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Insuficiência Venosa Cirúrgia Geral e Suas Especialidades - Aula - 15/ 02/ 2021 Introdução: A insuficiência venosa corresponde a um distúrbio vascular comum e está associada a alterações morfológicas e/ ou funcionais e de linga duração. A doença pode ser assintomática ou apresentar sinais e sintomas, os quais necessitam de avaliação e tratamento. Existem três categorias de insuficiência venosa: congênita, primária e secundária. A primeira, é composta por variantes anatômicas predominantes que estão presentes desde o nascimento. Já na segunda, é uma entidade idiopática adquirida, a qual representa a maioria das insuficiências venosas superficiais. E por fim, a secundária, que surge de um estado pós-trombótico ou obstrutivo e é causada por um trombo de veia profunda ou por um processo obstrutivo crônico primário. Epidemiologia: Em torno de 2 a 5% da população mundial apresenta insuficiência venosa, e até 60% das veias se tornam varicosas, tendo relevância clínica. Nas mulheres a insuficiência costuma aparecer de forma mais precoce, por volta dos 40 anos, enquanto nos homens é mais comum a ocorrência a partir dos 70 anos. Anatomia: A drenagem venosa é realizada a partir de um compartimento superficial e de um compartimento profundo, os quais se comunicam a partir das veias perfurantes. O compartimento superficial é formado por duas veias principais, veia safena magna e a veia safena parva, ambas localizadas no subcutâneo, superficiais à fáscia muscular profunda. A safena magna é a veia mais longa do corpo e se forma a partir do arco dorsal do pé e a veia dorsal do hálux. Percorre anteriormente ao maléolo medial, ascendendo medialmente na perna e coxa, sendo responsável pela drenagem venosa dessa região. A safena magna continua como veia femoral, em seguida ilíaca comum e, por fim, na veia cava inferior (VCI). Já a veia safena parva surge do arco venoso dorsal e a veia dorsal do 5° dedo, passa posteriormente ao maléolo lateral, ascendendo lateralmente na perna e coxa e tributando na veia poplítea. A veia poplítea, ao passar pelo hiato dos adutores, passa a ser chamada de veia femoral, depois ilíaca externa, que drena na ilíaca comum e, por fim, na VCI. Já o compartimento profundo é formado normalmente por veias duplas, denominadas de acompanhantes, porque estão situadas ao lado das artérias que as acompanham. Essas veias estão localizadas de forma profunda à fáscia muscular, podendo estar dentro dos músculos ou entre eles. As veias plantares lateral e medial se continuam como veia tibial posterior. A veia tibial posterior se continua como veia poplítea, que ao passar pelo hiato dos adutores, torna-se a veia femoral (posterior à artéria femoral). Esta, ao passar pelo ligamento inguinal, passa a ser chamada de veia ilíaca externa, em seguida de ilíaca comum, e, por fim, drena a VCI. Já a veia dorsal do pé se continua como veia tibial anterior, veia poplítea, veia femoral, veia ilíaca externa e veia ilíaca comum, que tributa na VCI. Fisiopatologia: As veias possuem válvulas que, juntamente com a contração da musculatura esquelética da perna, direcionam o fluxo de distal para proximal e do compartimento profundo para o superficial. Sendo assim, as duas estruturas que determinam o fluxo venoso são, as válvulas e a bomba venosa. As válvulas venosas geralmente são bicúspides e estão em maior quantidade à medida que a pressão hidrostática aumenta, ou seja, nas regiões mais distais. Promovendo um fluxo unidirecional com o fechamento passivo das suas valvas, as válvulas impedem que o sangue flua na direção oposta e, portanto, facilitam o seu retorno ao coração. Quando há uma função inadequada da bomba muscular, válvulas venosas incompetentes ou obstrução do fluxo venoso (secundária a trombose ou estenose venosa não trombótica, por exemplo), o paciente pode desenvolver um quadro de hipertensão venosa, se essa pressão alcançar valores entre 60 e 90 mmHg (3x acima dos valores considerados normais). A hipertensão venosa sustentada, com o tempo, é capaz de promover alterações anatômicas, fisiológicas e histológicas que estão associadas a insuficiência venosa crônica. O aumento da pressão é transmitido de forma retrógrada para o sistema venoso superficial, levando a um enfraquecimento da parede venosa, resultando em uma dilatação anormal das veias na forma de telangiectasias ou varizes. Também pode ser transmitido diretamente para o sistema capilar superficial. O refluxo aumenta a pressão hidrostática na veia, resultando na perda de líquido para o terceiro espaço, como consequência acontece a formação de edema. Além da hipertensão venosa estimular a liberação de células inflamatórias na parede da veia e nas válvulas, induzindo uma resposta inflamatória. Etiologia: Primária: Na insuficiência venosa primária ocorre uma incompetência das válvulas, determinada por um aumento fisiológico da