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Lúpus Eritematoso sistêmico Reumatologia – Amanda Longo Louzada Definição: · Doença inflamatória multissistêmica de evolução crônica, com surtos de remissão e agudização, dependentes de mecanismos imunológicos, e ambientais, acometendo principalmente a microcirculação e o tecido conjuntivo subjacente. Epidemiologia: · Colagenoso autoimune mais comum · Prevalência em crianças e adultos, sendo que na faixa etária de 20-40 anos acomete mais mulheres · 3 a 4 vezes maior em mulheres negras · Média de idade no diagnóstico: 31 anos · É uma doença multissistêmica com produção de autoanticorpo · Inicialmente os sintomas são constitucionais, por isso é importante uma anamnese direcionada Fatores que indicam pior prognóstico: · Raça negra · Crianças · Baixo nível socioeconômico · Sexo masculino · Proteinúria maior que 0,5g\24h · Acometimento do sistema nervoso central Etiologia: · Genética: · Parentes consanguíneos · Deficiência familiar de complemento · Estudo de histo-compatibilidade HLA DR2, DR3 e DR4 · Fatores ambientais: · Vírus Epstein-Barr · Radiação UV · Estresse emocional · Tabagismo · Medicamentos: procainamina, Hidralazina · Fatores Hormonais: aumento da relação de estrogênio\androgênio · Esses fatores somados levam a perda da tolerância imunológica, fazendo com que ocorra ativação dos linfócitos B e produção de autoanticorpos Sinais de suspeita: · Mulher jovem, com sintomas constitucionais, artralgia inflamatória ou artrite, alopécia, lesões de pele e alterações renais e com FAN positivo na maior parte das vezes Manifestações clínicas: · Manifestações Gerais: fadiga, perda de peso, mal-estar, febre e adinamia · Manifestações Mucosas: úlceras orais, nasais e anogenitais indolores · Manifestações Cutâneas: · Lúpus Cutâneo Agudo: rash malar em vespertílio ou asa de borboleta, lesões maculosas ou papulosas difusas, alopecia reversível, lúpus bolhoso e fotossensibilidade · Rash Malar: eritema na região malar e dorso no nariz, pode ser precipitado pelo sol, e seu aparecimento tende a acompanhar os períodos de atividade da doença. Cura sem deixar cicatriz · Lúpus Cutâneo Subagudo (90% são anti-Ro+): papuloescamoso (psoriasiforme), anular (policíclico), placas descamativas, eritematosas e fotossensíveis, são lesões cutâneas irreversíveis. · Lúpus Cutâneo Crônico: lesões discóides (deixam cicatrizes 15-25%), lúpus verrucoso, lúpus mucoso, paniculite lúpica (lúpus profundo) e lúpus pérnio · Lesões maculosas ou papulosas eritematosas, bem definidas, com escamas firmes e aderentes à superfície das lesões. Com a evolução tornam-se infiltrativas · Lesões crônicas podem regredir deixando áreas cicatriciais, discrômicas, telangiectasias e alopecia cicatricial · Locais mais acometidos: face, couro cabeludo, pavilhão auricular, região torácica anterior, porção superior dos braços · Podem ocorre na ausência de manifestações sistêmicas · Lesões Inespecíficas: vasculite, alopecia não cicatricial e fenômeno de Raynaud (em até 50% dos pacientes) · Alopecia Cicatricial: · Fenômeno de Reynaud: devido ao vasoespasmo · Manifestações Musculoesqueléticas: · Artralgia inflamatória · Artrite simétrica, distal e migratória · Não cursa com erosões ósseas · Artropatia de Jaccoud: ocorre em 10% dos casos, são deformidade articulares reversíveis ( o que difere da artrite reumatóide) , principalmente das mãos, secundá a frouxidão das estruturas periarticulares · Necrose óssea avascular: o paciente tem queixa de artralgia, principalmente em quadris, joelhos e ombros, é secundária ao uso de corticóides · Prevalência aumentada em pacientes com LES, principalmente naqueles em corticoterapia · Patogênese não é bem conhecida · O quadril (cabeça do fêmur) é a articulação mais frequentemente envolvida · Faz sinal em crescente · Mialgias e miopatias inflamatórias · Fibromialgia ocorre em 22% dos paciente · Síndrome Reumatóide: ocorre em 50% dos casos. É uma poliartrite simétrica, distal e migratória que acomete pequenas e grandes articulações, por mais de 2 meses, que cursa com outros sintomas sistêmicos. · Fraqueza muscular sem déficit motor · Manifestações Hematológicas: · Anemia: · Normo\normo: é anemia de doença crônica, não é critério diagnóstico · Hemolítica auto-imune: ocorre em menos de 15% dos casos, é mais graves, com teste de coombs direito positivo e aumento dos reticulócitos. É critério diagnóstico · Leucopenia, neutropenia e\ou linfopenia: · Atividade inflamatória da doença · Efeito colateral de medicamentos imunossupressores · Plaquetopenia: · Pancitopenia: fazer o diagnóstico de aplasia de medula · Linfadenopatia: até 35% em adultos e 69% em crianças · Manifestações Renais: · É o órgão mais acometido na doença · O envolvimento renal é caracterizado pela presença de proteinúria >500mg\24horas, relação proteína\creatinina >500mcg\mg, cilindrúria do EAS, ou aumento dos níveis de creatinina sem outra causa aparente · Diagnóstico histológico: biópsia renal com imunofluorescência (confirmar o diagnóstico e a classe histológica da nefrite) · Padrão Full House: depósito de IgG, IgM, IgA, C1q, C3, C4, kappa e lambda · Classe mais comum e mais grave de acometimento renal em pacientes com LES: glomerulonefrite (classe 4) · Um dos principais determinantes da morbimortalidade de pacientes com LES · Nefrite: o paciente possui uma glomérulo inflamado, que fica edemaciado, filtrando mal. · O paciente possui edema, HAS, proteinúria leve, oligúria e hematúria · Síndrome Nefrótica: nesse caso o paciente apresenta uma proteinúria maciça e o edema está relacionado a pressão oncótica · Classificação das Nefropatias Lúpicas: · Grau I: glomérulo normal · Grau II: nefrite mesangial · Grau III: nefrite proliferativa focal · Grau IV: nefrite proliferativa difusa, é o tipo mais grave pois o paciente pode levar a insuficiência renal · Grau V: glomerulonefrite membranosa · Manifestações do Sistema Nervoso Central: · Estado confusional agudo · Distúrbios cognitivos · Psicose · Desordens de humor · Desordens de ansiedade · Doença cerebrovascular · Cefaleia: é correlacionada com alto escore SLEDAI, fenômeno de Raynaud e anticorpos antifosfolipídios · Mielopatia · Desordens do movimento · Síndromes desmielinizantes · Convulsões · Meningite asséptica · AVC · Manifestações do Sistema Nervoso Periférico: · Neuropatia craniana · Polineuropatia · Plexopatia · Polirradiculoneuropatia inflamatória aguda (Guillains-Barré) · Desordens autonômicas · Manifestações Pulmonares: · Pneumonite Aguda Lúpica: inflamação alveolar aguda, incomum, acomete menos de 10% dos pacientes, semelhante a pneumonia (febre, tosse, dispneia, dor pleurítica e hemoptise) · Pleurite com derrame pleural bilateral e exsudato · Hipertensão pulmonar · Pneumopatia Intersticial: quando insidioso de tosse seca, dispneia progressiva, crepitações, tomografia com infiltrado pulmonar intersticial bibasal · Síndrome do Pulmão Retraído: acontece em pacientes de longa data, ocorre devido a pleurite crônica · Manifestações Cardíacas: · Miocardite · Endocardite de Libman-Sacks: vegetações presentes em até 40% dos pacientes, prolapso da valva mitral, consistem em acúmulos estéreis de imunocomplexos, células mononucleares, plaquetas e fibrinas. As cicatrizarem podem deformar a valva levando a regurgitação · Pancardite · Pericardite · Serosites · Manifestações Gastrointestinais: · Geralmente associadas ao uso de medicamentos para tratar a lúpus · Monilíase esofagiana é devido ao uso de imunossupressores · Hapatomegalia · Anorexia, diarreia e peritonite · Vasculite mesentérica · Ascite · Pancreatite · Manifestação Oculares: · Amaurose · Glaucoma e catarata · Vasculite retianina · Neurite óptica · Degeneração macular · Síndrome de Sjogren Secundária: · Infiltrado linfoplasmocitário, acometendo principalmente as glândulas exócrinas (salivares e lacrimais), gerando xerostomia, xeroftalmia, xerodermia, dispareunia e vaginite seca · Manifestações Sistêmicas: pulmões, rins, tireóide, sistema nervoso, pele, tecido hematopoiético e articulações ·FAN nuclear pontilhado fino e Anti-SSA\Ro+ e\ou anti-SSB\La+ Critérios Diagnósticos: · O paciente deverá preencher pelo menos quatro critérios (incluindo um clínico e um imunológico) ou ter nefrite lúpica comprovada por biopsia renal com FAN positivo ou anti-DNA positivo. · Manifestações Clínicas: · Lúpus cutâneo agudo com eritema malar (não discoide), lúpus bolhoso, necrólise epidérmica tóxica (variante lúpus) e eritemas maculopapular e