). Por exemplo, no Japão, o daitenhoo (lei das lojas de varejo de grande escala) coibiu estrangeiros de abrir lojas no estilo atacadista como Walmart e Toys "R" Us, restringido as operações de gigantes varejistas. Esses devem obter a aprovação dos concorrentes locais, em um processo minucioso e demorado. Na Malásia, as empresas que desejam investir em negócios locais devem obter a permissão do Malaysian Industrial Development Authority, que examina as propostas para garantir que se adequem às metas da política nacional. Os Estados Unidos restringem investimentos estrangeiros que julgam afetar a segurança nacional; os de grande porte devem ser examinados pelo U.S. Committee on Investments. Em 2006, o Congresso norteamericano opôs-se ferozmente a uma transação que concederia o controle de vários portos do país à Dubai Ports World, uma empresa sediada nos Emirados Árabes Unidos. Sob forte oposição do público e do Congresso norte-americanos, a empresa acabou abandonando seus planos de investimento. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 132). Temos, aqui, mais um exemplo de como as leis nacionais tendem a favorecer os locais em detrimento dos estrangeiros. Outros exemplos estão ligados ao marketing e à distribuição. Veja o caso brasileiro: existe uma regulamentação de defesa do consumidor que impede as marcas que produzem itens destinados ao público infantil de anunciar seus produtos de qualquer maneira. Existe uma grande regulamentação que afeta todos aqueles que produzem para a faixa etária infanto-juvenil. E na hora de contratar alguém? Bem, nessas horas, precisa-se, claramente, conhecer o cenário jurídico do país de destino da empresa. Contratos internacionais, quando mal feitos, são grande fonte de risco para a empresa que está internacionalizando: Os contratos internacionais atribuem direitos, deveres e obrigações às partes envolvidas. São utilizados em cinco principais tipos de transação comercial: (1) venda de bens ou serviços, sobretudo de grande porte, (2) distribuição dos produtos de uma empresa por meio de distribuidores estrangeiros, (3) licenciamento e franquia - isto é, uma relação contratual que permite que uma empresa utilize a propriedade intelectual de outra, suas ferramentasde marketing e outros ativos, (4) IDE, especialmente nos casos em que isso se dá em colaboração com uma entidade estrangeira, com o propósito de criar e operar uma subsidiária no exterior e (5) joint ventures ou outros tipos de cooperação internacional (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 132). É justamente para reduzir todos esses riscos que muitas empresas buscam efetuar parcerias com empresas do país para onde estão internacionalizando. É sempre menos arriscado aliar-se a alguém que já conhece o terreno, o cenário onde vai atuar. 08 TEMA 3 – O PAPEL ESTRATÉGICO DOS RECURSOS HUMANOS NOS NEGÓCIOS INTERNACIONAIS Bem, você até aqui já deve ter percebido que, por mais globalizado que nosso mundo seja, existem ainda diferenças bastante sensíveis e notáveis no que tange ao Direito, aos sistemas jurídicos e às regulamentações de forma geral. É o bom entendimento desses fatores que faz com que sua empreitada internacional tenha ou não sucesso. Você consegue visualizar como os recursos humanos possuem um papel estratégico nos negócios internacionais? Primeiro, como você já sabe e como afirma a velha frase, “empresas são feitas de pessoas”. Em segundo lugar, justamente por conta disso, as empresas são tão boas quanto seus colaboradores: Sem as pessoas criativas, designers, solucionadores de problemas e outros funcionários detentores de conhecimentos, empresas como a McKinsey, Saatchi&Saatchi, Pixar, Gucci, Herman Miller, Nokia e muitas outras dificilmente sobreviveriam. Hoje, as empresas muitas vezes se referem aos funcionários como ‘talento humano’, ‘capital humano’ ou ‘ativos intangíveis’, sugerindo que representam um investimento, e não um custo. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 412). Realmente, é difícil imaginar o sucesso dessas organizações sem seus funcionários, sem as pessoas que criaram muitas das inovações que utilizamos hoje. Existe aqui uma dificuldade: como você já aprendeu, quando a empresa opera num outro país, é preciso seguir à risca suas regras e leis. Como, então, lidar com essa complexidade? Vejamos o caso da Siemens: Veja a organização global da Siemens, a multinacional alemã. Em 2005, a Siemens tinha 460.800 funcionários em cerca de 190 países. A empresa empregava 290.500 em toda a Europa, 100.600 na América do Norte e do Sul, 58 mil na região da Ásia-Pacítico e 11.900 na África, no Oriente Médio e na Rússia. Como a Siemens, empresas como a Vokswagen, Nestlé, IBM, Anglo American, Unilever, WalMart, McDonald’s, Matsushita e Mittal Steel têm mais de 150 mil funcionários que trabalham fora do seu país de origem. A diretoria luta com uma vasta gama de desafios na contratação e gerenciamento de trabalhadores no âmbito das especificidades culturais e legais que regem as práticas dos trabalhadores pelo mundo. (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 413). Considere, agora, o seguinte ponto: enquanto na Europa as mulheres participam normalmente dos processos seletivos nessas empresas, ou trabalham em áreas-chave, no Oriente Médio e em partes da Ásia e da África isso é impensável. Significa que, se alguma dessas empresas europeias ou norte- americanas enviar para essas regiões (partes do Oriente Médio, Ásia e África) 09 uma mulher num cargo de chefia, gerência ou diretoria, talvez essa pessoa tenha sérios problemas de preconceito e discriminação. Complexo, não? É para lidar com essas questões que surge a área da gestão internacional dos recursos humanos (GIRH), que pode ser definida como o “planejamento, seleção, treinamento, emprego e avaliação de funcionários para as operações internacionais.” (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 413). Um cuidado básico da GIRH é a capacitação de funcionários em outros idiomas, o entendimento de seu plano de carreira e o estímulo ao estudo e aprimoramento. Absolutamente TODA empresa que busca internacionalizar precisa contar com funcionários capazes de comunicar-se em outros idiomas. E o mesmo vale para o profissional de Recursos Humanos! Os gerentes internacionais de recursos humanos precisam estar preparados para lidar com três categorias distintas de funcionários: 1. “Nativos do país anfitrião (NPAs). Esses funcionários são cidadãos do país onde a filial ou a subsidiária está localizada. Normalmente, os NPA constituem a maior proporção de empregados que a empresa contrata no exterior [...]; 2. Nativos do país de origem da matriz (NPMs). Também conhecidos como cidadãos do país de origem, os NCM são cidadãos do país onde está sediada a multinacional; 3. Nativos de país estrangeiro (NPEs). Estes são os empregados que são cidadãos de outros países, que não o de origem nem o de acolhimento. (Knight, Cavusgil, Riesenberger, 2010, p. 413). Assim, pode-se perceber como as empresas globais não apenas tendem a trabalhar com um número grande de funcionários, mas com um número grande de pessoas de diferentes locais. Por isso, é importante que seus gestores e gerentes possuam capacidades de comunicação intercultural, assim como a capacidade de entender a realidade de onde o outro veio, evitando sempre o etnocentrismo. Eis o papel estratégico dos recursos humanos nos negócios internacionais. TEMA 4 – TAREFAS E DESAFIOS-CHAVE NA GESTÃO INTERNACIONAL Como você já aprendeu, o cenário internacional é bem mais complexo e cheio de riscos e variáveis do que o cenário doméstico. Assim, o profissional de RH deve estar capacitado para enfrentar esses novos desafios. O primeiro passo é, certamente, familiarizar os gerentes de RH com os costumes do local de destino, visto que nem sempre é possível manter as mesmas políticas aplicadas no país de origem: 010 Ajustes devem ser feitos nas políticas de recursos humanos se as condições locais assim o exigirem. Por exemplo, em um mercado emergente, como o Vietnã, os benefícios devem incluir subsídios para moradia, educação e outras comodidades que ainda não estão disponíveis por lá. Os gerentes da filial devem familiarizar-se com os costumes locais e estabelecer códigos de conduta no que diz respeito a questões como dar brindes, recompensas e refeições aos funcionários durante o expediente. Ao mesmo tempo, a empresa deve tentar organizar o GIRH em uma escala global para que a organização possa aplicar políticas de GIRH integradas e uniformes (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 415). É daí que vem a importância de conhecer a realidade local. Dificilmente um só profissional pode fazer isso sozinho, motivo pelo qual você já aprendeu sobre a existência de intermediários e facilitadores que podem ajudar nesse processo. E o que mais podemos dizer que se configura como altamente estratégico na gestão internacional de recursos humanos? Sem dúvidas, o mix de funcionários e as políticas de contratação. As políticas de contratação no exterior não devem ser distintas das políticas domésticas no que