pressão nas veias. Não se sabe a causa exata dessa hipertensão, dado que, o distúrbio surge independente de outras doenças. Secundária: A insuficiência secundária está ligada a doenças que aumentam a pressão venosa, como é o caso da TVP, traumas ou condições anatômicas que estejam comprometendo a função das veias. Superficial: Ocorre quando há defeito nas válvulas venosas superficiais. Profunda: Ocorre quando há lesões nas válvulas venosas do compartimento profundo. Fatores de Risco: Existem diversos fatores de risco, alguns deles são modificáveis, os quais podem diminuir o risco do paciente desenvolver esse distúrbio. Dentre os fatores, os principais são, idade avançada, sedentarismo, obesidade, sexo feminino, posição supina prolongada, tabagismo, gestação, uso de anticoncepcional oral e trauma de membros inferiores. Além das alterações hormonais, como a progesterona liberada pelo corpo lúteo que estabiliza o útero e causa relaxamento das fibras da musculatura lisa. Como resultado, acontece a dilatação venosa passiva, que, em muitos casos, leva à disfunção valvular. Outro hormônio que pode causar a insuficiência em mulheres é o estrogênio, pois, ele também causa o relaxamento dos músculos lisos e o enfraquecimento das fibras de colágeno. A relação desses dois hormônios influencia a distensibilidade venosa. Alguns estudos sugerem que existe um forte componente familiar associado a doença venosa crônica. Nesses estudos, os pacientes que possuem pais afetados têm um maior risco de desenvolver varizes. Outro ponto importante é que a taxa de prevalência parece ser maior na população ocidental. Quadro Clínico: As manifestações clínicas podem ser bastante variáveis, desde pacientes assintomáticos até a presença de sinais e sintomas graves. A gravidade é correlacionada com o grau de incompetência das válvulas e da obstrução venosa. O principal sintoma é o desconforto na região dos membros inferiores, o qual pode ser referido como dor ou sensação de peso. A dor é descrita como pulsátil ou em queimação, podendo ser generalizada ou localizada em veias específicas. Nos casos mais graves, a dor pode dificultar a deambulação ou até mesmo impedi-la. Como fator de piora tem os momentos que o paciente fica por longos períodos em posição supina, e de melhora a elevação dos membros inferiores e a deambulação. O edema costuma estar presente em pacientes assintomáticos, sendo um sinal que está relacionado ao refluxo venoso. Nos estágios iniciais, costuma ser unilateral, limitado à região do tornozelo e aparece ao final do dia.Mas, com a evolução da doença, o edema pode se tornar persistente, bilateral, progredindo para a região da panturrilha e permanecer ao longo do dia. Nas mulheres, durante o período menstrual e a gestação o inchaço pode piorar. Da mesma forma que a dor, o edema pode piorar com longos períodos em pé e melhorar com a elevação dos membros inferiores e a deambulação. Outros sintomas são, fadiga e prurido, que são ocasionados pela congestão venosa e pela liberação de histamina devido ao processo inflamatório local. Além de apresentarem cãimbras e alterações tróficas de pele. Exame Físico: No exame físico o principal achadosão as telangiectasias, essas correspondem ao conjunto de vênulas dilatadas com menos de 1 mm de diâmetro, sendo mais comum em mulheres. Quando essas veias passam de 3 mm de diâmetro passam a ser chamadas de varizes costumam ter uma aparência tortuosa. Podem acometer inclusive a veia safena. Alterações da pigmentação da pele também podem ser observadas. São frequentes nos tornozelos, mas podem progredir para o pé e para a perna. Essa coloração alterada se deve a hemossiderina, a qual é resultado da destruição dos glóbulos vermelhos extravasados através dos capilares. Alguns pacientes ainda podem desenvolver uma dermatite por estase, que corresponde a um processo inflamatório que se manifesta como uma erupção cutânea eczematosa caracterizada por sinais como, prurido, eritema e descamação. Em casos graves, os pacientes podem desenvolver lipodermatoesclerose, que é uma inflamação crônica associada à fibrose do tecido subcutâneo. Normalmente se inicia no tornozelo, mas pode envolver a perna circunferencialmente. A região acometida se apresenta endurecida e a pele é tipicamente pigmentada. Nos estágios mais avançados, a fibrose pode ser tão extensa que estrangula a perna, impedindo o fluxo linfático e venoso. Com isso, os pacientes podem apresentar um edema importante acima e abaixo da região fibrosada. A atrofia branca pode surgir espontaneamente e consiste em áreas maculares brancas, indicando perda de fluxo sanguíneo, sendo, portanto, um sinal de gravidade. A doença venosa crônica pode também levar à formação de úlceras. As lesões aparecem principalmente nas regiões mais distais da perna, sobretudo a nível do maléolo medial, não surgindo em regiões de antepé e acima do nível do joelho. Essas têm como