fotossensível do lúpus ou lúpus cut‚neo subagudo (psoriasiforme/anular) · Lúpus cutâneo crônico: lúpus discoide, hipertrófico/verrucoso, profundus (paniculite), túmido, mucoso, sobreposição líquen plano/lúpus discoide · Úlcera mucosa: palato, cavidade oral (indolor), língua ou úlcera nasal (sem outras causas) · Alopecia não cicatricial · Artrite\Artralgia: · Sinovite (edema/derrame articular) ≥ 2 articulações · Artralgia (dor) em duas ou mais articulações, com rigidez matinal ≥ 30 minutos · Serosite: · Pleurite (dor ≥ 1 dia/derrame pleural/atrito pleural) · Pericardite (dor ≥ 1 dia/derrame/atrito/alteração no ECG) · Nefrite: proteinúria 24 h > 500 mg ou relação proteína/creatinina > 500 mcg/mg (mg/g), cilindro eritrocitário · Neurológica: convulsão, psicose, mononeurite múltipla, mielite, neuropatia periférica/craniana, estado confusional agudo (sem outras causas) · Anemia hemolítica, tendo aumento de bilirrubina, icterícia, reticulócitos VHR · Leucopenia (< 4.000/mm3 em pelo menos uma ocasião) ou linfopenia (< 1.000/mm3 em pelo menos uma ocasião)Plaquetopenia (< 100.000/mm3 em pelo menos uma ocasião) · Alteração imunológica: o paciente obrigatoriamente tem que ter o FAN ou Anti-DNA · FAN Hep2 positivo · Anti-DNA positivo · Anti-Sm positivo · Anticorpo antifosfolipídio positivo: anticoagulante lúpico positivo, anticardiolipina positiva (título moderado/alto – IgA/IgM/IgG), VDRL falso-positivo, anti-beta-2 glicoproteína 1 positiva · Complemento baixo: C3 baixo, C4 baixo, CH50 baixo · Coombs direto positivo (na ausência de anemia hemolítica) Provas imunológicas: · FAN - Fator Antinuclear: pesquisa de anticorpos contra antígenos celulares (PAAC) · FAN não é um anticorpo antinuclear específico, mas um teste para avaliar a presença de um ou mais anticorpos contra quaisquer antígenos nucleares · O soro do paciente é colocado sobre as células específicas. Caso algum anticorpo contra qualquer antígeno nuclear esteja presente no soro do paciente, ele se ligará às estruturas celulares do Hep-2. Depois é adicionado anticorpos anti-imunoglobulina humana ligados à fluoresceína determinando um padrão de imunofluorescência que será visto no microscópio · Informações Básicas Fornecidas pelo FAN: · Presença ou ausência de autoanticorpos · Padrão de imunofluorescência, que sugere algumas especificidades de autoanticorpos · Concentração do anticorpo no soro, indicado pelo título, 1:80 - 1:640 (representa a mais alta diluição do soro ainda com reação positiva) · Muito sensível (93-100%), pouco específico (57%): ocorrendo em até 10% da população normal, em outras doenças autoimunes e infecciosas · O teste do FAN pode ser complementado pela pesquisa de autoanticorpos específicos, muito dos quais apresentam utilidade clínica · O padrão nuclear homogêneo e pontilhado grosso é diagnóstico de LES · Anti-DNA: relacionado a nefrite · Anti-histona: para LES induzido por uso de drogas · Anti-Sm · Anti-P ribossomal: para manifestações neurológicas · Anti-Ro: para LES neonatal, lúpus subcutâneo agudo, BAV congesto, Síndrome de sjogren, fotossensibilidade, vasculite cutânea e doença pulmonar intersticial · É preciso se atentar a esse exames em grávida, pois caso seja positivo o feto pode desenvolver o bloqueio de um ramo e ocasionar morte · Complemento sério: C3,C5 e CH50 · Quando os níveis estão baixos indica que a doença está ativa e acometimento renal tRATAMENTO: · Bases do Tratamento: · Imunomodulador x imunosupressor · Assim que diagnóstico o diagnóstico sai faz o uso de antimalárico (eterno) - Cloroquina\Hidroxicloroquina · Protetor solar (lembrar das lâmpadas brancas) · Corticóide é o segundo medicamento mais usado · Importância do Cálcio e Vitamina D · Sintomas Graves (nefrite, SNC, hemato de difícil controle): imunossupressão potente, com pulsoterapia e citotóxicos · Medidas Gerais: · Educação: informar o paciente e aos familiares, o que é a doença, sua evolução, riscos e os recursos disponíveis para o diagnóstico e tratamento. Recomenda-se a necessidade de cumprimento das medidas estabelecidas pelo médico · Apoio Psicológico: transmitir otimismo e motivação para o tratamento, além de estimular projetos de vida. O paciente, apesar da doença, deve ser capaz de levar sua vida