tange às regras gerais. Por exemplo, ainda que a empresa se internacionalize para uma nação na qual há alta disparidade salarial entre homens e mulheres, a empresa não deve pagar menos às colaboradoras do sexo feminino, uma vez que, em nosso país, essa prática é proibida pela lei. Outro ponto bastante importante refere-se ao mix de funcionários: Uma das tarefas críticas que a empresa realiza é a determinação do mix ideal de funcionários em filiais internacionais da empresa e nas subsidiárias. A combinação ótima varia de acordo com a localização, a indústria, a fase da cadeia de valor e a disponibilidade de pessoal qualificado. Além disso, as leis locais determinam a proporção de empregados estrangeiros que a empresa pode contratar (Knight; Cavusgil; Riesenberger, 2010, p. 415). Ou seja: tudo depende de quais são os objetivos organizacionais da empresa ao se internacionalizar para uma determinada localidade. Em alguns casos, como o das empresas que buscam a China, o objetivo é a produção de baixocusto, caso no qual uma parceria ou joint venture com alguma empresa manufatureira local pode ajudar. Noutras situações, o objetivo é ganhar mercado vendendo numa nova nação. Assim, pode ser interessante contratar um representante comercial, um agente de vendas, ou mesmo efetuar uma parceria com algum distribuidor. Perceba: não há qualquer receita pronta para a internacionalização. Alguns critérios e fundamentos podem ser vistos na tabela abaixo: 011 Tabela 1 - Tarefas e desafios-chave na gestão internacional de recursos humanos Fonte: Knight; Cavusgil; Riesenberger (2010, p. 416). Pela tabela acima você deve perceber que cada objetivo estratégico corresponde a uma prática distinta de RH. Esses objetivos estratégicos, por sua vez, devem vir do plano geral da empresa e se adequarem à estratégia global da organização. TEMA 5 – O DIREITO BRASILEIRO FRENTE A QUESTÕES INTERNACIONAIS No atual estágio da globalização, as distâncias se reduziram e muitas das fronteiras se perderam para o alto grau de integração que o mundo de hoje nos permite. Assim, da mesma forma que, instantaneamente, podemos saber de algo que ocorre do outro lado do planeta, podemos também comprar e vender itens diversos de qualquer um, para qualquer um, em qualquer lugar da terra, desde que estejamos conectados à internet. Essa nova realidade representa um desafio para as empresas, que precisam estar cada vez mais antenadas no que ocorre ao redor do mundo, concorrendo com novos competidores estrangeiros que buscam o mercado de nosso país; e também para o direito. Você já sabe que o mundo conta com múltiplos sistemas legais distintos, e que por mais que haja grandes acordos 012 internacionais, alguns celebrados na ONU e outros na OMC, nem todas as nações tratam pessoas, bens e contratos da mesma maneira. Como, então, resolver eventuais impasses sobre contratos e propostas comerciais? Imagine o seguinte caso: no Brasil, a maioridade inicia-se aos 18 anos, a partir de quando alguém pode contratar, demitir e celebrar contratos de forma geral por conta própria. E será que, num país onde a maioridade inicia-se aos 16 ou aos 21 anos, posso contratar alguém com 15 ou com 18? Quem nos responde a essa indagação é a Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro: Art. 7º: A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. Assim, vale a lei do país onde a pessoa possui seu domicílio, ou seja, onde ela reside de forma definitiva. E quando a empresa possui bens no exterior? Esses bens podem ser regulados pela lei brasileira, que é o país de origem da empresa? Não. Veja: Art. 8º: Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados. Isso significa que, ainda que a empresa brasileira possua bens no exterior, estes serão regulados pela lei do país onde estiverem. Novamente, isso pode constituir-se um risco: se estiverem situados num país do sistema jurídico teocrático, toda a interpretação relativa à posse e à propriedade do bem deve passar pela interpretação religiosa. E no que tange aos negócios, como a coisa funciona? Vejamos a lei: Art. 9º: Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. O que isso quer dizer? Quer dizer que, se uma obrigação – um contrato ou acordo – foi constituída na Argentina ou na França, ainda que entre uma empresa brasileira e um estrangeiro, aplica-se a lei do país onde tal obrigação teve início. É aqui que entra aquela ideia de Jurisdição que você viu no início desta aula: a jurisdição é a capacidade de dizer o direito. Logo, se um contrato foi firmado fora do Brasil, está sujeito à jurisdição estrangeira. Isso é regra, e será que há exceção? Sim, veja: Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos: a. haver sido proferida por juiz competente; 013 b. terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia; c. ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; d. estar traduzida por intérprete autorizado; e. ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Isso tudo significa que é possível que uma sentença de processo estrangeiro seja cumprida no Brasil, desde que esteja de acordo com a nossa lei. FINALIZANDO O Direito varia de país para país. As leis mudam. O sistema legal diverge. Poucas coisas são estáticas nesta área e neste ramo. Conforme varia uma cultura, varia a conduta tida como aceitável ou não. Por conta dessas diferenças, existem no mundo sistemas legais distintos. Um sistema legal é a maneira pela qual as normas jurídicas são criadas, estabelecidas e aplicadas. O sistema legal ao qual o Brasil pertence chama-se sistema da “Civil Law”, ou da “Lei Civil”. No entanto, nos Estados Unidos, por exemplo, é diferente. Alguns estados possuem pena de morte, outros não. Alguns estados permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, outros não. Isso se deve ao fato de que a Inglaterra e todos os países por ela colonizados (como Estados Unidos, Índia, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia) utilizam o sistema legal da “Common Law”, ou Direito Comum. Toda empresa estrangeira que vem ao Brasil precisa, obrigatoriamente, respeitar a nossa legislação, integralmente, para aqui operar. Imagine uma empresa chinesa que, em seu país de origem, obriga seus funcionários a trabalhar 12 horas por dia. Essa empresa pode fazer isso no Brasil? Não, obviamente, pois essa jornada de trabalho vai contra a nossa legislação. Esse é apenas um dentre vários possíveis casos da influência do sistema legal como um risco. Outros exemplos estão ligados ao marketing e à distribuição. As empresas globais não apenas tendem a trabalhar com um número grande de funcionários, mas com um número grande de pessoas de diferentes locais. Por isso, é importante que seus gestores e gerentes possuam capacidades de comunicação intercultural, assim como a capacidade de entender a realidade de onde o outro veio, evitando sempre o etnocentrismo. Eis o papel estratégico dos recursos humanos nos negócios internacionais. 014 As políticas de contratação no exterior não devem ser distintas das políticas domésticas no que tange às regras gerais. Por exemplo, ainda que a empresa se internacionalize para uma nação na qual há alta disparidade salarial entre homens e mulheres, a empresa não deve pagar menos às colaboradoras do sexo feminino, uma vez que em nosso país essa prática é proibida pela lei. Ainda que a empresa brasileira possua bens no exterior, estes serão regulados pela lei do país onde estiverem. Novamente, isso pode constituir-se um risco: se estiverem situados num país do sistema jurídico teocrático, toda a interpretação relativa à posse e à propriedade do bem deve passar pela interpretação religiosa. 015 REFERÊNCIAS AMATUCCI, M. Teorias de negócios internacionais e a economia brasileira – de 1850 a 2007. In: _____. Internacionalização de Empresas. São Paulo: Editora Atlas, 2009. CAVUSGIL, S. T.; KNIGHT, G.; RIESENBERGER, J. Negócios Internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson, 2010. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788576053798/pages /_9>. Acesso em: 6 fev. 2018. DUARTE, R. G.; TANURE, B. O impacto da Diversidade Cultural na Gestão Internacional. In: DUARTE, R. G.; TANURE, B. (Orgs). Gestão Internacional. São Paulo: Saraiva, 2006. FERREIRA, M. P.; REIS, N. R.; SERRA, F. R. NegóciosInternacionais e Internacionalização para as Economias Emergentes. Lidel: Lisboa, 2011. HOBSBAWM, E. A era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. MAGNOLI, D.; SERAPIÃO JR., C. Comércio Exterior e Negociações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2012. NYEGRAY, J. A. Projetos Internacionais: Elaboração, Análise e a Construção das Relações Econômicas Internacionais da Empresa. Curitiba: Intersaberes, 2016. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788559720853>. Acesso em: 6 fev. 2018. SARFATI, G. Manual de Diplomacia Corporativa: a construção das relações internacionais da empresa. São Paulo: Atlas, 2007. SEITENFUS, R. Manual Das Organizações Internacionais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria e Editora do Advogado, 2005.
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