característica ser indolor, exsudativas, com base de tecido de granulação, bordas irregulares, mas não comprometidas, e podem ser múltiplas ou únicas. Em geral, elas não cicatrizam de forma espontânea, portanto, necessitam de tratamento adequado. Diagnóstico: O diagnóstico é eminentemente clínico. Sendo assim, a obtenção de uma história clínica adequada, incluindo investigar possíveis fatores de risco, tempo do surgimento dos sintomas e seus fatores de melhora e piora, associada aos achados do exame físico, podem ser suficientes para o diagnóstico. Em alguns casos exames de imagem auxiliam e ajudam a reconhecer as possíveis complicações da doença. A ultrassonografia com Doppler pode ajudar a identificar uma obstrução e/ ou incompetência valvar como a causa da hipertensão venosa. Ao utilizar o doppler colorido, podemos identificar a presença da direção do fluxo sanguíneo e detectar refluxo. A venografia, exame radiográfico da veia após injeção de contraste, e a ressonância magnética, são mais indicados para pacientes com sinais clínicos de insuficiência venosa, mas com achados normais ou duvidosos na ultrassonografia com doppler. Os principais diagnósticos diferenciais são: celulite, erisipela, neoplasia de pele, úlcera diabética, úlcera traumática, manifestações dermatológicas de doenças sistêmicas. Testes flebológicos: Teste Schwartz: Teste Brodie-Trendelemburg: Teste Perthes: Teste 4 garrotes: Classificação: A classificação Clínica-Etiologia-Anatomia-Patofisiológica (CEAP) é utilizada para categorizar os distúrbios venosos crônicos. C - Clínica: Corresponde aos sinais clínicos dos distúrbios venosos. E - Etiologia: Corresponde a etiologia dos distúrbio venoso. CLASSE DEFINIÇÃO Ec Congênita Ep Primária Es Secundária (pós-trombótica, pós traumática) En Nenhuma causa venosa identificada A - Anatomia: Corresponde a localização do distúrbio venoso. CLASSE DEFINIÇÃO As Veias superficiais Ap Veias perfurantes Ad Veias profundas An Nenhuma localização venosa identificada P - Pathophysiology: Corresponde a fisiopatologia do distúrbio, designando a presença ou não de obstrução e/ ou refluxo venoso. CLASSE DEFINIÇÃO Pr Refluxo Po Obstrução Pr,o Refluxo e Obstrução Pn Nenhuma patofisiologia venosa identificada Tratamento: Inicialmente o tratamento é clínico, para a maioria dos pacientes inclui medidas conservadoras, entre elas, a elevação dos membros, exercício, cuidados com a pele e terapias de compressão. Mas, é importante ficar atento aos fatores de risco, os que são modificáveis devem ser controlados, como, obesidade, tabagismo, hipertensão e DM. A elevação dos membros se possível deve ser feita de 3 a 4 vezes por dia, por cerca de 30 minutos, isso irá auxiliar a diminuir a sintomatologia e no processo de cicatrização das úlceras venosas. A contratura da perna é um dos principais determinantes para o fluxo sanguíneo, com isso, caminhadas diárias e exercícios simples são medidas acessíveis que podem ajudar a melhorar os parâmetros hemodinâmicos e também favorecer a cicatrização das úlceras. As meias de compressão fornecem gradiente de pressão ao longo do seu comprimento, ampliando a velocidade do fluxo sanguíneo. O tratamento cirúrgico é indicado para os pacientes refratários ao manejo clínico ou que evoluem com complicações. - Ligadura da veia safena magna e safenectomia: Pacientes que apresentam incompetência isolada da veia safena podem ser candidatos a ligadura do vaso na junção safenofemoral ou a ablação venosa superficial. Esse procedimento diminui o volume venoso no membro e, portanto, os efeitos da hipertensão venosa. - Escleroterapia e flebectomia: Pacientes com veias superficiais dilatadas podem ser candidatos a escleroterapia do local ou a flebectomia (ressecção da veia), a depender da localização e do tamanho do vaso. As telangiectasias e veias reticulares podem ser tratadas com escleroterapia, diminuindo o risco de sangramento. Já as varizes maiores são tratadas com a ressecção. Após a realização dos procedimentos cirúrgicos é necessário que o membro seja envolvido com curativos compressivos para se evitar que os vasos remanescentes dilatem devido ao regime de hipertensão venosa da extremidade. - Laser endovenoso/ radioablação: O laser endovenoso consiste em uma técnica percutânea, minimamente invasiva, utiliza-se da energia do laser para eliminar veias superficiais incompetentes. Os pacientes com úlceras venosas, além da terapia de compressão, precisam também de desbridamento. Ao remover o tecido desvitalizado o intuito é que se minimize os riscos de infecção e ocorra um auxílio no processo de cicatrização, assim, facilitará a formação do tecido de granulação e o processo de reepitelização. Nesses casos são utilizados curativos simples e não aderentes. Eles controlam o exsudato, mantém o equilíbrio da umidade, controlam o odor e ajudam a controlar o quadro álgico.
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