social, profissional e afetiva de maneira normal · Atividade Física: repouso nos períodos de atividade sistêmica da doença e medidas visando à melhora do condicionamento físico (estimular atividade física regular) · Dieta: não há evidência científica de que os alimentos possam influenciar o desencadeamento ou a evolução da doença. Recomenda-se a adoção de uma dieta balanceada, evitando-se excessos de sal, carboidratos e lipídios · Proteção: contra luz solar e outros meios de irradiação ultravioleta · Evitar: tabagismo, pois está implicado na patogenia da doença cardiovascular e nas exacerbações das lesões discóides. · Tratamento Medicamentoso: · Hidroxicloroquina e Difosfato de Cloroquina: · Hidroxicloroquina até 6mg\kg\dia · Difosfato de cloroquina até 3mg\kg\dia · Indicado para todos os pacientes com diagnóstico de LES, pois tem efeito poupador de corticóide, reduz a atividade geral da doença e aumenta a sobrevida no LES · Deve se ter certeza do diagnóstico, não pode usar em paciente com maculopatia do olho, pacientes com um olho só. · Sempre fazer um acompanhamento com oftalmologista · Melhora manifestações cutâneas e artrite · Corticóide: menor dose, pelo menor tempo possível · Uso tópico para lesões cutâneas · Via oral em doses baixas, menor que 0,5 a 1 mg\kg\dia, em casos de comprometimento cutâneo, articular e serosites leves · Vira oral em doses altas de 0,5 a 1 mg\kg\dia ou pulsoterapia em caso de serosite grave, manifestação hematológica grave, comprometimento renal e vasculite cerebrais · Metotrexato: comprometimento articular, lesões cutâneas refratárias, serosites e miosites. Só pode iniciar se tiver exames de função hepática · Imunossupressores: Azatioprina, Leflunomida, Micofenolato, Ciclofosfamida, Ciclosporina · Poupadores de corticóide · Manifestações renais · Outras manifestações graves e não responsivas a outra terapêuticas · Terapia de Indução: · Uso de Ciclofosfamida IV, em forma de pulsoterapia, ou uso oral diário (efeito pior e mais infertilidade\hematúria) · Esquemas de Pulsoterapia: NHI dose mensal com duração de 6 meses e Eurolupus dose quinzenal com duração de 6 meses · Ajuste de dose pela leucopenia no hemograma de 14º dia após o uso da medicação · Terapia de Manutenção: Azatioprina, Micofenolato mofetil, em caso de falha Rituximabe e Tracolimus. Usar até completar 3 anos sem atividade renal, depois suspender. · Novas opções Terapêuticas: · Rituximabe: anticorpo monoclonal que provoca a destruição dos linfócitos B, ao se ligar aos marcadores CD20 na superfície dessas células · Indicações: citopenia, nefrite refratária, envolvimento articular ou cutâneo refratário, Uso de off-label · Belimumabe: anticorpo monoclonal contra o estimulador solúvel do linfócito B, que interfere nas vias de sinalização de desenvolvimento das células B · Aprovado em 2011 · Indicações: lúpus ativo refratário à terapia padrão, mas ainda não é indicado para pacientes sem quadros graves · Tratamento de nefrite: · Biópsia renal em todos os acometidos, pelo menos naqueles com elevação de Creatinina e proteinúria maior que 1g em 24 horas · Todos deve usar IECA (captopril, enalapril) ou bloqueador de angiotensina (losartana) · Depende da Classe: · I e II: não necessita de imunossupressão, só IECA e Hidroxicloroquina · III e IV: imunossupressão agressiva · V: não necessita de fase de indução.Manter com micofenolato, azatioprina ou ciclosporina e prednisona · VI: necessita de terapia substitutiva (diálise x transplantes) · Avaliação de Resposta ao Tratamento: · SLEDAI · Acompanhamento clínico · Avalia sinais clínicos e laboratoriais presentes na consulta ou até 10 dias antes · Avaliar pela variação de pontuação: · 0: sem atividade · 1: atividade leve, sem necessidade de mudar conduta · 2: atividade, estar atendo · Maior ou igual a 3: atividade persistente · Suspeita de Retorno da Atividade Renal: anti DNA positivo, complemento baixo, sedimento urinário ativo (hematúria ou cilindrúria), aumento da creatinina, hipertensão e proteinúria residual Prognóstico: · Doença crônica · Períodos de remissão e exacerbação · Uso eterno de medicação · Maior risco de infecções oportunistas · Lembrar de feitos colaterais das medicações
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